Capítulo XII
Harry havia saído do chuveiro. O jeans novo revelava as pernas musculosas, e o peito nu e musculoso era exibido com orgulho natural. Os cabelos haviam sido deixados desalinhados, como sempre, e metade do rosto estava coberta por creme de barbear. Ele a convidou a entrar e voltou ao banheiro.
- Sente-se. Virei num minuto.
Hermione prendeu o fôlego até que vê-lo desaparecer além da porta do banheiro. O ar do quarto retinha o perfume másculo que inebriava seus sentidos. O homem era perigoso vestido, mas com o peito nu… Afinal, o eu estava acontecendo com ela? Por eu não conseguia tirar essas idéias da cabeça? Harry já fora seu melhor amigo, e como irmão de seu ex-marido, sempre a tratara com frieza e desdém durante os anos em que estivera casada com o amigo dele. Foi com alívio que ela o viu sair do banheiro vestido. A camiseta branca era simples, porém propícia para a ocasião.
- Onde conseguiu roupas limpas?
- O dono do hotel mandou seu filho resolver alguns problemas para mim. Neste momento ele está alugando um carro, já que uma vassoura seria estranho de pedir, e logo estará de volta com a comida.
- Uau! Você não perde tempo, não?
Harry sorriu, e ela teve a sensação de que o coração parava de bater.
- Só precisava sair da floresta. No mundo civilizado, o dinheiro é a chave que abre todas as portas.
Hermione teria dito que nem tudo podia ser comprado, mas nesse momento o rapaz chegou com a comida, e todo o resto deixou de ser importante. As caixas continham o conteúdo de seus sonhos: milkshake de chocolate, cheeseburguer e fritas. Ao ver o lanche, ela sentiu vontade de chorar, não de fome, mas por ele ter se lembrado do que dissera quando estavam perdidos. Teria errado ao julgá-lo? Sempre o considerou frio e insensível depois da guerra contra Voldemort, e ainda superprotetor com Rony. Teria cometido um engano?
- Obrigada. – sorriu. – Como está o joelho?
- Melhor. O banho quente aliviou parte da dor. E sua cabeça?
- Tudo bem. Telefonei para casa. Rony e Bryan estão lá, e parece que não há nenhum problema com eles.
- Eu disse que eles estavam bem.
- Bryan falou sobre as coisas maravilhosas que viu na Toca. O lago… - Harry sorriu.
- O lago... Nos dias quentes, quando estava na Toca, íamos pra lá nos refrescar.
Não se lembrava de Harry como sendo um homem feliz ou afetuoso, fazia tempo que não o via assim, mas o sorriso em seus lábios e o humor que iluminava seus olhos despertavam nela uma estranha energia, fazia ela voltar no tempo. Terminaram a refeição em silêncio, e menos de uma hora mais tarde estavam no carro alugado a caminho de Londres. Hermione tentava prestar atenção ao cenário além da janela, mas os pensamentos estavam voltados para Harry e os momentos que passaram juntos.
Naqueles dois dias, gostaria de ter encontrado aquele homem frio e autoritário em que ele se transformara. Harry sempre deu a impressão de não precisar de ninguém. Hermione orgulhava-se de não precisar de ninguém. Há muito tempo pensara precisar de Rony, mas logo descobrira que essa necessidade fora apenas um produto de sua imaginação. Além do mais, todas as pessoas que julgava necessárias acabavam por deixá-la. Era assim com todo mundo. Desejava ter passado os últimos dois dias confirmando opiniões anteriores sobre Harry. Devia tê-lo achado deficiente no plano emocional e repugnante no aspecto físico.
Não precisava de ninguém, muito menos de Harry Potter, seu ex-melhor amigo. Mas… droga! Era impossível negar o desejo que sentia por ele. Harry tentou concentrar-se na estrada, mas era difícil esquecer a presença feminina a seu lado ou a impressão deixada pelo corpo sinuoso em contato com o seu. Mais difícil ainda era deixar de imaginá-la usando a calcinha de vermelha renda...
Agarrando o volume com força desnecessária, pisou mais fundo no acelerador, ansioso por chegar e deixar para trás a experiência marcante. Deixaria Hermione em seu apartamento, depois seguiria para sua nova casa, A Toca. Uma vez retomada a rotina diária, mergulharia no trabalho árduo de administrar as Gemialidades Weasley e logo esqueceria os três dias que passara com ela.
Certamente esqueceria o encaixe perfeito entre seu corpo e o dela, ou o tom mais escuro que seus olhos assumiam ao despertar. Também esqueceria o perfume de seus cabelos, uma fragrância que parecia fazer parte dela como os olhos de mel. Conhecer os motivos que a levavam a temer o escuro abrira uma nova dimensão da mulher que, agora percebia, jamais havia conhecido de verdade, revelando uma vulnerabilidade que preferia nunca ter visto. A morte de seus pais, o fim de sua família, deixara um vazio no coração de Harry, e ainda não encontrara a mulher que esperava poder preencher essa lacuna. De uma coisa tinha certeza: a mulher em questão não poderia ser Hermione, especialmente se Rony estivesse contemplando a reconciliação.
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