-O Mundo Mágico-





-Capítulo II-
-O Mundo Mágico-


O grito a tocou confusa e, desnorteada, ela ainda se perguntava o que fazia lá, no pico da montanha, tomando uma espécie curiosa de leite que crescia em potes(em uma árvore sem folhas que se levantava alguns metros abaixo) e, ainda por cima, usando kilt. Não que tivesse algum tipo de preconceito(“Que os homens usem saias!”), mas, não se lembrava de sua ascendência escocesa e, ainda mais, gostava de seu leite um tanto quanto achocolatado e bem mexido, não com um gosto verde.
Pensou ter ouvido mais um grito e questionou para o velho marinheiro sem pernas que jogava Pôquer(Poker), descendo as cartas sigilosamente, tentando descobrir a reação do asno, do marreco aristocrata e da geladeira que, mais uma vez, parecia levar a rodada. A nobre ave inclinou a cabeça em uma tentativa furtiva(o que não era bem sua especialidade) de espiar o jogo do asno, que começou a guinchar diante dessa atitude clara e trapaceira, enquanto a geladeira recolhia as moedas e o cachimbo de espuma congelada apostada pelo marujo ancião. O homem do mar se escandalizou, cabisbaixo, jurando que o jogo era a ruína dos homens(e das formas de vida no geral...) e apostando as pernas que não tinha para a próxima jogada. Parecia repetir baixinho, a procura da sua garrafa de rum(que descobriu já perdida nas mãos(?) do asno, “Tudo menos a minha fumaça esportiva..!”.
O marreco de segunda classe, friamente expulso a gélidos pontapés pelo eletrodoméstico, finalmente veio se sentar ao seu lado reclamando, em uma rodada de mal-humor, algo como “...ética, moral e imparcialidade são apenas ilusão...”, o que pareceu ser justificável por um momento.
O terceiro grito veio com o vento morno que trazia a imensa banheira trasbordante pelas nuvens.
A ave desconcertada fez menção de continuar sua retórica lamuriosa, mas engasgou a voz, e dela se partiu um chiado agudo deprimente. Tentou corrigir o engano, engolindo uma aspirina, mas ela não passou pelos ponteiros que circulava na sua, ahn... boca?
Sem justificativa, sem um porque do que, o céu começou a se desmanchar e o mundo a pingar(feito roupa no varal), girando(feito roupa na máquina de lavar). O pássaro sem pelos era o único que não descia em círculos, ganhando cada vez mais uma solidez de construção inacabada, mais do que um marreco aristocrata pode ter. Seu chiado melindroso e insistente ganhou notas no ar, perfurando cada um, terminando o caos que continuava a crescer e, provavelmente, era essa a sua função última(em uma inversão de papéis).
-Fecha a boca, seu pateta sanguinário...- escapou de Juliana, entreabrindo os lábios de sono, praticamente arrotando um bocejo-... é por isso que ninguém joga com você...- continuou enjoada, suas mãos procurando o que, infeliz, descobriria ser um despertador. E bem armado.
Saltou no colchão, exasperada. O chiado parecia ter voltado(talvez vingança), mas agora era conclusivamente similar a voz esganiçada de uma mulher aos trinta e muitos, em duelo épico com o pacato gato do vizinho. Em instantes deduziu que o era.
-Ai... Eu to de férias...- voltou, tentando se enfiar no edredom, um universo longínquo e particular.
Mas era tarde. Esse instante fora o necessário. Tentou se esquecer dos últimos processos de sua mãe contra o felino. O animal, sempre tão sereno e bonitinho, não se deixava vencer com facilidade e Juliana sempre descobria sua mãe perdida pela casa, aguardando no cesto de roupas(o lugar mais seguro e fortificado do recinto), tentando ganhar pelo cansaço.
-...droga... é só um gatinho normal procurando o que todos os gatos normais procuram- adiantou-se a tempo, desligando o despertador, e atirando o edredom para o lado- atenção...
Espero sentada de sono na cama, levando vagarosamente os pés ao chão(caçando suas pantufas, rosas, de coelho) e ajeitando seu pijama, rosa, de ursinhos.
Tentou se levantar mas a preguiça foi mais forte(tinha uma proposta mais decente). Balançou a cabeça procurando um incentivo e achou o espelho, esperando com más notícias.
-Meu cabelo!! Enrolado de novo!- espantou-se, exagerando no trágico, com as pontas na mão- Ah! Não! Todo aquele trabalho..!- levantou-se de um só impulso e se atirou para a inocente escova, desperta.
Se queria um incentivo, esse não estava na lista. Mas, sempre funciona.
Com um urro de raiva, nossa atriz de melodrama tentou arrumar os cabelos em vão.
Despenteada(com um onírico toque artístico), procurou no quarto agora em busca de um consolo.
Tinha mais um daqueles pressentimentos, aqueles em que o dia não terminava em pizza, mas suspirando tentou não se preocupar com isso.
Ascendeu a luz, que se juntou aos raios da manhã, abrindo as cortinas(um rosa-roxo embriagante) em uma atitude talvez paradoxal.
Procurou no relógio e descobriu que ainda era cedo para um dia de férias, mas não podia fazer nada. Tinha combinada com o pessoal e, nas mais tradicionais regras do convívio social, todos costumavam tentar ser pontuais.
Esbarrou em seus deveres inacabados esquecidos na escrivaninha(rosa, com adornos bege-choque) e teve outro choque de realidade. As aulas começavam daqui a alguns dias e seu volume da “História dos Bruxos - para Bruxos” continuava intocado na estante( e o professor costumava imaginar que os alunos chegariam a aula gratos e satisfeitos de terem guspidos quilômetros de pergaminho durante as férias. Fantasmas costumavam ser um pouco insensíveis com a vida cotidiana).
Girou a maçaneta, de olhos fechados, decidida a deixar para descobrir depois o que não queria descobrir agora, e tomou o rumo das escadas escorregadias(carpete liso como cera em um dia de limpeza).
Encontrou a sala sozinha, ainda encoberta pelas cortinas serradas na janela. O cheiro de incenso queimava pelo ar, os vários amuletos pendurados pelo lugar faziam companhia aos dois ou três(a cada dia descobria mais um) mensageiros do vento sem brisa. Nunca se perguntara bem para o que tudo aquilo servia(e não fugia aos espelhos esparramados pelo teto e agarrados na paredes), crescera por lá, sempre pareceu algo natural, como melancias que crescem em árvores.
Olhando tudo vazio, seu cérebro processou, esquecendo algo que queria lembrar lá no intimo, perto das orelhas. Então, lembrou que esquecera sua mãe.
Seu pé a projetou para a cozinha ao lado, já procurando pelo medo materno. Pensou pelo lado bom(o qual não existia, em todos os parâmetros psicológicos), já saberia onde procurar.
Na cozinha, a cena matinal tinha elementos corriqueiros. Algumas torradas amanteigadas meio comidas na mesa, a xícara de café pela metade, a garrafa térmica(que para o bem universal não poderia faltar) e sua mãe estática, como se fosse uma estátua(e, realmente talvez essa era a idéia que queria deixar bem clara).
Seus olhos pareciam presos nas lentes grossas do óculos de arame alaranjado, fitando o teto, concentrada em um ponto, fazendo dele a coisa mais importante do mundo nesse momento.
A mãe já não fitava mais o felino se lambendo carinhosamente em cima da mesa. Ele não estava lá, ela também não.
-Mãe..?- olhando da mesa para a estátua- Tudo bem..?
A mãe não assentiu. Com um movimento sorrateiro dos olhos advertiu a filha da presença ameaçadora do gato(com medo que esse a percebesse) que ronronava, carente.
-Mãe, ele é só um gato...- resolveu insistir- Sabe, que mia e brinca com novelos de lã... sobem em árvores e não conseguem descer...- cruzou a mesa para a geladeira, afagando a cabeça que consentiu com aquela cara de gato que todos os gatos tem, ou aparentam ter.
A mulher não parecia surpresa com a atitude da menina. Afinal, eram poucas as pessoas capazes de receber a verdade, perscrutar em um universo de pensamentos absolutos, atingir a capacidade espiritual necessária para compreender de fato o que era o mal.
O gato miou. A mulher suou frio.
Com a garrafa de leite em mão, não soube bem porque tentou verificar a altura em que o caule foi cortado, antes de se render a cena mais uma vez.
Não era ridículo porque era sua mãe, e sabia, bem, que ela sensível a outros tipos de compreensão do mundo. Afinal, podes-se dizer que no dicionário dos trouxas ela só não se enquadrava perfeitamente nas características atribuídas aos ditos “Bruxos” por seu repúdio a vassouras e ao gênero felino.
Mas agora já estava ficando deplorável.
Juliana se pós silenciosa, foi e capturou o animal docemente, abriu o vitro da cozinha(sempre fechado para evitar acidentes como esses) e com palavras gentis dispensou o gato para fora.
A mãe pareceu quebrar molduras de ferro e se pós a respirar aliviada, exaltada, como se tivesse nadado todo o Canal da Mancha para comprar cogumelos na França.
-Não...sei....- respirou fundo- Não sei como você consegue suportar!- começou entre suspiros.
-Bem, eu nunca sofri muito com pelos... Meu nariz é insensível. Mas ratos são um negócio asqueroso...- voltou a filha, considerando a questão.
A mãe pareceu considerar ainda mais.
-Ratos são bons.- concluiu, como se em uma conta matemática- Eles nos informam das energias do submundo.
A menina olhou a mãe incrédula. A mulher continuou, ajeitando os óculos para a ponta do nariz.
-Acho que as pessoas mais despertas tendem a sofrer mais com essas... “coisas”?- não conseguiu pronunciar a palavra. Voltou-se para a torrada, com atenção, que estava ali meio mordida, talvez há horas desde o conflito.
-Seu pai era outro que gostava de gatos- continuou, repassando manteiga, sem perceber que pronunciara a palavra proibida- E por causa dele eles se acostumaram com o lugar... Vivia cheio de gatos, aqui...- por um momento pareceu perder o temor para a desilusão.
O assunto “paterno” não era muito comentado, a não ser em momentos descomunais daquela felicidade melancólica, que ajudava a lustrar o brilho ameno da ocasião. Pensando agora, esses momentos eram um tanto raros... Mas todos são, não são?
Bem, no geral, estavam felizes, as duas.
Juliana não conseguia imaginar sua mãe sozinha durante as aulas, mas a deixaria daqui a alguns dias mais uma vez, agora para o terceiro ano. Aprendera a não se preocupar tanto. Afinal, o que mais podia fazer? Sabia que sua mãe tinha suas amigas, e sabia que ela costumava expulsa-las de sua companhia durante as férias para aproveitar a filha, o que em geral acontecia.
A escola sempre fora um assunto complicado para a mãe. Por mais que a filha renovasse os esforços, todo ano, para uma nova explicação, a mãe ainda não conseguia materializar a idéia. Não via a diferença entre Hogwarts e uma colônia de férias(invertida) onde o pessoal se reunia no jardim para cantar Beatles e contar piadas.
“Sabe, minha mãe é trouxa...” advertiu aos amigos que logo estariam de visita na casa da mamãe, se no final das contas desse tudo certo. “Ela ainda consegue achar o máximo o truque da cartola...”.
Sua mãe, por tão sensível, nunca compreendera o mundo bruxo e seu pai, talvez por diversão, nunca fizera questão de muita explicação. Pelo menos enquanto estava vivo.
Na época de sua morte, as duas foram praticamente obrigadas a encarar um mundo vago e sem detalhes explicados, a receber nessa mesma casa pessoas estranhas que se diziam importantes no panorama geral da política britânica(nunca tinham ouvido falar de cada um deles) e até mesmo jornalistas desconhecidos a procura de depoimentos e respostas.
Juliana enfrentou então, pela primeira vez, a fama de seu pai no mundo mágico.
Tinha só nove anos mas, melhor que a mulher adulta, entendera o que se tinha que entender.
É claro que a mãe sabia que o pai tinha seus fãs no mundo acadêmico e “coloquial”. Cientista, inovador, pioneiro e, em quase toda a vida, um ávido escrito de romances pitorescos e livros infantis. Sabia que ele tinha o seu público(cartas estranhas sempre a porta) mas não era muito de sair de casa e nunca notou os espaços vazios nas livrarias e bibliotecas, os quais o trabalho do marido deveria preencher, nunca notou que os vizinhos não comentavam o cidadão famoso. E, muito menos(a não ser uma vez) se interessou sequer em três parágrafos produzidos pelo companheiro e, curiosamente, ele gostava assim.
A mãe nunca se perguntava em que mesa de trabalho ele adormecia durante quase toda a semana, ou que projeto ele desenvolvia na mesa do escritório, nos dias de casa. Sabia que dava um bom sustento, estavam todos os três muito bem e nunca sentiram falta de nada. Sabia que ele tinha se formado em uma escola fora da cidade e que em boa parte da vida sobreviveu sendo uma espécie de “animador de festinhas”. Pelo menos, foi o que ela concluiu do primeiro encontro, praticamente decidido em casamento.
E de tudo isso, de volta a torrada.
-Daí eu disse para o Sr.Wendall que era muito natural o filho dele trombar com um elefante em julho, uma época tão propícia para essas coisas...- a mãe conduzia um monologo, e Juliana assentia calada, hora com expressão de falso espanto, tomando café da manha- Ainda mais que a linha da vida do garoto é tão curta e tremida... Tenho pena por ele...
Do que Juliana sabia, tinha absoluta certeza que o “filinho” do senhor Wendall passava bem, levava uma vida saudável, completara vinte e sete aninhos agora(há três dias) e recentemente conseguira uma nova namorada(modelo francesa, que fatura alto e em dollar).
-A vida é tão injusta com algumas pessoas...- comentou a menina, já lavando a louça da manhã.
-Com certeza filhinha... É preciso estar sempre atenta, viu! Um dia você acorda e esta com o cabelo todo desarrumado- disse, fazendo menção aos longos cabelos castanhos da filha, curiosamente ondulados nas pontas- e no outro você morre em uma acidente de transito provocado por seu ex-namorado motoqueiro, em uma acesso de ciúme contra o cobrador do ônibus...
-...é...- foi só o que ela encontrou para completar.
Terminado a louça e orientada pelo grande relógio talhado de coruja na cozinha, decidiu subir para se arrumar.
-Escute filhinha- recomeçou a mãe, praticamente tragando uma xícara de café- Não é hoje que os seus amiguinhos da escola vem nos visitar?
-Ah! É sim. Você já pediu os colchões emprestados para a Sra. Fitz?
-Você sabe que eu não gosto muito dela...-mentiu a mãe, escandalizada- E, além do mais, o Sr.Fitz anda mal da saúde, não quero incomoda-los com essas bobeiras.
-Mãe! Eu sei que vocês jogam cartas o ano inteiro enquanto eu estou fora!
-Tarô filhinha! Eu leio o tarô!- voltou a mãe, escandalizada- O que eu posso fazer se sou uma das poucas pessoas com capacidades extra-sensíveis e...
-E eu encontrei o senhor George Fitz esses dias, indo para uma partida de futebol!- interrompeu a mãe, lembrando do “Bom dia” animado do Sr.Fitz, vestindo cores que não combinavam.
A mãe se deixou indignada, fingindo um certo fingimento.
-Está bem, vou ver o que eu posso fazer...- disse, bicuda.
Impossível uma análise clara desse comportamento materno. Apenas especulações.
Dado por fim o assunto, parecia um bom momento para subir.
Juliana deixou a mãe na cozinha, filosofando com garrafa de café, e partiu para a escada(se desviando dos amuletos excessivos).
As janelas ainda estavam fechadas, aprisionando o que restou de um incenso partido. As cortinas grudadas impediam a sala de se entregar à luz matinal, dando às espirais cinzas de fumaça que se escalavam até o teto cores inexistentes.
Com o pé no primeiro degrau, desviou o olhar por um momento e se deparou com o correio jogado sem cuidado no sofá vermelho(com rendinhas tendendo a um laranja-pink), lado a lado com a mesinha do telefone.
No primeiro instante não se lembrou de entender o “por quê?” que a fotografia da primeira página piscava indolente(o efeito confuso que alguns meses de férias pode provocar...). Também as cores não ajudavam. Em preto e branco, o homem em princípio parecia um trouxa qualquer(talvez algum modelo de grifes sensacionalistas), a não ser pelo fato de que seu olhar frio e despreocupado rodava a sala de tempos em tempos. Olhar assim não chamava a atenção... não tanto quanto os letreiros vivos que corriam a página, atropelando palavras.
“Trágico e incógnito – Ex-Inominável fugitivo acaba morto em tentativa de prisão!”, anunciava o Profeta Diário matinal, eufórico. “Sem declarações, o ministério...” e subitamente os letreiros diminuíram, perdendo a coloração exagerada, já que o objetivo inicial tinha sido cumprido. Ser notado.
Juliana pareceu hesitar, com os pés na escada, já era tarde e tinha que fazer algum malabarismo com seu cabelo. Mas cedeu, provocada pela curiosidade(aquele impulso inquestionável que já perdera muitos pontos na escola...).
Mortes nesses tempos não era notícia rara. Desde a queda, há três anos, muitos seguidores das trevas se negavam a uma temporada proveitosa na prisão, lutando até o fim quando capturados. Mas algo na palavra “Inominável” definitivamente a chamara de volta de seus devaneios sobre o dia. Tinha nessa palavra uma mensagem em alerta na sua mente. Só não se alertava o porque.
-Ah...! Chegou hoje cedinho...- anunciou a mãe entre goladas de café, na cozinha- O carteiro nem bateu na porta, acho...- continuou, com um “que!” de confusa- Quando percebi já estava trazendo para dentro...- pareceu considerar coisas inconsideráveis.
A menina puxou o Profeta, deixando as outras correspondências escorregarem, sem dar a merecida atenção a mãe. Parecia uma edição especial, com todas aquelas cores... E queria entender o já importuno porque.
Topou com um rosto bonito, de feições claras e bem desenhadas. Seus cabelos negros desciam até a margem de seus olhos, de um cinza escuro intrigante. Na legenda, apenas “Vincent Black N.C”
O nome sussurrou em sua memória, como se tentasse se lembrar do que comera na terça-feira da semana passada. Acompanhado do “Inominável”, formavam uma refeição completa(com direito a sobremesa).
Continuou o artigo.

“Nesta sexta-feira, 22 de agosto, o agora ex-Inominável e fugitivo da lei, Vincent Black N.C, 30, acabou morto em uma tentativa de captura providenciada pelos agentes do ministério. O criminoso era o principal suspeito de uma série de roubos ocorridos no próprio local de trabalho, O Departamento de Mistérios do Ministério da Magia.
Devido a seu passado, foi descartada a possibilidade de ligação entre o suspeito e os remanescente seguidores das trevas(cada vez menos numerosos devido a queda Daquele-que-não-deve-ser-nomeado e o intenso trabalho do Ministério).
As autoridades da lei e o próprio Ministro da Magia(recém-eleito) não quiseram tecer comentários a imprensa.
O profeta diário entrevistou, exclusivamente, ex-companheiros de trabalho do julgado. “Ele, e todos devem saber disso, sempre foi uma pessoa fechada, misteriosa, de poucos amigos, sabe? Não sei como nunca suspeitaram dele quando os roubos começaram...”confidencia Berta Jorkins, do Departamento Esportivo do Ministério. “Sempre anti-social, nunca o vi sair e beber com os colegas de trabalho... Um costume por aqui, para aliviar a tensão, sabe?”- confira o resto da entrevista na pág 4)
As investigações ainda estão em andamento, a procura da verdade, de possíveis cúmplices e do paradeiro dos objetos roubados.
O corpo de Vincent Black N.C será velado sábado, dia 23, em sua propriedade nos subúrbios de Londres.
Confira os detalhes na pág 4.

O artigo resolveu acabar, deixando a curiosidade de Juliana esperando ainda mais informações.
“Só isso...?” indagou sem perceber.
Não que se interessasse sempre por fugitivos da lei(por mais idealizados que eles pudessem ser pelo cinema) mas algo em sua consciência não a deixava se desligar.
A falta de detalhes do Profeta a deixou intrigada. Bem, normalmente eles faziam questão de mostrar serviço, o Ministério, revelando todos os detalhes(ocorridos ou não, de fato) do confronto e da captura. O velho populismo, política tão comum na política(mágica e trouxa). Costumava dar certo.
“Devido ao seu passado...?”, “Objetos do departamento de Mistérios...?”, “Departamento de Mistérios? O que é Departamento de Mistérios? O que ele roubou? Para quê? N.C? O que era N.C? Criminoso Nacional?”
Não era bem ela que queria saber, era aquela já tão conhecida coceira atrás da orelha. Mas, uma coisa curiosa, algo dentro dela parecia entender todas as charadas, parecia ter as respostas para todas as suas perguntas. Mas esse “algo” deveria estão bem abaixo, perto do dedão do pé, não conseguia alcança-lo.
Bem, de qualquer jeito, uma hora ela teria que notar sua mãe gritando em coro com o telefone, tocando.
-Ju!! Olha o telefone!- gritou a mãe, como já fazia a muitos segundos, engasgando com a voz- Ta tocando!!
Juliana acordou para o grito ao lado. Não fora o único do dia, poderia se acostumar. Mas o telefone rangia a centímetros de sua mão, querendo ser tratado com a atenção que se deve.
Com um impulso assustado agarrou-o e levou-o com força até o ouvido, martelando sua orelha.
-Ai!!- escapou irritada- Alo! Já to aqui!- continuou desconcertada.
-Juliana Magrieta Cohen, rua Casual número trinta e três, Inglaterra, Londres, telefone três, três, oito, oito, oito, um, sete, nove, caixa postal....
-O que?- tentou responder, tentando interromper a voz que mandava palavras rápidas demais, sem se importar.
-Sala de estar, telefone!- terminou a voz, exausta, tragando o ar finalmente.
-O que? Alô! Quem é?
Mas já era tarde. A única coisa que veio em resposta foi o barulho banal da linha sendo fechada.
-Use a bina.- socorreu a mãe, percebendo(com sua percepção superior) o ocorrido.
-Uhn...
Re-discou.
Tocou, tocou. Era um trote, só poderia ser. Bem, um trote bem específico, devo acrescentar(com todos os detalhes...).
Tocou, tocou e... alguém atendeu.A voz recomeçou com fúria confusa.
-Juliana Magrieta Cohen, rua Casual...!
-Lilo!? É você!?
-...glaterra, Lond... O que? Ah?
-Lilo!
-Sou!- respondeu agora, a inconfundível voz do garoto, mais calmo agora(não por serenidade, mas por uma dúvida aparente).
-Ah! Você não precisa gritar no telefone.
-Ei! Eu to te ouvindo! Puxa!
-É, não é mágico?- continuou Juliana, irônica.
-Uhn... Não sei, acho que não. É trouxa, não é?- considerou, agora com a dúvida crescente.
-É magia trouxa!-brincou a garota.
A mãe olhou para a menina sem entender. Essa não se importou em explicar. Apenas se virou, desviando o olhos da mãe, sorrindo.
-Magia..?-a voz do garoto se perdeu, sem saber o que dizer, ou pensar.
-Eu só to brincando, bobo!
-O que?
-Deixa pra lá...- a garota fez uma pausa, jogou os cabelos despenteados para trás(se esquecendo dos nós violentos), feliz, por estar- E ai! E o pessoal? Prontos para mundo mágico dos trouxas!?
-Ahn... Eu espero que sim- voltou Lilo, agora recomeçando mais feliz e menos duvidoso- Meu pai não queria deixar eu ir por causa de “um negócio ai”, mas eu acabei convencendo ele.
-Negócio..?
-É. A Claire já deve estar por ai, ela ia com a mãe no Beco, não sei se o Kelvin vai poder ir. A Arashi disse que vai, mas não sabe se vai poder ficar muito tempo...ahn...-tomou fôlego- Bem, alguém deixou escapar para o Paulo, e sabe como ele é... O Cássio vai também, falei com ele ontem, mas o Carlinhos não vai poder ir...- sua voz pareceu decepcionada por instante- As três também vão, pelo o que elas disseram.
-Ei! Todos vão dormir aqui em casa? Eu pensei que...
-Não, acho que não... A maioria mora por perto. Aliais, nada é muito longe quando se tem lareira em casa né.
-Pó de Flu.-constatou.
-É sim. Ei, sua lareira ainda está ligada. Eu perguntei para o meu pai e ele checou no cadastro, lá no Ministério.
-Ligada..?
-É sim. Ah, to chegando lá pelas dez, Ok?
-O combinado não era lá pelo meio-dia..?
-É que eu não sei bem o caminho, então...
-Ah! Certo, vem mais cedo para não se perder.
-Sim, e eu...-mas parou- Ei, algo esta apitando aqui..!- o garoto retornou a dúvida, confuso outra vez. Com medo, talvez, como se estivesse prestes a cair em um precipício e dissesse as últimas palavras.
-Ah?
A linha caiu.
-Poxa..!- monologou Juliana, depositando o telefone no gancho- Deve ser difícil para eles...
-Para quem? Os mágicos?- apareceu agora a mãe(evocando a imagem peculiar que tinha dos bruxos) que já tinha andando a casa inteira nesse meio tempo.
-Para os bruxos mamãe!- respondeu, se levantando. Nem ao menos tinha percebido que quase se deitara confortavelmente no sofá enquanto trocava idéias.
Pensou em várias coisas por um instante.
Decididamente tinha que fazer algo com o cabelo, talvez um feitiço alisador... bem, a unica coisa que faltava era uma permissão expressa de autoridades competentes, afinal era menor. Ia ter que arriscar do modo trouxa mesmo.
Subiu a escada, pulando degraus.
-Vou tomar banho mamãe. Me avise se alguém me telefonar!
Já eram 9:20 da manhã.

Compartilhe!

anúncio

Comentários (0)

Não há comentários. Seja o primeiro!
Você precisa estar logado para comentar. Faça Login.