El Insano Hidalgo Cadogan



“... e então, aquele gigantesco dragão veio em minha direção, mas eu não tremi, crianças, eu enfrentei-o como homem que era!”, bramiu Sir Cadogan para a platéia que o rodeava.

“ Isso significa que você não é mais homem, sir?”, perguntou desdenhosamente um dos rapazes, com um sorriso sacana no rosto.

“Ora, seu pirralho, você sabe o que quero dizer!”, retorquiu o quadro, fazendo seu bigode tremer.

“Mas ele era tão grande assim, sir.Cadogan?”, interrompeu uma das primeiro-anistas que ouvia embasbacada a narrativa.

“Se era, minha donzela, SE ERA!”, esganiçou Sir.Cadogan com um sorriso bravio no rosto. “ Era tão grande quanto um elefante...maior até mesmo do que Há...”

“ Que está fazendo, Cadogan? Outra vez contando lorotas pros primeiro-anistas?!”, cortou um monitor da Corvinal que chegava no local, inquirindo-o com repreensão.

“LOROTAS?!O que estás a chamar de lorotas, seu parvalhão metido a cavaleiro!?”, esbravejou o quadro com o insulto. “ Se eu ainda fosse homem, irias ver uma coisinha ou duas, seu metido a...”

“Claro, claro.”, disse o rapaz, interrompendo o rosário de insultos que o outro desfiava. “Agora me escutem, esse cara aqui é completamente louco. Esqueçam essas estórias estúpidas que ele conta, para seu bem.”

Sir Cadogan afundou-se no seu cavalo pintado, assistindo com pesar à partida dos primeiro-anistas, liderados pelo monitor.

“Maldito aparvalhado, estúpido, cachorro sarnento e manco!”, pensou ele consigo mesmo, ainda vendo as meninas afastando-se. “Ah, se esta béstia tivesse sido meu contemporâneo...”

Uma das meninas que ouvia sua história, voltou o rosto para o quadro, com uma cara tão desolada como se fosse ela quem tivesse ouvido a bronca.

Sir Cadogan lançou um olhar esperançoso para ela, algo com um quê de melancolia e, candidamente, a menina retribuiu sua esperança, um momento antes de sumir escadaria acima.

O quadro ficou sozinho por um momento, e colocou-se tristemente a refletir os malefícios do mundo de hoje em dia, com o rosto pensativo e o olhar cansado.

“A começar pela covardia extrema dos fanfarrões! No meu tempo, um jovem que risse de minhas fuças iria se ver em um duelo mortal comigo – e caso, eu morresse – com um de meus irmãos!”, pensava ele, angustiado por não poder defender-se das calúnias dos jovens que passavam por seu quadro.

“Nunca me deixaria abater, se fosse num duelo de espadas, arco e flechas, ou até mesmo de bastonetes, mas todos na época, sabiam que fui e sou um fracote com as palavras insultuosas!”, repetia para si, fazendo movimentos arrojados com sua espada por dentro de sua moldura. “ E dama alguma resistia aos meus olhares lânguidos e cheios de encanto, principalmente em prol de um covarde feito aquele!”

Seu rosto encheu-se de mágoa novamente, e ele desferiu um golpe contra uma pedra, lascando a espada. “ Com mil infernos, o que mais falta ocorrer?”, lastimou-se ele.

Naquele momento, um grito agudo lhe chamou a atenção escadaria acima. “ Por Merlin, que será que atacou uma das donzelas!?!”, pensou enquanto corria pelos quadros dos corredores até alcançar uma das portas. “ Já vou até aí, aguentem-se firmes até o final, senhoritas!”, gritava ele.

Seu cérebro raciocinava lentamente, mas seu espírito bravo, nem em séculos preso num retrato, esmaecia diante da possibilidade de uma luta feroz – especialmente quando havia algumas doces fêmeas em jogo nela.

Com as têmporas em chama, e o coração na mão, ansiando por qualquer sinal de perigo, ele apareceu no quadro da Sala de Divinação, já com a espada desembainhada.

“AAAI, UMA BARATA!!!!!”, gritavam as mulheres e – mais alto que todas elas – o monitor corvinal.

Sir Cadogan desatou a rir com a visão das três jovens que o escutavam, agarradas em um ainda mais assustado rapaz, todos de pé em cima de uma banqueta.

“É...”, pensou ele, com a barriga doendo de tanto rir, “ São as vantagens da vida moderna....”

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