Presente Anônimo para Harry



— CAPÍTULO NOVE —
Presente Anônimo para Harry




Na manhã de Natal, Hermione acordou com Bichento ao seu lado no travesseiro. Ainda sonolenta, abraçou o gato e levantou-se. Vestiu o robe por cima da camisola e abriu seus presentes. De um dos pacotes, ela tirou uma fitinha de lantejoulas de enfeite e amarrou-a num laço ao redor do pescoço de Bichento.
— Feliz Natal, querido.
O gato ronronou satisfeito enquanto ela acariciava sua nuca. Ela tomou-o no colo e dirigiu-se ao dormitório masculino. Antes de entrar ouviu as risadas de Rony e Harry.
— Do que estão rindo? — perguntou, entrando.
— Não entre aqui com essa coisa! — disse Rony, ríspido, colocando Perebas dentro do bolso do pijama.
Hermione não lhe deu ouvidos e soltou Bichento em uma das camas vazias do quarto. Foi então que percebeu que havia uma vassoura novíssima em cima da cama de Harry.
— Nossa, Harry! Quem foi que lhe deu a vassoura?
— Não sei – respondeu o garoto. — Veio sem nenhum cartão.
Hermione começava a ficar intrigada.
— Mas esta vassoura, ela é muito boa, não é?
— Claro! — disse Rony. — É uma Firebolt, a vassoura mais rápida do mundo!
— Então ela deve ter sido mesmo bem cara, não é?
— Provavelmente mais cara que todas as vassouras da Sonserina juntas! — continuou Rony, num misto de impaciência por ela desconhecer algo tão evidente e entusiasmo pela vassoura.
— Bem, é meio esquisito, não acham? Quero dizer... Quem iria mandar um presente desses sem nem ao menos dizer que mandou?
— Quem se importa? — Rony virou-se para Harry. — Posso dar uma voltinha nela? Posso?
Muito desconfiada e preocupada, Hermione ordenou:
— Não acho que nenhum dos dois deva montar essa vassoura por enquanto.
— O quê? E você acha que Harry vai fazer o que com ela, varrer o chão?
Ela não pôde argumentar, pois naquele instante Bichento saltou de onde estava diretamente para o peito de Rony.
— TIRE-O DAQUI! — berrou o garoto.
Bichento rasgou a parte de cima do pijama de Rony, mas Perebas conseguiu escapar rapidamente do bolso dele. Furioso, Rony mirou um chute no gato com toda a força, mas errou por pouco, acertando o próprio malão. Hermione conseguiu, com alguma dificuldade, agarrar Bichento e levá-lo para fora do quarto.
— Por que você faz isso, Bichento? — ralhou, já no dormitório feminino. — Há tantos outros ratos no castelo, deixe o do Rony em paz! Como é que eu vou convencê-lo de que você é bonzinho desse jeito?
Ela deixou Bichento preso no quarto, embora ele não parecesse muito satisfeito. De qualquer maneira, estava furiosa com Rony por ter tentado chutá-lo. Ela desceu para a sala comunal, onde um Rony emburrado recusava-se a sequer olhá-la, e um Harry animado admirava sua nova vassoura.


Hermione desceu com Harry e Rony – embora este último continuasse a se recusar a falar com ela – para o salão principal, onde aconteceria o tradicional almoço de Natal de Hogwarts. Como de costume, a decoração natalina do castelo estava magnífica. Hermione surpreendeu-se, no entanto, ao ver apenas uma mesa no centro do salão. Assim que os três se aproximaram, Dumbledore disse:
— Éramos tão poucos que não fazia sentido usar as mesas das casas. Por favor, sentem-se, sentem-se!
Os três sentaram-se, lado a lado. Além deles e de Dumbledore, estavam ainda à mesa os professores Snape, McGonagall, Sprout e Flitwick, além do zelador Filch e de três outros alunos, dois novatos e um mais antigo da Sonserina. Quando começavam a se servir, as portas do salão se abriram. e Hermione ficou desapontada ao ver que era Sibila Trelawnay quem vinha juntar-se a eles.
Embora tentasse não prestar muita atenção à professora para não se aborrecer, Hermione acabou ouvindo Trelawnay dizer algo sobre o fato de serem treze à mesa e como isso era um mau agouro, ou que o primeiro a levantar-se ao final da refeição morreria. Ficou satisfeita, no entanto, ao verificar que a profa. McGonagall parecia sentir o mesmo incômodo.
Os primeiros a se levantar, ao final do almoço, foram Harry e Rony, e naturalmente Trelawnay insistiu em saber quem tinha sido o primeiro dos dois. Hermione disse a eles que não os acompanharia; tinha um assunto a tratar com a profa. McGonagall.
As duas saíram da mesa para conversar a sós.
— O que houve, srta. Granger? Algo relacionado ao vira-tempo?
— Não, na verdade... É sobre Harry. Alguém enviou a ele uma vassoura como presente de Natal, uma vassoura muito cara. Não havia bilhete algum então eu temo que possa ser uma armadilha, uma armadilha de Sirius Black.
— Vamos até a sala comunal. Você fez bem em me avisar; é mesmo muito estranho que ele tenha recebido uma vassoura nova e cara.
A professora começou a andar apressada, e restou a Hermione apenas segui-la. Começou a sentir-se nervosa. O que será que a professora faria com a vassoura, afinal? Será que Harry ficaria zangado? McGonagall disse a senha a Sir Cadogan e as duas passaram pelo buraco do retrato.
— Potter, aí está. É verdade que ganhou uma vassoura?
Harry e Rony, que estavam com a vassoura nas mãos, encararam a professora com incredulidade. Envergonhada, Hermione sentou-se em uma poltrona e abriu um livro para esconder o rosto, fingindo que lia.
— Sim, — respondeu Harry. — é verdade.
— E ninguém sabe quem a mandou?
— Não, mas...
— Sinto muito, mas terei que levá-la para realizar alguns testes. Tenho certeza de que Madame Hooch e prof. Flitwick poderão desmontá-la para...
— Desmontá-la? — Rony perguntou, horrorizado. — Mas é uma legítima Firebolt!
— Sinto muito.
A professora deixou a sala, levando a vassoura consigo.
Hermione apertou o livro nas mãos com mais força, sentindo Rony se aproximar.
Por que você foi correndo contar à profa. McGonagall? — berrou ele.
Ela largou o livro bruscamente.
— Porque eu suspeito, e a professora concorda comigo, que quem enviou essa vassoura para Harry foi Sirius Black!
Rony hesitou por um momento. Depois, disse:
— Isso é ridículo! Sirius Black é um foragido, como você espera que ele possa ter simplesmente entrado na loja de artigos de quadribol para comprar uma vassoura? E de onde ele teria tirado dinheiro para comprar uma Firebolt?
— E por acaso você tem como me provar com absoluta certeza que não foi ele? Tenho certeza de que você também odiaria descobrir que foi ele da pior maneira!
— Já chega, Hermione. Você sempre tem um motivo pra contar tudo à profa. McGonagall; para mim já basta.
E Rony abandonou a sala comunal pelo buraco do retrato. Hermione ainda olhou para Harry, esperando ver nele um ar de compreensão, mas ele nem a olhou, e seguiu Rony. À beira das lágrimas, ela ficou ali em pé por alguns instantes , decidindo aonde ir ou o que fazer. Lembrando-se subitamente de algo que afugentou Rony, Harry e a vassoura de seus pensamentos, ela saiu em disparada para a biblioteca.

No dia seguinte, com Bichento no colo e uma mochila nas costas, Hermione bateu à porta de Hagrid.
— Mione, você por aqui tão cedo?
— Feliz Natal, Hagrid. — disse ela, soltando a mochila no chão para abraçá-lo com o braço que não segurava o gato. — Será que o Canino se incomoda se eu soltar o Bichento?
— Ora, claro que não. Canino é amigo de qualquer outro animal. Parece comigo!
Hermione riu.
— Você não conhecia o Bichento ainda, não é Hagrid?
— Não... Muito bonito... Olá, garoto!
Ela soltou o gato.
— Hagrid... estive na biblioteca ontem a tarde toda e o início da noite. Achei um material bom para a defesa de Bicuço. É claro que ainda preciso selecionar e juntar tudo em uma coisa só... — ela tirou de dentro da mochila vários livros. — Mas eu vim... vim mostrar para você que temos chances de salvá-lo. — seus olhos começaram a marejar. — E vim também porque... estava me sentindo sozinha.
E desabou. Deixou-se cair no sofá, soluçando. Hagrid aproximou-se, preocupado.
— Mione, o que foi que houve?
O que tinha havido? Ela teve a súbita impressão de que muitas coisas tinham acontecido de errado; desde o momento em que Sirius Black fugira da prisão, desde quando ela resolvera se matricular em todas as matérias, desde que entrara em Hogwarts e desde que nascera. Nada parecia certo naquele momento.
— Rony... e Harry. — disse, em meio aos soluços. E então contou sobre a vassoura, as suspeitas e a discussão.
— Mas você fez muito certo, Mione! Esses bobalhões ainda vão perceber a bobagem que estão fazendo em dar mais importância a uma vassoura do que a uma amiga.
Com seu dedo enorme, Hagrid enxugou as lágrimas do rosto de Hermione.


No início de janeiro, os alunos que tinham viajado nas férias retornaram. Hogwarts parecia mais normal para Hermione com os corredores cheios. O fato era irrelevante, no entanto, para seu ritmo de trabalho, que se não continuava o mesmo, tornara-se mais frenético com a aproximação do recomeço das aulas. Estudava dia após dia para dar conta de ler todos os livros que tinha de ler, fazer todos os resumos e redações que precisava entregar no início do trimestre e todos os deveres de casa solicitados pelos professores.
Certa noite, Gina aproximou-se dela na sala comunal, e Hermione percebeu que a garota estava um pouco intimidada pela quantidade de material em cima da mesa: livros diversos, tabelas de aritmancia, dicionários de runas, pergaminhos extensos de anotações.
— Posso interrompê-la um pouquinho? — perguntou Gina, timidamente.
— Claro, Gina. Que foi?
— Eu que pergunto... Brigou com os garotos?
Eles brigaram comigo, se revoltaram contra mim. Ronald já deve ter contado a você, é sobre a vassoura.
— É, eu soube. Rony é um idiota. Harry... não fica muito atrás.
Hermione riu.
— Não, fica bem atrás. Seu irmão é de longe o mais idiota.
— Está tudo bem com você? E esses deveres todos?
— Tudo bem, sim. Estou cursando muitas matérias, sabe... Muitos, muitos deveres.
— Lembre-se que pode contar comigo.
— Certo. Obrigada, Gina.
As duas abraçaram-se, e Hermione quase começou a chorar. Lágrimas afloravam-lhe sem o menor motivo ultimamente.


As aulas recomeçaram. Hermione acompanhou no calendário lunar a coincidência de que a primeira aula do prof. Lupin era no segundo dia da fase minguante da lua. A aparência do professor de Defesa Contra as Artes das Trevas estava ainda pior do que antes; mais arranhões, roupas mais remendadas, jeito mais cansado. Ela tinha ímpetos de aproximar-se do professor, dizer a ele que já entendera o seu problema e que gostaria de saber se poderia ajudá-lo. Mas então se lembrava que já tinha coisas demais para fazer.
Ao sair da sala de Lupin, naquela tarde, Hermione teve que interromper seu caminho no meio do corredor, pois sua mochila rasgou-se novamente. Sentou-se ao pé de uma armadura para consertar e depois começou a guardar os livros novamente. Entre as pessoas que passavam ao seu lado no corredor, ouviu a voz de Harry:
— ... prof. Lupin tinha prometido me ensinar o feitiço contra dementadores. Assim, se aparecer algum dementador no próximo jogo de quadribol, poderei me defender. Falei com ele hoje, e já marcamos a aula.
— Ele parece bem cansado — disse Rony. — Que será que ele tem?
Hermione achou inconcebível que eles ainda não tivessem percebido que o professor era um lobisomem, e suspirou impaciente. Rony ouviu, pois voltou-se furioso.
— Que houve, hein? — Eu estava aqui conversando com Harry sobre o prof. Lupin, imaginando o que será que ele tem.
— Bem, não é óbvio o que é que ele tem?
Ela atirou a mochila por cima do ombro e saiu dali apressadamente.

Compartilhe!

anúncio

Comentários (0)

Não há comentários. Seja o primeiro!
Você precisa estar logado para comentar. Faça Login.