O Pior Crime de Sirius Black



— CAPÍTULO OITO —
O Pior Crime de Sirius Black




Hermione, Rony e Harry andavam pelas ruas geladas de Hogsmeade. Tremendo, Rony sugeriu:
— Que acham de irmos logo de uma vez tomar umas cervejas amanteigadas?
Os outros dois aceitaram. Ao entrar no Três Vassouras, Hermione logo viu Madame Rosmerta. Olhou automaticamente para Rony, que disse, corando:
— Aquela é Madame Rosmerta, Harry. Vou pedir as bebidas.
Hermione teve vontade de segurá-lo, impedi-lo, mas conteve-se, consciente de que seria uma atitude ridícula. Sentou-se com Harry a uma mesa, e Rony voltou em seguida com as canecas.
— Feliz Natal! — brindou ele.
Harry pareceu gostar muito da cerveja amanteigada quando a tomou, e Hermione tomou a sua mais devagar desta vez. Rony lançava olhares furtivos a Madame Rosmerta, o que causava em Hermione um mal-estar quase físico.
A porta do pub abriu-se, trazendo uma rajada de vento gelado. Harry escondeu-se debaixo da mesa, ao ver quem entrava: os professores Flitwick e McGonagall, seguidos por Hagrid e o ministro da magia, Cornélio Fudge. Hermione sacou a varinha de dentro das vestes e cochichou:
Mobiliarbus!
Uma árvore de Natal que estava perto da mesa deles começou a mover-se conforme os movimentos que ela fazia com a varinha. Trouxe-a para a frente deles, para esconder Harry. Madame Rosmerta trouxe uma bandeja de bebidas para a mesa dos professores e do ministro, e perguntou:
— O que o traz aqui, ministro?
— Ora, Rosmerta querida, obviamente Sirius Black. — respondeu Fudge. — Puxe uma cadeira, sente-se conosco.
— Obrigada, ministro. Mas imagine o senhor que estes dementadores revistando o povoado têm espantado muito a freguesia...
— Imagino, Rosmerta, mas infelizmente é um mal necessário... Gosto tanto deles quanto você, mas eles estão protegendo o povoado de algo muito pior.
— Engraçado... Eu me lembro dele garoto, em Hogwarts... Quem poderia imaginar que seria capaz das atrocidades que cometeu?
— A pior delas você não sabe, Rosmerta. Por acaso você se lembra de quem era o melhor amigo de Sirius Black?
— Claro que sim, um não andava sem o outro! Sirius Black e Tiago Potter!
— Exato, Black e Potter. — disse a profa. McGonagall. — Eram os líderes de uma turminha, eram muitíssimo inteligentes, mas acho que nunca vi uma dupla de criadores de confusão como esta.
— Se bem que Fred e Jorge Weasley seriam páreo duro para os dois. — comentou Hagrid.
— Pareciam até irmãos! — acrescentou o prof. Flitwick.
— E nada mudou quando deixaram a escola, — disse Fudge. — a amizade continuou. Tanto que Black foi o padrinho de casamento de Tiago e Lílian. E depois eles o escolheram também como padrinho de Harry. O garoto não tem idéia disso, é claro. Vocês podem imaginar como isso o atormentaria
Hermione e Rony entreolharam-se, boquiabertos, imaginando o que Harry estaria sentindo naquele momento, escondido debaixo da mesa.
— Mas por que ele acabou aliando-se a Você-Sabe-Quem? — perguntou Madame Rosmerta.
— Foi muito pior do que isso... Na verdade poucas pessoas conhecem o fato de que Tiago e Lílian sabiam que Você-Sabe-Quem estava atrás deles. Quem descobriu e os avisou foi Dumbledore, por meio de um de seus espiões. Para esconderem-se, então, os Potter recorreram ao Feitiço Fidelius.
— Como é isso?
— É na verdade um feitiço muito complexo. — explicou o prof. Flitwick. — Escolhe-se uma pessoa, o chamado fiel do segredo, em quem a localização de quem está escondido ficará guardada, bem no seu íntimo. Assim, a pessoa ou as pessoas que estão escondidas tornam-se impossíveis de ser encontradas, a não ser que o fiel do segredo conte a alguém.
— Então Black era o fiel do segredo dos Potter?
— Naturalmente, Madame Rosmerta. — disse a profa. McGonagall. — Potter disse a Dumbledore que Black preferiria morrer a traí-los. Dumbledore continuou preocupado, pois suspeitava que alguém do nosso lado estava fornecendo informações a Você-Sabe-Quem.
— Ele suspeitava de Black?
— Não exatamente, mas sabia que era alguém próximo dos Potter.
— Mas mesmo assim, Tiago usou Black para o feitiço. — disse Fudge. — E então, menos de uma semana depois...
— Black traiu o segredo?
— Traiu.
— Vira-casaca imundo e podre! — exclamou Hagrid. — E eu o encontrei... O encontrei na frente da casa dos Potter, Dumbledore tinha me mandado buscar Harry, o coitadinho estava com um corte enorme na testa... Black estava pálido, e eu pensei que fosse por causa da morte de Tiago e Lílian, nunca imaginaria que era por causa do Você-Sabe-Quem! Ainda o consolei! E Black ainda queria levar Harry, alegando que era o padrinho! Imaginem se eu tivesse deixado? E só não deixei porque eram ordens de Dumbledore que o garoto voltasse para a casa dos tios.
— Mas felizmente, ele foi pego pouco depois pelo Ministério...
— Infelizmente não, Rosmerta — disse Fudge. — Quem o encontrou foi Pedro Pettigrew, coitado.
— Aquele que andava sempre atrás de Potter e Black na escola?
— Sim, Madame Rosmerta. — respondeu a profa. McGonagall. — Pettigrew idolatrava Black e Potter, mas não chegava aos pés deles em termos de talento. Hoje me arrependo das vezes em que fui severa com ele...
— Ora, Minerva, — disse Fudge. — mas ele teve uma morte de herói. Algumas testemunhas trouxas, cujas memórias foram apagadas depois, é claro, nos contaram que ele encurralou Black, mas que o outro foi mais rápido e o fez em pedacinhos.
— Mas pelo menos foi apanhado. — disse McGonagall.
— Sim, e levado por um esquadrão de vinte policiais do Esquadrão de Execução das Leis da Magia para Azkaban.
— É verdade que ele é doido, ministro? — perguntou mais uma vez Madame Rosmerta.
— Gostaria de poder dizer que sim... Na verdade, nem mesmo Azkaban parece afetá-lo muito. Estive lá uma vez e me impressionei com sua aparência normal.
— E agora, você acha que ele se juntará a Você-Sabe-Quem?
— Provavelmente, este deve ser o plano dele a longo prazo.
— Acho melhor irmos indo — disse a profa. McGonagall.
E assim, o ministro e os professores se retiraram do pub, e Madame Rosmerta voltou para trás do balcão. Hermione e Rony entreolharam-se e depois se abaixaram para encarar Harry. Nenhum dos três disse nada. Harry saiu de baixo da mesa, sacudiu as vestes para tirar a poeira que pegara do chão e por fim disse:
— Vou indo, encontro vocês no castelo.
E retirou-se.
— Vamos indo também — disse Hermione, um tanto confusa.
Os dois não falaram sobre isso durante o caminho de volta para Hogwarts, e no jantar nem sequer conversaram com Harry, que comia devagar e absorto em pensamentos. Ao subirem para a sala comunal, ele foi diretamente para o dormitório.

Hermione acordou cedo na manhã seguinte, e desceu para a sala comunal. Não havia mais ninguém ali, era o primeiro dia de férias. Ela pegou todos os deveres que tinha para fazer e espalhou tudo por cima de três mesas. Bichento veio ronronando enroscar-se em suas pernas.
— Bom dia, Bichento.
O gato saiu de perto dela em seguida, e ficou a andar graciosamente pelas poltronas e sofás. Hermione concentrou-se nos deveres que tinha a fazer, na tentativa de esquecer momentaneamente tudo o que tinham ouvido sobre Sirius Black no Três Vassouras.
Passadas algumas horas, Rony apareceu na escada com uma sacolinha de doces da Dedosdemel.
— Oi, Mione. — disse, sonolento.
— Bom dia, Rony.
Ele sentou-se perto dela.
— O que você já está fazendo a essa hora, com todos esses livros abertos?
— Tente adivinhar.
— Estamos de férias...
— Mas eu tenho deveres... Muitos.
— Tudo bem, eu não esperava convencê-la a descansar mesmo.
Ela olhou para ele, esparramado na poltrona, e abriu um sorriso, que deixou morrer em seguida.
— Rony... Precisamos conversar com Harry. — disse, com tristeza.
— Sobre o quê?
— Ora, como sobre o quê? Sobre aquilo tudo que ouvimos ontem, no Três Vassouras.
— E o que você quer dizer para ele?
— Eu quero dizer, ou melhor, nós queremos dizer a ele que não aja por impulso. Já imaginou se ele resolve sair procurando Sirius Black? Ele já corre perigo o suficiente ficando onde está, imagine então se for procurá-lo!
Rony comprimiu os lábios, pesaroso.
— E se ele não quiser seguir nossos conselhos?
— Precisamos tentar, senão nunca saberemos se ele vai seguir ou não nossos conselhos.
Rony suspirou, depois disse:
— Certo.
Hermione permaneceu estudando, com Rony silencioso ao seu lado. Bichento esparramou-se diante da lareira. Harry desceu as escadas algum tempo depois, e ela dirigiu um olhar a Rony que tinha como objetivo lembrá-lo do que tinham combinado. Ele comia sapos de creme de menta, e disse com a boca cheia:
— Você está com uma cara péssima, Harry.
O garoto desceu a escada, sem dizer nada, e sentou-se perto deles.
— Ahm... Harry? — Hermione disse, receosa. — Sobre aquilo tudo que ouvimos ontem... Espero que você se lembre que é importante não fazer nenhuma bobagem...
— Como assim fazer uma bobagem?
— Ir atrás de Sirius Black, por exemplo. — disse Rony.
Harry fez uma careta de impaciência.
— Você não vai, não é? — suplicou Hermione.
— Não vale a pena morrer por causa dele... — acrescentou Rony.
Harry levantou-se e começou a andar de um lado para o outro. Depois disse, enfurecido:
— Vocês sabem o que eu escuto toda a vez que um dementador se aproxima de mim? Pois eu escuto minha mãe gritar e suplicar a Voldemort que não me mate!
Hermione sentiu os olhos marejarem.
— Mas Harry, seus pais não iam querer que você se machucasse, iam? — disse com voz trêmula.
— Eu não sei, Hermione! — berrou ele. — E nunca vou saber, pois por causa de Black, eu jamais conversei com eles!
— Escute, Harry... — disse Rony. — Você sabe o que a mãe de Pedro Pettigrew recebeu depois que Black o matou? A Ordem de Merlim, Primeira Classe, e o dedo dele em uma caixinha, que foi o maior pedaço do corpo dele que conseguiram encontrar!
— Malfoy sabia... Malfoy me disse numa aula de poções, que se fosse com ele, ele iria querer vingança!
— Claro, então Malfoy deve estar certo, e por isso você vai seguir o conselho dele e não o nosso?
— Harry... — Hermione tomou a mão do amigo entre as suas. — Por favor, tenha juízo! Você vai fazer o jogo de Black se for atrás dele...
Bichento espreguiçou-se, soltando um guincho, e o bolso de Rony estremeceu.
— Olha aqui, — disse o garoto, tentando mudar de assunto. — estamos de férias, já é quase Natal! Por que não descemos para ver Hagrid, há séculos que não o visitamos!
— Boa idéia. — disse Harry, já tomando o caminho do buraco do retrato. — Assim poderei perguntar a ele por que não me contou isso tudo.

Obviamente, Rony não pensara em um acerto de contas com Hagrid quando teve a idéia de visitá-lo, mas como Harry quase corresse de tanta pressa de chegar à cabana, só restou a ele e Hermione o seguirem. Já parados à porta da cabana, Harry esmurrou a porta, sem resposta.
— Hagrid! — chamou.
— Ouçam... — disse Rony.
Hermione e Harry encostaram os ouvidos à porta, e puderam ouvir um murmúrio, parecido com choro.
— Hagrid! — chamou Hermione. Eles bateram mais um pouco na porta, e então finalmente ouviram os passos pesados do amigo, que ao abrir a porta revelou olhos vermelhos e inchados.
— Vocês souberam? — perguntou ele, soluçando.
— Soubemos de quê? — Harry perguntou.
Hagrid indicou uma carta em cima da mesa. Os três entraram para vê-la, e os soluços do amigo se redobraram. Harry abriu a carta e começou a lê-la em voz alta.

Prezado Hagrid
Dando prosseguimento ao nosso inquérito sobre o ataque do hipogrifo a um aluno seu, aceitamos as ponderações do Prof. Dumbledore de que o senhor não é responsável pelo lamentável incidente.


— Bem, — disse Rony. — então está tudo certo!
Mas Hagrid continuou soluçando e fez sinal para que Harry continuasse a ler, e o garoto assim o fez.

No entanto, devemos registrar a nossa preocupação quanto ao hipogrifo em pauta. Decidimos acolher a reclamação oficial do Sr. Lúcio Malfoy, e o caso será encaminhado à Comissão para Eliminação de Criaturas Perigosas. A audiência ocorrerá no dia 20 de abril, e solicitamos que o senhor se apresente com o seu hipogrifo nos escritórios da Comissão, em Londres, nessa data. Entrementes, o animal deve ser mantido preso e isolado.
Atenciosamente...


— ... e segue uma lista dos nomes dos conselheiros da escola. — disse Harry com desânimo.
— Mas Hagrid... Bicuço não é perigoso, aposto como vai se safar. — tentou consolar Rony. Hermione reparou que o hipogrifo estava preso a um canto da cabana.
— Que nada! Eles têm má vontade com as criaturas interessantes... Vejam só o coitadinho... Como eu podia deixá-lo sozinho lá fora, na neve? No Natal?
— O que você precisa é de uma boa defesa. — disse Hermione, sentando-se no braço da poltrona em que Hagrid estava afundado, e pousando a mão no braço dele. — Tenho certeza de que você pode provar que Bicuço é seguro.
— Não adianta! Eles farão o que Lúcio Malfoy mandar... eles têm medo dele!
— Mas vamos ajudá-lo — disse Harry. — Podemos ser testemunhas.
— Acho que já li sobre um caso em que alguém provocou um hipogrifo e foi atacado... — disse Hermione, tentando puxar pela memória. — Vou procurar para você. Não perca a esperança!
— Acho que vocês estão certos... — disse Hagrid, enfim parecendo um pouco mais animado. — Mas não tenho estado bem... Preocupações com Bicuço, com as minhas aulas, que não estão agradando os alunos...
— Claro que estão! — Hermione protestou. — Adoramos as suas aulas!
— E também os dementadores por todo o canto... Tenho que passar por eles toda a vez que quero beber alguma coisa no Três Vassouras. Parece que estou de volta a Azkaban.
Hermione prendeu a respiração; Hagrid nunca tinha comentado sobre sua estada em Azkaban, no ano anterior. Ela sentiu que sua voz estava se esvaindo quando perguntou:
— Lá é muito ruim?
— É o pior lugar em que já estive! Os dementadores ficam lá, sugando a felicidade de todos... Eu ficava me lembrando de todos os maus momentos que já passei na vida... — ele recomeçou a chorar.
— Mas você era inocente! — ela retrucou.
— E você acha que eles se importam, Mione? Claro que não; para eles não há a menor diferença entre culpado ou inocente. — ele fez uma pausa, antes de dizer, em voz baixa: — Pensei em soltar Bicuço, deixá-lo fugir... Mas tenho medo de desrespeitar as leis. Nunca mais quero voltar a Azkaban.

A visita a Hagrid parecia pelo menos ter feito com que Harry se esquecesse momentaneamente de seus planos de vingança contra Sirius Black. Os três foram à biblioteca, onde escolheram livros em que julgavam possível encontrar casos parecidos com o de Bicuço. Saíram dali carregados, rumo à deserta torre da Grifinória. A escola estava vazia como Hermione nunca antes tinha visto. Não havia ninguém nos corredores.
Os três passaram o resto do dia em frente à lareira, lendo casos e mais casos de ataques de criaturas mágicas. Não acharam, porém, nenhum em que a criatura considerada perigosa tivesse sido absolvida.

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