Capítulo XXVIII
Ela se fechara.
Um momento antes, seus olhos haviam sido como janelas para seus pensamentos, mas agora essas passagens estavam fechadas. Comeram em silêncio por alguns minutos. Harry era dominado novamente por uma ampla variedade de emoções.
Estava zangado com o destino, preocupado com o futuro, e pela primeira vez na vida temi a possibilidade de ter de enfrentar tudo sozinho. De repente queria o apoio de Hermione, como antigamente se lembrava que era. Queria que ela se abrisse mais uma vez, que compartilhasse com ele. Hesitante, estendeu a mão para tocar a dela.
- Eu a aborreci.
- Não. Estava apenas pensando no que você disse. – Ela comeu o último pedaço de bolo, empurrou o prato para o lado e cerrou as mãos em torno da xícara de café. – Talvez tenha razão. Estava tão acostumada a cuidar de mim mesma e da minha vida que nunca dei a Rony uma chance verdadeira de dividir as responsabilidades.
- E se houvesse dado a ele essa oportunidade, talvez Rony tivesse fugido assustado, porque nunca dei a meu amigo os instrumentos necessários para lidar com a vida real como um homem deve fazer.
Hermione sorriu, e Harry sentiu-se reconfortado. Aquele era o sorriso mais lindo que já vira. Era como se, ao sorrir, ela irradiasse uma luminosidade que se espalhava pelo ambiente.
- Afinal, o que é isso? Um acordo de culpa? Nós dois somos responsáveis pela imaturidade de Rony, enquanto ele não tem nenhuma participação nisso?
- Não. – Harry retribuiu o sorriso.
– Rony precisa aceitar sua parte em quem é… e em quem será no futuro.
– Se houvesse um futuro.
A emoção o tomou de assalto sem aviso prévio, e de repente sentia as lágrimas queimando seus olhos. Consciente da atenção firme de Hermione e de uma estranha e incomum vulnerabilidade, levantou-se e virou-se de costas para ir lavar o prato que usara. Com a água correndo da torneira, não ouviu os passos, não soube que ela também deixara a mesa e se aproximara. Só se deu conta da proximidade quando sentiu o calor da mão através da camisa.
- Harry, você não está sozinho nisso. Estou aqui… se precisar de mim.
Se precisasse dela? Precisava tanto de Hermione que a necessidade era como um fogo a consumir sua alma. O prato se chocou contra o fundo da pia de alumínio e ele se virou para encará-la. No instante entre o movimento brusco e o primeiro contato físico, soube de maneira inconsciente e instintiva que havia perdido o controle, e nem sequer tentou recuperá-lo.
Antes que ela tivesse tempo para protestar, antes que tivesse uma chance para refletir, tomou-a nos braços e beijou-a. Sabia que a chocara pela forma como seu corpo tornou-se rígido contra o dele. Mas a rigidez durou apenas alguns segundos, e depois foi como se Hermione derretesse em seus braços.
Os braços, antes caídos junto ao corpo, encontraram seus ombros e uma das mãos alcançou sua nuca, seus cabelos, enquanto a boca se abrir sob a dele. Loucura. Era uma insanidade que os dominava com igual intensidade. Harry puxou-a contra o peito, querendo sentir seu calor e descobrir as curvas de seu corpo feminino e sexy. Sentia a necessidade de saborear cada sensação, de capturar cada nuance da mulher, do beijo e da intimidade dos corpos colados.
Sabia que logo a sanidade retornaria, e com ela viria o arrependimento. Mas o arrependimento ainda era uma promessa distante enquanto ele mergulhava nos segredos daquela boa, as mãos deslizando pelas costas delicadas. Nenhum dos dois falava, como se soubessem que uma única palavra, um simples sussurro poderia destruir a magia do momento.
Os seios permaneciam pressionados contra o peito forte, e ele podia sentir as batidas do coração contra o dele, uma resposta cadenciada ao desejo que o incendiava. Queria levá-la para o quarto e perder-se nela. Queria vê-la em sua cama e sentir sua pele nua e sedosa com os dedos. Uma porta se abriu em algum lugar distante. Era a porta principal.
- Mãe? – A voz de Bryan soou forte.
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