-Os pinos de cada Um-
-Bem, o fato é que Grita Rookswild nunca conseguiria um namorado! Ela deve ter apelado pra seqüestro!- a primeira.
-Bem, o Fildinho parece bem o tipo de pessoa que se deixaria intimidar em um corredor escuro...- a segunda.
-Bem, eu não sei não, se fosse eu, me atiraria aos dragão ao invés de beijar uma moça como a Grita! Coitado do Fildinho... Nem teve essa oportunidade... - a terceira.
As três fingiram um desgosto comovente, enquanto as palavras excitadas se atropelavam no fuxico.
-Argh!! Eu preferiria beijar o pé de um trasgo!- cantaram as três sendo uma só, em concordância como sempre costumavam ter.
Gargalhadas desleixadas contornaram os ouvidos pelo espaço. Infelizmente, esse é o tipo de coisa que não se escolhe ouvir.
-O que é que elas tem...?- voltou-se Lilo para um outro trio, observando as garotas se soltando em outro canto, indignado.
-Bem...- começou Juliana, imitando a “panelinha”tripla do outro lado- Você sabe como elas são... Botando o assunto em dia.
-É, tão interessadas em assuntos de estado...- completou uma outra voz- Não que Grita não seja uma ameaça nacional... Mas, pelo menos o Fildinho é um cara simpático.- suspirou, imitando menosprezo, concluindo a idéia- Muito simpático... Pra gostar daquilo...!
Ambos sorriram para Cássio ao sabor do momento “cotidiano Hogwarts” que estavam representando em um palco estranho, com reviravoltas no roteiro, depois de quase dois meses de férias.
O garoto de cabelos quase negros, com mexas salpicadas de “vermelho industrial”, pós-se sossegado como sempre fazia, mãos ao bolso e visual urbano quase alternativo(a camisa branca descolada, um laço com o tradicional).
Bruxo, sim, mas com maioria universal(salvo os pais) de trouxas na convenção social que acostumamos a chamar de família(?). Acostumado com as genialidades controversas, engenhocas e costumes estranhos e confusos a quase totalidade dos indivíduos do outro mundo (o bruxo), e a uma certa parcela do próprio mundo (dos trouxas), tinha até mesmo uma noção prática do que uma torradeira podia fazer.
-Uma ameaça de estado eu não sei, mas alguém deveria proibi-la de segurar um bastão, isso eu tenho certeza!- voltou Lilo, decididamente decidido- Na final do ano passado ela quase arrancou o braço do Carlinhos! E olha que ele já tinha pegado o pomo!
“Pronto, começou o assunto preferido...” zangou-se Juliana, no intimo, tentando decidir-se se o que Lilo mais gostava era Quadribol, ou Carlinhos.
Bem, decidiu-se por uma mistura dos dois.
-Ei gente... Mas o que vocês acham que o cara roub...- interrompida, ao tentar recomeçar o assunto anterior.
-A Sonserina não tinha como ganhar mesmo, então porque não aleijar o melhor jogador adversário!?- continuou Lilo, subversivo, ainda mais indignado, esquecido da menina.
Juliana olhava de um para o outro. Lilo jogava a voz e Cássio simplesmente consentia, sem lutar contra a bola, já tantas vezes mastigada, num equilíbrio entre tédio e compreensão. Era o seu jeito.
“Bem... Eles também não parecem se importar tanto assim com os assuntos de estado...” voltou Ju em pensamento, injuriada, ainda insaciada e curiosa(possivelmente perigosa). Nesse elemento, não era diferente das outras três. Só concentravam seus esforços em informações diferentes.
Há pouco tinham se entregado ao jornal da manhã, numa discussão intrigante, de suposições absurdas e sem respostas, sobre o escândalo inominável da primeira página. Bem, de qualquer jeito, não chegaram ou chegariam a muita coisa... O cara parecia não ter existido. Ou pelo menos pareciam insistir nisso. Lilo comentou que o pai, que trabalha no Ministério, deixou-o sem resposta e tentou desvencilhar-se do assunto quando indagado sobre o noticiário, aparentemente com sucesso. De qualquer jeito, o garoto não parecia disposto a continuar com o assunto. Cássio aceitaria tudo. Já a menina se entregaria a pesquisas futuras. Algo por dentro a perturbava constantemente para tudo. Sua curiosidade, para certos (e certeiros!) temas, era que nem fome no deserto. Bem, menos para fofoca, nisso as três consumiam a sua parte.
-E no primeiro ano? Lembra aquela finta que o Rogério fez? Putz, foi parar de cara na arquibancada da Lufa-Lufa!- Lilo, animado e sem rodeios- Acho que ele teve que ficar quatro dias na enfermaria para emendar todos os ossos... E claro que teve as queimaduras... Algum aluno indignado botou fogo na sua capa e esqueceu de apagar...
-Uhn... Não tenho certeza se o cara realmente se esforçou em ajudar...- nem mesmo Cássio ainda conseguia agüentar toda a excitação do colega. Pelo menos era um assunto ao qual não se exigia muita atenção. Olhava o relógio impaciente- Fome...- comunicou para quem quisesse ouvir.
-Que?- Lilo, tentando encaixar o comentário, deixando o que quer que seja sobre três aros e um piloto descuidado.
-Eles já vão chegar... Achu... espero...!- veio Juliana, desviando a indignação para a preocupação.
A verdade é que o mesmo discurso se repetia a quarenta minutos. Como o amigo, agora só tinha estomago. Procurava ao redor pela chegada, de tempos em tempos. As três meninas a um canto, sem falta de assunto, as pessoas passando rotineiras, os trens que operavam, os ônibus que partiam e a estátua de alguém importante o suficiente para virar mármore no meio da praça.
A estação de metrô lhe parecia um lugar fácil de achar, pelo menos ao combinar o programa. Começava a mudar de idéia.
Pensou de novo que deveria ser “complicado para eles”, mas agora não podia fazer mais do que aguardar.
O sol já ia alto anunciando as folgas para o almoço. Era sábado, e o lugar estava mais colorido de adolescentes que o costume. Grupos de pessoas planejando, tomando os trens para se divertir. Fariam o mesmo, se a oportunidade chegasse...
-Mais que coisa...! É, talvez a Shi não apareça...- ponderou Juliana.
-Ou o Pedro- comentou Lilo esperançoso.
-Ou a Claire...- completou Cássio, desanimado, ao que os dois amigos o fitaram, sugestivos.
O garoto corou.
-O... O que foi?- engasgou.
-Você sabe...!- respondeu Juliana, dando lugar a um sorriso malicioso cuidadosamente meditado, curiosamente inocente.
-Sei?- voltou Cássio, fingindo de desentendido, sem sucesso.
-O que tem a Claire e o Cássio???- uma voz, que pareciam três.
As meninas se aproximaram ocasionalmente furtivas, lado a lado, tão sempre sempre elas.
-Nada!- respondeu seco o garoto.
Podia ser um garoto muito sossegado pra muitas coisas, mas nesse momento era difícil distinguir as bochechas de seus cabelos tingidos.
-Você gosta dela?- perguntou a menina da esquerda, Magda, com naturalidade singela.
O garoto tentou responder, mas não arranjou palavras, não rápido o suficiente.
-Nada a ver... Agente só tava falando que o pessoal está atrasado e Cássio comentou que estava com fome...- veio Lilo, aparente salvador.
-Uhn... Sei...- entenderam a desculpa, as três, se perguntando o que o garoto queria comer- Nós também.
-Nós o que?- voltou Cássio.
-Estamos com fome, oras- risadinhas abafadas.
-Todos estamos...!- uma voz de fora da cúpula, sólida e relutante no sotaque, inesperada no momento, tão esperada em muitos outros- Desculpem.
O grupo se voltou, sem precisar procurar. A voz vinha se aproximando, amigável e sorridente, trazendo duas outras.
-É sábado, tem muita gente na rua... E não tinha nenhuma lareira apropriada por aqui.- veio completar a segunda voz- Mamãe não queria aparatar, poderia ser complicado...- sorriu, pedindo desculpas, em uma formalidade suave e costumeira.
-Ola.- cumprimentou agora a terceira voz, confusa e meio rouca, sem achar melhor palavra para se apresentar.
As pessoas pareciam ter optado naturalmente por uma divisão em três, ao acaso do dia... Ou era a temperatura? Arashi, Claire e, para o gosto de alguns e não desgosto(talvez estranheza) de outros, Kelvin(e não Pedro, como mostrou as expressões aliviadas).
-Arashi! Clá! Puxa, achei que tinham nos abandonado!- Juliana saudou a abraços apertados- Kelvin, você pôde vir!- observou sem nenhuma necessidade.
-É!- continuou o garoto, sem necessidade idêntica, tentando parecer animado, confuso atrás de seus muitos graus, ajeitando os óculos. Era alto, o mais alto do grupo, o mais velho dos meninos, competindo na mesma idade com Arashi, a mais velha e talvez mais alta das meninas. Ingressavam agora no sexto ano de estudo.
-Acabamos nos encontrando no Beco- voltou Arashi, com um rápido olhar apreensivo na direção do garoto, como se devesse explicações aos demais integrantes do grupo- Nós três.
-E ficaram se divertindo sozinhos?- começou Cássio, apontando sugestivo pro relógio, divertido, mandando um aceno para os recém chegados, relutante na naturalidade, talvez ainda mais vermelho.
-Quase... Mamãe resolveu comprar um guarda-roupas novo para cada membro da família...- voltou Claire, ainda só desculpas- E o Kelv desapareceu na Floreios e Borrões... Fomos acha-lo discutindo meta-física com um senhor estranho na entrada da Travessa do Tranco...- continuou, dando uma cutucada no irmão que respondeu inexpressivo, se afastando alguns centímetros- Não queria sair até convencer o estranho de que um pato pode se tornar uma pedra se aprender a dialogar com ela...
-Eles pareciam interessados na minha teoria quant...- tentou justificar-se, Kelvin, ainda achando ter sido bem sucedido na sua exposição.
-Nós sabemos- interrompeu o grupo- Muito legal.
Kelvin, surpreendido, não disse mais anda sobre números e estatísticas universais, ao que todos agradeceram.
-E aonde vamos?- voltou Arashi, balançando a cabeça, dando a volta no longo cabelo negro que o pouco vento que ocupava a praça tentava desmanchar.
Longo, liso, até a cintura e pronto para passar dela, no perfil oriental de seu rosto definido, vazio na brancura e nos olhos expressivos, fortes, profundos na cor que demarcava os próprios fios. Juliana, e estava certa de não ser a única no grupo, invejava aquela natureza vantajosa da amiga. Coisa de menina. Claire também ganhara um cabelo liso, longo nas costas, castanho bem claro, em contraste com seus óculos cristalinos e ao cabelo castanho escuro espetado do irmão, de lentes muito profundas. Olhos verdes, provavelmente igual ao do outro, que não se podia saber atrás das compridas camadas de vidro.
De tudo isso, voltamos a fome.
-Comer, acho.- Lilo
-É! Estamos com fome, não estamos?- se perguntaram as três, Magda, Alba e Albanita. Bem, em algum calculo obscuro, até os três nomes combinam.
-Eu tava pensando em almoçarmos em algum lugar naquele Shooping novo de que eu falei e depois...- parou, ao entender que ninguém, além de Cássio(que não demonstrava), Claire e talvez Kelvin, sabia do que ela estava falando- Ahn... Vai dar tudo certo...!
O almoço correra bem, tirando alguns imprevistos e detalhes sem importância e, claro, todo o caminho até ali... Lilo tentara comer sua senha para o almoço, reclamando que os trouxas comiam pouco. Kelvin ficou extasiado com a máquina de refrigerantes e suas maravilhosas capacidades administrativas...”É tudo baseado na lei de ação e reação, oferta e procura, troca equivalente” repetia, ao colocar pela décima vez a moeda no buraco errado (o mais curioso é que seu pai era trouxa e Kelvin, um bom conhecido dessas máquinas). Arashi se contorcia vigilante, hesitante no meio da multidão de coisas trouxas que atravessava, procurando milimetricamente não tocar em nada, e ficou preocupada com o homem que corria sozinho de uma bola gigante em uma caverna (quase sem fim) e topava com uns aborígines, na tela da Tv. Lilo tentou convencer um garotinho que queria ser goleiro (e gritava isso pros amiguinhos, insolente e decidido) que a melhor estratégia de defesa era ficar entre a baliza do meio e a da direita, voando em círculos de tempos em tempos para atrair a atenção do adversário.
-Até que não estamos tendo tantos problemas quanto eu imaginava...!-suspirou Juliana, aliviada, depois de explicar, entre explicações táticas de Lilo, ao garotinho que o amigo estava passando por um período difícil de sua vida.
-É...- concordou Claire observando Kelvin fascinado com os vídeo-games desligados na sessão de eletrônicos. Até mesmo Arashi tinha se rendido ao fliperama e observava as técnicas secretas dos personagens de um jogo de luta, declarando em voz alta para Cássio (que jogava, muito bem, aliais) e as três (que assistiam) as correções necessárias em cada estilo.- Tem certeza de que quer leva-los mesmo ao cinema?
-Ninguém trouxe varinha, né?- continuou, cochichando quase ao ouvido da amiga, como de costume.
-Espero que não- respondeu, ajeitando os óculos, uma foto do irmão, aparentando preocupação.
-Não esquenta- veio Cássio, que se aproximava, depois de acabar o jogo com facilidade e sem vontade de executar algum outro com Arashi à seus ouvidos- Quando eles se acostumarem, não vai ter problema...
-É, mas, e enquanto eles não se acostumarem?- voltou Juliana, levando os dedos aos lábios, como faz quando está um tanto perturbada.
-Bem, então vamos esperar que o processo não demore.- encerrou Cássio.
O cinema não fora bem um desastre. Afinal, nada poderia ser pior que o final do filme, em que o mocinho e a mocinha finalmente ficam juntos, na morte, dentro da barriga da tartaruga gigante. E ninguém pensou em fazer uma fogueira, como dizem que funciona por ai.
Não demorou muito para eles se acostumarem com a tela. A tela nunca fora bem o problema. Alguns ainda não compreendiam que não se tratava de um teatro de sombras bem definidas e talvez pintadas a mão(?), alguns aceitaram a idéia dos fantoches realistas, e outros ainda pensaram em cumprimentar os atores(que naturalmente encenavam atrás do pano branco) ao final da película pela obra bem encenada. Houve ainda a proposição das fotos bem treinadas a atuar seguindo um roteiro comovente.
Também não entenderam muito bem o conceito de trailer, apesar dos esforços dos mais entendidos, não entendendo quase nada história.
-Mas eu ainda não consegui entender... Se o policial explodiu, como é que o patinador não se machucou no acidente?- uma das dúvidas intrigantes do filme, pelo menos aquele a que Lilo assistiu.
-Oras... Isso era um trailer, dois trailers... Diferentes! E não o filme! Afh... Depois eu te explico Bruno...- tentou e desistiu, Juliana, chamando o amigo pelo primeiro nome, o que fazia quando custavam a entender o que quer que fosse de desentendido, ou se aborrecia com alguma coisa casual a qual ninguém mais, além dela e seu consciência, tentavam não se aborrecer.
-Não gostei desse tal de cilemma...- reclamou, entregando-se a derrota, por sua vez.
-Ah! Eu achei tudo tão romântico!- anunciou Albanita, juntando as mãos, erguendo-a ao peito, no que as outras duas declamavam exclamações parecidas- É tão bonito quando os dois finalmente se casam e são traídos pelo monge indiano!
-Ahn... Aquilo era um pirata...- corrigiu Cássio, mais para si mesmo do que para alguém mais.
Arashi não expôs opinião, mas seus olhos pareciam vermelhos. Bem, a comoção que um combate de espadas de 15 min bem intencionados e ininterruptos podem causar a uma menina de dezesseis anos.
Kelvin, bem, Kelvin nem parecia ter assistido a um filme, não por banalidade ao hábito(cujo qual não tinha), mas por uma espécie não catalogada de disfunção egoiaca. Nada mudou no seu dia, noite, manhã, ou seja lá o horário em que ele pensava e realmente parecia estar.
Claire estava sorridente, feliz, talvez por falta de atrocidades reais nesse mundo de aventuras.
E o tempo passou, e continua passando. Fora um filme longo.
-E agora?- veio Cássio em cúpula com as outras duas esclarecidas- no que vocês estão penando?
-Uhn... Cinco e meia agora....- Juliana planejava.
-Podíamos tomar sorvete.- sugeriu Claire.
-É, acho que sim. Talvez eles tenham essa capacidade... - Cássio
-Mas sorvete não é bem uma coisa exclusivamente trouxa...- Ju.
-Bem, fliperama nem pensar...- Cássio.
-Patinação?- Claire.
Parecia divertido. O lago não costumava congelar, mesmo com o inverno rigoroso de Hogsmead.
-Nove entradas por favor- comprou Claire.
-Oras, grupo grande, o seu, mocinha. A família toda?- o vendedor simpático, tanto quanto asmático.
-Ah, não, colegas de escola.
-Puxa, é bom ver as pessoas se divertindo juntas, na juventude de hoje em dia, sabe, ainda mais algo saudável como patinação.
-Uhn.. É, sim senhor.
-Sabe, eu tenho quatro filhos, mas eles só ficam em casa, na frente do computador, praticando seus esportes sedentários, sabe como é...
-Uhn... O senhor já tentou convence-los a praticar algum tipo de atividade mais recreativa?
-Bem, não, na verdade, mas acho que a iniciativa tem que partir deles, não acha?
-Não sei, talvez se o senhor der um empurrãozinho...?
-Uhn... Vou pensar nisso.
Uma voz ao longe. “Claire, algum problema!?”. “Não, não! Já estou indo!” respondeu.
-Aqui, nove entradas.
-Muito obrigado senhor.
-Por nada, e boa sorte ein!
Saiu Claire, depois desse diálogo totalmente desnecessário para a história.
Entrou os oito, em fila britânica, e Arashi.
-Qual é o objetivo?- perguntou Lilo, esperando orientações.
-Bem, você calça os patins e, depois, é só se divertir.- orientou Cássio.
-Como assim?
-Calçar e se divertir? Acho que posso fazer isso...- calçou Arashi.
-Mas vocês já patinaram antes! Não patinaram?- entrou Juliana, exagerando na intriga.
-Bem, mas é que os trouxas são tão, é, esquisitos... Não fazem nada direito.- inocente, Lilo.
-Afh...- alguém.
Kelvin foi o primeiro a entrar no gelo, e em três voltas foi o primeiro a sair.
-A física é muito forte. Não vou resistir.- tirou os patins e ficou observando estático um ponto específico no gelo.
-O que ele fica fazendo nesses momentos?- perguntou Juliana, distante da entrada, para a irmã, obviamente responsável por tudo.
-Bem, ele fica assim, parado.
-Só?
-A questão é o que ele fica pensando.- passou Arashi, vagarosa e controlada, deslizando com facilidade- Não é tão difícil assim.
-Não disse que era.- voltou Claire.
-Mas tem gente que não concorda...- apontou Ju, para Lilo lutando pelo equilíbrio, do outro lado, encrencado.
-Eu vou afundar!! Socorro!- jogou-se para os apoios laterais- Isso desliza!
-E não é que desliza!- veio Cássio ao seu socorro, zombeteiro.
E as três? Andavam, quase deslizando, juntas, centradas nos ombros, como em uma fila de Tcha Tcha Tcha, sem requebrar, sem badalada.
Não viam a graça, mas sabiam que fortaleceria os quadris, a longo prazo.
-Puxa, acho melhor ir ajudar.- deslizou pelo lugar, desviando das pessoas, juntando-se a Cássio, que não dava conta sozinho.
Bem, as duas não iam ficar por lá, sozinhas, também deslizaram pelo espaço, tentando se divertir no objetivo implícito e aparentemente(isso é o que conta?) sem significado nenhum.
-Vamos lá Lilo, você só precisa de um empurrãozinho!
-Eu quero minha vassoura!!!
Bem, ninguém mediu as conseqüências. E, nem ao menos a força.
Lilo não foi atirado. Tudo funcionou como uma seção de ópera em picos perigosas. Seus quadris escorregavam as pernas, sobrevivendo como não podia, levando a bola de neve a uma avalanche cataclísmica.
-Ahn...? Lilo?- um coro descorçoado, no perigo evidente, e inevitável.
Pena que nem todos eram tão conscientes assim.
O garoto correu requebrando os pés na batida de uma dança que nunca o ensinaram, desmontando as pessoas, que se juntavam ao novelo de neve. Quanto mais elas tentavam escapar do destino fatídico, mais elas se encontravam na mira. Na haveria chance.
Então algo não aconteceu, como de costume, nesses momentos embriagantes da história. O destino não se cumpriu, cumprindo o destino.
-Li...Lilo??
As pessoas, desnorteadas, ainda tentavam procurar a quem descontar toda a atrocidade.
-Ma...Mas o que aconteceu? Cadê o Lilo!?- Juliana foi a primeira a acreditar no que não havia acontecido.
-Como?- Cássio procurava, sempre pensando avista-lo caído, debaixo das pessoas que se levantavam. Ele nunca estava lá.
-Ele sumiu!!- vieram as três, concluindo o acontecido.
-Acho que ele nunca existiu.- se surpreenderam com Kelvin, ao lado, no apoio.
-Não diga besteiras! Ele estava aqui!- Alba.
-Eto... nanda aru ka... Ele aparatou?- supôs Arashi, procurando pelo teto.
-Mas...- Juliana.
-O que? Ele não é habilitado? Isso sempre acontece... quer dizer, as vezes... Ou coisas piores... Uma vez meu pai tentou me...- Cássio, interrompido.
-Mas onde pele pode ter ido parar?- veio Magda, olhando por baixo dos pés.
-Não sei, mas, vamos ter que procurar...- comunicou Claire.
-Mas ele pode estar a quilômetros de distancia!- Albanita.
-Em uma realidade paralela? Ou adversa...
Todos pararam para considerar, até perceberem a voz de Kelvin.
-Mas, o que vamos fazer!?- Juliana, começando a desfazer os planos futuros de boliche, odiando a patinação.
-E se ele nunca mais voltar!- veio Alba, mais excitada e curiosa com a questão, do que propriamente preocupada- Farão um funeral para ele?- bem, talvez ela não quisesse ir tão longe.
E nem ele.
-Alguma coisa não está certa... Veja, estão todos cochichando de novo..!- veio a voz sempre engasgada, sempre na eterna fuga de alguma coisa.
-Não imagino que seja preocupante, meu caro colega. São adolescentes e desenvolvimento. Deve ser bastante comum para eles nessa faze.- observou como verdade a voz pomposa, entre as baforadas do cachimbo.
-Mas... um, dois, três... é... sete, oito.... Espere! Um deles está faltando!- notou um tom de desespero exagerado.
-Deve ter ido ao banheiro, fumar um cigarro, comprar morangos, essas coisas... Você entende.- voltou o outro, na fumaça, voltando ao seu Profeta-Noturno.
-Mas eles ainda estavam no meio da... ahn... como se chama aquilo? Bem, ele desapareceu no meio do nada, quer dizer, pro nada, no meio do tudo! Eu estava vendo!
-Charles. Você é cego, meu caro...
-Eu sei!! Mas eu estava, é, ouvindo, é... Oras!
-Não há motivo para maiores preocupações. Além do mais, apenas um deles é importante para nós. Contando que não desapareça em uma empreitada surreal com seus amiguinhos, não devemos mais do que a mínima atenção.
-Mas...!
-Quem é o superior aqui? Já está começando com sua insolência costumeira!
Enfim, Charles se calou, à promessa de maiores danos (além dos morais e visuais já constatados). Sempre era assim, nascera para ser comandado. Tentava não se importar muito com isso, ainda mais com sua posição privilegiada, de “sem maiores preocupações”. Apenas sigas as ordens. Mas a verdade, e disso ele sabia, tanto quanto a temia, era que normalmente enxergava mais sobre as coisas do que as outras pessoas, mais do que, na verdade, gostaria ou poderia. Bem, nem sempre estava certo (o que o levara a paranóia), mas a verdade é que, de todas as possibilidades, sempre batia perto. E isso, ele estava quase prestes a descobrir.
Um cheiro novo, de hormônios e constrangimento, chegou a seus ouvidos. Virou-se para trás, delicado ao que a sua coluna corcunda permitia, pela primeira vez desde que sentara na cadeira ao pé da sacada dando vista para o ringue de patinação, e não viu nada. Não era de se esperar. Sentiu.
-Ah... Senhor, sem querer ser impertinente, mas, quem é este?- perguntou entre sussurros ao homem classe do cachimbo.
-Sim...?- o cachimbo se virou. Os lábios o sugaram em um engasgo, muito pior do que o som de seu subordinado- Vo.. Você?
Lilo encarava os dois estarrecido, ou melhor, atrapalhado com sua confusão. “To ficando louco?” sentiu no calafrio que subia sua coluna. Tentava se lembrar quem era e o que estivera fazendo todo esse tempo sentado à mesa, tomando capuccino. Mãos as pernas, tinha a sensação de que logo tudo se esclareceria, num tiro, que nunca vinha.
-Ahn... Como vai indo?- tentou disfarçar o corcunda- Ótima vista, não acha?- continuou, esquecendo que era cego.
-Ahn... Quem são vocês?
Então foi tudo muito rápido, como tinha que ser num trabalho eficiente. Ou pelo menos assim pareceu a Lilo, num breve momento, enquanto ainda se lembrava de existir. No final das contas, nunca conseguiria juntar todas as pontas. Não com um feitiço de memória bem executado.
Lilo tombou na mesa, esmagando um bolinho meio comido com o queixo, chamando a atenção dos clientes mais próximos.
-Ele está bem! Ele está bem! Não se preocupem! Sabe como é, a juventude, é... Não se alimentam direito em uma busca ininterrupta de adaptação a estética vigente ao momento, sempre em mutação...- na metade do discurso sentiu que não precisava mais se preocupar.
Todos voltaram a suas vidas particulares, com outras pessoas.(?)
Bem, ou era verdadeira as estatísticas fundamentadas na má alimentação juvenil, ou os dois realmente passavam a impressão de sujeitos mal entendidos, pra poucos amigos e facas no roupão, que almejavam passar.
-E agora, o que vamos fazer?- sussurrou Charles no seu tom ainda mais típico.
-Não se preocupe. Tenho tudo sob controle...- interpelou o superior do cachimbo, limpando as baforadas no monóculo- Os trouxas já pensaram nisso. Uma invenção maravilhosa, revolucionária, eu me permitiria dizer.
-Trouxas? Invenção?
-Sim.
-....?
-Achados e perdidos.
-Bem... Ele esta aqui a alguns minutos...- continuou o oficial, enquanto tentava compreender o que lhe faltava- Não sabia bem o que fazer...
O grupo observava desacreditado de fora do cercadinho enquanto Juliana e Claire interpelavam o guarda por maiores informações.
-Não me lembro bem...- voltou o homem, perdido na memória que não tinha- Alguém tentou cadastra-lo na seção de achados e perdidos, mas não parecia uma boa coisa...- considerou- Então trouxeram-no para cá... Acho... Bem, ele não pode simplesmente ter aparecido ai, pode?
-É... quer dizer, não, claro que não!- surpreendeu-se Juliana, num vago pensamento.
A atenção voltou-se mais uma vez para o garoto, compenetrado entre as crianças, diante da mesinha de desenho, encaixando cada bloco como se todo o futuro(e o passado, em algumas concepções temporais) da civilização dependesse disso. Bem, nunca se sabe, o mundo é um lugar estranho, cheio de metáforas verdadeiras ou tanto aplicáveis. Por que arriscar?
-Uhn... Acho que um aristocrata...- arriscou o oficial, esquecido na magia, sem saber de suas perdas no terreno.
-Certo... er... Podemos leva-lo agora?- veio Juliana, raciocinando o mais saudável a se fazer, para ambos os universos.
-Ahn... Vocês são os pais dele?- apontava o guarda para todo o grupo, desconsiderando com quantos pais se fazem uma canoa, ainda atrapalhado na mancha esquecida da sua mente.
-Uhn... Somos?- afirmou Claire, procurando a chave que cabe no buraco da questão, entre a massa cinza e o cerebelo.
-Ótimo. Podem, ahn... resgatar a criança?
Juliana e Claire adentraram o cercadinho, atravessando o chão minado de brinquedos e seus donos, enquanto o oficial voltava para seu posto(aparentemente uma chaleira tradicional numa loja de antiguidades).
-Lilo?- chamou as duas, como se cutucassem um desconhecido para avisa-lo da terrível quantidade de pasta de dente que ainda sobrava na bochecha. O garoto, desconhecido de si mesmo, não atendeu à gentileza. Fixava-se nos blocos e parecia não compreender a dimensão básica e redonda de um triângulo.
-Lilo, você está bem?- cutucou Claire, insistente, em seu ombro.
Lilo sentiu o chamado, voltando seus olhos vagos para as garotas, com a mesma cega obsessão que tinha por bolas de três lados.
-Ele deve estar.- respondeu seus lábios escondidos, quase sem abrir, num ruído infantil.
-Lilo! O que ouve com você?- voltou-se Ju, agachando-se sobre as pernas ao lado do garoto, enquanto Claire raciocinava uma resposta.
-Eu não consigoi... Não entendo... Nada se encaixa...- explicou o garoto num tom choroso para o jogo, desgostoso e desapontado consigo mesmo.
-Uhn... Nos podemos ajudar?- acocorou-se Claire, carinhosamente, como faria uma mãe ao socorrer um filho desiludido no natal, em que a barba do papai Noel do tio Bart não esta muito bem presa.
-Não!- Lilo birrento, tentando encaixar a bola no triângulo, orgulhoso e em fúria.
Uhn... Nesses momentos as mães costumam seguir o consenso, baseado em soluções vagarosas, construtivas e, para as mais antiquadas, vezes dolorosas. Juliana não era uma mãe, e queria deixar isso bem claro.
-Ueh!- algo disparou na consciência do garoto, encaixando finalmente os pequenos dados soltos a sorte de qualquer interpretação ocasional. Não que antes tudo não fizesse sentido, mas é que agora o mundo o acompanhava no raciocínio.
A garota escorregara a mão rapidamente para a armação, entre as tentativas dispendiosas do garoto, empurrando-a um tanto calculado, trapaceando com descaso em um sincronia perfeita, conectando os lugares certos.
Quadrado com quadrado, bola com bola.
-Lilo?
Estático mais uma vez, mãos aos joelhos dobrados, desfocado na lousinha em que as crianças pintavam um hipopótamo se sete pernas e quatro portas.
-O que eu estou fazendo aqui?
-Lilo!?- as duas imitando um sussurro gritante, Juliana excitada no alívio, Claire sorrindo satisfeita.
-Eu...? É, sou eu, não sou?- veio o garoto, sonhando sua vivacidade costumeira- Então, isso é que é um ringue de patinação...?
-Bem, não exatamente- voltou-se Claire, divertida, já se levantando- Lilo.- acrescentou rapidamente, certificando ao garoto sua própria existência.
-Como assim?- questionou o garoto, voltando cada vez mais ao que poderia ser considerado anormal para pessoas despreparadas. Sendo seu jeito de ser.
-É complicado. Agente te explica no caminho...- Ju.
-Caminho?
Depois de um curto fluxo de normalidade, os eventos estranhos e inexplicáveis são sempre afogados na correnteza dos momentos corriqueiros. Esquecidos de uma maneira especial, recordados de uma forma consciente no subconsciente a cada nova ação, arrecadando mais folhas no vendaval da mutação. Sempre lá, como a pedra que afunda no rio modificando o mundo aquático e que não se nota, até que se esfarele para se tornar um novo movimento, um novo balé molecular.
Sempre é sempre uma palavra muito forte...
-Como assim...?- Lilo, o único desacostumado com sua fuga momentânea.
-Já falei cara, você simplesmente desapareceu.- socorreu Cássio, cansado do discurso que repetia por todo o caminho- Aparatou ou algo assim...- explicando o que ainda não satisfatoriamente se explicava.
-É, deu um trabalho para gente...!- Juliana fingindo mal-humor, realmente aliviada por encontrar o amigo como ele sempre foi, em sua anatomia completa e, por enquanto, inseparável.
-Tivemos que vasculhar o cooping inteiro.- entrou Arashi no meio do sermão sem lição.
-Shooping. Você poderia estar em qualquer lugar, sabe? Ficamos preocupados. Voltou Cássio, despreocupado.
-Oras...- deixou-se aos passos perdidos, Lilo intrigado, enquanto atravessavam a catraca- Ei... Se eu aparatei...- estancou o pé, travando a avalanche em fila, desequilibrando as três um pouco atrás- Então quer dizer que eu vou ser preso!
-Ei! O que pensa que esta fazendo!?- vieram as três num uníssono desconexo pela confusão.
-O que?- veio Juliana, puxando o garoto pelo braço, desentupindo a fila britânica congestionada por questionamentos particulares. Uma falta de democracia parlamentar- Você ta atrapalhando todo mundo!
-Eu vou ser preso...!- comunicou, sem desespero, estático como se já tivesse aceitado o fato sentencial.
-Preso?- veio Cássio, entre um suspiro divertido dos lábios condenados do amigo- Você andou roubando sapos de chocolate de novo...?
-Chocolate?- Ju, atrasada nas idéias, entre os dois.
-...eu tinha sete anos...- considerando, acrescentando mais um crime às suas culpas- Não, não é nada disso!- despertou, incerto- Eu aparatei!
-E...?
-Eu não tenho licença!
Não foi bem a reação desesperada que esperava, com pânico, sufoco e lamentos sinceramente exagerados.
-Puxa...! Então você tem que fugir.- voltou Cássio dando as costas, recomeçando a andar, brotando o sorriso singelo que guardava para esse momento- Pode ficar lá em casa, meus país até gostam de você.
Juliana soltou a respiração, entretendo-se na piada.
-Você poderia regar as flores em troca de sanduíches e leite em caixinha- continuou Cássio, zombeteiro.
Na mesma piada que Lilo nunca entenderia.
-Não. Eles suspeitariam...- Lilo, a procura de respostas à suas possibilidades.
-Bem, eu tenho um sótão...
-Eu estou falando sério!- voltou o fugitivo, inquieto.
-Eu sei que está, cara. Você anda tenso demais, desaparecendo por ai, sem maiores compromissos...
-Eu...!
-Lilo, nós sabemos- consolou Juliana, levando as mãos ao ombro do amigo, numa tentativa de mostrar o ridículo de suas preocupações- Você não vai para Azkaban só por ter desaparecido em um ringue de patinação.
-Uhn... Não sei não... ele derrubou algumas pessoas... Elas devem estar um tanto aborrecidas e à caça dos responsáveis.
-Cássio, você não esta ajudando! Não piora a situação.- reclamou Ju, fechando os dois amigos e empurrando-os novamente ao destino. Um Lilo temeroso e fugitivo, que largava olhares furtivos para os lados, a procura de seus predadores naturais. As pessoas em fúria.- Vamos, eles estão nos esperando- continuou, enquanto os guiava para o grupo a frente, ufando em sua postura de babá.
Logo estavam a pista, supostamente longe dos olhares curiosos do atendente, “Nove sapatos?”, separados em dois grupos.
-Mas, afinal, qual é o objetivo dessa coisa?- Albanita, segurando a bola com as duas mãos, num esforço exigente que não se entendia, como se a meta fosse segura-la por maior tempo possível.
Bem, o boliche sempre pareceu tão simples, explicito em sua função.
-Ahn...- tentou Juliana, desistindo logo depois do “n”, se lembrando do teatro de fantoches extremamente realista que hipoteticamente assistiram a pouco- É o seguinte...
Não foi uma explicação muito fácil. Nem ao menos tão difícil. A menina jogou as regras básicas e fugiu atrás da bola, ignorando o futuro sombrio e possivelmente catastrófico que sempre esta entre as possibilidades, com porcentagens incompreensivelmente grande, como a própria palavra nos demonstra.
Até que não foram tão mal assim. Nem ao menos tão bem.
-Tudo está na física.- deixou no ar um Kelvin concentrado.
Ele não estava errado. Particularmente devem existir muito mais forças ocultas trabalhando de maneira universal e totalmente praticáveis, à realidade e ao calculo, enquanto sua bola corria em direção aos pinos, por fora da pista.
-É muito simples.
Pareci simples.
-Uhn... O objetivo é não derrubar os pinos, certo?- veio Lilo, para ninguém, compreendendo o jogo pelo exemplo satisfatório do amigo- Ótimo...- lançou a bola.
-Err... Não é exatamente...- Cássio, tarde demais.
A bola pulou duas pistas e sumiu atrás da lanchonete, reaparecendo distante. Instantes depois, com um berro temeroso de vidros se quebrando. Ou talvez ossos.
Arashi não jogou, poupando seus pulsos prepotentes de uma atividade essencialmente sem sentido. Sentada ao lado, pernas cruzadas no vestido, cogitando a partida, assistindo a tudo atrás do Milkshake.
As três riam sozinhas ao tom dos pinos vacilantes, soltando uma espécie de grunhido escandaloso sempre que a bola não os acertava –“Consegui! Consegui!”.
Juliana, Claire e Cássio perdiam o jogo satisfeitos, enquanto os pinos eram recolhidos ao sabor dos pontos “perdidos”.
Lilo e Kelvin adotavam uma postura meditativa, orgulhosa no seu descoberto mais novo dom, o peito infame de ar nos pulmões a cada jogada que “acertavam”. Coisa de esportista veterano. Eram realmente bons. Ótimo, permitiria dizer, se o mundo funcionasse ao inverso. Calados aos outros turnos, olhavam os colegas jogarem com uma certa pena e simpatia. Não sabiam muito bem como se marcava os pontos, mas deles tinham aos montes. Bem, numa contagem negativa, diríamos, mas o que importa é o que a pessoa acredita, não é mesmo?
-E quando é que isso termina?- levantou-se Lilo para mais uma jogada.
-Eu acho que o próximo é o último ponto.- comunicou Juliana.
-O último ponto!?
“Uhn... Esse deve ser o mais importante... como capturar o pomo...! Não posso falhar! Não agora...!” raciocinou, decidido a não errar, confuso na sua própria confusão. É claro que ele nunca iria considerar um placar inverso, onde os seus pontos aos milhares deveriam cair para o outro lado da virgula, abaixo de zero, onde o último ponto era o de Juliana, próxima jogada.
Acariciou a bola com intimidade, como se cumprimentasse amigos de longa data ao chá da tarde, certo de si mesmo. Não podia errar, ou como em outras consepções da vida, não podia acertar.
Se preparou, ouvindo o olhar de todos (suspeitos da seriedade do garoto). Sentiu a pista, afundou o pé no chão, tomou ciência do mundo a volta e de como tudo se transformaria com seu último movimento. Com sua última jogada, com seu último suspiro antes da vitória certa que viria... Avançou esquecido de seus passos concentrados e... escorregou.
Sabe, sempre parece meio obvio...
-Ah!!- seu pé deslizou, seu corpo o acompanhou, soltando a pista o seu pesado desespero, erguendo os braços e arremessando a bola com um energia perturbada- Não!!
Estava certo. O mundo se transformaria, novamente. Será que ao menos se lembraria dessa vez?
Não havia mais bola, mas um globo circular vermelho intenso que piscava incandescente aos olhos da pessoas que o encontrassem, enquanto atravessava o ar buscando uma colisão. Não precisou procurar tento.
-Lilo!!- corria Ju, acompanhando o garoto um tanto adentro da pista escorregadia.
A bola colidiu com o chão espalhando alguns fiapos. Bem, as coisas nunca param por ai. Mal colidiu com o chão, já estava de volta ao espaço, mais veloz, feroz e mais intensa, quicando na parede ao fim do caminho, rebatendo ao teto e ao chão de novo, espalhando-se pela sala em feixes fracos de uma luz que se acabava.
Para uma coisa anormalmente espalhafatosa e fora do cotidiano costumeiro de qualquer trouxa (Vamos! Pergunte a um!), tinha pouco público. Apenas o grupo temeroso seguia o globo luminoso com os olhos pela sala, apertados entre eles, esperando finalmente a final explosão.
Parecia não ter fim. Mas, é claro, teve.
-O que? Onde está a bola??- cantaram as três, procurando em todas as direções, traduzindo em palavras os olhares perdidos do grupo reunido.
-Ela sumiu!- concluiu desnecessariamente evidente, Juliana.
-Desapareceu! Como o Lilo naquela hora!- lembrou Claire.
Todos fixaram o olhar instintivamente em Lilo, o autor inconsciente da proeza, que parecia querer desaparecer tanto mais quanto antes.
-Não exatamente senhorita Spun- recorreu uma voz saudosa- O que foge aos olhos não deixa de existir... Bem, nem sempre, quero dizer...- aproximou-se divertido, tão sereno quanto suas vestes não poderiam supor- Apesar de alguns protestos...- acrescentou, voltando por instantes perdidos em suas considerações.
O grupo se virou, deixando Lilo escarlate tentar se levantar, sem sucesso, sob as palavras do suposto desconhecido. Procurando a longa barba branca e seus óclinhos(óculinhos?) de meia lua `q que estavam acostumados.
O que o costume não faz às pessoas se acostumar...? Podem crer errado, mas o costume os fará certos. É tudo uma bobeira filosófica... Afinal, não podia ser... Mas quem liga para as probabilidades estatísticas? Era.
-Prof... Professor Dumbledore!?- foi Ju a primeira a reconhecer o que os outros, mesmo sob a força do costume, ainda demoraram à crer.
-Professor!- voltou se Lilo, se levantando finalmente, esquecido de si mesmo e também dos outros.
-Espero que me perdoem por estragar esse momento agradável- começou o professor, no seu sorriso costumeiro, deslocado em seu disfarce- Mas as coisas normalmente não acontecem como planejamos... Bem, o que é bom, em certas situações, acho.
Era realmente surreal, com definições diferentes a realidade de cada um.
O professor quebrou seu hábito roxo azul escuro, ganhando novas cores, que não se encaixavam bem na sua aquarela clássica. Era pura arte moderna, adaptado a sua moldura tradicional. Vestia uma camisa rosa com estampas pretas, em contraste com o brando branco de sua longa barba, uma jaqueta jeins com fortes ombreiras e costuras mal decoradas, uma bermuda larga de pano reforçado até o joelho (com bolsos espaçados que não tinham fim), meiões vermelhos pela canela(de algum time de futball da região) e um mínimo sapato preto com listras brancas. Trazia uma bola de boliche deformada em buracos mais longos para os três dedos, retorcida em sua forma.
-Professor... é... é o senhor mesmo?- veio Magda, notando o lacinho preto com caveiras verdes musgo organizando sua barba.
-Ah! Essa é a pergunta que faço a mim mesmo todas as manhas quando me lembro do espelho.- processou alguns questionamentos existências, fugindo os olhos por momentos entre o grupo- Mas eu creio que sim, senhorita Indwool. Tenho testemunhas- continuou no seu tom caracteristicamente divertido, virando-se um pouco dando a ver mais três pessoas a duas pistas atrás- Bem, não tenho certeza de que são muito confiáveis para esse tipo de questão... mas, é o melhor que eu tenho.- se vestiam como os trouxas costumeiramente se vestiriam, se vivessem o mundo através do que os bruxos pensam deles. Como se respondessem a pergunta das três(obviamente nunca apenas uma delas) veio o chamado.
-Alvo! Tudo bem ai?- começou um homem atrás de um cachimbo azul de plástico, a criar bolinhas espontâneas de sabão, disfarçado num roupão vermelho sngue de cordão negro, uma gravata preta sobre uma camisa branca escondida, calça verde de moletom e pantufas amarelas de girafa- Precisa de ajuda com esses delinqüentes?
-Ah! Não se preocupe Morgan, não será necessário. Eles não pretendem causar mais transtornos.- voltou-se levemente especulativo para o grupo de fora-da-lei, enquanto os outros três voltavam a cúpula, calçando seus sapatos de boliche ao contrário- Assim espero.- acrescentou gentil, devolvendo a bola a Lilo, se lembrando dela.
-Nos também- Cássio deixou escapar baixinho para o amigo, a seu lado.
-É, é claro- voltou Lilo, rapidamente- Professor.- acrescentou logo em seguida, temeroso, por respeito, ou talvez para mostrar a quem estava obedecendo.
-Ah! Que bom- continuou Dumbledore juntando as mãos, saboreando o reencontro, como se tivesse encaixado a última parte de um quebra-cabeça de duas peças- Então posso esperar vê-los em perfeita saúde ao início do ano letivo, imagino?
-Se o Lilo não for preso até a primeira aula...- Cássio impôs as condições, se preocupando pelo grupo.
-Irei fazer os meus votos- riu sereno o diretor- O último ponto?- voltou-se inesperadamente para o placar.
-Ah! É sim, eu ia ser a próxima e...- começou Juliana, despertando do público, recebendo em resposta um olhar carinhoso e compreensivo do mentor.
-E eu errei...!- Lilo descorçoado.
-Bem, então não podemos deixar o jogo inacabado, podemos?- Dumbledore acenou com a mão e uma bola saltou suave do reservatório, navegando silênciosamente até as mãos absortas da garota.
O grupo prendeu a respiração, constrangidos, vigiando furtivamente de lado a lado desconfiados de que alguém os pudesse ver, ao mesmo tempo com medo de desrespeitas a confiança do professor. Mas ninguém parecia notar, e o diretor parecia estar bem ciente disso.
-Ahn... Obrigada.- agradeceu Juliana, sem jeito, agarrando a bola desajeitadamente. Estática, olhando o professor.
-Então...?
-Ah! Sim...!- Juliana se aprumou, tomando a pista.
Enfiou os dedos no buraco e colocou-se em posição, ciente mais do que nunca de que todos os olhos se pregavam nela. Era uma boa jogadora, tão boa quanto cantora de chuveiro. As cortinas são essenciais. Avançou nervosa, três passos e movimentou o braço, tremendo.
Não foi tão ruim quando poderia ser, estabelecendo Lilo como parâmetro.
A bola escorregou de seus dedos no momento crucial, levando-se ao chão desordenadamente, rolando alguns segundos e logo caindo ao lado, no vão das bolas.
-Ahn...- deixou-se imóvel- Desculpe...?- pediu, como se as devesse ao professor.
Se virou e olhou-o cabisbaixo. Bem, o ponto não era tão importante assim, e não o seria se o professor não a estivesse assistindo.
Não era bem uma resignação desesperada, mas não gostaria de ter falhado bem aos olhos do diretor, tão simpático e agradável quanto sempre fora com ela, e com os outros. Admirava-o, por ela e por seu pai, não queria que pensasse que não fosse capaz. Queria acertar por ele... mas algo dentro dela a fez perceber maduramente que esse sentimento idiota e egoísta era ainda pior do que errar a bola no boliche. Sentiu-se envergonhada, de uma forma que ainda não compreendia. E decidiu que estava refletindo fundo demais.
-Não se preocupe Juliana, isso costuma acontecer.- saudou o professor, uns segundos antes do barulho específico de todos os pinos caindo.
-O que?- Juliana se voltou para a pista novamente. Aparentemente, sua bola havia saltado para a pista no último momento, num cálculo perfeito, derrubando em domino todas as peças, encerrando o jogo.
-Isso também, acho.- voltou, num “que” de entusiasmo.
-Com...como?- era uma pergunta desnecessária, que todo o grupo fazia.
-Acho que foi um ângulo certo... Não entendo tão bem de física dos movimentos quanto meu irmão... Mas essas coisas são sempre inexplicáveis, não é mesmo?- pareceu piscar cúmplice para a menina, antes de se voltar para o grupo que assistia, consolador- Bem, nem sempre...
-É...- voltou a menina, imitando o diretor e se virando para os outros- Acho que eu ganhei- abanou os ombros, considerando num orgulho confuso.
Com um “Você?” de um Lilo ainda mais perdido, o grupo concordou e começou a recolher seus pertences espalhadas pelas cadeiras, se despedindo do professor educadamente, como ele esperava que fizessem.
Juliana observava tudo sozinha, ao lado do professor, sem certas palavras.
-Sua mãe, como está?- iniciou o professor para a menina, num tom mais intimo, enquanto os outros encontravam objetos perdidos.
-Mamãe? Está ótimo, é...- respondeu a menina, com pressa- Acho que está bem...- voltou mais sincera.
-Uhn... Ainda com problemas com o mundo felino?- veio, recordando divertido.
-Bem, ela nuca está bem com eles...- considerou, relembrando os últimos episódios.
-Um embate entre forças.- divertiu-se- É natural.
-É, eu acho que sim...
Ouve mais um silêncio desconfortável, ao menos para a menina.
-Professor- começou Juliana, segundos antes do professor recomeçar com um “E você, como vai indo?”- Por que fez aquilo?
-Com o musse de limão? Bem, achei que ia ficar mais saboroso com um pouco de hidromel envelhecido... É claro que me enganei na dosagem, mas...
-Não, não é isso- ignorou o limão alcoólico- Com a bola.
-Ah! Sim- considerou- Um jogo precisa terminar com um vencedor.- cogitou por alguns segundos- e imaginei que se déssemos uma outra oportunidade ao jovem Lilomandro eu e meus companheiros não teríamos a oportunidade de nos divertir.- continuou, reparando nas estruturas do prédio, preocupado- Me parece um jovem bem- procurou a palavra- Enérgico...?
-É, o Lilo é bem assim...
-Acho que é preciso um tanto de cuidado. Pelo menos era o que os país dos meus colegas advertiam a seus filhos a meu respeito... Obviamente eles estavam certos. Eu também tive uma fase, ahn, difícil.
-O senhor...?- encarou-o no rosto sincero. Lembrou-se dos acidentes do dia, tentando imaginar o professor com treze anos de idade explodindo coisas a esmo. Tudo o que conseguiu foi reaver um garoto atrapalhado com uma barba maior que as próprias pernas. Pareceu extremamente real, para uma criação momentânea dos devaneios da imaginação. Quase uma lembrança distorcida.
O outro tempo de silêncio foi suficientemente longo para descobrirem Kelvin descobrir um pé de meia embaixo das bolas reservas. Não conseguia acreditar que estivera ali o tempo todo, a não ser com explicações que não apreendem a nossa realidade. Mas já estamos cansadas delas.
-Não sabia que o senhor gostava de boliche.- voltou Juliana outra vez.
-Ah, sim. Conheci a prática por acaso há alguns anos atrás. Me parece algo que vem ganhando aceitação no mundo bruxo... Bem, pelo menos resumindo-o a nos quatro- fez menção aos seus companheiros logo atrás, sentindo o murmúrio das bolhas que tragavam impacientes- Se mostrou um hábito relaxante, alivia a tensão- continuou, metalizando a bola rodando com impacto estridente para cima dos pinos inocentes- quando se encontrar tempo para isso...
-O senhor anda muito ocupado?
-Sim... E temo que ira continuar assim por algum tempo.
-Mas estamos de férias...!
-Ah, eu sei. Mas tenho o infeliz costume de acumular coisas para fazer. Sou muito preguiçoso durante o ano. Ontem mesmo eu me lembrei que tinha prometido a mim mesmo aparar a grama do jardim, a sete meses atrás... Quando abri o portão descobri uma comunidade inteira de caramujos servindo chá para seus primos... Eles foram tão educados que desisti de reprimi-los...
-Puxa- bem, estava surpresa, mais com sua própria capacidade de imaginar isto do que com o relato do professor.
-E o ministério está um tanto agitado nesses últimos dias...- perdeu-se novamente por instantes.
Seu cérebro processou mais rápido do que sua capacidade costumeira permitia.
-Por causa do roubo?- as palavras pularam de seus neurônios, rebateram em sua língua e caíram para fora, tão inevitável que Juliana se assustou num calafrio- Ahn... digo, do caso do tal inominável?
-Ah...! Sim, imaginei que a notícia ia se espalhar...
-Saiu no jornal.
-Por isso tanta gente nos funerais.
-Funerais? O senhor foi ao funeral?
-Ah, sim, seria desagradável da minha parte não comparecer.
-O senhor o conhecia?
-Sim, tive meus encontros...- terminou grave, deixando seu sorriso cair na dúvida do pensamento.
-Uhn... Professor, no Profeta, digo, a manchete não dizia quase nada... Eu não sei bem o que aconteceu...
-Seria muita pretensão para qualquer um saber. Mesmo o Ministério não conhece bem a situação. Ninguém tem realmente certezas ou fatos condizentes para solucionar o caso.
-Uhn... E o senhor, conhece?
Dumbledore hesitou o pensamento na palavra.
-Talvez um pouco mais do que aparento. Apenas conjecturas...
-Meu pai diz que suas conjecturas estão sempre corretas.
“O que? Meu pai dizia isso?” bem, foi o que ela disse, num processo natural que ela mesmo não entendia. Talvez sua famosa curiosidade estava se transformando em um talento ainda a ser explorado. Talvez não.
-Seu pai sempre foi gentil- reafirmou o sorriso, gentilmente sincero.
Por um breve momento sentiu como se o elogio tivesse se dirigido a ela mesma, deixando-a encabulada. Não parecia o simples sentimento de representar o pai, como o parente mais próximo ao redor no momento. Depois continuou, sua curiosidade ainda mais forte.
-Professor, no jornal, eles diziam que o tal inominável não poderia ter relações com os seguidores das trevas...- alongando o assunto nos termos do noticiário- por causa do seu passado... Eu estava imaginando o porque...
-Nem sempre as conjecturas estão corretas.
-É, eu sei. Só as suas- retornou.
-Ah! Nem sempre é tão simples assim.
-Mas esta na maioria das vezes, não está?
-Gostaria que você estivesse correta... Aliais, talvez não. Mas agradeço o elogio pela segunda vez. De qualquer jeito, imagino que possa me expor ao meu ego de tempos em tempos.-afirmou, sem falsa humildade.
-Eu imagino que sim.- voltou, imitando-o, certo disso.
Confiava nele, sabia que confiava. Não sabia como, ou porque. Confiança sem prova, confiança confiante. Algo contornava-a a confiar.
-Mas se você por um acaso imaginou que esse motivo obscuro para toda essa descrença se remete a um passado vivo ainda no medo geral das pessoas mais ou menos informadas- pausou, para um olhar informativo- talvez tenha chegado perto da verdade.
-Como assim professor?- voltou-se com cuidado, com o receio de que o diretor ditasse nas linhas do Diário, sem maiores considerações.
-Daqui em diante passa a ser um assunto delicado para todas as partes.- fixou-se em Juliana um olhar gentilmente repreensivo- Mas numa vã esperança de cessar sua curiosidade excessiva, posso me permitir dizer que o comentado inominável sempre fora conhecido, respeitado e temido como um opositor dos seguidores das trevas... Ainda mais por seu histórico familiar.
-Opositor... contra Voldemort?
O que dissera? O que lhe ocorrera? Você-sabe-quem nos seus lábios? Pensou em se recriminar por deixar escapar o nome tão temido, mas como o diretor não se importou, nem ao menos reconhecera um fato inédito, afogou sua própria bronca.
-Sim... E, digamos, dos bem ativos.- continuou o professor.
-Ativo...? Ele era um auror?
-Não, mas teve formação mais do que suficiente para isso.- considerou uma ficha técnica gigantesca- E tentou até agora passar tudo adiante...- deixou escapar para si mesmo.
Não estava num dia bom para repreender seus pensamentos... Precisava esvazia-los, como água suja em uma bacia prata, cheia de runas de significado perdido ao censo comum.
Juliana parou para armazenar e examinar todas as novas, e ainda muito poucas, informações que conseguira. Tinha mais perguntas, e algo em sua mente não se referia a questões tão simples e superficiais como estas. Queria perscrutar na mente do indivíduo, banhar-se de seus medos e de suas lições. Procurava algo mais profundo e obscuro, numa lembrança pessoal. Mas não entendia isso. E achava que já estava indo longe demais para si mesma.
-Alvo?- veio o hobbie de cachimbo, borbulhando em suas bolhas- Não sei enquanto a eles, mas estamos quase decidindo começar sem você.
-Ah, claro Morgan, desculpe. Já estou indo...- voltou-se mais uma vez para a menina- Mas suponho que isso seja inviável- acrescentou cochichando- Eles ainda não sabem bem para o que serve aqueles cadarços dos sapatos.
Juliana respondeu calada, cedendo a suas vontades analíticas. Não tinha muito material para pensar, mas mesmo assim, revisava-o constantemente, de um jeito bobo e inútil, como pareceu para ela.
Dumbledore cumprimentou o grupo que se enfileirava diante dos dois, já praticamente recolhidos.
Todos responderam a seu jeito, encabulados, se despedindo da figura desconexa que se distanciava com o pensamento finalmente entregue a estratégias impecáveis contra os pinos, deliciando seu desejo em sorvetes de limão.
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