Virada
Virada
Hermione e Gina almoçaram juntas. O salão principal não estava muito cheio, devido à grande quantidade de alunos que tinham ido a Hogsmeade. Hermione ainda se sentia estranha, como se estivesse dentro de um corpo diferente, como se não fosse mais a mesma pessoa. Gina tentava animá-la.
— Pense bem... Você nem esperava e deu seu primeiro beijo. Isso é bom, porque dizem que o primeiro sempre é ruim. Isso significa que o próximo vai ser bom.
Hermione sorriu, meio contrariada.
— Sabe, eu realmente não penso nisso.
— Claro que não pensa; você só estuda. Mas você já deve ter pensado em beijar o Rony.
— Não! — Hermione protestou, escandalizada. — Na verdade, quando Adam... Enfim, quando ele fez aquilo comigo, eu pensei no Rony, mas só de imaginar a situação eu fiquei morrendo de nojo...
— Ora, Mione! — Gina ria. — Você parece até mais nova do que eu. Eu já me imaginei beijando o Harry... — ela perdeu os olhos em algum lugar, com uma expressão sonhadora, fazendo Hermione ter certeza de que pelo menos aquela cara de boba não fazia quando lembrava que Rony existia.
A tarde se arrastou. Incapaz de se concentrar para estudar, Hermione ficou na sala comunal, olhando para as janelas e esperando que aparecesse alguma coruja. Gina tinha alguns deveres a fazer, e ficou trabalhando ao lado dela. Somente no final da tarde foi que apareceu uma coruja bicando uma das janelas. Hermione foi até lá. Abriu a carta tremendo de nervosismo, e começou a ler:
"Cara Mione
Perdemos. Tive permissão de trazer Bicuço de volta a Hogwarts.
A data de execução vai ser marcada.
Bicucinho gostou de Londres.
Não vou esquecer toda a ajuda que você nos deu.
Hagrid"
Hermione já chorava ao terminar de ler a carta. Se Bicuço seria executado, então não havia justiça no mundo! Ela ficou a imaginar o estado em que Hagrid devia estar com aquele resultado, e chorou mais ainda. Decidiu contar a Rony e Harry; esperava que pelo menos o apoio deles ajudasse Hagrid a se recuperar mais rápido. Saiu pelo buraco do retrato, ao que a Mulher Gorda exclamou:
— Aonde vai, garota? Não tem medo que Sirius Black lhe corte a garganta?
Sem dar atenção a ela nem aos trasgos de segurança, saiu pelos corredores a procurar Rony e Harry. Procurou-os nos arredores, mas não os encontrou em lugar algum. Desistindo, retornou à entrada da torre da Grifinória. Por sorte, os dois também estavam chegando quando ela alcançou o retrato. Tão logo ela se aproximou, Rony a atacou.
— Veio tripudiar, é? Ou acabou de nos denunciar?
Hermione não entendeu o que ele quis dizer, mas não se importou.
— Não. Só achei que deveriam saber. Hagrid perdeu o caso. Bicuço vai ser executado.
Trêmula, estendeu a carta aos garotos. Harry pegou-a e os dois começaram a ler. Ela não conseguiu mais se segurar; começou a chorar, os soluços sacudindo-a.
— Não podem fazer isso. — disse Harry. — Bicuço não é perigoso!
— Vai haver recurso, — disse ela, entre os soluços. — sempre há. Mas a esperança é quase nula, nada vai mudar até lá.
— Vai sim — disse Rony, ferozmente. — Você não terá que fazer o trabalho todo sozinha desta vez, Mione. Eu vou ajudar.
Aquele gesto terminou de liberar totalmente as lágrimas de Hermione. Ela passou a chorar não apenas por Hagrid, mas também pelas brigas que tivera com Rony, pelo beijo que Adam lhe roubara, pelo vira-tempo e por tudo o mais que estivesse errado.
— Ah, Rony! — atirou os braços ao redor do pescoço dele, e abraçou-o forte. Sentiu um dos braços dele envolvendo-a fracamente pelas costas, e a outra mão tocando-a de leve na cabeça, numa provável tentativa de carícia. Apertou-o mais por um instante, pois na verdade sentia que não queria soltá-lo; mas soltou. E tinha algo importante para dizer. — Eu sinto muito, muito mesmo pelo Perebas! — as palavras saíram ridiculamente entrecortadas pelos soluços.
Rony estava muito vermelho, e sorria constrangido.
— Tudo bem — disse ele. — Ele estava velho, estava ficando meio inútil... Nunca se sabe, talvez meus pais me comprem uma coruja agora.
Hermione sorriu por entre as lágrimas. Harry também sorria, e abraçou-a por um lado, puxando Rony para abraçá-la também, pelo outro lado. Ficaram os três abraçados assim por alguns momentos, ela com a cabeça entre as deles, um braço ao redor de cada, enquanto os braços deles se cruzavam em suas costas e também abraçavam as costas um do outro. Embora nenhum deles dissesse nada, aquele gesto significava união, a reunião da unidade indivisível que eram, e para sempre seriam.
A segurança rígida do castelo impedia Hermione, Rony e Harry de visitarem Hagrid à noite, então eles só puderam falar com ele no final da próxima aula de Trato das Criaturas Mágicas que tiveram. Hermione abraçou-o, e sentiu-se péssima em ver como ele estava abalado. Os quatro começaram a andar a caminho do castelo, com o resto da turma mais à frente. Draco Malfoy e seus amigos vez ou outra os olhavam, soltando risinhos debochados.
— Foi tudo minha culpa — disse Hagrid, desanimado. — Me atrapalhava todo para falar, ficava deixando minhas anotações caírem e esquecia as datas que você viu para mim, Mione. Depois Lúcio Malfoy ficou em pé e falou, e a comissão fez o que ele mandou.
— Mas ainda tem recurso! — disse Rony. — Estamos trabalhando nisso!
— Não adianta, Rony. Eles fazem o que Malfoy manda. Mas vou providenciar para que os últimos dias do Bicucinho sejam os mais felizes da vida dele!
Ele despediu-se e deu meia-volta, escondendo o rosto em um lenço e tomando o caminho de volta para sua cabana.
Hermione olhou para Rony e Harry, que pareciam estar tão desolados quanto ela mesma. Mas nesse momento, Malfoy, Crabbe e Goyle estavam parados não muito longe deles. Malfoy disse:
— Olhem só para ele, chorando feito um bebezão! Já viram uma coisa mais patética? E ainda dizem que ele é nosso professor!
Hermione simplesmente não pôde suportar. Foi muito pior do que se a ofensa tivesse sido contra ela. Andou depressa até Malfoy e antes mesmo que ele pudesse desconfiar do que ela pretendia, desferiu-lhe um tapa no rosto com toda a força, cujo barulho ecoou pelos jardins. Malfoy cambaleou para trás, e Crabbe e Goyle, parados atrás dele, olhavam a cena, estupefatos.
— Não se atreva a chamar Hagrid de patético, seu sujo, seu perverso! — ela levantou a mão com impulso para um novo golpe, mas Rony segurou seu braço. — Rony, sai! — com a outra mão, sacou a varinha e encostou-a no queixo de Malfoy. O garoto, sem dizer nada, começou a correr em direção ao castelo e foi seguido pelos amigos.
— Mione! — disse Rony, olhando para ela com incredulidade e só então soltando sua mão.
— Harry, é melhor você dar uma surra em Malfoy na final de quadribol. — disse, guardando a varinha. — Não vou suportar ver a Sonserina vencer.
— Vamos, — disse Rony, ainda olhando para ela com aquela cara incrédula. — temos aula de Feitiços.
Conforme iam subindo as escadas, Hermione lembrou-se de que esquecera o vira-tempo no dormitório. Sem que os meninos vissem, separou-se deles e se dirigiu à torre da Grifinória. Disse a senha à Mulher Gorda e passou correndo pela sala comunal em direção ao quarto. Pôs o vira-tempo ao redor do pescoço e escondido dentro das vestes e conferiu o relógio; além de Feitiços, tinha Runas Antigas naquele horário. Como a sala de Feitiços era mais longe, ela correu para a aula de Runas Antigas.
A professora liberou os alunos um pouco antes, e Hermione julgou que aquele tempinho livre seria ideal para terminar um exercício de Aritmancia que deixara pendente. Sentou-se na sala comunal com o livro e começou a trabalhar, cuidando a hora. Quando terminasse o período da aula, ela voltaria uma hora no tempo e alcançaria os meninos para a aula de Feitiços.
A sala estava vazia, a lareira apagada e a luz da tarde era fraca. Hermione começou a escrever, mas seus olhos começaram a pesar e sua mente a divagar. Quando percebeu, estava escrevendo coisas sem sentido no trabalho ou cochilava no meio de frases, que acabavam escapando para a linha de cima e borrando o pergaminho.
Hermione perdeu a luta; adormeceu em cima do livro de Aritmancia, fazendo dele seu travesseiro. No que pareceu ser o instante seguinte, sentiu alguém a cutucando no braço. Abriu os olhos, atordoada.
— Q-quê? Já está na hora de ir? Que aula temos agora?
— Adivinhação, mas só daqui a vinte minutos. — respondeu Harry, sentado à sua esquerda. À sua direita, estava Rony. — Mione, por que você não foi à aula de Feitiços?
— Ah, não! Me esqueci de ir à aula de Feitiços!
— Como você pôde esquecer de ir à aula, se estava conosco até o momento em que chegamos à porta da sala?
— Eu não acredito... O prof. Flitwick ficou aborrecido? Como eu pude...
— Sabe de uma coisa, Mione? — disse Rony, olhando para o livro de Aritmancia. — Acho que você está sofrendo um colapso mental. Está tentando fazer coisas demais.
E só agora ele percebia? Ela teria agradecido sarcasticamente a ele se não estivesse mais preocupada em disfarçar seu sumiço inesperado.
— Não estou, não! – afastou os cabelos do rosto procurando a mochila, ainda decepcionada consigo mesma. — É melhor eu ir me desculpar com o prof. Flitwick, vejo vocês na aula de Adivinhação.
Hermione chegou ofegante à sala dos professores. Bateu à porta e abriu uma fresta, o suficiente para enxergar o professor e chamá-lo. Ele veio, pacientemente, até o lado de fora da sala.
— Srta. Granger.
— Prof. Flitwick, eu sinto muito, muito mesmo por ter faltado à sua aula... Eu vim me desculpar.
— Tudo bem, srta. Granger. Aconteceu alguma coisa?
— Não, simplesmente, eu estava fazendo um trabalho de outra disciplina e, bem... perdi a hora.
— Srta. Granger... — o professor olhou-a longamente, com uma expressão de pena. — É realmente uma lástima que tenha perdido a aula sobre feitiços para animar. Eu diria, com todo o respeito, que está precisando de um. Aliás, a aconselho a treiná-los, é uma matéria bem importante. No mais, fique tranqüila.
Hermione não respondeu. Apenas despediu-se do professor com um aceno tímido e deu meia-volta. Seguiu andando devagar, com a mochila suspensa na mão esquerda. O final do corredor borrou-se em sua visão devido às lágrimas que brotaram-lhe dos olhos.
Alguns minutos mais tarde, com o rosto já enxugado, Hermione juntou-se a Harry e Rony para a aula de Adivinhação. Na sala de aula, a profa. Trelawnay anunciou que iniciariam os estudos com bola de cristal. Em meio a suas previsões furadas, ela ainda disse uma porção de coisas que Hermione não suportava ouvir. Ficava a aparvalhá-la pelas costas com os meninos.
Um certo momento, Trelawnay aproximou-se da mesa dos três e pousou seus olhos aumentados pelas lentes dos óculos sobre a bola de cristal de Harry, dizendo:
— Oh, não! Vejo uma coisa... Uma coisa terrível...
— Ah, pelo amor de Deus, — disse Hermione, surpreendendo a si mesma. — Não diga que é aquele ridículo do Sinistro outra vez!
A professora olhou-a com uma expressão de inconfundível raiva. Começou a dizer, com dissimulado pesar:
— Sinto dizer, querida, que no instante em que você entrou nesta sala, eu soube que você não possuía o talento para a nobre arte da Adivinhação, na verdade não me lembro de algum dia ter visto uma aluna com uma mente tão irreparavelmente terrena.
Hermione foi invadida por um sentimento de impotência, de fracasso, e principalmente de ódio. De súbito levantou-se, dizendo:
— Ótimo! — pegou suas coisas alegremente porém raivosamente, repetindo: — Ótimo! Desisto, vou-me embora!
Andou batendo os pés até a porta do alçapão, que abriu com um pontapé, depois desceu e seguiu seu caminho. Já perto da torre da Grifinória, acabou esbarrando na profa. Minerva McGonagall. Não poderia haver ninguém a quem ela quisesse menos encontrar.
— Srta. Granger? Aconteceu alguma coisa?
— N-nada — gaguejou, oscilando entre a vontade de contar o episódio na aula de Adivinhação e não dizer nada e seguir para a torre.
— Deixe-me vê-la mais de perto... Minha nossa! Você está com uma aparência horrível de cansaço!
— Professora, eu acabei de abandonar a disciplina de Adivinhação; não agüentei mais. A profa. Trelawnay estava prestes a prever mais uma vez a morte de Harry. Eu simplesmente não consigo acreditar naquelas coisas... — ela disse tudo isso muito rápido, e num tom como o de alguém que pede desculpas.
— Acalme-se, srta. Granger. Eu no seu lugar teria feito o mesmo. Aliás, talvez seja um bom momento para reavaliar quais são as disciplinas que deseja continuar cursando. — a professora tocou carinhosamente no ombro de Hermione. — É uma questão de escolha. Você não precisa cursar todas as disciplinas para mostrar que é uma boa aluna; todos já sabem que é. Tente pensar sobre isso.
— Mas, professora... — ela lembrou-se de Hagrid dizendo-lhe que a professora lhe daria aquele conselho. Será que estava num estado assim tão deplorável?
A profa. McGonagall puxou o vira-tempo de dentro das vestes dela.
— Talvez isto tenha servido apenas para ensiná-la a fazer as escolhas certas. O que já é algo muito bom, eu diria. Até mais, srta. Granger.
Hermione tornou a esconder o vira-tempo dentro das vestes, e ficou ali parada por alguns instantes, absorvendo tudo o que acabara de ouvir.
Todos os alunos estavam atolados de afazeres escolares nas férias de Páscoa, mas nenhum deles tanto quanto Hermione. Apesar de ter abandonado Adivinhação, ela ainda cursava mais matérias que todos os outros. Estudava dia e noite, o tempo todo, alternando o lugar entre a sala comunal e a biblioteca. Enquanto isso, Harry conciliava seus estudos com treinos exaustivos para a final de quadribol. Rony, além dos estudos, assumira a responsabilidade pela defesa de Bicuço, e passava horas ao lado de Hermione, lendo livros sobre hipogrifos e suas características psicológicas enquanto ela estudava.
O jogo estava marcado para o primeiro sábado depois das férias de Páscoa, e na noite da véspera Hermione estava tão ansiosa que não conseguia se concentrar para estudar. Além disso, havia uma grande algazarra na sala comunal, liderada evidentemente por Fred e Jorge. O capitão do time da Grifinória, Olívio Wood, estava a um canto debruçado sobre uma maquete do campo de quadribol, movendo bonequinhos com a varinha e falando consigo mesmo. Hermione estava sentada com Rony e Harry a um canto afastado, e Harry tinha no rosto uma expressão de ansiedade aguda.
Na manhã seguinte, Hermione e Rony integraram a torcida da Grifinória, que duelava nos gritos com a torcida da Sonserina. Em campo, a partida foi disputada. A cada lance, Hermione agarrava-se com força às roupas de Rony, que irritado, pedia que ela o largasse. Gina também torcia perto deles, gritando histericamente.
Conforme explicações exaustivas de Wood, era necessário que o time da Grifinória tivesse uma certa vantagem de pontos sobre o da Sonserina para vencer o campeonato. Hermione lembrou-se com uma certa vergonha de si mesma de quando assistira a um jogo com Adam Sthills e ele lhe explicara aquilo tudo.
No final, a vitória foi da Grifinória, com a devida vantagem de pontos para ganhar a taça. A torcida foi à loucura. Olívio Wood, que estava em seu último ano escolar e tinha, portanto, tido a sua última chance de ganhar o campeonato, chorava como um bebê. Harry, que apanhara o pomo de ouro selando a vitória, vibrava. Hermione pulou e abraçou Rony, que ficou vermelho e encabulado mas abraçou-a também. E depois os dois correram para dentro do campo com o resto da torcida, onde todos assistiram Dumbledore entregando a Taça de Quadribol ao time da Grifinória.
Foi marcada para a transição entre maio e junho a semana de exames. O calor começava a chegar, acompanhado de agradáveis tardes de sol, que os alunos passavam fazendo os exames ou estudando para os próximos.
Rony voltou a perguntar a Hermione sobre seus horários impossíveis em um dia em que ela anotava os horários de seus exames.
— Como é que você vai prestar o exame de Aritmancia na mesma hora que o de Transformação? Adianta perguntar? — ele tinha um certo cuidado, por causa da fragilidade dela naqueles dias tensos.
— Não, não adianta. — disse ela, procurando um livro, nervosa com os estudos, os exames e a pergunta.
— Edwiges! — disse Harry, dirigindo-se à janela. — Vejam, é um bilhete de Hagrid. Diz que o julgamento do recurso foi marcado para o dia seis, aqui mesmo em Hogwarts, e que virá alguém do ministério e um carrasco.
Hermione levantou a cabeça, alarmada.
— Carrasco? Mas parece que assim já decidiram! Dia seis... É nosso último dia de exames.
— Não podem já ter decidido... Levei um tempão estudando aquelas coisas sobre os hipogrifos! — disse Rony.
Os exames transcorreram de maneira tranqüila, até certo ponto. Hermione foi bem em todos, mas foi incapaz de conseguir a nota máxima em Defesa Contra as Artes das Trevas, que ocorreu no último dia. O exame do prof. Lupin era uma espécie de gincana, onde os alunos enfrentavam várias das criaturas estudadas durante o ano. No final, porém, Hermione encontrou a profa. McGonagall, com uma expressão de desapontamento. Ela disse, com sua voz severa:
— Lamento, srta. Granger. As suas notas foram abaixo da média em todas as disciplinas, então terá de repeti-las.
Sem entender o motivo pelo qual Hermione simplesmente abandonou o exame correndo e chorando, Lupin foi procurá-la. Ela contou-lhe, entre soluços, o que a professora lhe dissera. Harry e Rony se juntaram a eles, preocupados.
— Por acaso ela estava por ali? — disse Lupin, apontando uma certa direção.
— S-sim...
— Hermione! — disse o professor, com bondade, mas rindo. — Era um bicho-papão!
Ela sentiu as faces aquecerem de vergonha.
Os três dirigiram-se de volta para o castelo, onde almoçariam antes do último exame. Hermione sabia que Rony estava se segurando para não rir loucamente de seu bicho-papão. Os três encontraram-se, porém, com um grupo que lhes tiraria qualquer entusiasmo para rir: Cornélio Fudge, o ministro da magia, e um outro homem, vestido de preto e segurando uma lâmina enorme, que devia ser o tal carrasco. Fudge comentou com eles que viera para o julgamento do “hipogrifo louco”.
Se os três já estavam apreensivos com o julgamento do recurso, marcado para aquela tarde, agora estavam ainda mais. Depois do almoço Hermione separou-se deles, que iriam fazer o exame de Adivinhação, combinando com eles de encontrá-los logo mais na sala comunal. Seguiu então sozinha para prestar o exame de Estudo dos Trouxas, infeliz por ter que rever Adam Sthills. Ele não se dirigira mais a ela desde que tinham se encontrado em Hogsmeade, mas só estar dentro da mesma sala que ele já era perturbador. Ela achou o exame facílimo, mas seus colegas não pareciam tão tranqüilos. Imaginou que o motivo era que era a única nascida trouxa, então aquelas perguntas lhe eram banais. Entregou a prova à professora e retirou-se.
Durante o caminho até a torre da Grifinória, Hermione começou a repassar todos os momentos em que fora ajudada por Hagrid naquele ano, imaginando também o que estaria se passando no julgamento. Ela segurou as lágrimas e apertou o passo. Os alunos de toda a escola iam aos poucos liberando-se dos exames, e andavam felizes rumo aos jardins para descansar. Ela encontrou a sala comunal da Grifinória vazia, e atirou-se em uma poltrona, exausta. Por um momento, pensou em atirar o vira-tempo na lareira. Depois pensou em devolvê-lo imediatamente à profa. McGonagall. Mas não tinha nem decidido ainda se deixaria alguma disciplina ou não; não podia precipitar-se.
— Mione!
Ela levantou a cabeça, que estivera jogada para trás e coberta pelas mãos, o que parecia ter assustado Rony, a julgar pela expressão no rosto dele.
— Como foi no exame de Adivinhação? Sua visão interior colaborou?
Rony sorriu.
— Acho que o suficiente. — ele sentou-se em uma poltrona ao lado dela. — Agora você vai se permitir um pouco de descanso, não vai? Pelo menos desta vez você deve concordar que pegou pesado.
Foi a vez dela de sorrir, novamente cobrindo o rosto com as mãos.
— Concordo, sim.
Uma coruja bicou a janela naquele momento. Rony adiantou-se, e voltou instantes depois com um bilhete. Hermione juntou-se a ele para ler, e os dois trocaram um olhar pesaroso depois de terminarem. Naquele momento Harry irrompeu na sala, aparentemente pronto para dar-lhes uma notícia ruim; mas eles já sabiam.
— Perdemos. — disse Rony. — Vão executar o Bicuço ao pôr-do-sol. Ele ainda pede no bilhete que não desçamos; diz que não quer que vejamos.
— Mas precisamos ir! Malditas medidas de segurança... — disse Harry. — Se ao menos tivéssemos a capa da invisibilidade!
— O que houve com ela? — Hermione perguntou, curiosa.
— Na última vez em que fui a Hogsmeade, tive que deixá-la na passagem secreta que usei. É uma estátua de uma bruxa de um olho só. Mas não posso voltar lá, pois se Snape me vir, eu...
— Mas eu posso ir até lá.
Harry deu-lhe as instruções, e Hermione não levou mais de quinze minutos para localizar a estátua, entrar por sua passagem secreta, recuperar a capa e trazê-la de volta. Rony olhou para ela espantado.
— Mione... — disse. — Não sei o que deu em você nos últimos tempos... Primeiro mete a mão em Malfoy, depois abandona a aula da profa. Trelawnay...
Ela esboçou um sorriso. Não soube por que, mas sentiu-se elogiada.
anúncio
Comentários (0)
Não há comentários. Seja o primeiro!