Rony versus Hermione



— CAPÍTULO DEZ —
Rony versus Hermione




Fevereiro entrou como se Janeiro tivesse durado apenas uma semana. Finalmente, o cansaço parecia tomar vantagem na luta contra Hermione. A garota estudava todos os dias na sala comunal, desde o momento em que era liberada da última aula até depois que todos já tinham ido se deitar. Sentia-se sonolenta e indisposta, respondia mal a alguém que a interrompesse e qualquer motivo a levava a uma crise de choro.
Durante as aulas, sentava-se longe de Harry e Rony e sofria com o fato de que eles pareciam seguir com suas vidas tranqüilamente sem ela. Gina oferecia-se regularmente para fazer-lhe companhia, mas ela nem mesmo podia aceitar, pois tinha afazeres escolares suficientes para preencher todo o seu tempo livre e ainda sobrarem. Além disso, continuava recolhendo material para a defesa de Bicuço, e visitava Hagrid com freqüência.
Certa noite, na sala comunal, Hermione estava absorta em seus diversos deveres quando um tumulto próximo ao buraco do retrato desviou-lhe a atenção. Levantou os olhos para ver de que se tratava, e viu Harry entrando com a Firebolt em mãos, seguido por Rony. Os colegas todos os cercavam, querendo ver a vassoura. Ela sentiu-se dividida entre o alívio de ver que o amigo recebera a vassoura de volta e a irritação que aquele tumulto lhe causava, especialmente por dever-se a algo tão inútil quanto uma vassoura.
Hermione tornou a baixar a cabeça e continuou trabalhando. Acabara de terminar duas redações enormes, que deixara em cima dos livros para que a tinta secasse, e começava a trabalhar em uma tradução de runas. Sem mais nem menos, Harry e Rony apareceram na sua frente. Um Harry sorridente mostrou a vassoura e disse:
— A profa. McGonagall me devolveu a vassoura. Disse que foi testada de todas as maneiras que eles conheciam, e não encontraram nada.
— Viu só? — disse Rony, com ar de superioridade. — Não tinha nada de errado com ela.
— Pois é, mas poderia ter. — ela disse, e virou-se para Harry. — Pelo menos agora você sabe que ela é segura.
— É verdade. Bem, vou guardá-la.
— Deixe que eu levo, — ofereceu-se Rony. — tenho mesmo que dar o tônico ao Perebas.
Enquanto ele subia, maravilhado com a vassoura, Harry perguntou a Hermione:
— Posso me sentar?
— Suponho que sim — ela respondeu, retirando de uma cadeira uma pilha de pergaminhos.
— Nossa... — Harry correu os olhos pela mesa lotada com o material dela. — Como é que você está dando conta de tudo isso?
— Você sabe, trabalhando à beça...
— Por que você não tranca algumas matérias?
Hermione pensou no esforço da profa. McGonagall para conseguir-lhe a permissão de usar o vira-tempo.
— Não, eu não poderia fazer isso!
— Aritmancia... parece horrível.
— Não, é incrível! É minha matéria favorita. Nós...
Um berro vindo de cima interrompeu-a. A seguir, Rony apareceu no topo da escada, segurando um lençol. Com os olhos cheios de fúria fixados nela, ele se aproximava e gritava:
— OLHA! OLHA! — ele sacudia o lençol freneticamente. Havia nele uma mancha vermelha.
— O q-quê? — gaguejou Hermione, levantando-se, acuada.
— PEREBAS! OLHE PEREBAS! SANGUE! ELE DESAPARECEU! E SABE O QUE EU ENCONTREI NO CHÃO?
— N-não...
Ele atirou em cima dos livros dela uma bolota de pêlos laranja-avermelhados, que ela reconheceu imediatamente serem de Bichento.


No café da manhã do dia seguinte, Hermione comia sozinha seu mingau de aveia quando Harry apareceu e sentou-se ao seu lado. Ela achou o jeito dele forçado, era a maneira que ele agia com ela sempre que ela e Rony estavam brigados. Ela imaginava que o jeito artificial com que Harry se comunicava com ela nesses momentos era vergonha de assumir que estava do lado de Rony.
— Bom dia, Mione.
— Bom dia, Harry.
Comeram em silêncio por algum tempo, até que ele disse:
— Sabe, Mione... Eu acho que você deveria pedir desculpas ao Rony.
— Pedir desculpas ao Rony? Por que eu deveria?
— Bem... Porque o seu gato comeu o rato dele?
— E se não comeu?
— Mione, os pêlos que ele encontrou...
— Podiam estar lá desde o Natal!
— E você mesma disse que é da natureza dos gatos caçar ratos... Se Perebas sumiu, então uma explicação bem plausível seria se ele tivesse sido comido por um gato. E como o seu é o mais próximo...
— Tudo bem, Harry. Eu já sabia que ia ficar do lado do Rony. Primeiro a vassoura, agora o Perebas, tudo é minha culpa, não é? Me deixe em paz, tenho muito o que fazer.
Hermione levantou-se, furiosa, e saiu apressada do salão principal com a mochila pendurada nas costas. Passou por Rony, que a olhou como se estivesse vendo a um dos vermes gosmentos que alimentavam nas aulas de Trato das Criaturas Mágicas.

Naquele sábado, haveria o próximo jogo da temporada de quadribol: Grifinória contra Corvinal. Normalmente, Hermione sempre se sentava junto com Rony na torcida da Grifinória para assistir. Desta vez, ela foi sozinha para o campo. Para sua surpresa, encontrou Adam Sthills, seu colega na disciplina de Estudo dos Trouxas, que continuava a demonstrar um grande interesse por ela.
— Veio torcer para a Grifinória?
— Lógico — respondeu, meio sem paciência.
— Eu vim torcer para a Corvinal, lógico também.
Hermione nunca perguntara a que casa ele pertencia, mas já vira pelas cores do uniforme dele que era da Corvinal. — Por que não se senta comigo?
— No meio da torcida da Corvinal?
— Se você preferir, podemos sentar em outro lugar.
Hermione se sentiu incapaz de inventar qualquer desculpa. Enquanto andava ao lado de Adam, perguntou-se por que sentia uma necessidade tão grande de manter-se longe dele. Sua mãe dissera, no verão, que ela já tinha idade para gostar de um garoto. Por que repelia Adam, que sempre fora simpático com ela, e sem dúvida mostrava-se interessado?
— O que você disse?
Ela entrou em pânico. Será que dissera em voz alta?
— N-nada, estava pensando alto, você ouviu?
— Não consegui entender. — ele riu.
Ela sentiu o rosto corar.
Durante o jogo, Hermione escutou pacientemente as explicações de Adam sobre as chances que cada casa tinha de ganhar a Taça de Quadribol. Acabou entendendo que se a Grifinória ganhasse aquele jogo, voltaria a ter uma chance depois da derrota que tinha tido no primeiro jogo. O resto das explicações logo lhe escapou da memória.
O jogo foi disputado, mas Hermione pôde observar a velocidade com que Harry voava, afinal, como Rony mesmo dizia, a Firebolt era a vassoura mais veloz que existia. A certa altura da partida, apareceu um dementador no chão do campo. Hermione levantou-se, apreensiva, mas Harry não parecia assustado; ele sacou a varinha e gritou a mesma coisa que o prof. Lupin tinha gritado no Expresso de Hogwarts:
Expecto Patronum!
Uma luz prateada muito forte disparou da varinha do garoto e derrubou o dementador no chão. Enquanto Harry seguia voando atrás do pomo, no entanto, todos que assistiam ao jogo puderam ver que não se tratava de um dementador de verdade. Draco Malfoy e seus amigos Crabbe e Goyle apareceram por baixo da capa negra.
No instante seguinte, Harry surgiu com o pomo de ouro na mão, sob as ovações da torcida da Grifinória. Hermione vibrou e quase chorou de felicidade.
A profa. McGonagall disse a Malfoy, Crabbe e Goyle que eles seriam severamente punidos pela tentativa de sabotagem. Todos começaram a se retirar do campo de quadribol, e assim o fizeram Hermione e Adam. Enquanto andavam, Hermione começou a pensar que não poderia participar da comemoração à vitória na sala comunal, pois não se sentia parte daquilo estando brigada com Rony e Harry. O que mais a machucava era a sensação de que não lhes fazia a menor falta. Naquele momento uma mão apertando seu braço arrancou-a de seus devaneios. Era Adam.
— Olhe, Hermione. Um cachorro enorme!
— Onde? — Hermione procurou por todos os lados o cachorro de que ele falava, mas não o viu.
— Bem ali, um cachorro preto, muito grande.
Hermione ainda não encontrara. Por um momento veio à sua cabeça a imagem do Sinistro desenhado no livro de Adivinhação, mas logo afastou o pensamento. “Que idéia ridícula”, pensou.
— Adam... Não sei onde...
— Ah, sumiu atrás daquele arbusto. Bem ali, olhe, onde está aquele gato alaranjado.
Ela viu o gato. Era Bichento.
Aquele gato?
— Isso, aquele ali mesmo.
— Aquele ali é o meu gato! O que ele está fazendo aqui embaixo?
Hermione correu até onde Bichento estava e pegou-o no colo, verificando se ele estava ferido. Depois abraçou-o, perguntando-se como ele fora parar lá.
— Está tudo bem com ele? — Adam perguntou, juntando-se a ela e acariciando a cabeça do gato.
O gesto lembrou-a imediatamente de Rony mirando um chute em Bichento. O gato pulou do colo de Hermione para o de Adam. — Acho que ele gostou de mim.
Ele sorriu e Hermione sentiu-se invadida por uma sensação, parecida com um enjôo, de que algo estava muito errado. Julgou que o que estava errado era ela não conseguir dar valor a um garoto que se mostrasse tão interessado e prestativo.
Os dois entraram no castelo, Hermione atormentada pela vontade de pedir Bichento de volta e sair correndo com ele no colo. Ficou ainda mais ansiosa quando começaram a se aproximar da Torre da Grifinória.
— Onde estamos indo? — perguntou.
— Ora, estou levando você e Bichento em casa, é claro.
Hermione suspirou, impaciente. Quando pararam diante do retrato de Sir Cadogan, ela já ia despedindo-se de Adam quando tudo ficou ainda pior: Rony saía pelo buraco do retrato naquele momento.
— O que diabos está acontecendo aqui? — perguntou, alternando o olhar de Hermione para Adam, mas depois focou os olhos no garoto. — Por acaso este monstro comeu seu bicho de estimação, e você veio reclamar à dona, que não tem o menor cuidado de deixá-lo preso?
— Não sei quem é você, mas na verdade Bichento é um gato muito dócil e bonzinho. — disse Adam com simplicidade.
Rony semicerrou os olhos, analisando Adam dos pés à cabeça. Depois, sem mais o que dizer, virou-se e tornou a entrar na sala comunal.
— Não ligue para ele. — disse Hermione, ansiosa por acabar com aquele constrangimento.
— Tudo bem. Preciso ir, de qualquer maneira. Ainda faltam trinta páginas para mim. E você, já está em que parte?
— Parte?
Vida Doméstica e Hábitos Sociais dos Trouxas Britânicos, que temos que ler até segunda-feira.
Hermione desejou não ter acordado naquele dia. Como podia ter esquecido de ler o livro? Agora tinha menos de dois dias para lê-lo inteiro! Estava tudo muito errado.
— Ah, claro — respondeu. — Estou quase no final também. Muito interessante. Tchau, Adam.
— Tchau, Hermione. Nos vemos por aí.
Ela finalmente tomou Bichento no colo, e depois de observar Adam se afastar, disse a senha a Sir Cadogan e entrou. Na sala comunal, os alunos faziam festa, como sempre em que ganhavam um jogo de quadribol. Fred e Jorge Weasley eram os responsáveis pela comida; eles roubavam das cozinhas do castelo.
Hermione, no entanto, passou reto por todos, e foi direto ao dormitório feminino. Lá, deixou Bichento preso e revirou suas coisas todas atrás do livro cuja existência Adam acabara de lembrar-lhe. Resolveu tentar lê-lo na sala comunal, para que pudesse beber um pouco de suco de abóbora, pelo menos. Quando descia a escada, Rony olhava para ela lá debaixo, e disse, furioso:
— Me faça feliz; diga que aquele otário era um domador de tigres esfomeados!
— Me deixe em paz, Ronald.
Ela sentou-se em um canto afastado da sala e começou a ler. Era difícil concentrar-se com tanto barulho. Dirigia olhares furtivos a Rony, que parecia disposto a atacá-la a qualquer momento.
Pouco depois, houve um tumulto maior com a chegada de Harry, responsável mais uma vez por uma vitória da casa. Assim que se livrou do assédio, ele se aproximou dela.
— Você ao menos assistiu ao jogo?
— É claro. Fiquei muito feliz que ganhamos, e acho que você jogou realmente bem, mas é que eu preciso terminar de ler isso até segunda-feira.
— Ah, Mione. Venha comer alguma coisa.
— Não posso, Harry. Além do mais, ele não quer a minha companhia.
Rony fuzilava-a com os olhos. Aproximou-se e disse:
— Se Perebas não tivesse sido devorado, ele poderia comer uma mosca de chocolate. Ele gostava tanto...
Hermione não agüentou mais; caiu no choro e correu para o dormitório feminino, onde atirou-se em sua cama e ficou chorando, mas não por muito tempo. Adormeceu em seguida.

Ela corria escadas abaixo, atrasada para a aula de Trato das Criaturas Mágicas. Alcançou a saída do castelo e correu pelos jardins, a caminho da cabana de Hagrid. Quando lá chegou, pôde ver que ele já conduzia os alunos a algum lugar, e apenas os seguiu.
— Mione! — Hagrid chamou-a.
Ela correu até onde ele estava.
— Hagrid! Que houve?
— A aula de hoje... Assistiremos à execução do Bicuço.
Ela cobriu a boca com as mãos para conter um grito. Não conseguiu, e o grito ecoou pela escola inteira. A voz não era a dela, porém. Era a de Rony.
Hermione abriu os olhos, e enxergou o dossel da cama. Tinha sido um sonho. Mas aquele grito, fora tão real... Ouviu suas companheiras de quarto levantando-se e correndo para fora do dormitório. Ouviu murmúrios vindo da sala comunal e muitos passos na escada.
— Quem gritou?
— O que houve?
— Veio do quarto dos terceiranistas...
Hermione sentou-se na cama. Definitivamente, havia algo errado. Levantou-se, e percebeu que ainda estava vestida, lembrou-se de que adormecera chorando. Foi até a porta do dormitório e pôs-se a espiar, mas não enxergava nada. Foi até a escada, então, e pôde ver que a maioria dos alunos da Grifinória estava em pé, em seus pijamas, no meio da sala comunal. A profa. McGonagall também estava ali, vestindo robe e com os cabelos presos em uma rede. Percy dizia:
— ... estava justamente mandando todos irem de volta para a cama. Meu irmão Rony teve um pesadelo...
— NÃO FOI UM PESADELO! — berrou Rony. — PROFESSORA, EU ACORDEI E SIRIUS BLACK ESTAVA PARADO AO MEU LADO SEGURANDO UMA FACA!
Hermione vacilou, segurou-se no corrimão para não cair.
Foi impossível voltar a dormir naquela noite. Ela virou-se de um lado para o outro na cama, incapaz de pregar os olhos.

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