Três Voltas, Duas Vidas
Três Voltas, Duas Vidas
Dumbledore fechou a porta, e Hermione tirou o vira-tempo de dentro da roupa. Passou a corrente pelo pescoço de Harry, que observou estupefato enquanto ela dava as três voltas na ampulheta. Ela sentiu a familiar sensação de ser puxada para trás, desta vez não sozinha. Quando tudo parou, ela e Harry estavam no saguão. Ainda era possível ver a luz do sol vindo lá de fora. Harry começou a indagá-la, impaciente:
— O que está acontecendo?
Ela levou-o para dentro de um armário de vassouras, e só lá dentro tirou a corrente do pescoço dele e jogou tudo de volta para dentro de suas roupas.
— Fale baixo — sussurrou. — Tem gente vindo, acho que somos nós!
— Mas... Hermione!
— Nós voltamos no tempo, Harry. Três horas! É assim que eu tenho assistido às minhas aulas o ano inteiro. Isto se chama vira-tempo! Mas... O que será que Dumbledore quer que façamos?
— Bem, se voltamos três horas, deve ter alguma coisa que aconteceu mais ou menos a essa hora que ele quer que a gente mude.
— A esta hora estávamos indo para a cabana de Hagrid...
— É isso! — exclamou Harry. — Dumbledore disse que salvaríamos duas vidas esta noite; ele quer que a gente salve o Bicuço! Depois podemos voar nele até a janela da sala do prof. Flitwick, e libertar Sirius... Ele pode fugir no hipogrifo, os dois fugirão juntos!
Hermione tinha a boca aberta de espanto. Realmente, fazia sentido.
— Se conseguirmos fazer isso sem que ninguém nos veja, será um milagre!
— Temos que tentar, não é?
Harry encostou o ouvido na porta para escutar. Hermione abriu uma fresta, pela qual pôde ver que o saguão estava vazio.
— Venha, vamos. — disse. — Vamos pelo caminho das estufas, para não arriscar de vermos a nós mesmos.
Os dois saíram em disparada, contornaram as estufas, o salgueiro lutador e esgueiraram-se pelas árvores da orla da floresta, e então esconderam-se atrás de um carvalho para observar a cabana. Viram-se entrar, depois sair e depois desaparecerem novamente embaixo da capa. Dumbledore vinha chegando com Fudge, o outro membro do ministério e o carrasco. Eles entraram na cabana, e logo em seguida Fudge disse que teria de ler o decreto oficial de execução, que deveria depois ser assinado por Hagrid e Macnair.
Macnair, que estivera observando o hipogrifo pela janela, voltou a entrar para ouvir Fudge. Era a hora. Harry pediu a Hermione que esperasse ali, e dirigiu-se ao canteiro de abóboras. Hermione observou-o pular a cerca, fazer uma reverência, que Bicuço devolveu, e depois desamarrar e começar a puxar o hipogrifo, que aparentemente não queria vir. Era possível ouvir Fudge lendo. Aos poucos, Bicuço começou a se mexer. Inquieta, Hermione correu até lá e ajudou a puxar. Pouco depois, já estavam fora do campo de visão do canteiro, escondidos na lateral da cabana. Guardaram um silêncio que até Bicuço parecia respeitar. Ouviram os passos dos homens.
— Vamos acabar logo com isso — dizia Macnair.
A porta então abriu-se, e houve um instante de silêncio. — Onde ele está? — perguntou Macnair. — Onde está o bicho? Ele estava bem aqui!
— Ora, vejam só! — disse Dumbledore, num tom divertido. — Deve ter se soltado enquanto conversávamos na cabana!
Eles ouviram o barulho do machado de Macnair, que provavelmente golpeara a cerca para descontar sua raiva. Os homens voltaram a entrar na cabana, Hagrid chorando e abençoando o hipogrifo.
— Vamos! — Hermione sussurrou, e ela e Harry puseram-se a andar levando Bicuço.
— Temos que ficar perto do salgueiro lutador — disse Harry. — para podermos acompanhar o que está acontecendo.
— Certo.
Os dois mais o hipogrifo andaram até os arredores do salgueiro, e sentaram-se escondidos atrás de uma árvore. Viram Rony ser arrastado para a abertura da árvore por Sirius, depois a si mesmos entrando atrás deles, depois Lupin e por último Snape. Agora só lhes restava esperar que saíssem. Viram ainda Fudge, o outro homem do ministério, Macnair e Dumbledore voltando para o castelo, e logo depois Hagrid, bêbado e com uma garrafa na mão, indo em direção ao castelo e comemorando a fuga de Bicuço.
— Harry... Você conseguiu fazer aquele feitiço contra os dementadores? Aquele que você tentou me ensinar?
— O Patrono? Não. — ele abaixou a cabeça. — Desmaiei um pouco depois de você.
— Mas então, por que eles não mataram Sirius?
— Porque alguém conseguiu conjurar um Patrono. Só um Patrono de verdade consegue afastar os dementadores.
— Mas quem foi?
— Eu... Não sei se vi direito. Eu pensei ter visto... Pensei ter visto meu pai.
— Mas Harry... ele está...
— Morto, eu sei. Mas era parecido com ele.
Hermione sentiu um peso no coração. Os dois ficaram ali, em silêncio, esperando que eles mesmos e os outros tornassem a sair da abertura do salgueiro lutador, o que só ocorreu cerca de uma hora depois. Quando se viram saindo, os dois ficaram em pé. Harry comentou que a qualquer momento a lua apareceria e Lupin se transformaria, e Hermione imaginou que o amigo estava pensando em uma maneira de impedir que Sirius se machucasse ou Pettigrew fugisse.
— Harry, não podemos ser vistos. Não podemos ir até lá, podemos apenas esperar para resgatar Sirius da cela, foi para isso que viemos, apenas!
— Está bem! Mas precisamos sair daqui, pois Lupin virá para cá quando estiver transformado.
— E para onde vamos? — ela quis saber, com urgência.
— Podemos voltar para a cabana de Hagrid, está vazia agora.
— Certo.
Os dois correram com Bicuço até lá, e fecharam-se dentro da cabana. Canino começou a latir, e Hermione acariciou-o atrás das orelhas para acalmá-lo. — Está tudo bem, somos nós — disse.
Harry espiava nervosamente pela janela.
— É melhor eu sair daqui, não consigo ver o que está acontecendo, e assim não saberemos quando for a hora de salvar Sirius.
Hermione desconfiou do amigo, mas e se estivesse errada? Ele estava certo, não adiantava ficarem escondidos ali sem saber o que estava acontecendo. Ela concordou e Harry saiu da cabana. Lançava olhares furtivos pela janela para verificar se ele ainda estava lá, até que numa dessas espiadas, ele sumira. Ela puxou Bicuço e saiu à procura dele, furiosa com a inconseqüência dele. Quando viu os dementadores se afastando, imaginou que Harry devia ter ido tentar rever seu pai. Encontrou-o perto do lago.
— Harry, o que está fazendo?
— Acabei de salvar nossas vidas, Mione. Fui eu quem conjurou o Patrono!
— Harry... Você conseguiu afugentar todos aqueles dementadores!
Os dois observaram Snape conjurando macas para levar seus corpos de volta ao castelo.
— Está quase na hora — murmurou Harry.
— Temos cerca de quarenta e cinco minutos até Dumbledore trancar a porta. Precisamos voltar até lá na mesma hora, para que ninguém perceba que nos ausentamos!
— Você acha que ele já está lá em cima?
Naquele momento, alguém vinha saindo do castelo; alguém que eles reconheceram como Macnair. — Ele está indo chamar os dementadores! É agora, Mione!
Harry ajudou-a a montar em Bicuço e depois montou à sua frente. Disse a ela que se segurasse nele, e ela enlaçou-o pela cintura. Com uma desenvoltura incrível, Harry guiou o hipogrifo e ele começou a voar. Hermione ficou apavorada.
— Não estou gostando disso... — murmurava. — Não estou gostando nem um pouco disso!
Felizmente, enquanto ela ficava apavorada, Harry tinha o controle da situação, conduzindo Bicuço por onde queria. Em poucos instantes, chegaram à janela do prof. Flitwick, e Harry chamou Sirius, que ficou absolutamente espantado quando os viu. Ele tentou abrir a janela, mas não conseguiu.
Hermione soltou a mão direita da cintura de Harry para tirar a varinha de dentro das vestes, apontando-a para a janela e gritando:
— Alorromora!
A janela se abriu e Sirius saiu por ela facilmente, montando o hipogrifo logo atrás de Hermione. Harry guiou Bicuço até o topo da Torre Oeste, onde eles puderam descer.
— Vamos nos encontrar outra vez — disse Sirius, montando o hipogrifo sozinho, e voando logo em seguida.
Hermione e Harry ficaram a observá-lo, até que Hermione olhou seu relógio e viu que faltavam dez minutos para a hora em que Dumbledore os trancava na ala hospitalar. Os dois desceram da torre por uma escada de pedra muito estreita, e depois desceram vários andares até a ala hospitalar. Chegando lá, viram as costas de Dumbledore. Ele dizia:
— Três voltas devem bastar. Vou trancá-los, faltam cinco minutos para a meia-noite. Boa sorte. — ele fechou a porta, e virou-se para trás ao ouvir os passos dos dois. — E então?
— Conseguimos! — disse Harry. — Sirius já foi, montado em Bicuço.
— Muito bem! Acho que vocês já foram também. Entrem, vou trancá-los.
Os dois entraram e o professor trancou a porta por fora. A ala hospitalar continuava vazia, exceto por Rony desacordado em uma cama. Hermione quis ir vê-lo, mas Harry segurou-a pelo braço.
— É melhor deitarmos — disse ele.
Nem bem os dois cobriram-se, Madame Pomfrey reapareceu, mal-humorada, para oferecer-lhes chocolates. Hermione respirava fundo, tentando entender tudo o que acontecera naquela noite. Sabia também que acabara de infringir uma lei severa da magia, pois ninguém podia mudar o tempo. Na realidade, se fosse pensar, estivera infringindo esta lei o ano todo. Lembrou-se das palavras da profa. McGonagall, sobre o vira-tempo ensiná-la a fazer escolhas. Decidiu que o devolveria na primeira oportunidade.
Ela e Harry souberam que a fuga de Sirius tinha sido descoberta quando ouviram o eco dos gritos de Snape por toda a escola, indignado. Não demorou muito para que ele invadisse a ala hospitalar, querendo saber o que Harry tinha feito para soltar Sirius Black. Fudge e Dumbledore argumentaram que não era possível Harry ter feito nada estando trancado na ala hospitalar o tempo todo. Ainda assim, Snape continuou insistindo, histérico, mas se retirou quando Dumbledore o mandou parar. O diretor, antes de se retirar com Fudge, ainda certificou-se com ele de que os dementadores seriam retirados da escola.
Pouco depois que a porta se fechou, Rony acordou. Hermione correu para a cabeceira da cama dele.
— O que aconteceu? Onde estão Sirius, Lupin, Pettigrew?
Harry, desanimado, pediu a Hermione que explicasse tudo ao amigo, e foi deitar-se. Sentindo uma enorme vontade de abraçar Rony, agora que estava tudo calmo, Hermione manteve-se em pé ao lado da cama e explicou tudo a ele, incluindo os detalhes sobre o vira-tempo. Ele ficou abismado.
— Quer dizer então que você estava em duas aulas ao mesmo tempo.
— Isso — ela confirmou, sorrindo.
Houve um momento longo de silêncio. Rony corou de repente, e Hermione entendeu o motivo quando ele começou a falar:
— Escute, Mione... Queria pedir desculpas por aquelas brigas todas. Afinal, Perebas... nem mesmo existia, não é mesmo?
Hermione resistiu a um novo ímpeto de abraçá-lo, mas tomou-lhe a mão.
— Como você poderia saber?
— Seria bom se Bichento o tivesse encontrado depois que viemos para cá... e o devorado. Nunca pensei que iria dizer isso...
Hermione sorriu, soltando a mão de Rony. Ele olhou-a.
— Você está toda machucada... Não era melhor dormir um pouco?
Ela assentiu, e voltou para sua cama. Pensou que demoraria muito para pegar no sono, mas nem bem recostou-se no travesseiro, foi vencida pelo cansaço de ter vivido duas vezes aquelas horas tensas.
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