Bichento: a Semente da Discórd



— CAPÍTULO DOIS —
Bichento: a Semente da Discórdia




Foi com alívio que Hermione depositou sua mala no chão do quarto e deitou-se em sua cama. Tinha adorado a viagem à França, mas também sentira falta de casa. O melhor era que agora faltava pouco tempo para voltar a Hogwarts.
Até na televisão trouxa estavam aparecendo notícias sobre Sirius Black. Hermione leu no jornal que o ministro da magia, Cornélio Fudge, tinha revelado ao primeiro-ministro trouxa que havia um bruxo foragido muito perigoso.
Alguns dias depois que tinha voltado, Hermione recebeu mais uma coruja de Rony. Ela parou de duvidar que Errol sobreviveria por muito mais tempo; na verdade, começou a suspeitar que a coruja era imortal.

“Mione

Já voltou à Inglaterra? Ficou sabendo do que Harry fez com uma tia dele, transformando-a num balão e fazendo-a flutuar horas e horas pelo céu? Apareceu até no jornal, morri de rir! O melhor é que meu pai disse que o ministério não vai punir Harry.


Hermione lembrou-se de ver algo parecido no jornal, mas não imaginara que tinha a ver com Harry. Procurou entre as edições passadas do Profeta Diário e achou a nota que falava sobre uma trouxa em forma de bola gigante flutuando pelo céu. O texto felizmente não mencionava Harry. Ela voltou a ler a carta.

Não sei o que aconteceu para ele fazer o que fez, mas sei que depois disso ele fugiu de casa e hospedou-se no Caldeirão Furado. Nós iremos nos hospedar lá também; vamos ao Beco Diagonal na semana que vem para comprar o material escolar (vou ganhar uma varinha nova, já lhe contei?) e vamos passar a noite do dia 31 de agosto para o dia primeiro de setembro, quando embarcaremos para Hogwarts.
Se puder, apareça por lá. Tenho certeza de que vai querer perguntar ao Harry detalhes sobre esta história da tia dele.
Rony”



No dia trinta e um de agosto, os pais de Hermione deixaram-na hospedada no Caldeirão Furado com toda a bagagem que ela levaria para Hogwarts. Despediram-se com abraços demorados. Quando os pais de Hermione iam saindo, os Weasley chegaram. Todos cumprimentaram-se, e quando chegou o momento de se cumprimentarem, Hermione e Rony pareceram ligeiramente surpresos um com o outro.
— Você está bem mais alto — Hermione comentou debilmente, como o silêncio se tornasse longo e constrangedor.
— Você também. — foi tudo o que ele disse. Nem ao menos disseram “oi”.
— Oi, Gina! — foi o jeito que Hermione encontrou para acabar com aquela situação. — Como você está?
— Estou bem, e você, Mione?
— Ótima!
Gina também tinha crescido muito. Arthur e Molly Weasley cumprimentaram Hermione afetuosamente enquanto cuidavam dos detalhes da hospedagem no balcão. Rony tornou a se aproximar dela.
— Perguntei à recepcionista e ela me disse que o Harry saiu. Vamos procurá-lo? Já podemos aproveitar para ir comprando as nossas coisas.
Hermione assentiu e os dois saíram juntos. A primeira parada foi na Olivaras, a loja de varinhas. Levou algum tempo até que Rony testasse uma com que se desse bem.
— Vou experimentar um feitiço de vomitar lesmas em você, Mione — disse ele, quando saíam da loja.
— Não se atreva!
A seguir, foram à loja de Madame Malkin, onde Hermione comprou novas vestes de Hogwarts.
— Sabe como é — disse Rony. — Eu sempre ganho as usadas dos meus irmãos. Gina ainda tem sorte, pelo menos ela ganha uma saia nova por ano... A camisa, a gravata, o blusão e a capa que ela usará este ano são os meus do ano passado.
— Seus pais estão certos; não há sentido em comprar cinco conjuntos de vestes por ano se vocês podem usar uns os dos outros.
— Você diz isso porque é filha única.
— Pois eu preferiria ter o montão de irmãos que você tem.
E saiu da loja, com a sacola de vestes na mão e Rony seguindo-a. Foram à Floreios & Borrões, a loja de livros do Beco Diagonal.
— Onde Harry pode estar? — Rony perguntou, ao ver que Harry também não estava nesta loja.
O balconista se aproximou.
— Vocês não querem aqueles livros monstruosos, querem?
O livro monstruoso dos monstros? — Rony perguntou, lendo o nome em sua lista de livros.
— Este mesmo...
— Por acaso queremos. — disse Hermione, entregando ao balconista sua lista. Rony entregou a dele também.
— Por que a sua é tão maior?
— Ora, vou cursar mais matérias do que você. É natural que precise de mais livros...
Os dois observaram de longe o balconista angustiado, tentando domar dois livros que tentavam a todo custo mordê-lo. Amarrou-os com sacolas e trouxe um para casa um.
— Agora vou pegar os outros — disse, aliviado.
— Nossa! — exclamou Rony, tentando não derrubar o livro que se debatia. — Este é provavelmente o tipo de livro que Hagrid compraria, se comprasse um livro.
— Não diga isso — retrucou Hermione. — Ele lê mais do que você, se isso o surpreende.
Depois de comprarem os livros, compraram ainda ingredientes para poções e andaram por várias ruas, sem encontrar Harry. Decidiram tomar um sorvete, e depois de adornarem suas casquinhas com bolas de diversos sabores, sentaram-se na calçada para comer.
— Tá bom, Hermione. Eu não vou agüentar esperar mais vinte dias.
Ele tirou de dentro do casaco um embrulho em formato de livro, e entregou a ela. — Comprei no Egito, é um presente de aniversário. Mas estou entregando agora.
Ela sorriu, pegando o embrulho. Era um livro, com certeza. Abriu com cuidado para não rasgar o pacote. A capa era muito bonita, tinha desenhos de pirâmides e o título era A História da Magia no Egito.
— Rony... Muito obrigada!
Ela teve vontade de abraçá-lo, mas os dois simplesmente se olharam sorrindo, em silêncio, por algum tempo até corarem e desviarem o olhar um do outro. Hermione guardou o presente dentro de uma das sacolas, e foi neste momento que Rony disse:
— Olha lá, é o Harry!
Os dois chamaram o amigo, que, sorridente, veio até eles e os abraçou.
— Até que enfim — disse Rony. — Procuramos por você em todas as lojas que fomos.
— Já comprei todo o meu material na semana passada — explicou ele.
— É verdade que você transformou a sua tia em um balão? — Hermione perguntou, em tom sério.
— Não foi por querer... — Harry respondeu. Rony gargalhava.
— Não tem graça, Rony. Ele poderia ter sido expulso.
— E o que é tudo isto, Mione?
— Meu material; vou cursar mais matérias do que vocês. Meus pais deixaram um dinheiro a mais, para que eu comprasse o meu presente de aniversário.
— Que tal um bom livro? — debochou Rony.
Ela teve vontade de dizer “acabei de ganhar um de um idiota”, mas conteve-se.
— Eu queria mesmo era uma coruja. Harry tem a Edwiges e você tem o Errol...
— Ele não é meu, é da família toda. Meu mesmo, só o Perebas. Quero pedir para examiná-lo em algum lugar, ele não parece nada bem.
Perebas estava mais magro do que o normal e seus pêlos pareciam mais escassos.
— Logo ali tem uma loja de criaturas mágicas — Harry disse. — Lá Rony pode comprar algum remédio para o Perebas e você pode comprar a coruja, Mione.
Os três terminaram então seus sorvetes e seguiram para a loja. Enquanto a bruxa que devia ser a dona da loja atendia um cliente no balcão, eles ficaram a observar as diversas criaturas engaioladas que tapavam por completo as paredes do pequeno estabelecimento.
— Pois não? — disse a bruxa, quando o cliente que ela atendia saiu.
Rony adiantou-se.
— Queria que a senhora examinasse o meu rato... Fizemos uma viagem e eu acho que não fez muito bem a ele.
Ele pousou o rato em cima do balcão e a bruxa pôs-se a examiná-lo, desde os pêlos ralos até as patas com um dedinho faltando em uma delas.
— Este pobre animalzinho sofreu muito... — disse ela.
— Eu cuido bem dele! — defendeu-se Rony, ofendido. — Ele já estava assim quando meu irmão me deu.
— Não espere que ele viva muito mais... Se quiser, tenho outros ratos aqui.
Um grupo de ratinhos pretos brilhantes alvoroçou-se dentro de uma gaiola ao lado do balcão. Rony olhou torto para eles.
— Exibidos.
Vendo o descontentamento de Rony, a bruxa ofereceu um frasquinho que dizia "Tônico para Ratos".
— Isto pode dar uma melhorada nele... Junto com muito descanso.
Neste momento uma coisa laranja e peluda pulou de algum lugar na cabeça de Rony. Era um gato, e obviamente estava interessado em Perebas. Ele, por sua vez, escorregou imediatamente da mão de Rony e saiu correndo para fora da loja.
— BICHENTO, NÃO! — gritou a bruxa, conseguindo tomar o gato nos braços.
Rony e Harry tinham saído da loja atrás de Perebas. A bruxa perguntou para Hermione:
— E para a senhorita?
Mas ela não respondeu. Aproximou-se lentamente com os olhos fixos no gato. Assim que a viu, ele pulou do colo da bruxa e parou aos pés dela, fitando-a com o que ela julgou ser um olhar suplicante.
— Ele está à venda? — Hermione perguntou.
— Claro que sim, mas ninguém nunca o quis.
— Vem, Bichento — Hermione mal tinha terminado de falar, o gato pulou em seu colo e, satisfeito, passou a ronronar. — Vou levá-lo. E também o tônico para ratos.

Hermione e Bichento entenderam-se no primeiro instante. O gato agarrava-se a ela, como que para impedir que ela algum dia o soltasse. Ela abraçava-se ao gato como se já o conhecesse de longa data.
Foi encontrar Rony e Harry bem longe da loja. Rony olhou-a com uma expressão de espanto.
— Você não comprou essa coisa, comprou? Ele quase me escalpelou! — disse ele.
— Foi sem querer, não é Bichento?
— E o que vai ser do Perebas? Ele está doente, precisando de repouso. Como vai poder descansar com esse tigre esfomeado perseguindo-o o tempo todo?
— Não sei por que tanta preocupação. Bichento dormirá no meu dormitório e Perebas no seu. Aliás, isso me lembra que você esqueceu seu tônico para ratos.
Estendeu o frasco para ele, que pegou irritado.
Rony passou o resto do dia mal dirigindo a palavra a Hermione, e não soltava Perebas das mãos por nada. Sempre que se via perto dela, resmungava alguma coisa relacionada a isso. Um pouco antes do jantar, ela o ouviu resmungar claramente enquanto passava por ele:
— Ia comprar uma coruja, por que não comprou? Parece que comprou aquele gato só para me irritar...
— De que adianta — explodiu ela — me trazer um livro lindo de presente e depois fazer isso comigo?
Deu-lhe as costas e subiu as escadas correndo em direção ao quarto, soluçando. Gina foi atrás dela para consolá-la.
— Mione, não ligue para ele. — disse Gina, depois de entrar no quarto de Hermione e fechar a porta atrás de si. — Ele é um insensível, um...
— Estúpido... Você viu o livro que ele me deu? — Hermione perguntou, choramingando. Estava ajoelhada no chão com o rosto e os braços apoiados na cama. Não muito longe dela, Bichento espalhava-se confortavelmente.
— Claro, ele passou horas escolhendo.
Gina acariciou Bichento, que esparramou-se ainda mais na cama.
— Ele nunca fez questão de ser gentil comigo. Pelo contrário, faz questão de ser grosseiro!
— Venham jantar! — era a voz da Sra. Weasley.
— Vamos — disse Gina, pegando a mão de Hermione. — Seque essas lágrimas e vamos jantar. — e dirigiu-se a Bichento: — Já voltamos.
As duas desceram as escadas e se dirigiram ao salão do Caldeirão Furado, onde três mesas tinham sido unidas para acomodar os Weasley, Hermione e Harry.
— Vamos para o lado de lá — disse Hermione, puxando Gina para o assento que ficasse o mais longe possível de Rony.
— Ele está olhando para você com aquela cara de arrependimento — Gina cochichou ao ouvido de Hermione no meio do jantar.
— Pois por mim ele pode se afogar em arrependimento.

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