O Último Vôo da Fênix



Engana-se profundamente quem diz que os animais mágicos são irracionais. Engana-se ainda mais, quem porventura acha que uma fênix não é capaz de raciocinar o que acontece ao seu redor. E merece ser internado na ala para Loucos e Retardados do St.Mungus, quem pensa que ela não é capaz de sentir por tudo isso.

Fawkes olhou para o escritório que outrora fora de Dumbledore e soltou um pequeno lamento. Foi uma nota simples que escapou de seu bico, algo límpido feito um pio de passarinho, mas ao mesmo tempo lúgubre feito um crocitar do corvo.

Nada era mais o mesmo depois que ele partira. As gárgulas não tinham mais vida, não riam toda vez que recebiam uma senha nova para guardar. Os quadros pareciam enlutados para sempre, mais do que qualquer um que ela já tinha visto. Não haveria mais doces estranhos que um velho bondoso ofereceria para comer, não haveria risadas inapropriadas ou sabedoria nas horas de necessidade, nada mais disso.

Seu mundo, definitivamente, não era mais o mesmo.

Fawkes sabia que poderia ficar, se quisesse. Acompanhar Minerva McGonnagal nos tempos difíceis que estavam se desenrolando, ajudar, novamente, aquele pirralho por quem seu amigo Alvo tinha tanto apreço. Poderia, também, simplesmente ficar e continuar uma vida medíocre, como se nada mais tivesse acontecido, se negando a participar das coisas, ficando ali simplesmente por ter comida garantida e abrigo no caso de chuva.

Poderia, mas não o faria.

Também não era seu desejo partir para longe, recomeçar em outro lugar distante, onde o negror dos tempos não tivesse alcançado, nem nada ali o lembrasse de que perdera uma das pessoas mais queridas que já tivera.

A procissão fúnebre continuava do lado de fora do escritório do (eterno) diretor de Hogwarts.

A fênix sobrevoou o escritório, parando por um momento em seu poleiro e admirando longamente o quadro de Alvo, que agora, parecia magicamente ganhar vida.

Bizarramente, ele estava mais agitado do que todos os outros na sala. Até porque, o morto era ele mesmo, não era?

Seus olhos piscavam marotamente, e aquele sorriso divertido continuava nos lábios, mesmo sabendo da tristeza que pairava ao seu redor.

Fawkes achava que era assim mesmo que devia ser. Enquanto uns ficavam e tinham lágrimas nos olhos, os que partiam, deveriam sempre o fazer com um sorriso.

Afinal, a morte sempre é acompanhada do renascimento. E o que é o renascimento senão uma grande benção, e uma carta branca para reaproveitarmos nosso tempo e nossa vida?

Então, Fawkes cantou. Cantou com toda sua força, com toda sua alma – como se sua existência fosse e dependesse inteiramente disso. Era seu último presente para Alvo Dumbledore: um réquiem.

Um réquiem para ele, e para si.

Enquanto cantava, se distanciou daquele lugar que fora seu lar por tantos anos. Voou pela janela, passou pelo enterro, e derramou uma lágrima em cima da cova de seu amado amigo.

Depois, foi para longe, bem longe. Onde pudesse verdadeiramente morrer em paz.

Porque ela sabia, que toda morte é acompanhada de uma renascença. E, se tudo desse como planejado, a dela e a de Alvo, seriam juntas.
Novamente.

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