Capítulo XXIX



- Mãe? – A voz de Bryan soou forte.

Harry soltou-a e ela recuou cambaleante, a expressão revelando o horror que a dominava. Trêmula, Hermione levou a mão aos lábios antes de virar-se para a porta da cozinha, por onde Bryan e Rony passavam.

- O filme era horrível. Desistimos depois de uma hora de sofrimento. – Rony contou. Ele olhou para o amigo e a ex-esposa. – Tudo bem por aqui?

- Sim… tudo bem. Estávamos terminando de limpar a cozinha. – A voz dela soava mais estridente que o normal.

Rony encarou Harry.

- Já me perdoou por aquele comentário estúpido? Todo amor que sentia pelo amigo inundou seu peito como uma onda gigantesca.

- É claro que sim. Estamos todos tensos, descontrolados… todos nós dissemos e fizemos coisas estúpidas esta noite, coisas que devemos esquecer.

Sabia que Hermione o entendera pela rigidez imediata de seus olhos, pela maneira como os olhos se tornavam mais brilhantes. O arrependimento finalmente se fez presente, mas não sabia se estava arrependido por tê-la beijado, ou por ter reduzido a importância do beijo a um mero evento casual. - Agora vou me deitar. Estou exausto. – disse, desejando boa noite a todos e deixando a cozinha a fim de escapar para a privacidade do quarto.

Uma vez lá, fechou a porta e aproximou-se da janela para observar a escuridão da noite. Havia sido um tolo. Beijar Hermione fora o ato mais impensado e estúpido que já cometera. O sabor de seus lábios permanecia em sua boca, e o aroma familiar parecia estar grudado em sua pele. Por várias vezes sonhara com aquele beijo, mas a fantasia não chegara aos pés da realidade. Ela era muito mais doce, suave e quente do que havia imaginado. E o desejo que o dominara ao primeiro contato fora muito mais intenso do que pensara ser possível. E agora, na esteira desse desejo, vinha a culpa.
Lampejos da memória cruzavam sua mente como mísseis numa noite escura, lembranças da promessa feita ao Sr. Weasley. "Prometo que vou cuidar do Rony." De olhos fechados, recordou todas as vezes que Rony sofrera com pesadelos e lembranças. E lembrou-se da noite em que tivera de contar ao amigo que seus pais haviam morrido. Rony chorara como um bebê em seus braços, não só pela perda, mas por medo do futuro.

Harry havia garantido que tudo ficaria bem e que ele sempre estaria ao seu lado. Ele se virou de costas para a janela e suspirou aborrecido. Agora Rony precisava dele mais do que nunca. E precisava de Hermione. E o que ele, Harry, estava fazendo? Ardia de desejo por Hermione. Enquanto se despia para ir dormir, pensou na dor que inundara seus olhos e na postura rígida de seus ombros quando havia mencionado as coisas estúpidas que todos fizeram naquela noite.

Sabia que suas palavras a atingiram como uma bofetada no rosto. Por que sabia que ela se entregara ao beijo com o mesmo desejo que o dominara. Era melhor assim, Harry pensou enquanto se deitava. Melhor que ela se mantivesse distante, que o evitasse. Não queria ter mais nenhuma conversa profunda com Hermione, nem queria estar em seus pensamentos. Não queria conhecer seus anseios e sonhos. E não queria revelar seus planos e desejos.

Era terrível que ela houvesse testemunhado sua iminente queda emocional naqueles momentos em que estivera em seu quarto. Era assustador pensar em como estivera próximo de perder o controle. E tinha de ser forte… por Rony. O demônio de batom. Havia convidado a tentação a entrar em sua casa, e por um momento cedera a essa tentação. Mas havia acabado. Não sacrificaria o bem-estar de Rony por conta de uma luxúria insana e irracional.

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