O mesmo caminho, sentidos opos
Dias, semanas, meses. O tempo passou e Narcissa sentia a falta dele. Seis meses, para ser mais precisa. E ela não o esquecera.
Com a separação de James, ela ganhou um novo hábito. Maldito hábito que a fazia sentir-se outra. Não era a mesma Narcissa. Não conseguia ser.
Todos os malditos dias ia àquele sótão, que ninguém mais se lembrava. Estava totalmente abandonado, coberto de pó e repleto de móveis antigos. Mas era ali que ela guardava o seu bem mais precioso.
Cuidadosamente, fechou a porta e foi de encontro com uma cômoda que ali se encontrava. Demasiado velha e suja, mas isso não importava. Abriu vagarosamente a gaveta e ali estava ela. A rosa, tão linda e perfeita. Narcissa sorriu um pouco ao vê-la exatamente como no dia em que James lhe dera. Rapidamente a agarrou e, para seu choque, uma pétala caiu devagar, como se dançasse graciosamente até atingir o soalho.
Narcissa engoliu em seco. Era verdade que a rosa era constituída por muitas mais pétalas e nenhuma havia caído durante todo aquele tempo. Mas foi como se um punhal lhe tivesse cortado pedaço das esperanças e sonhos que ainda tinha. Sentiu uma lágrima, fria e solitária, descer pelo seu rosto. Rapidamente atingiu seus lábios. Era amarga, assim como o aperto que Narcissa sentia no coração.
Pode ter sido só pela brusquidão com que eu a peguei, pensou, pouco convicta.
Não, não podia ser! E ela sabia melhor que ninguém. As palavras de James foram claras: era uma rosa enfeitiçada e as pétalas caíam à medida em que ele a esquecia.
Sentiu seu corpo escorregar até ao soalho frio, ainda contemplando a rosa. Agora não lhe parecia tão bela. Aquela rosa tanto podia significar todas as suas esperanças como a sua ruína. E se todas as pétalas caíssem? Narcissa queria morrer antes de poder ver isso. Preferia se jogar da janela do que viver tempo suficiente para saber que James não se importava mais com ela.
Arrumou a rosa de volta na cômoda e saiu. Pegou sua capa e a colocou sobre o corpo, aparatando em seguida. Queria apanhar algum ar fresco. Precisava, mais do que nunca, desse ar. E aquele lugar ela conhecia tão bem! O rio correndo livremente por baixo de si, enquanto os carros dos trouxas passavam ruidosamente pela ponte. Como ela amava aquele lugar. Instantaneamente, se lembrou da tarde maravilhosa em que James a levara lá para ver o pôr-do-sol. E esse mesmo pôr-do-sol não tardaria a chegar.
Naquele instante, a vontade de deixar as lágrimas rolarem livremente pelo seu rosto era cada vez maior. Sentiu uma súbita vontade de se atirar dali, mergulhar no rio e morrer com a água entranhada nos seus pulmões. Talvez a morte fosse melhor que a vida. Ou talvez a morte não fosse nada e ela precisava desesperadamente de não sentir nada. Mas não podia, não agora que a sua barriga estava tão saliente. Aquela pobre criança não merecia ser tirada da vida pelos erros que ela cometera.
Caminhou um pouco sobre a ponte, a passo lento, enquanto admirava a rotina diária da cidade. As pessoas alheias ao seu sofrimento, passavam por ela, umas alegres, outras apressadas. Viu um homem jovem olha-la enquanto passava com uma criança ao colo e sorrindo. Sentiu raiva das pessoas que conseguiam sorrir naturalmente, que desfrutavam da felicidade com naturalidade.
Se virou de novo para admirar a paisagem. Tudo tão belo e nostálgico. Sentia saudades dos braços dele, das carícias, dos beijos… Odiava-se por ser quem era e por ter uma vida tão miserável ao lado de um homem que não lhe dava qualquer importância. Apenas se tinham casado para manter as aparências, apenas porque juntar duas famílias puro-sangue de bom-nome era conveniente.
Talvez em outra altura aquilo não importasse tanto. Afinal, Narcissa sempre adorara os luxos, jóias e dinheiro que possuía. O poder era tudo, o resto era apenas bónus. Mas o impensável aconteceu, sem que ela percebesse de imediato. Havia se apaixonado pelo homem que não podia ter, de jeito nenhum. Porque não tinha percebido antes? Porque não sentira isso na primeira noite que dormiu com ele? Talvez pudesse ter evitado todo aquele sofrimento. Mas a questão era se ela realmente queria esquecer tudo o que vivera com James.
Continuou olhando o horizonte enquanto a tarde caminhava a passos largos para dar vez à noite. Em pouco tempo, Narcissa poderia ver o pôr-do-sol e relembrar bons velhos momentos. As lágrimas ainda escorriam livremente pela sua face pálida. Os raios de sol alaranjados lhe davam uma beleza quase irreal.
Até que os seus pensamentos foram interrompidos por um homem passando perto de si. Narcissa sentiu um arrepio sem perceber exatamente porquê e logo olhou para trás.
Por momentos, pensou que estava delirando. Havia enlouquecido de vez. Não podia estar vendo James, ele não estava ali. Até que percebeu o perfume dele espalhado na atmosfera, o som típico da sua maneira de andar, as feições inegavelmente pertencentes a ele.
-James? – chamou ela, hesitante.
Esperou que um homem totalmente diferente voltasse o rosto para ela. Ou talvez ele sumisse e ela descobrisse que era mais um dos devaneios de sua mente. Mas, dessa vez, estava redondamente enganada. James se virou surpreso. A princípio, parecia estar pensando o mesmo que ela. Parecia pensar que tudo não passava da sua mente.
-Cissy? – perguntou, aproximando-se.
-É você, James! – exclamou Narcissa com felicidade.
No instante seguinte, foi movida pelo impulso até perto dele e parou, fitando-o. O seu olhar era indecifrável e Narcissa queria resistir à tentação de o abraçar. Parecia tudo um sonho maravilhosamente bom que logo acabaria quando acordasse. Mas essa ideia logo se desfez da sua mente, quando ele a puxou para um abraço.
A barriga já grande de Narcissa se encostou em James, fazendo-o aperceber-se de que algo estava diferente. Depois de alguns segundos estáticos, apenas sentindo os braços um do outro, James se afastou e fitou a barriga dela, confuso.
-Você está… grávida? – perguntou ele, surpreendido.
-Deu para reparar? – ironizou Narcissa.
-De quanto tempo? – perguntou rapidamente, engolindo em seco.
-S-seis meses. – respondeu Narcissa, hesitante.
Conseguia ver nitidamente o choque proveniente da expressão dele. Sabia exatamente o que ele estava pensando. E sabia exatamente o que ele iria perguntar a seguir.
-Seis meses? – perguntou transtornado – Esse filho, ele é… é…
-Não, James, ele não é seu! – respondeu antes que ele pudesse terminar a pergunta.
-Como você pode ter certeza? - questionou James, ainda olhando incrédulo para a barriga dela - Faz seis meses que dormimos juntos, Narcissa!
-Eu apenas sei que não é seu! E não me pergunte mais nada, ok?
Dizendo isto, Narcissa se virou de novo para a beira da ponte, olhando fixamente o sol começando a se pôr. A paisagem estava exageradamente bela. O seu coração acelerava, percebendo a proximidade de James nas suas costas.
Sentiu os braços dele passarem pela sua cintura e acariciando a sua barriga, enquanto o corpo dele se colava mais ao seu.
-Eu nem acredito que eu encontrei mesmo você… Tive tantas saudades! – desabafou ele com um suspiro, poisando o seu queixo nos ombros de Narcissa.
Rapidamente, ela se lembrou da rosa. A flor denunciava a perda de interesse que ele tinha por ela. Ainda tinha na sua mente a imagem da pétala negra caindo suavemente até ao chão. Então, que ele queria? Sem pensar muito, Narcissa o afastou.
-O que aconteceu, Cissy? – perguntou surpreendido.
-Não me chame de Cissy, Potter!
Ele a olhou, atônico, sem entender a reação dela. Não entendia o porquê daquela rejeição. Ela não se importava mais com ele? Inúmeras dúvidas invadiram a sua mente, enquanto olhava Narcissa de costas voltadas.
-Eu sempre te chamei de Cissy! – respondeu ele – Qual o problema agora?
-O problema é que agora nós somos completos desconhecidos, não é mesmo? – disse, com os olhos marejados, ainda olhando o horizonte.
-Não! Claro que não, Cissy. Eu nunca vou esquecer você…
-Pois não parece! Pelo menos, a rosa não mostra isso – respondeu Narcissa, amarga – Vá embora, James. Por favor!
-A rosa? – James abriu um meio sorriso – Narcissa, quantas pétalas caíram?
-E você ainda fala como se tivessem caído mais do que uma pétala? – perguntou, com a fúria flamejando em seus olhos claros – Canalha!
-Cissy, não te estou entendendo. O que eu fiz, ein?
-Você está conseguindo se esquecer de mim. Isso não é bom? Então, era isso que você queria! Porque não some daqui para ver se me esquece mais rápido?
James suspirou e olhou para ela. Sabia que tinha algo a ver com a rosa, mas ela parecia intransigente. Tentou uma aproximação de novo, mas Narcissa recusou, como já o tinha feito.
-Cissy, para com isso! – exigiu, passando as mãos pelo seu cabelo rebelde – Afinal, quantas pétalas caíram?
-Uma! – respondeu ela secamente.
James sorriu e balançou a cabeça negativamente. Uma pétala em seis meses e Narcissa estava visivelmente triste. Conseguia ver através dos olhos azuis dela, tão idênticos a um oceano de águas límpidas e azuladas. Lindos. E tão transparentes em momentos como esse.
-Uma pétala… Narcissa, isso não significa que eu não goste de você! – declarou segurando o rosto dela e a obrigando a olhar para ele - A minha vida tem andado um caos e eu não tenho tempo de pensar em nada. Nada mesmo! Nem em você! – desviou o olhar da loira - Ainda mais agora que vou ser pai.
Narcissa rapidamente o olhou fixamente e uma certa tristeza lhe inundou o peito.
-Eu já disse, James. Esse filho não é seu, é do Lucius.
No olhar de James brotou um pouco de desilusão e ela podia ver, nos olhos já desviados dos seus, que ele ficara triste.
-Eu não estava falando da sua gravidez… - começou ele, suspirando de novo – Eu estava falando da gravidez da Lily.
O coração de Narcissa, se já estava frágil, nesse momento pareceu quebrar em mil pedaços. Ou talvez muito mais. A Evans estava grávida! Sentiu um enorme aperto se apoderar do seu peito. A angústia consumindo toda a sua momentânea felicidade de o ter reencontrado. Como se, de repente, toda aquela paisagem maravilhosamente bela se tornasse num dia chuvoso e sem sol.
Tinha uma extrema necessidade de chorar até sentir que toda a sua mágoa tinha saído pelos seus olhos, junto com as lágrimas. Queria sumir para qualquer lado. Se sentiu desamparada, como nunca havia sentido. Até que não conteve mais e uma lágrima, fria e solitária, escorregou pelo seu rosto, acabando por se desfazer em seus lábios.
-Cissy, por Merlim, não chore! – pediu James, sem saber como proceder ao vê-la chorando. Com uma mão, tentou enxugar a lágrima que corria pelo seu rosto.
-Eu não estou chorando. – respondeu, fria.
James não a quis contrariar no momento. Apenas afastou os cabelos loiros dela, destapando mais a face pálida dela e aproximou os seus lábios. Queria tanto sentir outra vez aquele gosto da boca dela, tão doce e aliciante.
Mas, no momento em que os lábios dele quase tocavam os de Narcissa, ela hesitou, desviando o rosto. Não queria sofrer mais, não queria gostar ainda mais daquele homem. Maldita hora em que tivera a péssima ideia de ir até àquele lugar! E maldito James, que tinha que ser tão irritantemente perfeito!
-Eu gosto tanto de você, Cissy! – declarou ele, olhando-a atentamente – Você sabe que é verdade. Eu preciso de você.
-Nós não estamos mais juntos. – respondeu, devolvendo o olhar – Acabou tudo naquela noite, James! Acabou, agora só restam as lembranças. Não vamos complicar as coisas.
Ele encaminhou uma das suas mãos para a barriga dela, acariciando-a carinhosamente. O olhar era tão cheio de ternura, de amor e, ao mesmo tempo, tristeza. Por momentos desejou que aquele filho fosse seu. Se ele pudesse ficar com Narcissa, com certeza seria o seu maior desejo.
-Quem dera que fosse meu… - disse ele, sem se aperceber, com olhar sonhador.
-Não diga besteira.
Nesse momento, ele voltou a olha-la. A sua beleza era fenomenal, irreal até. E agora grávida, se tornara ainda mais bela, com um toque maternal. Estava absolutamente fantástica.
Não resistiu e a puxou, unindo os seus lábios aos dela. Dessa vez, não permitiu sequer que Narcissa tivesse tempo para pensar em recusar. Sentia a grande barriga dela contra a sua, o que lhe provocou um enorme arrepio. Um doce arrepio, que ele não sentia há longos seis meses, desde que se tinha despedido dela.
O beijo se prolongou, cheio de saudade e mágoa. As mãos de Narcissa puxavam o pescoço de James para mais perto, enquanto as suas línguas se acariciavam, como sendo algo indispensável.
Longos minutos depois, Narcissa afastou lentamente o rosto, interrompendo James, para o olhar atentamente. Sentia-se afogada naquele sentimento tão profundo e proibido. Tão bom e tão arruinante. Sentindo que poderia ter tudo, mas não tinha nada.
-Cissy, que tal ver-mos o pôr-do-sol juntos? – perguntou, apontando para o horizonte onde o sol já estava completamente laranja, desaparecendo – Como nos bons velhos tempos.
-Pode ser. – respondeu Narcissa, sorrindo nostalgicamente – A despedida definitiva!
-Não leve as coisas por esse lado, assim se tornam mais difíceis.
Os dois se aproximaram mais da berma da ponte. James ficou por detrás de Narcissa, com seu rosto chegado aos cabelos loiros e macios dela e acariciando a sua barriga. Não importava se o filho não era seu. Ele a adorava e, consequentemente, amava qualquer coisa que fosse dela. Mesmo sendo de Lucius também.
O sol ia desaparecendo no horizonte, dando lugar a um céu de tons cada vez mais escuros e a uma brisa congelante. As nuvens se formavam nos céus rapidamente, anunciando chuva forte a qualquer momento. A ponte estava agitada, com os carros ruidosos apressados, businando na tentativa de fazer o trânsito diminuir.
Narcissa se sentiu confortável de uma forma que não sentia há bastante tempo. Ele lhe transmitia força, esperança e felicidade. Mas, mais do que tudo, James lhe transmitia uma proteção incrível, que nem ela seria capaz de explicar.
-Senti tanto a sua falta, Cissy! – sussurrou no ouvido dela.
-Eu também. – confessou ela, suspirando – Você não imagina o quanto!
-Quando o bebê nascer, você pode me mandar uma carta?
-Acho melhor não, James! – respondeu desanimada.
-Tudo bem, você é quem sabe…
O sol desapareceu por completo do céu, embora esse ainda mantivesse uma cor de azul ainda não totalmente escuro. Havia acabado. Estava na hora da despedida. De mais uma.
Narcissa sentiu de novo vontade de chorar. Vontade de abraça-lo e deixar as lágrimas caírem até que voltasse a se sentir bem. Mas não podia fazê-lo. Naquele momento, a única coisa que tinha a fazer era ser forte e encarar as coisas o mais natural que conseguisse. Se virou para ele, para encarar aqueles olhos castanhos pela ultima vez. Sentia as lágrimas querendo romper a barreira de força que ela própria impunha. Sentia-se exageradamente vulnerável.
-Parece que chegou a hora… - disse James com tristeza.
-Infelizmente – concluiu Narcissa – Eu odeio essas horas.
-Mas é a realidade, apenas temos de a aceitar.
-Porque tínhamos de estar justamente em caminhos diferentes? – perguntou ela, deixando algumas lágrimas caírem.
-Não chora, por favor! – pediu, enxugando as lágrimas dela. – Nós não estamos em caminhos diferentes, Cissy! Estamos no mesmo caminho, mas em sentidos opostos.
Ela ergueu os olhos, para o olhar fixamente. Também ele parecia prestes a chorar.
-Houve um dia em que nos cruzamos. – continuou James, com voz inegavelmente arrasada - E ficámos parados nesse ponto durante muito tempo, Narcissa. Tempo demais! Chegou a hora de prosseguir, você no seu sentido e eu no meu. É assim que as coisas devem de ser, mesmo contra nossa vontade.
-Eu sei, mas é tão difícil…
-Fazemos assim: damos um último beijo, um último abraço e, depois, eu sigo naquela direção – disse, apontando para um dos lados da ponte – e você naquela. – continuou, apontando para o lado oposto do anterior – Sem olhar para trás, sem parar… Apenas seguir em frente, cada um com seu rumo, certo?
-Mas James…
-Sim ou não? – perguntou ele, suspirando.
-Sim… - respondeu hesitante, com voz fraca.
James sorriu e, logo em seguida, a abraçou fortemente. Queria sentir cada pedaço dela antes de partir. E, sem que ela visse, algumas lágrimas caíram sobre o seu rosto. Ela também chorava ao pensar que, em breves minutos, todo aquele sonho acabava. Seria o fim definitivo.
Ao se separarem do abraço, os seus rostos ficaram demasiado perto e os narizes se tocavam. Narcissa olhou inúmeras vezes para os olhos e lábios de James, antes de tomar coragem para iniciar o fim de tudo: o último beijo.
Devagar, aproximou mais os lábios e eles se tocaram. A principio, um beijo calmo e carinhoso. Seguidamente, se transformou num beijo voraz, sem qualquer calma ou delicadeza. Uma enorme necessidade de possuir os lábios um do outro.
E durante longos minutos, permaneceram assim. E mesmo quando James fez menção de acabar o beijo, ela não permitiu. Teria que o fazer durar o mais que conseguisse. Se pudesse, fazia-o durar o resto da eternidade.
Quando, por fim, se separaram, ambos se olharam sem uma única palavra. Apenas aquele olhar bastava. Como se entendessem cada pensamento que o outro tinha.
James se baixou e, suavemente, deu um carinhoso beijo na barriga de Narcissa. Ela estremeceu com o carinho, sentindo-se invulgarmente bem. Mas rapidamente esse conforto se desfez ao ver o olhar de tristeza dele. O último que veria.
-Bem… adeus, Cissy! – murmurou ele, fitando o chão.
-Adeus, James. – retribuiu, segurando pela última vez na mão dele.
Ele a olhou por breves segundos. Com uma enorme dor no peito, soltou sua mão da de Narcissa e se voltou. Não havia mais nada a fazer. Não tinha como voltar a olhar para trás e voltar a beijá-la. Eles tinham combinado não parar e, principalmente, não voltar para trás. E ele assim fez.
Narcissa sentiu seu mundo desabar assim que ele lhe virou as costas. Como se a sua vida acabasse ali. Não havia mais nada o que temer ou o que desejar. Simplesmente não havia mais o que viver.
Seguindo o seu exemplo, Narcissa também se voltou, mas no sentido oposto. Os primeiros passos foram lentos e dolorosos. Contudo, à medida que a distância que os separava aumentava, mais ela se apercebia que agora estava realmente tudo acabado. Não havia mais o que fazer, senão continuar em frente.
Ele tinha plena razão. Nunca poderiam ter tido outra escolha. Caminhavam em sentidos opostos, o que significava que, para ficar juntos, teriam que parar naquele ponto para sempre. E Narcissa não se importaria de o fazer, mas a lei natural da vida é que as coisas têm que prosseguir. Devem prosseguir. O que realmente os separava eram os sentidos opostos.
E assim, caminhou, sem rumo, até algum lugar que ela própria não sabia identificar, tentando cessar as lágrimas indesejadas que teimavam em continuar escorrendo pelo seu rosto.
anúncio
Comentários (0)
Não há comentários. Seja o primeiro!