Come Undone



Estalos, secos e numerosos irromperam pela noite a cada passo  que ele dava pelo gramado. O capim seco a há muito esquecido de Godric’s Hallow  aparava-lhe as passadas rápidas. O barulho das folhas o único a interromper o zumbido que lhe atacava os ouvidos.
Sirius não podia parar. Se não pelo fato de que se parasse o silêncio o consumiria novamente e junto com ele viria o caos de pensamentos e possibilidades. O que poderia estar acontecendo, que já teria acontecido...
Então ele continuou, se possível, adiantando mais ainda o passo. Remus logo em seu encalço.
Racionalidade.
A necessidade de pensar logicamente vinha sem que refletisse duas vezes. Um ato reflexo, um hábito algumas vezes indesejado. O lado ruim da inteligência, é  que um sempre sabe o que está prestes a acontecer, antes que o  mesmo ocorra.
E esse era o  motivo pelo qual, ao ver Rabicho desaparecer minutos atrás, Remus sabia que algo havia ocorrido. E como se este pressentimento não fosse suficiente, o silencio opressor e a quietude ensurdecedora que se abatia nos arredores de Godric’s Hallow não lhe acalentava as escassas esperanças.
Não houve troca de palavras entre ele e Sirius, desde que ambos aparataram em  direção ao povoado, não havia o que dizer, pois assim como ele o amigo sabia exatamente o que precisava ser feito. Sem frases de efeito ou pausas para consolação. O choque de ter um de seus amigos de infância como traidor, logo havia sido substituído pela urgência de acudir aos outros amigos. Aquele era um dos momentos durante os quais os rumos e as circunstâncias não permitem interlúdios.
O fato de que não havia sinal da Marca Negra pairando sobre a residência trouxe uma pausa no raciocínio.  Apesar de Sirius saber ser esta uma observação um tanto crua, tal fato certamente não passara despercebido pelo amigo. A fugacidade do reconhecimento de tal fato foi logo substituída por pavor ao aproximar-se da casa, varinhas em punho.
A porta estava aberta.
Os jardins da entrada iluminados pelas nesgas que provinham das janelas da sala e da porta.
Ao entrar na casa, estranhamente, o que Sirius primeiro notou foi o estado de suspensão em que tudo se encontrava. A louça posta na mesa, uma panela no fogo ainda aceso. Alguns legumes descascados, outros cortados jaziam no balcão e ao lado deles uma longa faca. Tudo parecia interrompido.
Interrompido.
Uma comoção vinda da sala chamou-lhe a atenção, fazendo com que virasse em direção ao amigo. Remus percorrera a distância entre a cozinha e o hall a passos largos, desaparecendo ao curvar-se sobre o corpo estendido no chão.
Sirius acompanhou o amigo com o olhar até interromper-se no segundo, estendido aos seus pés.
James.
De onde se encontrava, não era possível enxergar totalmente o corpo do amigo, apenas parte da sua cabeça. Mas o reconhecimento foi instantâneo.
Como não poderia ser?
James.
Remus foi incapaz de conter a onda de orgulho que lhe tomou ao ver, apesar de imóvel, o seu amigo mantinha a varinha em punho, mesmo que agora ela jazesse  inútil, era a prova de que ele perecera lutando.
Sirius manteve-se de pé, alguns metros distante. O olhar fixo no corpo estendido no chão. Remus fitou o amigo em silêncio. Um espasmo de terror arrancou-lhe do torpor que o firmava ao lado do corpo do amigo. Erguendo os olhos notou que Sirius também havia despertado. Seu raciocínio focando-se em apenas um pensamento:
- Lily, Harry. – murmurou. Sirius assentiu  e observou enquanto Remus subia as escadas em direção aos  quartos, ele próprio seguindo em seu encalço. O olhar evitando pousar no corpo estendido no chão.
Vivendo por tanto tempo em meio à guerra, um está fado a ouvir  sobre mortes. Como seria perder um ente querido... Por varias vezes Sirius se pegara evitando ponderar sobre essa possibilidade. A certeza de que isso não poderia acontecer com ele sempre presente. De algum modo – que ele não conseguia compreender – se encontrava agora naquela situação, rendido incapaz frente  a anormalidade daquilo tudo.
O imediatismo com o qual seu raciocínio parecia funcionar era a única coisa que o impedia de desabar completamente, ali naquele instante. Sirius sabia que ao abster- se de compreender de fato a situação, adiava o momento no qual teria que aceitar o fato de que acabara de perder um de seus melhores amigos...
- Não, não... – murmurou Remus ao  observar os destroços espalhados pelo corredor. Pedaços de concreto e madeira, de uma explosão que, considerando o rombo na parede à esquerda vieram de um dos quartos.
Sirius acompanhou o amigo, a sensação de pânico crescente no peito ao observar o estado do cômodo. Os olhos percorrendo o local pousaram no amigo que  se curvara  sobre  algo. Reconhecendo imediatamente os  corpos estendidos no chão, aproximou-se em transe.
Remus esticou uma das mãos, pousando na mulher em busca de pulsação.
Lily...
Uma pausa se seguiu durante a  qual Remus tentou em vão reunir forças para checar o corpo seguinte. Sabia que Sirius mantinha-se de pé ao seu lado, ele também com olhos fixos em Harry. De bruços sobre a mãe, o rapaz jazia imóvel.
  Desvinculando-se  de seu torpor, Sirius abaixou aproximando-se do corpo ergueu uma das mãos sobre sua cabeça em um gesto incerto de carinho. Um espasmo repentino acometeu o garoto atingindo Sirius que  recuou imediatamente surpreso. Descrença logo foi substituída por ansiedade  nos segundos seguintes, durante os quais Sirius aproximou-se novamente acompanhado por Remus:
  – Harry...!






 Um burburinho travado por  chiados de estática chegou aos ouvidos de Giny quebrando o silêncio que se estabelecera  nas últimas horas na Toca. Puxando a cortina florida que separava a varanda  da pequena sala de estar observou a garota sentada sozinha na namoradeira antiga, balançando fracamente.  O local estava às escuras, exceto pelo vão de luz que ela própria avia permitido ao abrir parte da cortina.
Apanhando o pequeno rádio em uma das mãos, Hermione virou o interruptor silenciando o aparelho.
A notícia havia corrido aparentemente.
Por  toda a Inglaterra bruxos e bruxas comemoravam. Um misto de  incredulidade e alegria  pairava no ar. Mas Giny não conseguia se livrar da sensação de estar vendo tudo aquilo pelo lado de fora. De fato, a atmosfera na  Toca não poderia se mais sombria.
Caminhando em direção a garota sentou-se a fitando em silêncio. Horas atrás Sirius e Remus haviam chegado às pressas  na Toca com Harry a tiracolo. O estado do amigo desviara momentaneamente o  fato de que ambos Lílian e James Potter estavam ausentes.  Enquanto Giny ainda lutava para tentar  assimilar por completo o fato de que duas pessoas que  conhecia há tanto tempo haviam acabado de ser assassinadas, Hermione retrucou roucamente:
- Como...? Como ele está? – questionou, arrancando Giny de seu raciocínio.
Reconhecendo a incerteza que jazia na voz da garota, ela não pode deixar de ponderar sobre a reação da menina assim que ambos Sirius e  Remus retornaram com Harry quase morto.  Ambos,  Rony e ela tentaram em vão aproximar-se do amigo – em realidade, grande parte do tumulto acarretado com a chegada dos três deu-se aos histerismos dela e do irmão, num frenesi de preocupação com o amigo. Hermione, entretanto, manteve-se estranhamente distante da  comoção, fitando em silêncio o desenrolar da  confusão, olhos fixos no garoto ensangüentado. E apesar de por um momento Giny ter interpretado a apatia da garota como em parte desprendimento, só agora ela percebia que se tratava do contrário. Hermione se encontrava tão indiferente à situação quanto ela, ou Rony, ou qualquer um naquela casa, talvez até mais... – acrescentou mentalmente, recordando de um comentário do irmão sobre a mudança no relacionamento dos dois.
- Em coma... – retrucou Giny – Pomfrey disse que ele está em coma... – acrescentou ela observando enquanto Hermione repetia, murmurando para si própria, as palavras, como se para garantir que assimilara corretamente seu significado. Giny fitou a garota, assaltada subitamente por uma onda de afeição pela menina que há alguns meses era apenas uma conhecida.
- Certo...  – respondeu Hermione fitando o rádio desligado apoiado firme nas mãos.
Agora, Hermione sempre valorizou o fato de considerar-se alguém extremamente racional. A capacidade de  analisar tudo e  todos a sua volta bem como manter suas  ações em uma linha lógica de raciocínio sempre a capacitara para responder quase que imediata e eficientemente a qualquer contexto.
Mas algo mudou.
E apesar dela não ser capaz de compreender completamente o como ou o porquê ela sabia que algo havia mudado. Algo lhe roubara lógica e raciocínio. Era como se o apoio sob seus pés tivesse sacudido, modificado, levando-a ao chão, completamente desorientada...
Do momento no qual presenciara a chegada de Remus e Sirius...
Com Harry...
Oh, Merlin...
Uma mão suave e pequena tocou de leve seu ombro, erguendo os olhos para a garota ao seu lado, só então Hermione percebeu que professara as duas últimas sentenças em voz alta.
Hermione, ao contrário dela, não havia chorado, e internamente, suspeitava que não fosse tampouco. Mas estranhamente, o olhar de compaixão da menina ao lado, um olhar de compreensão, mesmo quando ela própria não compreendia, pareceu quebrar a sua resolução. E Hermione  pode sentir, pela primeira vez, desde que soubera desde que vira o estado no qual Harry retornara, os olhos arderem e a vista turvar invariavelmente.
Ela ia chorar, constatou sentindo a garganta apertar. Ela ia chorar, por Harry, e pela injustiça daquilo tudo...






Duas semanas, duas semanas haviam se passado desde o dia em que Voldemort havia sido derrotado. Harry ainda não havia deixado o quarto.
O enterro de Lilian e James Potter seguira-se apenas dois dias após o acontecido. Apesar dos esforços conjuntos da Ordem da Fênix e de Dumbledore, o evento não passara incólume. Embora amigos e pessoas próximas desejassem poder despedir-se em paz, não havia escapatória à notoriedade que o nome Potter havia atingido.
Em todos os locais, todos desejavam o pouco que fosse de contato com  aquele que havia derrotado Lord Voldemort. Mesmo que isso significasse invadir o enterro de seus pais.
Ocorreu a Hermione, enquanto revirava, sem apetite, o bacon de seu prato que as pessoas realmente não possuem escrúpulos.
Felizmente Harry não testemunhara a obscenidade do fato.
Por mais surpreendente que fosse o fato de receber uma maldição fatal e sobreviver a tal, o ponto era que à data do enterro de seus pais, Harry ainda se encontrava desacordado, não comparecendo, portanto. E apesar deste fator ter de certo modo preservado o garoto, a tristeza do fato não deixava de adicionar a toda a atmosfera dos últimos dias.
Harry acordara não menos que três dias após o enterro de seus pais. E apesar de Hermione não ser capaz de expressar o alívio que sentiu ao saber que ele estava finalmente acordado e fora de risco... A dor de acompanhá-lo através do reconhecimento e aceitação da perda dos pais era quase que demais para qualquer um. De fato, ninguém havia sido capaz de retirá-lo do quarto desde que o mesmo acordara momento ao qual ela própria havia a presidido:
Passando pelo corredor, Hermione avistou a porta do quarto onde Harry estava, entreaberta, ela pôde ouvir  os murmúrios que vinham do local.  Ansiedade tomou-lhe conta ao perceber que Harry havia acordado, e apesar de  não ser capaz de identificar exatamente o  que estava sendo dito, o tom e voz de Remus e Sirius eram facilmente reconhecíveis.
- Harry... – repetiu Sirius, aproximando-se na posição em que se encontrava e pondo uma das mãos no ombro do afilhado.
Harry, ela observou, mantinha-se em sua posição, sem mexer ou denotar qualquer reconhecimento à notícia que o padrinho acabara de lhe dar. Ao que parecia, ele não recordava muito do ocorrido, visto que – pelo menos para Hermione – ele não parecia compreender a informação. Entretanto, ela não poderia precisar, visto que ele permanecia de olhos baixos, fixos em suas mãos.
Não fosse pela força com a qual segurava o tecido, Hermione suspeitaria que ele nem ao menos ouvira as palavras de Sirius.
Em pé, na porta do quarto, Hermione observou a cena em silêncio. Os olhos fixos no garoto, a sensação de estar intrometendo-se em um momento particular acusando no fundo da mente, mas ainda sim... Ela não conseguia afastar o súbito impulso de caminhar até lá e confortá-lo...
- Harry... Nós... – iniciou Remus, mas Harry cortou o homem numa voz rouca e trêmula:- Não. – Hermione podia ver dali que o garoto tremia – Eu... Eu quero ficar sozinho...  – pediu curtamente. – Só saiam... Vão.  
Após este dia, Hermione não retornou a quarto
Sentada na cadeira da cozinha, Hermione observou enquanto Sra. Weasley preparava a bandeja com o jantar. Ela estava encarregada de levar a comida desta vez. Hermione não estava muito certa do por que, mas insistira em levar a comida a Harry desta vez, no que seria com alguma sorte, um esforço para que o garoto se alimentasse...
- Hermione...? – erguendo os olhos para a porta, identificou Lupin parado no vão. Erguendo-se Hermione caminhou em direção ao homem que a guiou até a sala de estar. – Aqui. – disse ele estendendo-lhe um frasco com o que ela reconheceu rapidamente como a poção do Acônito. Pegando o frasco em uma das mãos observou-o, uma pergunta surgindo. – Snape mandou.
Surpresa clara e evidente na face da garota fez com que Lupin acrescentasse meramente:
- Não fique tão surpresa Hermione. Snape ainda é da Ordem da Fênix, apesar de tudo ele...
- Eu posso fazer a poção. Eu só preciso de...
- Tempo, eu sei. – interrompeu Lupin, com calma, apesar de um cansaço intrínseco permear o seu tom. – Eu não duvido que você consiga fazer a poção do Acônito Hermione, mas tempo é algo que você e eu não temos.
Hermione calou-se fitando o frasco em suas mãos. Sra. Potter costumava fazer algo com a poção, algo para tornar a transformação mais agradável. Não que não estivesse grata pela ajuda de Snape, mesmo que sob ordem de Dumbledore.
- Eu sei que não vai ser tão... Tranqüilo dessa vez... Pelo menos não como antes... – comentou Lupin pousando uma das mãos no ombro da garota. – Se você quiser, eu posso providenciar alguns ingredientes, você pode tentar fazer uma poção como a que Lily fazia, se quiser... Eu...
- Ok. – cortou Hermione, sentindo o desconforto do homem à sua frente.
- Certo. Então... Esteja pronta na sexta, ok? Eu venho te buscar pela manhã.
Hermione assentiu e retornou a cozinha apanhando a bandeja de comida e seguindo pelas escadas em direção ao quarto. Ao parar em frente à porta, bandeja em mãos, sentiu a presença de mais alguém no corredor. Voltando-se para o lado, observou Rony em pé, no vão de seu próprio quarto:
- Você vai... – perguntou indicando com a cabeça a porta fechada.
- É. – assentiu Hermione – Rony, você poderia…? – pediu Hermione erguendo a bandeja e apontando o fato de que ela não poderia abrir a porta sozinha. Rony adiantou-se pondo a mão na maçaneta. Prestes a abrir a porta, parou sem erguer os olhos:
- Eu tentei falar com ele.
- Eu sei. – confirmou Hermione em tom suave. Sabia que Rony se sentia tão perdido quanto todos os outros, se não, talvez até mais, por não ser capaz de ajudar o próprio amigo...
- Se você... Se você puder... – pigarreando, Hermione interrompeu o pedido, que sabia estar prestes a sair da boca do amigo. Não se sentia confortável com a idéia de ter a responsabilidade de trazer Harry de onde quer que ele estivesse. No que ela seria capaz de interferir? Duvidava muito que fosse capaz de arrancar alguma reação do rapaz. Por mais que a idéia lhe agradasse, Hermione não podia deixar de considerar que talvez não fosse tão importante.
Abrindo a porta, Rony afastou-se em silêncio, dando espaço para que ela entrasse. Um clique atrás de si indicou que o amigo fechara a porta.
Hermione parou assim que seus olhos recaíram sobre o quarto. O ar estava parado e pesado. Todas as janelas e cortinas estavam fechadas, e apesar de ser verão, o quarto encontrava-se estranhamente frio. Repousando os olhos na cama, encontrou o garoto deitado, as costas voltadas para ela. Ele não se movia. Qualquer um diria que ele estava dormindo. Mas Hermione sabia melhor.
Já ouvira falar e lera várias vezes sobre bruxos e bruxas poderosos, capazes de emanar uma certa aura ao seu redor, de modo tal, que um outro bruxo ou bruxa que estivesse próximo poderia sentir energia pairando no entorno.
Hermione duvidara, inicialmente que um bruxo deste calibre ainda existisse, até conhecer Dumbledore. Algumas vezes, poucas, mas algumas, notara uma aura carregada de energia em torno do mago. Qualquer um perceberia, apesar de Hermione suspeitar que o próprio Dumbledore fosse capaz de controlar, esta suposta energia, fosse ela qual fosse.
O que aconteceria se alguém, não tão experiente quanto Albus Dumbledore detivesse esse poder...?
E esse era o motivo pelo qual Hermione mantinha-se parada, pés fixos no chão. Um arrepio passou-lhe pelo pescoço. Essa era a primeira vez que sentia algo desse tipo perto de Harry. Não que achasse que ele fosse um bruxo ordinário, mas algo estava diferente nele. Algo havia mudado... Algo que ia além do luto pelos seus pais.
Uma cópia em carbono de si. O mesmo... Mas não exatamente.
Bom, ele sobreviveu um Avada... Seria de se esperar que algo estivesse descompassado nele... – ponderou uma vozinha em sua cabeça.
Sacudindo a cabeça, Hermione afastou a noção absurda de que havia algo de errado com Harry. Realmente Harry estava bem.
Na medida do possível. O que não era lá muita coisa.
Ótimo Hermione... De todos os garotos com os quais se envolver, você foi escolher o mais problemático. – apontou a vozinha novamente.
Ótimo, de fato.
- Harry... – chamou ela amaldiçoando o tom cauteloso que lhe tomou a voz. – Eu trouxe o jantar... – acrescentou, ainda sem se mover. – Nós jogamos palitinho e eu perdi, então...
Silêncio se seguiu à tentativa pobre de humor da parte de Hermione. Sentindo uma tristeza ao saber que à alguns meses atrás ele revidaria a brincadeira, Hermione aproximou-se e prestes a pôr a bandeja no criado mudo ele retrucou.
- Saia. - Hermione pausou, certa de que não ouvira direito.
- Harry... – começou ela, procurando não demonstrar o quão magoada realmente estava.
- Eu não estou com fome. Só saia. – rebateu Harry no mesmo tom seco de antes. Sem ação, Hermione estava prestes a apanhar a bandeja e sair sem pestanejar, mas algo na maneira com a qual ele nem se moveu pra a encará-la a fez manter-se no local. Um tom seguro permeando-lhe a voz:
- Isso não é possível. Você mal come direito há dias... – apontou Hermione racionalmente. Cruzando os braços fitou o garoto por um instante antes de acrescentar. – Fazer greve de fome não vai ajudar em nada. – e em tom mais suave continuou. -  Você não pode fazer o tempo voltar apenas ficando parado...
- Porque você ligaria se eu continuar tentando? – retrucou Harry, rispidez e sarcasmo claro e evidente. Hermione calou-se surpresa com o tom de voz do garoto.
Ele estava tentando afastá-la.
Sabia disso. Como, estava além de sua alçada. Ela e Harry nunca foram muito próximos. Ela não teve a chance de conhecê-lo melhor... Antes que ele mudasse. Antes que tudo mudasse.
Não sabia exatamente como sabia, mas tinha certeza do que ele estava fazendo e por que estava fazendo.
Ele estava com raiva do mundo.
Realmente. Quem poderia culpá-lo?
- E-eu não vou fingir e dizer que sei pelo que você está passando. – disse após um tempo. Aproximando-se, sentou-se na beirada da cama.Um reflexo tomou-lhe o braço, mas segurou a mão antes que pudesse tocar o ombro do garoto, suspensa alguns centímetros. – Eu não sei o que dizer a você. Eu gostaria de dizer algo, algo que o fizesse se sentir melhor eu... - tateou Hermione em busca de algo confortante para dizer.
Silêncio seguiu-se às suas palavras. Respirando fundo ela acrescentou levantando:
- Você não está sozinho. – disse simplesmente, seguindo para a porta. - Eles podem não saber exatamente pelo que você está passando, eu posso não saber... Mas eles ligam. Eu ligo. - concluiu fechando a porta atrás de si.















































 



MÚSICAS:


Come Undone - Greg Laswell


You Will Pull Through - Barcelona















































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