Capítulo XXVI



- Harry?

Ele não se virou para fitá-la e, por um momento, Hermione pensou que não houvesse sido notada.

- Harry, você está bem? – persistiu, dando um passo em sua direção e lutando contra o impulso de tocar as costas largas e massagear os músculos tensos.

- O Sr. Weasley, quando estava prestes a morrer... – a voz soava mais profunda que o habitual e era sacudida pelo leve tremor de emoções contidas a custo. O rosto permanecia voltado para a janela, como se a noite pudesse trazer respostas. – Ele vagou entre a consciência e o delírio, sabia que estava morrendo, e creio que se entregou pois sabia que a Sra. Weasley não sobreviveria também. Ele e disse que não estava preocupado com os gêmeos, ou Percy, ou Gui, nem mesmo com Gina, mas estava muito preocupado com Rony. Harry suspirou, e mais uma vez ela teve de conter o ímpeto de tocá-lo, tal era a intensidade da dor em sua voz. - Ele sabia que Rony era inconseqüente… descuidado… Não que ele fosse uma criança problemática. Ele apenas não pensava antes de agir, não considerava as possíveis conseqüências de seus atos. Ele me fez prometer que sempre cuidaria dele. – Finalmente ele se virou para encará-la com os olhos brilhantes e atormentados. – Não sei como resolver… tudo isso.

Ela tocou o braço forte e sentiu a tensão sob os músculos.

- Ninguém pode controlar tudo, Harry.

- Mas eu fiz uma promessa.

- Algumas promessas não podem ser cumpridas, por maior que seja nossa vontade. Você fez sua parte. Cumpriu a promessa que fez ao Sr. Weasley. Rony é um adulto. É claro que ainda pode amá-lo e apoiá-lo, mas não pode viver por ele. Nem poderá suportar esse fardo em seu lugar. Dessa vez ele terá de ser forte e andar com as próprias pernas.

Harry passou a mão na cabeça e cerrou os punhos, tomado por uma tensão incontrolável e crescente. Seus olhos brilhavam de maneira intensa, e era evidente que ele lutava para manter o controle.

- Estou tão furioso! Furioso, triste e... – Ele não concluiu a frase, mas Hermione sabia quais eram as palavras que haviam morrido em sua garganta.

- Também estou com medo.

- Ele é meu único amigo, a única família que me resta!

- Sim, e ele é o pai do meu filho, o único que Bryan jamais terá.

O ar no quarto era pesado, carregado, como se uma explosão estivesse prestes a acontecer. Harry lutava pelo controle… e vencia a batalha. Ele suspirou, livrando-se de parte da tensão.

- Desculpe se estraguei a festa da pizza.

- Você não estragou nada. Rony falou sem pensar, e é natural que suas palavras tenham causado uma certa perturbação.

- Onde ele está agora? E Bryan?

- Os dois foram ao cinema.

Harry balançou a cabeça e sorriu.

- É típico. Primeiro ele cria a confusão, depois foge.

O sorriso letal. Hermione podia sentir as primeiras ondas de calor aquecendo seu peito. De repente se dava conta de que estava sozinha com ele no quarto, a poucos passos de uma confortável cama de casal. A cama, a colcha macia e perfumada, os travesseiros espalhados... Tudo era um convite ao prazer.

- Falando em confusão, preciso voltar à cozinha e limpar aquela sujeira. – Tinha de sair daquele quarto e afastar-se dele.

- Eu ajudo.

- Não! – O protesto soara aflito demais. – Não é necessário. Realmente, eu… não me incomodo.

- Mesmo assim, insisto em ajudá-la. Se contribuí para criar a bagunça, agora devo contribuir para limpá-la.

Queria protestar com mais veemência, dizer a ele que podia fazer o trabalho sozinha, que sua ajuda não era necessária. Mas não podia exigir que ele se mantivesse longe da própria cozinha. Harry a seguiu pela escada e através do corredor. Hermione tinha consciência da presença próxima a cada passo que dava. Podia sentir os olhos em seu corpo, descendo pelas costas, analisando o quadril… Ou seria apenas sua imaginação?

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