Capítulo XXV



Rony olhou para Hermione com ar compungido ao ver o irmão sair da cozinha. Ele era como uma criança que, depois de cometer um erro, precisava de orientação sobre como repará-lo.

- Sinto muito. Sei que disse algo estúpido, mas… Droga! Não estava pensando.

- Acho melhor ir atrás dele. – Hermione sugeriu, a mente tomada pela imagem do rosto de Harry. – Ele ficou bastante perturbado.

- De jeito nenhum! Quando fica perturbado, Harry prefere ter algum tempo sozinho para recuperar-se e acalmar-se. É melhor deixá-lo em paz.

- O que acha de irmos ao cinema, pai? – Bryan sugeriu. O rosto de Rony iluminou-se.

- Ótima idéia! Quando voltarmos, tudo estará bem.

Antes que percebesse, Hermione descobriu-se sozinha na cozinha suja e silenciosa. Sentada no mesmo lugar onde passara toda a noite, serviu-se de mais um côo de vinho. Depois de beber um gole, balançou a cabeça pensando na esteira de caos que Rony deixara para trás. O sentimento era familiar e despertava a lembrança de todas as razões pelas quais o casamento fracassara. Rony sempre tivera boas intenções, mas não dispunha da maturidade necessária para formar um compromisso real com o casamento, ou para forjar laços verdadeiros com ela.

Sempre preferira sair com os amigos, ou ficar sentado conversando e bebendo cerveja amanteigada. Falava sem pensar, sem nunca ter a intenção de ferir aqueles que o cercavam, mas magoando mesmo assim. Sabia que lê não tivera a intenção de criar problemas com o comentário impensado, que deixara as palavras brotarem de seus lábios sem antes serem submetidas ao exame criterioso do cérebro, mas não conseguia apagar da mente o rosto de Harry.

Quando Rony dissera aquelas palavras, seu rosto ficara pálido e os olhos foram tomados de assalto por uma dor aguda o bastante para rasgar o coração de Hermione. O homem que sempre havia considerado forte e indestrutível, poderoso e controlado, havia se deixado inundar pela angústia e pelo desespero. Lembrava-se bem daquela feição anos atrás, na época em que lutavam contra Voldemort. Mas ele era um adulto. Um homem crescido. Ele enfrentava tudo sozinho porque queria, ou porque não tinha alternativa? Precisava de alguém com quem conversar? Alguém com quem pudesse dividir as emoções que o atormentavam?

Ela lembrava-se vagamente que já havia tido esse papel na vida dele quando ainda eram adolescentes inconseqüentes. Sabia que estava cometendo um erro, mas não podia conter-se. Determinada, levantou-se e foi procurá-lo. Harry não estava no escritório, nem em um dos outros aposentos do piso social. Hermione subiu a escada com passos rápidos, certa de que, se parasse para pensar, correria de volta à cozinha. Não tinha idéia do que diria quando o encontrasse. Só sabia que não suportava mais imaginá-lo sofrendo sozinho.

Ela o encontrou no quarto, em pé diante da janela, quase escondido pelas sombras da noite que haviam invadido o aposento. Não teria invadido sua privacidade se a porta estivesse fechada, mas ele a deixara aberta num convite silencioso.

- Harry?

Compartilhe!

anúncio

Comentários (0)

Não há comentários. Seja o primeiro!
Você precisa estar logado para comentar. Faça Login.