Lua Cheia
Lua Cheia
Nos dias que se seguiram, a segurança no castelo foi reforçada. Os professores andavam atentos pelos corredores, e havia uma preocupação especial com Harry, que todos sabiam ser o alvo principal de Sirius Black.
Com a fuga da Mulher Gorda, a entrada da Grifinória passou a ser guardada pelo retrato de um cavaleiro, Sir Cadogan. Os alunos da casa não gostavam muito dele, que geralmente queria desafiá-los a lutar para deixá-los entrar, ao invés de apenas aceitar a senha como deveria.
Hermione continuava assistindo a todas as aulas com o auxílio do vira-tempo e estudando incansavelmente todos os dias para manter os deveres e as matérias em dia. Por mais que gostasse de estudar, havia momentos em que se perguntava se agüentaria até o final do ano letivo.
— Nossa, Mione... Parece que você anda dormindo muito pouco. — disse Rony, num dia em que os dois esperavam na sala de Defesa Contra as Artes das Trevas pela chegada do prof. Lupin, e também pela chegada de Harry, que estava atrasado.
Ela olhou-o, com vontade de dizer que não estava dormindo de menos, e sim ficando acordada demais; embora continuasse dormindo pelo mesmo tempo de sempre, ficava acordada por muito mais horas. Mas não podia dizer isso.
— Tenho dormido, mas você sabe, estou estudando muitas matérias. — foi o que disse, olhando para a porta.
Ela assustou-se quando, pouco depois, apareceu à porta não Harry nem Lupin; mas Snape.
— Silêncio. — ele decretou, fazendo sua entrada na sala. — O prof. Lupin está impossibilitado de dar aulas hoje. Estou substituindo.
Com um ar de satisfação, o professor sentou-se à mesa de Lupin e começou a organizar algumas coisas. Harry entrou na sala pouco depois, e já ia desculpando-se com Lupin, quando percebeu que era Snape quem se sentava à mesa do professor. — A aula já começou há dez minutos, Potter. Por isso, acho que vou tirar dez pontos da Grifinória. Sente-se.
— Onde está o prof. Lupin? — o garoto perguntou, sem se mover de onde estava.
— Doente. Acho que eu o mandei sentar-se?
— O que ele tem?
— Cinco pontos. Se eu tiver que mandá-lo sentar mais uma vez serão cinqüenta.
Harry sentou-se, contrafeito, perto de Hermione e Rony. Snape levantou-se, dizendo:
— O prof. Lupin não deixou nenhuma anotação sobre o conteúdo que já deu, então...
— Professor, por favor, — Hermione disse, com a mão erguida no ar. — o prof. Lupin estava dando...
— Não pedi informação alguma, srta. Granger. Estava apenas comentando a desorganização do professor. — olhava-a com o desdém de sempre. Hermione tinha a impressão de que, se Snape não fosse um professor e tivesse a chance de dizer o que pensava dela, ele provavelmente a chamaria de “sangue-ruim”. — Abram os livros na página 194, no capítulo sobre lobisomens.
— Mas professor, nós ainda estamos muito antes de...
— Calada, srta. Granger. Tenho a impressão de que sou eu quem está dando esta aula, e não a senhorita. Agora, se me permite continuar... — ele virou-se para o resto da turma. — Alguém saberia me dizer qual a diferença entre um lobisomem e um lobo de verdade?
Hermione ergueu a mão no ar automaticamente. Snape passou os olhos pela sala. — Ninguém? É uma pena.
— Professor, por favor. — Hermione disse. — Um lobisomem...
— É a segunda vez que a senhorita fala sem ser convidada. Ou será a terceira? Cinco pontos a menos para Grifinória por ter uma intragável sabe-tudo.
Hermione recebeu aquilo como um golpe físico. Abaixou imediatamente a cabeça, com lágrimas prontas para rolar-lhe pelo rosto.
— O senhor fez uma pergunta e Hermione sabe a resposta! — disse Rony, para a surpresa dela. — Por que perguntou se não queria que ninguém respondesse?
Hermione estremeceu. Era evidente que Rony fora longe demais. Não podia evitar, porém, alguma satisfação por ele a ter defendido.
— Detenção, Weasley. — disse Snape, entre dentes.
No final da aula, quando todos os alunos estavam saindo, Snape mandou Rony ficar para acertar com ele a detenção, e Hermione e Harry esperaram no corredor. Alguns minutos depois, o amigo estava de volta, dizendo:
— Não acredito! Snape me mandou lavar as comadres da ala hospitalar, sem mágica! Aquele...
E chamou o professor de um nome que fez Hermione repreendê-lo automaticamente:
— Rony! — depois de uma pausa, ela tocou no braço do amigo e disse: — Obrigada.
Rony ficou escarlate até as orelhas. Pigarreou, começou a andar e disse, sem olhar para ela:
— Não foi nada.
Hermione e Harry seguiram-no.
Snape mandara os alunos escreverem dois rolos de pergaminho sobre os lobisomens. Naquela noite, sozinha na sala comunal, Hermione começou a trabalhar no dever. Abriu o livro de Defesa Contra as Artes das Trevas no capítulo de lobisomens e começou a ler e a fazer anotações, marcando o que achava importante colocar no trabalho.
Conforme começou a anotar as características, elas começaram a parecer-lhe muito familiares. Olhou pela janela e viu a lua cheia. Lembrou-se da aula de Lupin com o bicho-papão, e que, diante do professor, o bicho transformara-se em uma bola prateada, que Parvati e Lilá tinham concluído ser uma bola de cristal.
Era muito estranho, na verdade, que Snape tivesse substituído Lupin naquele dia, durante o período da lua cheia, dizendo que ele estava impossibilitado de dar aulas, e tivesse pulado para um dos últimos capítulos do livro; justamente o que falava sobre lobisomens. Lupin tinha sempre arranhões no rosto e nos braços, as roupas eram remendadas. A poção! Snape dera uma poção a Lupin na frente de Harry no dia em que ela e Rony estavam em Hogsmeade... Será que Snape estava dando a Lupin uma poção para transformá-lo em um lobisomem?
— Não seja idiota — murmurou para si mesma. — Não existe poção para se transformar em lobisomem. Ou uma pessoa é um lobisomem, ou não é.
Não podia ser; o melhor professor de Defesa Contra as Artes das Trevas que já tinham tido... Um lobisomem? Hermione fechou os livros, guardou tudo e foi se deitar, tentando tirar as suspeitas da cabeça. Mas não conseguiu.
Deitada, Hermione lembrou-se da noite em que Sirius Black estivera no castelo. Na ocasião, Snape insinuara para Dumbledore que Lupin poderia ter ajudado Black a entrar. Dumbledore, no entanto, refutou a idéia completamente. Evidentemente, Snape tinha algo grande contra Lupin.
Havia ainda muitas peças sem encaixe.
Na manhã seguinte, a Grifinória teve sua primeira partida da temporada de quadribol. O tempo estava péssimo, com muito vento e chuva, mas isso não era motivo para o cancelamento da partida.
Hermione e Rony usavam blusões, casacos, cachecóis e capuzes, mas ainda assim a chuva os castigava na arquibancada. O fato de estarem encharcados, no entanto, não os impedia de torcer. Hermione não entendia muito do esporte, sabia apenas as regras básicas. Mas era evidente para qualquer um que, devido às condições do tempo, o jogo estava sendo extremamente difícil.
Em certo momento, porém, o vento pareceu ficar ainda mais frio. Hermione e Rony encolheram-se.
— Que será isso? — ele perguntou.
Hermione pôs os olhos em uma visão terrível: um grupo de dementadores flutuava logo abaixo dos jogadores. Dumbledore, que estava em uma das arquibancadas, levantou-se e começou a se dirigir para o campo.
De repente, Hermione e Rony viram que Harry estava caindo da vassoura. Ela cobriu a boca com as mãos. Dumbledore já estava no campo, e lançou alguma coisa de sua varinha que suavizou a queda de Harry. A seguir, ele disparou outro feitiço, idêntico ao que Lupin usara no trem, para afastar os dementadores.
— Vamos! — Hermione puxou Rony pelo braço e começaram a descer das arquibancadas em direção ao campo. Havia lá uma pequena aglomeração de jogadores dos dois times.
— Façamos outro jogo — dizia Cedrico Diggory, apanhador do time da Lufa-Lufa. Hermione achou-o muito bonito, mas reparou principalmente que ele segurava o pomo de ouro, e defendia a realização de outra partida diante do acidente de Harry.
— Não, Diggory — disse Olívio Wood, capitão do time da Grifinória. — Vocês ganharam de forma justa, sou obrigado a reconhecer. Quando você capturou o pomo, Harry ainda estava montado na vassoura.
Um pouco mais longe, Dumbledore conjurava uma espécie de maca para carregar Harry para a ala hospitalar. Hermione e Rony correram até ele e seguiram-no a caminho do castelo. O diretor não dizia nada, mas era evidente que estava furioso.
— Meu pai disse que Dumbledore tem horror a dementadores. — cochichou Rony.
— E quem não tem?
Neste momento, foram abordados por Fred, que disse tristemente:
— A vassoura de Harry... Bateu no salgueiro lutador. Ficou em pedacinhos.
Foi horrível ter de contar a Harry a dupla má notícia: a derrota da Grifinória e a destruição de sua vassoura. Fora o fato de que ele estava passando o fim de semana na ala hospitalar. Hermione e Rony ficaram o máximo de tempo que podiam com o amigo.
Uma certa hora, quando iam saindo, encontraram Gina Weasley chegando. Ela ficou vermelha no mesmo instante.
— O que está fazendo aqui, Gina? — Rony perguntou, intrigado.
Hermione se meteu.
— Vá subindo, Rony. Eu falei a Gina que queria conversar com ela, por isso ela deve ter vindo aqui me procurar. — e virou-se para a amiga. — Obrigada, Gina. — e novamente para Rony. — Eu alcanço você.
Um pouco contrafeito, Rony seguiu seu caminho. Quando ele já estava longe, Gina disse:
— Obrigada, Mione... Poupou-me um bom constrangimento.
— Você veio ver Harry?
— Sim... Na verdade, trouxe um cartão para ele, desejando melhoras.
Hermione sorriu.
— Entre, tenho certeza de que ele irá gostar.
— Mas... Por que você não entra comigo?
— Ora, Gina. Se eu não estivesse aqui você ia entrar sozinha do mesmo jeito, não ia? Vá lá, coragem.
Gina sorriu e entrou. Hermione seguiu a caminho da torre da Grifinória.
Harry voltou na noite de domingo. Na manhã seguinte, a profa. McGonagall passou entre os alunos da Grifinória uma lista que passava todos os anos, que os alunos assinavam manifestando seu desejo de ficar na escola ou voltar para casa durante o pequeno período de férias de final de ano. Hermione já conversara previamente com Rony sobre ficarem para fazer companhia a Harry, que nunca voltava para a casa dos tios no Natal, e ele concordara. Foi anunciado também que haveria mais uma visita a Hogsmeade antes do início das férias.
— Que bom — disse Hermione aos amigos. — Meus pais vão adorar receber fios dentais de menta da Dedosdemel.
Na manhã da visita, então, Hermione e Rony despediram-se mais uma vez de um Harry muito desanimado. Como já sabiam o caminho, não andaram tão perto do grande grupo. Fazia um frio extremo, e a paisagem estava totalmente branca da neve.
— Com esse frio, não tem nada que eu queira mais do que uma cerveja amanteigada. — disse Rony, encolhido.
Foram primeiro à Dedosdemel desta vez. Escolheram doces para comer ali mesmo, e enquanto conversavam sobre as provas finais, Hermione teve muita vontade de dividir com ele suas suspeitas quanto ao prof. Lupin. Não soube bem por que, mas achou melhor não dizer nada. Mesmo porque, se ele fosse mesmo um lobisomem, isso não significava que era má pessoa. Lembrando-se das aulas e do episódio com um dementador no Expresso de Hogwarts, Hermione teve certeza de que ele não era.
Contar a alguém sobre suas suspeitas, no entanto, poderia gerar medo e desconfiança ao redor do professor. Resolveu naquele instante que não contaria nada a ninguém, nem mesmo a Harry e Rony. Um sentimento de culpa invadiu-a, porém, e ela pensou com amargura: “O que mais você vai esconder deles este ano?”
— Mione, você ouviu o que eu disse? — perguntou Rony.
Ela percebeu que ele estivera falando enquanto ela pensava, distraída. Desculpou-se:
— Estava só pensando num detalhe do meu dever de Aritmancia, desculpe. Você pode repetir?
— Eu disse: quem sabe se fôssemos escolher os doces do Harry?
— Tudo bem.
Os dois pegaram sacolas e começaram a enchê-las com doces.
— Não, ele não vai querer isso — Hermione disse, devolvendo um pirulito com gosto de sangue à bandeja.
— Definitivamente não. — disse Harry, fazendo com que ela e Rony virassem-se imediatamente, assustados.
— Harry, você está doido? Como fez uma coisa dessas? — Hermione perguntou.
— Com isto. — ele disse, mostrando um pedaço de pergaminho velho. — Venham.
Esconderam-se em um cantinho da loja, onde Harry abriu aquele pergaminho velho.
— O que é isto, Harry? — Rony perguntou. — Você é meio obcecado por papéis em branco, não é?
Harry soltou uma risadinha, e disse, apontando a varinha para o pergaminho:
— Juro solenemente que não pretendo fazer nada de bom.
Linhas começaram a desenhar-se, e surgiram letras verdes e floreadas que diziam:
Os Srs. Aluado, Rabicho, Almofadinhas e Pontas, fornecedores de recursos para bruxos malfeitores, têm a honra de apresentar
O MAPA DO MAROTO
Hermione ficou boquiaberta ao ver surgir no envelhecido pedaço de pergaminho um mapa completo de Hogwarts. O mais impressionante era que se enxergava pequenas etiquetinhas com os nomes das pessoas, indicando onde elas estavam dentro da propriedade.
— Onde você conseguiu isso? — perguntou.
— Fred e Jorge me deram, eles o acharam na sala de Filch no primeiro ano deles na escola. Vim por esta passagem secreta aqui — ele apontou um ponto no mapa. — e vim parar direto no porão da Dedosdemel. Aqui é a Dedosdemel, não é?
— Fred e Jorge? — disse Rony, indignado. — Como eles nunca me mostraram isso? Eu sou irmão deles!
— Mas Harry, você não vai ficar com isso, vai? — Hermione perguntou, apreensiva.
— Está maluca, Hermione? — retrucou Rony. — É lógico que ele vai!
— E se esse mapa cai nas mãos de Sirius Black? E se ele tiver acesso a essas informações sobre passagens secretas e tudo o mais?
Ela viu Harry hesitar por um segundo. Mas ele disse, decidido:
— É só um pergaminho velho, veja. Malfeito feito.
Com aquelas duas últimas palavras, o mapa voltou a ser um pergaminho em branco. — Você vai me denunciar, Mione?
— É claro que não... — foi sua resposta, embora ainda não concordasse com o uso do mapa.
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