Make me lose control - parteII







- Aonde nós vamos...? – Harry respirou profundamente. Era a terceira vez que a garota lhe fazia a mesma pergunta. Se não muito se enganava ela estava tirando um sarro da sua cara...

- Pra enfermaria. – respondeu pacientemente. – Cuidado! – exclamou Harry ao ver a garota tropeçar em um dos degraus. Segurando seu braço esquerdo, impediu que ela seguisse escadas abaixo e acabasse por se acidentar ainda mais.

- Eu estou bem! – insistiu recusando a ajuda.

- Tem certeza? – questionou Harry desconfiado.

- Eu só... Eu quero voltar pro quarto...

- Você não pode dormir agora. – replicou Harry observando enquanto ela se apoiava na parede mais próxima. – ela sorriu com um ar desligado:

- Dormir seria bom!

- É... – ponderou Harry observando a atitude sem lógica dela. – Não quando você bate a cabeça! Agora vamos...

- Aonde...? – perguntou ela encostando-se na parede e fitando-o atentamente. Harry parou e voltou-se para a menina.

Não podia deixar de rir do seu estado...

- Por que você está fazendo isso...? – o sorriso de Harry se desfez dando lugar a uma expressão confusa:

- Como?

- Isso! – exclamou Hermione. Um murmúrio e alguns resmungos se fizeram ouvir no local, fazendo os dois olharem em volta. Com a súbita noção de que se fossem pegos ali, os dois ficariam com sérios problemas, Harry adiantou-se segurando no braço dela novamente:

- Sabe? Agente realmente tem que ir... – e continuando até à enfermaria, Harry bateu nas portas largas e fechadas.

- Um barulho ao longe, seguido de passos apressados denunciou a chegada de alguém do outro lado. Até que a porta se abriu para revelar uma Madame Pomfrey extremamente irritada e sonolenta:

- Mas o que diabo está acontecendo aqui? – os dois puderam ouvir a voz da mulher enquanto ela se ocupava de abrir a porta:

- Oi! – exclamou Hermione fazendo um aceno alegre. A mulher a fitou por alguns segundos franzindo a testa, até que Harry interpôs:

- Nós, bom...

- Potter é melhor isso ser muito importante para que vocês estejam acordados a essa hora da madrugada! – ralhou a mulher cruzando os braços e observando Harry dos pés a cabeça. Este tratou de inventar uma desculpa:

- Bom, ela se machucou... – começou Harry, nada inclinado a detalhar os acontecimentos, ou a Grifnória inteira ficaria em sérios problemas.

- Na festa! – acrescentou Hermione apontando para a testa e fazendo um aceno positivo.

- Como? – questionou a senhora com um ar de poucos amigos.

- Na testa! Ela se machucou e, bom... Veja. – cortou Harry adiantando-se para o finalmente. Quanto mais cedo Madame Pomfrey cuidasse daquele ferimento, mais cedo ele colocaria a menina em seu quarto e poderia voltar para a festa. Simples assim.

- Merlin! O que houve com a sua testa? – exclamou a mulher com um ar chocado. Puxando Hermione por um braço levou a menina até um dos leitos e acomodou-a.

Outra pessoa, que não houvesse visitado tantas vezes o local, poderia até sentir-se intimidado com a urgência da mulher... Harry não era uma dessas pessoas... E dada à sua experiência com tais assuntos, sabia perfeitamente bem, que a enfermeira tinha uma tendência a exageros no que dizia respeito a situações como aquela...

Madame Pomfrey voltou com uma tigela nas mãos e começou a passar a pasta esverdeada na testa de Hermione. Esta se demonstrava estranhamente sensível:

- Ai! – exclamou Hermione sem pensar duas vezes. – Ai! Cuidado! - Harry sentou-se na maca ao lado observando a cena em silêncio.

- Como isso aconteceu? Vocês dois têm idéia de que horas são?! – reclamou a senhora irritadamente. Hermione fez menção de abrir a boca, mas Harry interveio agilmente:

- Ah, a senhora sabe... Eu sempre avisei para que ela fosse mais atenta sabe?

- Hei! – rebateu Hermione indignada. – Eu não! Corm...

-... Aí ela acabou batendo com a testa bem na porta! – concluiu Harry elevando o tom de voz. Houve um momento de silêncio no qual, aparentemente, ela analisava a veracidade da história:

– Hunf. – decidido a tomar aquilo como uma confirmação, Harry abriu um sorriso para a mulher antes que ela desse as costas em busca de bandagens e sumisse pela porta no fim do aposento. Harry voltou os olhos para a garota que o fitava no leito ao lado sentada à sua frente. Houve um momento breve de silêncio, até que ela falou:

- Eu fico muito narcisista quando eu bebo. – Harry ergueu uma sobrancelha.

- Sério? – ele encorajou, lutando internamente contra a vontade de rir.

- Sério. – confirmou Hermione erguendo uma das mãos e coçando o nariz displicentemente. Harry continuou a observá-la, e ela continuou. – Eu sei disso. Eu só estou dizendo... Que tudo bem, se você quiser falar, quero dizer...

- Ok... – respondeu, sem saber realmente o que dizer. A verdade era que nunca havia passado mais de cinco minutos em uma conversa com ela. Quiçá vê-la tão relaxada daquele jeito... Afinal, geralmente ela era tão...

Não podia esconder o fato de que estava... Provavelmente, levemente intimidado pelo jeito dela. E se não fosse o fato de que ela estava positivamente bêbada, ele talvez já tivesse saído porta a fora há alguns minutos... Não era um fato do qual ele se orgulhasse.

- Sabe... Você deveria pentear o cabelo. – comentou Hermione.

- Perdão?

- Seu cabelo.

- O que tem ele? – retrucou Harry.

- Você devia penteá-lo. – Harry fitou a menina mais ofendido do que gostaria:

- Eu penteio o meu cabelo!

- Certo.

- Eu pent....!

- O que vocês dois estão gritando aí?! – ralhou Madame Pomfrey retornando com uma bandagem e colocando na testa de Hermione que gemeu audivelmente.

Desejoso de se livrar da garota agora o mais rápido possível, Harry ergueu-se e segurando o braço dela:

- Ótimo! Vamos. – exigiu ele.

- Direto para os dormitórios! – exclamou Madame Pomfrey acompanhando os dois até a porta. E após um olhar analítico. – Os dois!

Harry franziu a testa ofendido. Hermione murmurou:

- Como assim? – aparentemente também bastante ofendida. Harry respirou pesadamente e voltou-se para a garota, mas ela havia dado as costas e caminhava na direção oposta:

- Hei! – Hermione voltou-se. – Aonde você vai? – perguntou Harry com um tom de quem encarava alguém completamente insano.

- Eu estou com fome. – apontou ela simplesmente. Harry piscou ao observá-la dar as costas novamente e seguir para as escadas.

- Espere! – tentou Harry em vão. Hermione voltou-se ligeiramente irritada. – Mas...

- Olhe... – começou ela metodicamente. Apesar de algo lhe dizer que talvez fosse mais clara se as palavras não ficassem embolando antes de sair pela boca... – você não precisa fazer isso.

- O que?

- Isso! Ser bonzinho! – exclamou Hermione. – você não gosta de mim, eu sei disso. – Harry fez menção em responder, mas ela o cortou. – E francamente, eu também não vou muito com a sua cara.

- Bom saber. – respondeu Harry, tentando sem sucesso esconder o quão ofendido estava. Hermione pareceu notar, mudando completamente de tom:

- Ah não! Viu?! – exclamou ela parecendo lamentosa. Harry ergueu as sobrancelhas, chocado com a mudança. Definitivamente, aí estava um lado dela que ele não conhecia: ela era louca.

- Eu sinto muito! Eu não quis te ofender!

- Ok...

- Não! Não está! Quero dizer... Eu não sou assim! Sabe? – questionou ela. Harry imaginou ser uma pergunta retórica, até mesmo porque, se fosse responder, seria: Não. Por isso se absteve de qualquer comentário. – Eu não sou tão insuportável. Geralmente eu até que sou legal! – aqui, Harry não pode deixar de esconder a desconfiança. – Eu sou! Bom, exceto com Malfoy... Mas eu sou! Pergunte a Rony!

- Ok, então. – respondeu Harry secamente. Era sempre bom saber que alguém no mundo o comparava a Malfoy. Muito gratificante.

- Eu não tenho a intenção de ser tão má com você sabe? – continuou ela dando meia volta e subindo as escadas. Harry, que havia baixado os olhos e perdido a menina de vista por alguns segundos, se surpreendeu ao ver que ela já estava na metade do lance de escadas.

- Hei! Espere... O qu...? – mas ela não parecia dar ouvidos a ele.

-... Mas é só, que... Eu não sei o que é! – exclamou ela ainda subindo as escadas, com Harry em seu encalço. – Toda vez que eu te vejo, coisas assim pulam da minha boca!

- Ta. Então, eu trago à tona o que há de pior em você. – constatou Harry com uma pontada característica.

- É! – confirmou Hermione antes que pudesse se conter. E assim que percebeu o erro voltou-se levando uma das mãos à boca. – Viu? E - eu n... Sabe de uma? Só vá embora! Eu posso caminhar sozinha muito obrigada.

- Eu não vou deixar você sozinha!

- Por que não?

- Porque... – Harry ponderou. - Você não está bem! – afirmou ele, mais para si próprio que para ela, que simplesmente murmurou:

- Vá embora. Eu estou bem! – e voltando-se para o quadro, começou a fazer cócegas na pintura que sacudiu e afastou-se revelando a cozinha.

Harry até teria ido embora. Afinal, ele acabara de ser expulso pela mesma pessoa que ele tentava ajudar. Isso feria seu orgulho. Não fosse claro, o fato de que assim que ela deu as costas para entrar, tropeçou no próprio roupão e quase desabou no chão novamente não fosse um dos elfos que se interpôs prontamente, de modo a proteger a menina.

- Bem. Claro.



- Sabe... Agente podia reconsiderar toda aquela história de “estar bem”... – murmurou Hermione do banco onde estava deitada, meia hora e alguns muffins depois.

- Você acha? – perguntou Harry sem esconder o sorriso ao baixar a cabeça e observar a menina deitada ao seu lado.

Os dois estavam agora do lado de fora do castelo. Na saída para Hogsmead para ser mais preciso. Originalmente, ele pretendia ter deixado a garota no seu próprio quarto... Mas após alguns encontros com um Pirraça extremamente abusivo, (em todos os aspectos possíveis da palavra), uma gata pendurada no trinco do banheiro e algumas revelações sobre Filch e Madame Pince, (as quais Harry preferia não relembrar). Ele acabou por decidir que ali na fonte ambos estariam mais seguros que dentro do castelo. O que não deixava de ser estranho. Era uma noite estranha... Muito estranha...

- Isso é tão decadente. – continuou ela. Harry sorriu:

- Só você pra falar difícil quando está bêbada... – e aqui, ela sorriu. Harry observou a garota por alguns segundos, talvez mais do que admitiria mais tarde... Não se lembrava de jamais tê-la visto sorrir assim. Mesmo depois de tantos anos... Talvez se eles não estivessem tão ocupados discutindo entre si...

Fosse qual fosse o motivo, Harry se pegou constatando que ela deveria sorrir mais vezes...

- Você já tentou usar lentes de contato? – perguntou incisivamente. Harry ponderou e retirou os óculos por um momento:

- Já. É só que... A idéia de botar o dedo no olho é... – ele parou.

Harry não soube precisar muito bem se ela realmente estava prestando absurda atenção no que ele dizia ou se estava simplesmente tirando uma com a cara dele. Visto que ela havia se sentado e tinha os olhos fixos e muito próximos dele.

- Eu... Eu não estou me sentindo muito bem... – murmurou ela baixando a cabeça em seguida.

- Ok... Agente te leva pro seu quarto e lá você pod... – Harry não podia dizer que imaginou o que aconteceria, até mesmo porque se pudesse o mesmo não teria acontecido, pelo menos não em cima dos seus chinelos...

Harry estava sentado no corredor, em frente ao dormitório de Granger. Um súbito mau humor havia se abatido sobre ele, e não fosse a absurda quantidade de álcool no sangue da menina, ela certamente o compreenderia... Entretanto, uma parte dele, (provavelmente a parte que comprara os chinelos) continuava insistido que ela havia deliberadamente mirado nele.

- Porque você está descalço? – perguntou Hermione observando-o sentada na parede oposta ao corredor. Harry voltou-se para ela. Talvez ela não tivesse mirado afinal de contas...

- Você vomitou nos meus chinelos. – respondeu Harry incisivamente. Ela pareceu surpresa ao responder:

- Ah...! Eu sinto muito... – acrescentou.

Ele estava sem relógio, e por isso não sabia precisar muito bem há quanto tempo os dois estavam ali. Se tivesse de adivinhar, provavelmente uns vinte minutos, durante os quais, ele fez o possível para que ela lembrasse a senha do próprio dormitório...

Levantando-se ele voltou-se para o quadro novamente:

- Deixa agente entrar! – insistiu. A mulher voltou-se para ele, obviamente tão agoniada quanto ele:

- Eu não posso! A não ser que vocês tenham a senha... – Harry soltou um bufo de exasperação. Aquilo era maluquice!

- Mas ela está bem aqui!! – exclamou abismado.

- Ela me fez prometer que não ia deixar ninguém entrar sem a senha!

Harry apertou os punhos impaciente. A mulher pareceu notar a sua angústia:

- Olhe... Eu sinto muito, mas ela ameaçou me tirar daqui se eu deixasse qualquer um entrar sem a senha! – replicou Mary.

- Olha pra ela! Ela não vai nem lembrar disso amanhã! – insistiu Harry. – Me deixa entrar, eu a coloco lá dentro e saio! Rápido, eu prometo! Por favor! – a mulher considerou por um longo momento.

- Está bem... - E então a contragosto, afastou-se para que os dois pudessem entrar.

- Muito obrigado! – murmurou Harry agradecido voltando-se para Hermione que estava encostada na parede e dormia despreocupadamente. Harry aproximou-se dela e murmurou:

- Gr... Hermione. Acorde, vamos...

- Hãn...?

- Venha. – pediu ajudando a garota a se levantar, e guiou-a até a cama:

- Por que você está fazendo isso...? – perguntou ao tirar seus próprios chinelos e deitar-se.

- O que, isso? E voltar a andar com garotas que realmente gostam de mim?

- Como se você pudesse achar alguma. – Harry sorriu.

- Viu? Aí! Quem precisa de afeição, quando se tem ódio puro e cego? – retrucou ainda sorrindo.

- Eu não te odeio. – murmurou ela puxando um lençol e ajeitando-se na cama. – Quero dizer, eu poderia! Se eu quisesse...

- Mas você não quer...?

- Não, realmente... Não... – Harry sorriu novamente.

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