-Saudade em Fragmentos-
-Capítulo VIII-
-Saudade em fragmentos-
Ainda não sabia como deveria se sentir.
...Triste...? Sim, seria...triste...? Como seu irmão gostaria que se sentisse? O que esperaria de suas atitudes? O fato avassalador que descobria é que descobrira-se perdido, confuso em sua incapacidade de previsão de si mesmo, sem a influência certa e delatora da autoridade fraterna. Não porque nunca resistira a toda essa hierarquia, mas sim porque se entregava a ela, com garantia individual de liberdade suficiente para deixar-se não agir. A verdade, e se lembrava agora que sempre soubera, é que nunca soube o que fazer, fugindo às rédeas que cedia, ao seu irmão que as aceitava, como esperava que fizesse.
Tomara uma decisão? Não saberia, entregando-se a um novo espetáculo particular de angústia, se decidir a respeito. E só tinha treze anos... ainda.
Sentado ali, esquecera-se de que sala era aquela, empenhado em retratar a si mesmo no que via dos retratos. Quem eram aquelas pessoas...? Há uma semana atrás não se importaria com nada daquilo, saberia que não precisaria se importar. Agora, todas as dúvidas, ocasionais ou corriqueiras que fossem, só lhe afirmavam o labirinto de sensações e sentimentos que crescia a sua volta, escondendo-se de si mesmo em becos sem saída, nesse emaranhado de perdição e desespero... Só precisava ser encontrado por alguém que, medido no cálculo inseguro de seu coração obstruído, somasse a certeza de lhe prometer a conquista de ser conquistado. Aceitaria novamente a aceitar. Entre os quadros coalhados pela sala, tragado à frustração, inquirido pelos semblantes do desconhecido, não conseguia vislumbrar ninguém para quem aceitaria se entregar. Ninguém que não fosse seus antigos confortos falecidos.
E ainda tinha aquela marca... o borrão negro que lhe saltou o peito, numa chama de memória imediata.
Rogando pena de si mesmo, despercebido em sua tragédia eloqüente, satisfazendo-se em seus medos, achou-se ali, de pé ao quadro vago, observando o que encontrava em sua confusão, no vazio da tela.
-...esse quadro...?- veio fugindo ao devaneio, deparando-se com a sala novamente, percebendo o que lhe faltava à pintura.
Alongando-se bem alto, a biblioteca variava dos livros para as imagens congeladas das figuras, que se movimentavam distraídas em seu diâmetro - limitados nos quadros quase ilimitados que se espalhavam no aposento - chegando ao vitral descolorado que acabava rente ao teto, acompanhando o poleiro vazio dos últimos dias.
Mesmo a fênix fugira a suas cinzas, abandonando-o aos cacos que não conseguia mais colar.
-...está vazio...?- confundiu-se com o quadro.
Já havia notado antes, os quadros curiosos, sem dispensa-los uma esperada curiosa atenção. Vazios, em suas intenções agora tão suspeitas, não lhe parecia como os outros, de pinturas que se locomoviam às cores do possível. Elas sempre retornavam, as figuras caminhantes, numa regra de conforto e segurança, aos espaços arquitetados definidos a seus moldes. Mas esses... cinco(contava agora) quadros esvaziados, não recordava de vê-los na memória preenchidos com suas respectivas imagens destinadas a pincel. No alto da escada, estancado acima de uma estante, no meio de uma prateleira, ao fundo perto da poltrona e, finalmente, ao lado da lareira majestosa, ocupando um prego a frente do garoto.
Aproximando-se do retrato sem rosto, notou uma legenda simplória, sem deixar-lhe maiores explicações, perguntando-se um motivo.
-...Cohen...?- procurou na memória, um possível conhecido, desconhecido da família.
Atendendo a suas dúvidas, o plano marrom desbotado foi perdendo sua fraca intensidade para um vulgo fundo transparente. Não tinha certeza exatamente do que fazer, ou de onde gostaria de chegar, mas teve aquela vaga sensação, característica do que não sabemos e estamos por descobrir, que a tentativa e erro era o meio mais rápido possível para um desfecho. Incerto da verdade, como estava começando a se acostumar, pensou certeiro em se entregar ao quadro, o mais próximo possível, além do véu de tinta que nublava a visão. Na ânsia de revelar-se algo novo, o quadro contornava-se cada vez mais invisível, perscrutando novas formas, ganhando um certo tom arrancado na pintura, conforme aproximava o rosto. Um gigante caldeirão, rodeado por pretensas tapeçarias, desviava sua atenção até perceber o que o percebia.
A menina, que surgia rabiscada, percebeu-se finalmente a reparar, surpreendida por surpresa, deixando-se espantada com o confuso espanto do garoto.
-O que?- não soube se exclamou, olhando a figura cinza a olha-lo questionante(?).
Cogitando palavras apressadas, admirou a menina a saltar perguntas abarrotadas, sem compreende-las realmente.
-Senhor Liar, estamos prontos, devemos ir.- salvou-o de suas incompreensões em construção, a voz grave do mordomo.
Liar se afastou, hesitante nos seus paços, fosco na imagem da outra sala, rodando os olhos até o servo. Este, em sua fisionomia servil do agora e sempre, reparava sem questionar, casaco em mãos, vestindo seu terno preto empulhado, decorado de velhice.
O garoto retrucou sem se voltar ao quadro novamente, apreensivo por estar.
-Sente-se bem, meu senhor?- voltou o homem, medindo-o sem real preocupação.
-Sim.- respondeu Liar num tom ríspido de intimidade.
-Imaginei que o senhor...- tornou o homem, insistindo, nas regras da cortesia.
-Estou bem.- contemplou em sincronia, o garoto.
Não estava mentindo, não achava que estava. Bem, pelo menos não precisaria, não com ele. E, ademais, a verdade é apenas uma colocação verdadeira em momentos certos para ela.
-Ótimo. Eu diria que podemos ir, se o senhor concordar. A bagagem já está pronta. Monk a está descendo dos outros aposentos.- terminou, informando sem necessidade, ouvindo as maletas descerem com impactos ressentidos, degrau por degrau, imaginando a meticulosidade absurda do elfo.
Oras! Vivemos em um mundo de magia!
O garoto não respondeu, ninguém esperava por isso. Fugiu ao quadro novamente, adentrando seus pensamentos a medida que as três bagagens enormes adentravam flutuantes pela porta.
O que seria...? Quem...? uma menina? Cohen... O que significaria? Um caldeirão, foi o que recordou de ter chamado sua enorme atenção.
-...Archer... Meus pais tinham... amigos de verdade...?- deixou-se perguntar, notando tardiamente a infantilidade das palavras, recriminando-se em seu intimo. Já sabia a resposta, o que tornava seu constrangimento mais inútil.
-Talvez não tenha entendido sua pergunta, meu senhor.- veio o mordomo, variando seu tom formal habitual, tentando planta-lo mais descontraído, traindo a si mesmo.
Não houve maiores argumentos, enquanto o homem cedia sua atenção às bagagens que chegavam.
Monk as guiava com um esforço contingente pelos ares, traçando uma linha reta em sua perfeição doentia, sempre do jeito que pretendia e relutava, planejando. Um pequeno distúrbio de excessiva perfeição, como nos mostrou os degraus ultrapassados, vencidos um a um da maneira mais difícil, aos toques da magia, no complicado complexo do servo. Depositou-as bem ao centro, como calculara previamente, aproximando-se ao longo da grande biblioteca para se certificar do fato, em suas roupas tão limpas quanto o código da escravidão deixava estar, em todos esses anos de utensílio, manchados de sujeira e odiando-se por isso.
-Senhor Crowmun, senhor Archer.- saudou-os novamente, dobrando-se todo em uma polida reverência, as grandes orelhas extremamente agudas caindo como flechas para frente, como ordenava seu próprio costume exagerado- As malas já estão prontas e aguardando, meus senhores.- retornou, retendo o pequeno óclinho remendado que saltava à reverência obtusa do nariz.
-Já percebemos. Deixe-os comigo agora.- voltou o alto Archer para o miúdo elfo, demonstrando a varinha que saia do casaco- Vá pegar o guarda-chuva e o casaco do senhor Liar, estaremos aguardando na hospedaria.
-Sim senhor, meu senhor. Com vossas licenças...- aceitou o elfo, enrolando a língua ao obedecer sua missão, encurvando-se novamente, enquanto o homem guiava desnecessariamente o garoto até a enorme lareira do aposento.
Ascendendo o fogo com uma pitada da varinha, conduziu o mestre a frente, conforme avançava.
-Depois de mim.- veio o mordomo.
O garoto assentiu, observando o homem irromper em chamas penetrantes para outros lados do universo.
Uma vez desocupada, o garoto não tardou a ocupa-la, abastecendo-se de Flu.
-Caldeirão Furado- ordenou o garoto, rodopiando entre o fogo verde reluzente, deixando a sala uma continuidade de suas dúvidas. O resto levaria consigo nesse ano que estendia os braços para um abraço, confortável, no pescoço.
Pessoas pulavam a seus olhos no caminho de seus passos, despercebidos em seu cotidiano, levantando de loja em loja a correria costumeira dessa época do ano. Já viera ao Beco antes, mas lhe parecia uma nova viagem, aos pés que cruzava com estranhos. Reconhecia no brasão uma grande maioria de alunos, de séries, tamanhos e, porque não, formas diferentes, acompanhados de seus pais, familiares, colegas de escola, desconhecidos e possíveis assaltantes, conversando entre cochichos apressados sobre as férias, dias de verão e chuva, chocolate-quente fora de época, patos inconsequentemente temerários representantes de uma verdade universal insciente e, evidentemente, planos imediatamente futuros. Todas essas pessoas... tinha planos...? Ele tinha planos? Questionava com uma vaga sensação de perdição agradável e desapontamento aprazível. Não sabia, e já estava tão cansado de constatar isso, e não parecia ter planos de um dia descobrir. Esperava ordens, um fim do túnel à alcançar, por mais doloroso e sem degraus que esse caminho possa ser. Em verdade, talvez isso o agradasse.
-Uniforme escolar, querido?- veio a atendente cantando logo após o acorde do sino, anunciando à porta, desconcentrando descontraídamente dos seus afazeres pontiagudos, marcando com alfinete uma garota dolorida. “Ai!”- Desculpe querida, minhas mãos estão meio bobas desde hoje depois do café- voltou-se para a menina espetada, marcando a dor entre suspiros estridentes, cogitando hipóteses sobre um possível envenenamento criminoso à base de poção do retardamento- Você poderia aguardar um instante? Ótimo, estou acabando aqui...- continuou, dando a entender algumas cadeiras, duas ocupadas por, bem, duas meninas, fechando o certo triplo.
A menina marcada sorria encabulada para o garoto, aos cuidados desastradas da madame Malkin. Estreitando o olhos aos olhos das outras pessoas, sem saber o que e como agir, não achou necessário achar uma resposta. Atravessou a sala com passos direcionados, resolvendo-se pelas cadeiras enfim, sentando-se o mais longe possível, a muitos acentos de distância.
-Ah! Vestes adultas? Ou veio comprar roupas para os filhos?- recomeçou a mulher, para o servo que adentrava- Espero que tenha as medidas necessárias- continuou, percebendo do que se tratava, notando de soslaio o terno ressecado pelos anos.
-Estou com ele.- respondeu o homem, atravessando a sala, pondo-se em pé ao lado do garoto.
As duas meninas mediam o mordomo num certo espanto infantil, traçando a silhueta assustadora de todo o conjunto de cabelos brancos e olhos mal-tratados, diferente das risadinhas abafadas e dos olhares insinuantes entre si que reconheceram o garoto.
-Pronto!- acabou a mulher, marcando a última nota, detalhando as costuras com a varinha- Você já pode ir, querida... vocês duas?- continuou, atirando a atenção para as meninas à espera. Assentiram negativamente. Albanita tinha ultrapassado as expectativas, deixando as duas outras para trás, no quesito de centímetros- Ah, sim, então você pode vir até aqui...- voltou-se para o menino.
Liar se levantou reto como sentara, ocupando o lugar livre sem demora, pensando seriamente em se esconder. Não estava acostumado com meninas, não sabia se era certo acostumar. Sentia-se exposto, talvez, apenas por estar. Seria uma lembrança do conforto...?
As três confabulavam entre as roupas novas, ao lado das cadeiras e do mordomo, lançando ao menino olhares cuidadosos de instante. a instante.
Mas o que...? Reparou Liar, tentando se identificar com alguma coisa. Alguma coisa... errada? Nunca pensou, mas pensava agora, o que era preocupante. Seria... tão diferente dos outros...?
-Mas essas vestes são um tanto apertadas, não são?- veio a mulher, analisando os comprimentos do garoto. Era baixo, mas mesmo assim suas vestes pareciam apertar nos braços, atritando os botões.
-Ele gosta assim.- veio o homem ao canto, acabando com a discussão. Era tudo uma questão de mobilidade, para eles. Olhando-se no espelho, percebeu o cabe penteado com esmero descuidado, rebocando em negro os olhos acinzentados nos traços finos e esbranquiçados que herdara do irmão, por não se lembrar muito do pai.
Decidiram ir embora, as três, rumando até a porta, hesitando a alguns passos, voltando-se para o garoto costurado.
-Hihihi, sabe, eu e minhas amigas queríamos saber em que casa você está...- veio uma, pelas três.
Liar, sentindo as palavras se direcionando para ele, vacilou, procurando uma resposta, sem cogitar muitas possibilidades.
-Nenhuma.- disse por final, em um tom sincero, sério como achou que deveria ser com os assuntos escolares. Já ouvira comentários sobre essas “casas” , mas esquecera-se de se lembrar a respeito, encontrando-se ainda mais perdido. Não sabia se ficava constrangido. Aturdido, deixou-se encarando sem olhar para as meninas à espera.
As garotas calaram o sorriso, desajeitando, levando a sinceridade ingênua do garoto como uma temperada grosseria orgulhosa.
-Então ta...- saltou uma, como se fosse três, deixando a loja para a rua atropelada de murmúrios apreçados.
O que... O que elas queriam? Fez algo de errado?
-Ora querido, você não parece ter muito jeito com as garotas, não é?- voltou a mulher, entre medidas, alfinetando a consciência confusa do menino.
Bem, talvez um dia, quem sabe, coisas entenderia.
Monk estava distraído com seus próprios afazeres, logo atrás, carregando as compras, pisando passo por passo, quadrado por quadro, paralelepípedo por paralelepípedo, no que parecia resumir o seu mundo, esperançoso conforme as pessoas se desviavam de seu nariz torto espetado para frente, seguindo seu caminho perfeito, na dialética de suas compreensões, enquanto o garoto o esperava, esperando o mordomo terminar as compras de livros e borrões, frente a livraria.
Sentindo-se incomodo lá dentro, tropeçando nas pessoas animadas, desanimado com a própria falta de animo, descobria agora que lá fora, aqui fora, não seria tão diferente. Reconheceu que o aperto incômodo que começava agora talvez a amenizar, não fazia parte do ar abafado dos livros empilhados. Não que fosse insuportável, mas não queria suportar, essa dor que ia e vinha ao peito. Uma dor curiosa, de claros sentimentos aflorando em uma cicatriz negra.
-Pronto senhor, Monk trouxe as compras.- carregou-se o elfo, parando o passo a alguma distância, depositando as compras alinhadas, e como sempre, certificando-se disso.
-Certo.- voltou o garoto, discorrendo pelo cenário, procurando um interesse casual, desinteressado.
Nunca tivera muitos amigos, considerava realmente. Não que soubesse como se sentia a respeito disso, entre grupos que confabulavam distraidamente alegres. Lembrou-se, como um estalo, de alguém que buscava na memória. Teria o que, seis anos...? Tivera um amigo, filho de uma das poucas famílias, pensou a única, que freqüentara a outra casa dos seus país. Colegas por costume, não por promessa ou devoção. Morreu, achou na memória, numa noite de desastres. Seu irmão não escondeu. Queria que enfrentasse a realidade da situação. Assassinado, a família inteira... Quase tanto como a sua...
Deveria ser incomodo, todos aqueles cochichos interpelando falsamente interessadas em si mesmos. Não era você mesmo o único confidente do seu eu, como seu irmão lhe ensinara? Mas, entre os sorrisos, o custo dessa falta de solidão lhe pareceu valer a pena, resenhando por instantes.
Perdeu-se novamente nas pessoas corriqueiras, deixando as pernas irem aonde a razão não as deixaria facilmente. A passarela apinhada de gente deixava escapar a seus ouvidos trechos desconexos de conversas de toda sorte, levando-o a uma curiosidade constrangida. O que as outras pessoas falariam entre si...? O que ele falaria com as outras pessoas...? Não parecia ser interessante, digo, ele não se parecia ser interessante para as outras pessoas, tanto quanto para ele mesmo. Confuso? Sim, é como ele se sentia.
Amigos... Como era ter amigos? Sabia que não saberia contestar... Criado e educado pelo irmão, nunca sentira essa necessidade assoladora de se comprometer com estranhos entre promessas de amizade. A carinhosa atenção apaziguadora que seus únicos próximos lhe cediam, entre esforços disciplinares, com arrojo e dedicação, sempre lhe bastara para atenuar o interesse por experiências exteriores. Archer, Monk e Lili, completando o incompleto afeto fraterno, fechavam os últimos degraus de sujeição ao seu particular, fermentando o muro seguro de exclusão. Agora o ciclo se quebrava, tragando-o para o desregramento do algo novo, do algo mais que abandonara aos anos e que não estava nada acostumado. É claro que não entendia nada disso. Não por ter apenas trezes anos, mas sim por suas escolhas de continuar a não compreender o que queria. A morte do irmão quebrava o cadeado corroído a soma dos últimos tempos, fragmentado já às primeiras perdas, prenuncio da invasão que agora estava exposto. A morte da irmã, como assim reconhecia Lili, foi a primeira onda de novas mares a estar por vir, retendo-o e fechando-o ainda mais em si mesmo, no medo de ter que se adequar a nova correnteza que o levava para temores distantes. Depois... um ano e meio, dois? O conseqüente afastamento do irmão não o ajudou a galgar o lodo do poço a qual queria se fechar. Concentrou-se nas lições, aprendendo por não querer mais aprender. Porque seu irmão tinha feito isso com ele? Calado, não sabia, como sempre soubera, como dialogar com seu irmão. Mas, se fosse realmente preciso, sabia que o mais velho o faria... Não faria...? Enfim, mais uma morte venceu a cela em que o garoto, esperançoso, se negava a entreabrir. Agora tudo era muito mais revolto e obscuro. A tempestade ante a calmaria? Não sabia, claro. Ainda seria difícil. Mas o que não é?
-Senhor.- veio o elfo apreensivo, colocando-se entre o passo desordenado do garoto- O senhor deseja alguma coisa? Monk pode fazer alguma coisa pelo senhor? Sorvete, talvez, senhor?
-...sorvete...?- voltou o menino, pregando os olhos finalmente ao que já entreolhava há alguns minutos.
-Sim, meu senhor. Quantas bolas conseguir equilibrar, dizem aqui, senhor.- continuou Monk, se juntando a peça do cenário que o garoto estava se acostumando a apreender, assinalando o grande quadro em que um bruxo famoso e encapuzado anunciava massas de todos os sabores, gostos e graus de agressividade. Parecia um bom negócio, pelo preço que cobravam, mas não parecia bem isso o que o garoto parecia querer degustar.
Ao fim de seus sorvetes, conversavam as três em perfeita sincronia em tópicos banais com o resto do grupo de sete, ou, quatro (difícil decidir com o uníssono das amigas).
-Talvez seja... bom- não soube o que acrescentar.
-Senhor?
-Um sorvete...
Se aproximaria? Pensou em se aproximar? Não conseguia decidir a diferença entre ação e pensamento.
Ignorando o elfo que exclamava, soletrando todos os sabores infinitos, suas pernas pensaram e agiram novamente, sem bem uma autorização muito consciente, a passos retardados. Tentando se aproximar da mesa, enfrentando uma multidão de pessoas que, curiosamente agora, decidiram-se por um sorvete ao mesmo tempo da vaga decisão do menino. Estancou entre o labirinto de pernas, tornando seu esforço menos inútil ao passo que o grupo das três se levantava, deixando os restos para o garoto da limpeza esconder no lixo, preparando-se para irem embora. Desistiria, então? Uma vez se decidiu? Aliviado por perder a oportunidade, deixou-se ali paralisado entre os movimentos opressores dos outros que se endireitavam equilibrando as dezessete bolas de cores diferentes, satisfeito na melancolia da lembrança do que poderia ter acontecido. E foi assim, nesse momento de descuido tão característico, que a viu. Outro estalo, como o de lembrar de um fato morno e esquecido, ou de que ainda lhe sobrava um fino e delicado fio de esperança, ocorreu-lhe uma face vazia que não conhecia. Faltando um tom cinza-borrão, ainda não reconhecia a menina do grande caldeirão. Talvez não o fizesse tão cedo, nos cabelos castanhos escuros que balançavam encaracolados nas pontas, conforme se distanciavam com o resto do corpo na maré de pessoas que remavam. Onde...? Já esquecera o quadro? Talvez se perguntava se esse momento havia realmente se dado em algum espaço do dia cheio de cabeças. A angústia de não lembrar ficava-lhe ao peito, ressurgindo com o tinido da marca negra,compensado dor e perda.
-Sorvete? Ele não gosta de sorvete.- reconheceu Archer a alguns passos atrás, indagando às explicações do elfo-doméstico.
Não sabia se gostava ou gostaria de sequer um sabor de todos os sabores, mas algo lhe revelou uma certa dúvida, baseando-se em certezas. Afinal, depois de tudo, porque não experimentar?
Não era estranho, porque não tinha uma base empírica para comparação, mas o trio não parecia nada com o que havia imaginado, a exemplo dos outros grupos estudados.
Archer sentava-se ereto, empunhando seu sorvete de doze bolas, sem saber direito o que fazer com ele. O elfo agradecia a generosidade do seu mestre, procurando sua aprovação a cada abocanhada que tentava, lutando para realizar sua grande obra arquitetônica, equilibrando simetricamente cada bola a toda vez que uma se reduzia consequentemente a cada chamego do servo. Liar comia seu recheio, ereto como seus educadores o instruíram, dando falsa impressão de engolir a contra-gosto, como manda a etiqueta. O sol manchava as ruas descolorindo-as num só tom, vago e amistoso ao sabor das cinco horas.
Não que não gostasse de sorvete, mas não era bem o que mais o incitara à sorveteria. Quase vazio de pessoas agora, o lugar sacolejava ao tom dos passos paralelos a esse novo mundo, de gelada contemplação. Afinal, o espítrito está em tudo, dizem os mais equilibrados. Particularmente, não acredito neles.
-Muito obrigado senhor...!- engasgou o elfo-doméstico, pretensioso, após se atrapalhar com um caramelo nas medidas de uma roda, que mastigava rápido à velocidade do frio sensacional.
-Não agradeça, não é atitude de um servo doméstico.- veio imparcial, o homem, sem olhar a outra criatura, procurando as horas e achando-as no relógio de bolso prata que sempre carregava rente ao peito.- É tarde.
-Certo.- voltou o garoto, a alguns últimos retoques, terminando seu sorvete inacabado. Já não lhe parecia tão interessante, pelo menos não quanto poderia ter sido.
Monk se pós em pé com um curto salto para alcançar o chão da cadeira, engolindo apressado os resquícios da casquinha de brigadeiro, desfazendo-a na boca com um ruído satisfeito.
-Ahn... Mais alguma coisa? Digo, desejam algo mais?- tentou um novo atendimento, o sorveteiro, esperançoso por se desfazer de mais receios caramelados, depois dos galeões trocados.
-Não, obrigado, já estamos satisfeitos.- voltou o mordomo, decidindo-se por todos, como deveria fazer, mesmo aos olhos esbugalhados de paixão açucarada do outro servo.
-Ah, bem... Certo então. Eu queria uma ajuda para acabar com todo esse estoque... Quero dizer, os jovens vão para a escola agora e eu perco quase todo o meu mercado... exceto por súbitas exigências da gravidez....- continuou Florean Fortescue, devaneando a seus sabores, sempre falando demais- Bem, é claro que eu cobraria por essa ajuda...- considerou, reparando o elfo todo desejoso.
-Espero que encontre alguém disposto.- esperou o homem, num movimente confiável, arrastando o garoto consigo.
Deixaram a varanda da sorveteria com um pretenso “Volte sempre, por favor...!”, abandonando o deleito para as ruas esvaziadas do Beco Diagonal. Seguindo o mordomo ao lado, Liar sabia que o banco não ficava muito longe. Situações a resolver, coisas a tratar, a velha, lenta e funcional burocracia do enterro. Era enfim Archer seu professor, criado e agora guardião judicial. Papeladas a assinar, números a resolver, detalhes a calcular...
-Senhor Liar, deseja acompanhar-me no encontro?- perguntou por perguntar, nesse polido procedimento, conhecendo a resposta.
-Sim.- não teria o que fazer, trancafiado ao quarto, preso a suas angústias, sempre mais por desconhecer de si.
Dos oculinhos olhava-os vacilante dos rostos para as papeladas, esparramados com cuidado meditado pela mesa.
-Ótimo, ótimo... tudo conforme os procedimentos.- tentou com um tgom agradável, o rosto desconfiado do duende. Não que os três a sua frente pareciam merecer suspeitas contraditórias, um nome forte na tradição, mas era realmente essa a natureza quase excessiva dessa raça. Bem, parecia funcionar, eles enriqueceram, não enriqueceram?
-Sim, como lhe disse, tudo já estava tratado com meticulosa antecedência.- veio o homem ao canto da sala, observando o passo principal pela janela escorrida, vezes levando as mãos audaciosas de advocacia ao cabelo enrolado- Com muita presteza, evidentemente...
-Sim, óbvio, como vejo- carimbou o duende, na força necessária de uma correi fiscal- em nome de Liar B.N. Crowmun, sob a guarda de Archer Barrafunds, protetor do sujeito até a maioridade.- pontuou nas palavras, preenchendo siglas à pena.
Aos ouvidos, como em quase toda a reunião, servo e mestre, protetor e protegido, conferiam as informações a voz rouca do atendente.
-Claro, acho que eles gostariam de averiguar o conteúdo dos cofres...- voltou o advogado, roçando a barba como em um código judicial.
-Evidente que sim.- voltou o duende em seu tom seco, grato pela desconfiança, a alma de todos os negócios, reconhecendo-o como um elogio.
Liar aguardava comedido, mãos presas ao colo, em virtuosa desatenção. Essas salas para assuntos legais, sempre em bom carvalho, remontavam a essa sonolenta apreensão.
-Por favor, aguardem mais alguns instantes.- voltou o estatístico, sussurrando palavras desconhecidas a algo que nos lembravam um microfone, mas a eles não. Mas rápido que os segundos cogitados, uma nova porta ao lado entreabriu-se em resposta, dando passagem a uma pequena caixinha de madeira negra retalhada em símbolos estranhos, entre o brasão nobre da família.
-Trouxeram a chave, evidentemente.- voltou o duende, recebendo a caixa as mãos.
Archer levantou-se da cadeira de duro entalhe, bem incomodas como são projetas para ser, dando a entender a mesma atitude ao garoto. O elfo continuou sentado em seu banquinho rude, logo atrás. Claro que não cabia a ele averiguar esse tipo de assunto, mesmo com todo o tempo dedicado a utensílio da família.
O mordomo achou direto ao bolso direito oposto ao relógio, a chave que segura aguardava. Retirou-a calmamente, oferecendo-a ao menino, num tom exigente de aceitação. Liar assentiu com os dedos, rumando acompanhado até a mesa do atendente, encontrando seu brasão a encontrar com ele. Não acostumava com essa representação, não sentia-se assim, mal ligava para ela, por não descrever.
-Por favor.- coordenou o duende.
Liar girou o encaixe na fechadura, ouvindo-se o nó mágico se desfazer, dando vista a duas chaves simples de latão, acomodadas em dois dos três moldes acolchoados.
-Ótimo, imagino que esteja tudo em ordem. Podemos descer agora? Quem sabe tomar mais um daqueles licores de pêssego refogado no caminho...- quase pediu o advogado.
-A terceira chave, onde está?- veio Archer, no seu toque de sempre.
-A chave? Ah! Sim, essa chave... Bem, temo que não temos nenhuma idéia certa de onde ela possa estar... sabe? Ela foi retirada pelo falecido Vincent Black, ahn... deixe-me ver...-voltou-se, conferenciando com um longo pergaminho- quatro dias antes de sua morte, sim, se o documento não estiver nos enganando... As vezes isso acontece.- acrescentou, sem trocar olhares com o atendente.
O que havia naquele cofre, trancafiado à perdição dos fatos, interessou ao garoto tanto quanto o motivo da morte do irmão. Quase nada, por dizer, além de sua evidente relação com suas conseqüências últimas... As portas fechadas, para ambos os sujeitos.
Não conseguia pensar em nenhum segredo razoável para a chave, além do acaso trivial, mesmo se tratando do irmão. Conhecia ele como ninguém. Era essa a sua desvantagem na questão. Só entendia seu irmão como seu irmão queria que o entendesse. Além do mais, não lia jornais. Por falta de convívio, nunca aprendera a apresentar a curiosidade devida aos cochichos curiosos que acontecem por ai...
Entregue ali, na beira da janela, esparramando a cabeça pelos braços no parapeito, quebrava enfim a moldura ereta com que com tanto custo calejara suas vontades. Custos que não tinha pago, num cálculo que não tinha conta. Agora, pagava-os com juros e muitas delongas.
A sala, sozinha com os seus pesares que se despiam, surgia vagarosa e cansativa das nove e meia da janela, donde a rua trouxa agitava de final de semana tornava a luz eufórica, torta e morta ao adentrar o aposento. Seu malão, aberto, espalhando o conteúdo disperso pela vastidão da cama, desafiando o garoto a não se entregar a esse mar de calmaria afogada que é o sono de reclusão. Bem, de qualquer jeito, não poderia fazer nada enquanto Monk não voltasse para salvar o porto, rebocando o empecilho... Abandonado desde as oito horas... O que ele servo estava fazendo afinal...?
Pendeu finalemtne a cabeça para cima, procurando no teto o que não achava em si mesmo. Sabe, são coisas bem abstratas, essas que sempre procuramos em outros lugares impossíveis, considerando que o hotel lhe parecia bem sólido. Sem achar o que não saberia se acharia, se levantou pesaroso, arrastando-se até a cama, confrontando seus desafiantes. Ali, roupas e objetos desgarrados aguardando com num cálculo útil ordens para voltarem ao malão. Se ao menos tivesse agora sua varinha... Normalmente organizados pela casa, era estranho ver todas aquelas coisas agrupadas sem uma aparente função. Lembrava-se do trem que pegaria na próxima manhã, levando-o para o que devia cogitar. Entendendo o conjunto, esperava-se dele que levasse um pedaço de sua casa para essa nova imponderável morada? Nunca se deixara ligar tanto às matérias que se perdem, aos conselhos do irmão... Pelo menos, era isso o que pensava de si mesmo... Não sabia bem se conseguira, revendo sua situação, no embaraço do comodismo... Por que não poderia simplesmente se deixar em casa, como sempre foi e como gostaria que fosse para sempre... Gostaria mesmo disso? Não importava, não era sua decisão, o que era realmente um reconforto. Não saberia dizer, afinal... A mentira não é apenas uma verdade distorcida em outra verdade que se adota? É o que dizem os mentirosos... Ou, talvez, é o que não dizem. Basta apenas um fator muito importante. Acreditar neles.
Ah! Enfim, passos no corredor. Já não era hora, não era?
Liar estancou, cirando-se para a porta para receber o elfo, não muito certo se estava indignado com a demora. No calo da aproximação, esquecia-se de toda aquela ausência.
A porta não abriu, como deveria.
-Rápido! O homem deve estar vindo!- veio alguém, falhando longe na intenção de um sussurro.
-Eu sei! Eu sei!- voltou um outro, em voz cadente- Alorromora.- ordenou a porta, esperando um sucesso que não teve.
A porta trincou um rangido, mas não cedeu, lutando em sua função.
-Não quer abrir!- voltou o segundo, fracassado.
-Sei! Veio o primeiro, se adiantando pesado com um passo.
Liar cogitou. Estava desarmado. Bem, tinha uma janela, e sabia com usa-la, o que era relativamente importante em momentos como este. Em todo caso, pura especulação. Sabia que o feitiço do guardião não cederia tão fácil assim.
-Alorromora!!
Algo aconteceu. Um estampido de luz trespassou a porta pelas frestas, dando ao espanto confuso e ao som do corpo caindo mais vigor no outro lado.
-O que!? O que aconteceu!? Dermer, você está...?
-Estou paralisado, droga!- agitou-se o primeiro no chão, à medida do possível, num zango com o outro e consigo mesmo.
-E... e agora!?
-Temos que sair daqui!
-Sem o garoto?
-Não conseguimos, não é!? Vamos!
-É... Certo!
Liar aproximou-se da porta, confiante, procurando algo novo a se perguntar, perguntando se estaria interessado nisso. Garoto...? Queriam ele?
-cuidado!- veio o homem estancando, num receio de si mesmo, roendo os dentes ao erguer no ar pelo amigo, que não poderia ser considerado um expert em feitiços.
Ouviu os dois fugirem com paciência arriscada pelo corredor, entre nervos e choramingos.
-... o chefe não vai gostar nada disso...
A maçaneta girou por dentro, abrindo o feitiço ao comando do feiticeiro.
-Aonde você foi...?- veio o mestre, ríspido como um amigo.
-Tratar de negócios.
-Negócios...?
-Sim, negócios de seu interesse.- encerrou o mordomo, com sua vitalidade mórbida.
Foi o bastante para Liar. Não sei, e ele também não saberia, se seria o bastante para qualquer outro suspeito. O fato é que confiava digna e indignamente no servo, fora treinado para isso.
Monk adentrou a sala, levando duas valises encaixotadas entre as orelhas pontuadas na cabeça, depositando-as no criado mudo que não respondeu.
-Monk gostaria de arrumar sua bagagem, senhor.- afirmou, levando-se numa reta ideal até a cama.
Liar deixou-se no mesmo lugar, esperando alguma atitude.
-Tentaram invadir?- perguntou o criado, num tom casual que se usa ao café-da-manhã.
-Sim.- voltou o garoto, quase interessado.
-Dois homens?
-Sim.
-Nos seguiram hoje a tarde.
-Não os notei.
-Não o culpo. Vislumbrei-os enquanto estávamos na Borgin&Burks.- terminou o homem, relembrando os dois homens carrancudos camuflados sem sucesso na fumaça de charutos, nas ruelas sujas da travessa do tranco, sem preocupar-se realmente, tendendo o pensamento para algo mais desconcertante. Era difícil, hoje em dia, conseguir tudo o que sua lista exigia do mercado “negro”. Em tempos mais fáceis, considerou com uma certa saudade sem expressão, suas demandas chegariam quase ao ridículo. Afinal, tudo era mais complicado com essas famílias obscuras tentando liquidar os produtos o mais rápido possível, para a segurança de estoques de emergência. “Ah, sim, os Brandebuques também se mostraram bem interessados nesse gênero, devo dizer” lembrou-se de velho Borgin custear, “Mas, de qualquer jeito, os Malfoy já o adquiriram a algum tempo, e tenho dúvidas de que seja fácil encontra um outro desse no mercado...” voltou, escorrendo da pressão, “Bem, não sem um custo adicional... O mercado anda um tanto perigoso, você sabe, com todas essas batidas do ministério e com a queda do Lorde das...”, “Não seria pedir muito um custo justo. Mas não aconselharia você a tentar barganhar comigo Borgin.”, memorizou sua resposta, o mordomo, quase revivendo a ameaça que ele mesmo representara, mesmo diante de todas as dificuldades.
Monk dobrava as roupas meticulosamente, voltando o processo sempre que conseguia perceber uma nova ruga no tecido, na paciência que ele não detinha. Uma das suas práticas preferidas, nesse martírio de consciência.
O homem continuava encarando plácido o menino, esperando por maiores questionamentos, até um ponto em que teve a certeza de que eles não viriam. Não parecia existir um “Porque?” no vocabulário de seu mestre, algo que descobriu talvez falhar na educação.
-Todos os itens conferem?- voltou-se para o elfo entretido com o paisagismo no malão.
-Creio eu que sim, senhor.- respondeu, checando a lista a cada dois novos itens inspecionados.
-Ótimo.- averiguou o mordomo.
Liar se retirou para a janela, entregando-se a rua novamente, quando sentiu que devia.
-Senhor Liar.- aproximou-se o servo.
O garoto se virou.
Archer adentrou o casaco, recolhendo uma caixinha preta e alongada dos centímetros de seu bolso.
-Reformei os acabamentos gastos, reforçando também a precisão da empunhadura- continuou o homem- Logicamente não toquei na essência, está em ótimas condições, como esperado...- retratou o homem, referindo-se a delgada pena da fênix, a mesma que abandonara o poleiro à inevitável ausência de seu falecido senhor, a mesma que presenciava com seu toque a antiga varinha do mestre que partira. Entreabrindo a caixinha, ofereceu o que descansava em seu interior ao garoto- O mogno tinha algumas lascas, devido ao intenso esforço, mas restaurei seu corpo restaurei com paciência e dedicação.
-Certo.- voltou o menino, aceitando a varinha com delicadeza de um velho conhecido, reconhecendo os vinte e três centímetros em suas mãos, recordando-a com os dedos, sentindo os melhoramentos que ganhara com esforço e satisfação. Evidentemente, isso era algo que saberia, com certeza, entender.
-Satisfeito?- veio Archer, reconhecendo a falta de necessidade.
O garoto tocou casualmente a caixinha preta nas mãos do mordomo, dando liberdade ao corvo mínimo que agora arrancava pela sala.
-Devo entender que sim.- concluiu.
Mogno e pena de fênix, uma combinação de poder, precisão, sentimento e racionalidade, nas habilidade exigidas dos indivíduos. Magia, uma obra de arte? Talvez, em seu conjunto sempre incompleto. Não se sabe a ordem de criação, quem cria quem, na dialética do feitiço e do feiticeiro...
Comentários (0)
Não há comentários. Seja o primeiro!