Capítulo XI
Encontraram um hotel trouxa depois de caminharem por mais de uma hora. Hermione sentiu vontade de cair de joelhos e chorar de gratidão. Estava exausta e faminta, e temia nunca mais conseguir remover a sujeira da pele. Sentada em um banco na frente da administração do hotel, esperou enquanto Harry foi verificar se havia quartos vagos.
Ele estivera quieto desde o amanhecer recusando toda e qualquer tentativa de aproximação ou conversa. Finalmente desistira, dizendo a si mesma que estava tão cansada dele quanto ele devia estar farto de sua companhia. Fechando os olhos, ergueu o rosto para o sol matinal e tentou não pensar na sensação de acordar nos braços de Harry.
Despertara antes dele e ficara quieta, desfrutando do calor do corpo másculo em contato com o seu. Há muito tempo não acordava nos braços de um homem. Muito antes do divórcio, há um ano, ela e Rony haviam desistido de buscar conforto um no outro. Se ela e Harry houvessem dormido numa cama macia e limpa… se houvessem feito amor antes de adormecerem… Assustada, ela abriu os olhos e corou ao vê-lo sair do escritório com duas chaves na mão.
- Seu quarto é o 104. O meu é o 110. Vamos tomar um banho, comer alguma coisa, e depois decidiremos como faremos para voltar a Londres. Assim que estiver limpa, vá ao meu quarto e pensaremos no próximo passo.
Ela assentiu e seguiu para o quarto indicado. Assim que entrou no aposento pequeno e limpo, notou o telefone sobre o criado-mudo e decidiu telefonar para casa, já que não deviam ter corujas ali por perto. Ansiosa, esperou que alguém atendesse do outro lado da linha.
- Alô? - O alívio quase a fez perder os sentidos.
- Bryan, querido!
- Mamãe! Onde você está? Papai e eu estamos muito preocupados. Ficamos esperando por você na Toca, mas você não apareceu e voltamos para casa.
- É uma longa história, meu amor, mas estarei em casa antes do final do dia. – Nem que tivesse de ir andando até lá, não passaria outra noite longe do filho.
- Sim mãe, estamos bem. Fui na casa onde papai e tio Harry moram e vi uma porção de coisas. Onde você está?
- Explicarei tudo assim que chegar aí. Posso falar com seu pai?
- Um minuto, mãe. - Houve um momento de silêncio, depois a voz de Rony soou do outro lado.
- Hermione, você está bem? Onde está? Harry está com você?
- Sim, Harry está comigo, nós estamos bem, e explicarei tudo ainda hoje, quando chegar em casa. Espere por nós, está bem? Não saia daí enquanto eu não chegar.
- Mas... onde você está? - Ela resumiu os eventos dos últimos dias.
- A culpa é minha. – Rony decidiu depois de ouvir o relato. – Está zangada comigo, não é?
- É claro que não. Você não podia adivinhar que a vassoura cairia.
- Sim, mas está furiosa por eu ter pego Bryan sem falar com você.
- Falaremos sobre isso mais tarde, Rony. No momento, não tenho energia para conversar. Estarei aí antes do final do dia, e então discutiremos esse assunto.
Aliviada por saber que Bryan estava bem, Hermione desligou e foi tomar banho. No chuveiro, cobriu o corpo com a espuma perfumada do sabonete oferecido pelo hotel e lavou os cabelos, imaginando como seria sentir os dedos de Harry acariciando sua pele, despertando sensações intensas e incontroláveis.
Mas... em que estava pensando? Não tinha o direito de criar fantasias sexuais com Harry! Não queria pensar nele, nem no que fariam seus dedos se pudessem tocá-la. Se quisessem tocá-la... Usando a toalha fina e branca, secou-se e pensou que seria ótimo se pudesse livrar-se das imagens com a mesma facilidade de que se livrara das gotas de água sobre seu corpo. Dormira em seus braços na noite anterior e não tivera sonhos, medos ou inseguranças. Mas era mais que a memória dessa força que fazia se coração bater mais depressa, elevando a temperatura do corpo.
Sempre tivera consciência da atração por Harry, mas o sentimento havia sido temperado pela condição de mulher casada. E casada com o melhor amigo dele! Tentara então gostar de Harry, usando a nova atitude antipática dele como uma defesa contra a loucura de querê-lo tanto. Mas era difícil sustentar sentimentos de antagonismo por alguém em cujos braços passara a noite, alguém cujas nuances de personalidade eram infinitas, alguém vulnerável e atencioso.
Feliz por ter uma calça de moletom e uma camiseta limpa para vestir, únicas roupa que levara dentro da mochila, ela se aprontou depressa, escovou os cabelos e até acrescentou um toque de batom aos lábios. Sentia-se novamente no controle do próprio destino, tanto que já nem pensava em Harry. Tudo que queria era comer e voltar a Londres e para o filho. Levando a mochila, deixou o quarto e seguiu para o aposento 110. Bateu na porta, e quando ela se abriu, todos os pensamentos impróprios retornaram com força espantosa.
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