Os Guardas
Os Guardas
Na manhã seguinte, Rony já tinha voltado a falar com Hermione. Porém, eles tratavam-se com uma certa formalidade. Tomaram café todos juntos, e durante a refeição o Sr. Weasley disse que o ministério da magia, onde ele trabalhava, mandaria dois carros para conduzi-los à estação King's Cross.
O que se seguiu ao café da manhã foi uma corrida frenética para terminar arrumações de malas. Hermione já estava com tudo pronto, então ajudou Gina com as coisas dela e depois preparou uma cesta de vime bem confortável para acomodar Bichento. O gato não gostou muito de ficar preso, no entanto.
— Calma, Bichento. Vou soltar você no trem.
— Ah, não vai não! — disse Rony, que passou por ela naquele momento.
Hermione levantou os olhos para ele, sentindo o rosto corar de raiva, mas não disse nada. Harry apareceu neste momento, perguntando:
— Prontos?
— Lógico — Hermione disse, retirando-se apressadamente.
Pouco depois, Arthur Weasley anunciou a chegada dos carros do ministério. Todos dirigiram-se para eles e foram embarcando. Hermione sentou-se no branco traseiro do primeiro deles, junto com Harry, Rony e Percy.
Já em King’s Cross, Hermione notou uma certa preocupação especial com Harry da parte do Sr. Weasley: não desgrudava do garoto um instante sequer e quis logo atravessar com ele para a plataforma nove e meia. Os próximos foram Gina e Percy. Hermione foi com a Sra. Weasley, por último. Ganhou dela um abraço muito apertado antes de embarcar no trem junto com Gina. Rony, Fred e Jorge embarcaram logo em seguida, mas Harry ainda demorou um pouco. Ficaram todos juntos nas janelas, acenando para o Sr. e a Sra. Weasley.
Uma vez que o trem já deixara a estação para trás, Harry anunciou discretamente a Hermione e Rony:
— Preciso falar com vocês em particular.
Os três procuraram muito por alguma cabine vazia onde pudessem conversar, mas a mais próxima disso que encontraram foi uma em que seu único ocupante dormia em um sono profundo. Hermione reparou que ele usava vestes muito surradas e costuradas em vários lugares. Apesar dos fios grisalhos por entre os cabelos, o homem parecia ser bem jovem. Havia mais um detalhe: em sua mala, estava escrito “Prof. R. J. Lupin”.
— Quem será ele? — perguntou Rony.
— Prof. R. J. Lupin — Hermione respondeu instantaneamente.
— Como é que você pode saber?
— Está escrito na mala. — respondeu com simplicidade e dirigiu-se a Harry: — O que você queria falar com a gente?
— Ontem à noite — começou Harry, sem rodeios. — ouvi os pais do Rony conversando sobre Sirius Black. Vocês sabem sobre ele, imagino.
— Claro. — Hermione apressou-se. — Era seguidor de Você-Sabe-Quem, foi preso em Azkaban por matar treze pessoas e agora está foragido.
— O primeiro e único bruxo que já fugiu de lá — acrescentou Rony.
— Pois é. — disse Harry. — Ouvi seus pais dizendo ontem à noite que ele fugiu com o objetivo de vingar Voldemort. Ou seja; acabar comigo.
Hermione pôs as duas mãos sobre a boca, apavorada. Então era por isso o excesso de cuidado do Sr. Weasley, a hospedagem da família inteira no Caldeirão Furado e os dois carros do ministério que os escoltaram até a estação. Olhou para Rony, que também parecia desconcertado.
— Harry... — disse. — Você vai ter que tomar muito cuidado! Não vai mais poder sair por aí procurando encrenca...
— Eu não procuro encrenca, Mione. Em geral são os problemas que vêm até mim.
Neste momento, eles ouviram um apitinho agudo. Vinha do malão de Harry; Rony vasculhou um pouco e tirou lá de dentro uma bolinha, responsável pelo barulho.
— Isto é um...? — disse Hermione.
— Bisbilhoscópio, — disse Rony — dos bem baratinhos. Dei de aniversário ao Harry. Ele apita perto de alguma coisa suspeita. Apitou quando o prendi na perna de Errol, sabe como é, ele não é a melhor coruja para carregar pacotes.
— Nem cartas. — ela acrescentou, sorrindo.
— Em Hogsmeade deve ter uns muito mais legais. Vamos poder olhar todos os tipos de coisas para bruxos.
— Vai ser incrível! — Hermione disse, animada. O direito às visitas a Hogsmeade em determinados fins-de-semana era concedido aos alunos a partir do terceiro ano, mediante a assinatura da autorização que viera junto com a carta de Hogwarts. — Você conhece muita coisa de lá?
— Só o que Fred e Jorge me disseram. Estou louco pra conhecer a Dedosdemel.
— Dedosdemel?
— É uma loja de doces... Dizem que tem de tudo lá! Imagine só, Harry!
— Eu não vou poder ir — Harry disse, desanimado. — Meus tios não assinaram a autorização.
— Mas... — disse Rony, pego de surpresa, mas neste momento Hermione deixava Bichento sair da cesta, e ele tentou impedir: — Não vá soltar essa coisa!
Era tarde. Bichento subiu graciosamente na perna dele e acomodou-se lá. Hermione prendeu a respiração quando viu um calombo no bolso de Rony remexer-se, era Perebas. Rony empurrou Bichento com raiva, e disse:
— Dá o fora daqui!
— Rony, não! — Hermione gritou.
Bichento caiu no chão e ela sentiu o empurrão de Rony como se tivesse sido nela. Pegou o gato no colo, como se nunca mais fosse soltá-lo, e fechou a cara. Não falou mais com Rony.
No final da tarde, quando já anoitecia, o trem parou repentinamente.
— Não podemos ter chegado ainda — Hermione murmurou, olhando seu relógio.
O barulho do trem cessou, e as luzes se apagaram. No escuro completo, não era possível enxergar nada. Ela sentiu de repente uma dor lancinante nos dedos do pé esquerdo. — Rony, isso era o meu pé! — exclamou, esquecendo-se momentaneamente de que não estava falando com ele. Ele continuou simplesmente dirigindo-se à janela, sem se desculpar.
— Tem alguma coisa se mexendo lá fora — ele disse. Parece que alguém está entrando no trem.
Um vulto adentrou a cabine repentinamente, embolando-se com alguém e caindo no chão.
— Desculpe, Harry — disse a voz de Neville Longbottom. — O que está acontecendo?
— Não sabemos. — Harry disse.
Hermione levantou-se e deixou Bichento onde estivera sentada.
— Vou tentar sair da cabine para descobrir alguma coisa. — disse, e começou a mover-se para fora. Na altura da porta, trombou em alguém que perguntou:
— Quem é?
— Gina?
— Mione? O Rony está aqui?
— Está. Entre aí e sente-se.
Houve uma pequena confusão enquanto os dois novos ocupantes da cabine tentavam acomodar-se sem enxergar nada. Uma luz surgiu de repente, da ponta de uma varinha, e era o prof. Lupin quem a segurava, acordado e em pé.
— Silêncio. — ele disse, calmamente.
Todos ficaram parados onde estavam e em silêncio, iluminados apenas pela fraca luz que a varinha de Lupin emanava. Na porta da cabine, surgiu um vulto negro muito alto, com o rosto completamente coberto por um capuz e o corpo totalmente escondido por uma capa. Por um instante foi possível ver uma mão de dedos muito compridos, um brilho cinzento e uma aparência de algo que estava há muito morto, decompondo-se. Junto com o vulto, veio uma sensação de frio muito intenso.
Hermione agarrou Bichento no colo, por causa do frio e do medo que sentia, e no instante seguinte a criatura inspirou profunda e ruidosamente, como se estivesse inspirando mais do que ar. Hermione foi invadida por uma sensação horrível de que tudo daria errado, de que nada tinha solução e de que tudo o que mais temia se tornaria realidade. Era um sentimento aterrador de que ela nunca mais seria feliz. Lágrimas brotaram de seus olhos e ela apertou Bichento com mais força.
Observando as pessoas ao redor, tudo tornava-se pior. A expressão de Rony denunciava que ele sentia o mesmo que ela. Gina tremia-se inteira. Neville estava ajoelhado no chão, e soluçava baixinho. Mas Harry era o pior de todos: ficou completamente paralisado, depois começou a sacudir como se estivesse tendo uma convulsão e por fim caiu no chão, desacordado.
— Harry! — ela gritou.
O prof. Lupin tomou a frente de todos, apontando a varinha para a criatura e dizendo:
— Nenhum de nós está escondendo Sirius Black. Vá embora!
Mas a criatura não se moveu. Lupin gritou: — Expecto Patronum!
Um raio luminoso saiu da varinha em direção à criatura, e no instante seguinte ela distanciava-se, flutuando. Todos respiraram aliviados, e o silêncio sustentou-se por alguns momentos.
— Acho que ele está indo embora. — Rony disse, olhando pela janela.
As luzes voltaram neste instante. Hermione e Rony adiantaram-se para onde Harry estava estendido no chão.
— Harry! — chamavam, sacudindo o amigo de leve. Ele acordou.
— Que houve? — perguntou ele, confuso.
Antes que Hermione pudesse pensar em responder, um estalo a assustou e ela olhou para cima. O prof. Lupin quebrava em pedaços uma barra de chocolate. Distribuiu os pedaços entre eles, dizendo:
— Comam, vão sentir-se muito melhor.
— O que foi aquilo? — Harry perguntou quando recebeu seu chocolate.
— Um dementador. Um dos dementadores de Azkaban, os guardas de lá. Estava revistando o trem atrás de Sirius Black. — Ele encaminhou-se para a porta da cabine. — Preciso falar com o maquinista, logo estarei de volta.
Hermione percebeu que Gina choramingava. Foi até ela e a abraçou carinhosamente.
— Mione... — ela murmurou. E depois, quase inaudivelmente: — Riddle...
Os acontecimentos do ano anterior voltaram em avalanche à cabeça de Hermione, e ela abraçou a amiga mais forte. Lupin reapareceu à porta em seguida, dizendo:
— Eu não envenenei o chocolate, sabiam?
Hermione mordeu seu pedaço, e na mesma hora uma onda de calor invadiu-a, um calor não apenas físico mas também emocional. Conforme passava a sensação de frio, passava também a de tristeza.
— Gina, coma. — disse, com urgência.
A amiga obedeceu, e como seu rosto desanuviou-se no mesmo instante, Hermione soube que ela estava melhor. O trem entrou em movimento outra vez.
Não demorou muito para que chegassem à estação de Hogsmeade, onde tomariam os coches de cavalos invisíveis até Hogwarts.
— Alunos do primeiro ano, por aqui! — disse Rúbeo Hagrid. Hermione acenou para ele.
Ela entrou com Rony, Harry e Gina em um dos coches. Permaneceram em silêncio durante o percurso. Ao aproximarem-se do castelo, puderam ver ao redor dos portões mais algumas criaturas idênticas àquela que estivera no trem. Mesmo de tão longe, puderam sentir a sensação de frio causada pelos dementadores.
Os coches tocaram o chão e os alunos começaram a dispersar-se em direção à entrada. Gina encontrou algumas colegas e juntou-se a elas. Hermione deixou Bichento dentro da cesta de vime, para que fosse levado juntamente com a bagagem para o seu dormitório. Entrou com Rony e Harry no castelo, e logo eles foram abordados pela profa. Minerva McGonagall.
— Granger, Potter! Preciso falar com os dois. Weasley, pode seguir seu caminho.
Hermione e Harry deixaram para trás um Rony contrafeito e seguiram a professora até sua sala, onde ela os fez sentarem-se em duas poltronas e sentou-se em outra. A porta abriu-se em seguida e a enfermeira da escola, Madame Pomfrey, entrou apressada.
— É verdade que você desmaiou no trem, Potter? — a professora perguntou, aflita.
— Eu estou bem! — disse ele, constrangido. — Não foi nada demais.
Madame Pomfrey o examinava freneticamente, e murmurou:
— Esses dementadores... Ele não será o último a passar mal por causa deles. Devia pelo menos ter comido um chocolate.
— O prof. Lupin me deu um chocolate no trem. E eu estou bem.
— Ele deu, é? — Madame Pomfrey parecia admirada. Com satisfação, disse: — Então quer dizer que finalmente arranjaram um professor de Defesa Contra as Artes das Trevas que sabe o que está fazendo.
E retirou-se.
— Potter, por favor espere lá fora. Tenho um assunto a tratar com a srta. Granger a respeito dos horários dela para este ano
Harry saiu, e Hermione, que estivera calada até então, esperou apreensiva pelo que a professora tinha a lhe dizer.
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