Revelações na Ala Hospitalar



— CAPÍTULO TREZE —
Revelações na Ala Hospitalar




Do mais absoluto nada aparece uma luz cinzenta. E uma poça infinita de lama preta e viscosa, aos poucos tornando-se fluída, cada vez mais líquida, cada vez mais transparente. A luz cinzenta vai tornando-se branca, cada vez mais branca, mais clara, até tornar-se ofuscante. Até que tudo some.
Hermione abriu os olhos, sentindo o gosto amargo de algo que lhe descia pela garganta, acordando cada célula de seu corpo. A princípio, a visão estava embaçada. Assim que tornou-se nítida, ela reconheceu a profa. Sprout e Madame Pomfrey.
— Srta. Granger, bem vinda de volta! — disse a profa. Sprout. — Lembra-se daquela sua resposta eficiente sobre a utilização das mandrágoras? Pois a senhorita acaba de comprová-la.
Hermione sorriu, sentando-se na cama. Era uma sensação muito esquisita, não era como se estivesse acordando, era como se tivesse desmaiado e acordado no minuto seguinte. Em primeiro lugar olhou para a mão direita, mas ela não continha mais a folha do livro sobre serpentes. Ela, porém, ainda vestia as mesmas roupas. Estranhou que estivesse começando a sentir uma sensação de calor por estar usando o blusão de lã do uniforme.
— Eu fui petrificada, então... — disse, com voz fraca. — Quanto tempo eu...?
— Algumas semanas — disse Madame Pomfrey.
Hermione quis levantar-se de súbito.
— Onde estão Rony, Harry? Eu descobri o monstro da câmara, preciso contar a eles, eu tinha um papel e...
— Não se preocupe. — disse uma voz estranha. Hermione olhou para o lado e reconheceu a menina da Corvinal com quem andara pelo corredor com um espelho. — Já foi tudo resolvido; o monstro está morto. Eu gostaria de agradecer por ter me salvo a vida, Hermione. A propósito, me chamo Penelope Clearwater e você pode contar comigo sempre que precisar.
E Penelope voltou para sua cama, depois de trocar sorrisos com Hermione. O calor agora tornara-se insuportável; Hermione tirou o blusão e ficou apenas com a camisa e a gravata que estavam por baixo. Ainda usava também a saia, as meias e o sapato. Imaginou que devia ser difícil até mesmo tirar o sapato de uma pessoa petrificada.
— A administração da poção de mandrágoras foi um sucesso — disse Madame Pomfrey. — Todos os que tinham sido petrificados já retornaram a seu estado normal. Muito obrigada, profa. Sprout.
— Não tem de quê! Agora que já está tudo resolvido, acho que vou indo.
A profa. Sprout e Madame Pomfrey saíram juntas da ala hospitalar, conversando. Ficou um silêncio geral, e Hermione viu Justino Finch-Fletchley e Colin Creevey deitados em suas camas, movendo-se. Estendeu o olhar mais além e assustou-se ao ver Gilderoy Lockhart adormecido em uma das camas. Em outra, viu Gina Weasley, que sorriu para ela, levantando-se. No momento seguinte estava sentada na cama de Hermione, de frente para ela.
— Quer que eu lhe conte tudo? — perguntou ela.
— Tudo?
— Isso mesmo. Tudo. Em primeiro lugar, o basilisco já está morto, e tudo graças a Harry. Em segundo lugar, Rony esteve aqui trazendo o prof. Lockhart e insistiu muito em vê-la, mas como ainda estava petrificada Madame Pomfrey não deixou.
Hermione sorriu.
— Tem mais?
— Muito mais; agora vem a parte longa.
“Naquele dia antes do início das aulas, quando todos nos encontramos no Beco Diagonal e papai teve aquela briga com Lúcio Malfoy na Floreios & Borrões, ao chegar de volta em casa, notei um livro fininho, de capa preta de couro entre as minhas coisas. Imaginei que alguém devia tê-lo esquecido ou perdido, até que percebi que era um diário de cinqüenta anos atrás. Havia um nome escrito nele: T.S. Riddle. Por algum motivo, resolvi usá-lo.
“Na primeira vez que escrevi nele, foi muito estranho, pois tudo o que escrevi foi absorvido pelo papel. Mas não demorou muito e veio uma resposta. Ele se apresentou, Tom. Passei a contar a ele tudo o que se passava comigo, meus sentimentos mais íntimos e sensações mais profundas. Ele mostrou-se um grande amigo, respondendo carinhosamente, me dando conselhos e me acalmando quando eu não estava bem.
“Até que algo de estranho aconteceu, já aqui em Hogwarts. Certo dia, eu simplesmente apaguei em algum momento, não sei onde eu estava nem o que estava fazendo, mas quando recuperei os sentidos, estava nos arredores da floresta proibida. Haviam penas nas minhas vestes. Limpei-as, confusa, e andei meio perdida, sem saber onde estava. Acabei indo parar na cabana de Hagrid, e inventei que queria ver a plantação de abóboras dele como desculpa.
“Mais tarde ouvi dizerem que todos os galos que haviam dentro dos terrenos da escola tinham sido estrangulados, e ninguém sabia quem tinha feito isso. Lembrei-me de todas aquelas penas nas minhas vestes, de acordar de repente no meio da floresta sem lembrar o que tinha feito... Contei isso ao Tom, mas ele afastou-me as preocupações, dizendo coisas bonitas como sempre.
“E logo depois os ataques começaram. Madame Nora foi petrificada e escreveram uma mensagem na parede em vermelho. Naquele dia eu não soube dizer a mim mesma o que eu estava fazendo no momento do ataque; não conseguia me lembrar de jeito nenhum. Minhas vestes estavam sujas de tinta vermelha. Tive certeza de que era eu a responsável pelo ataque, e que estava ficando maluca.
“Houveram mais ataques, sempre coincidindo com momentos em que eu não me lembrava do que estava fazendo. Eu dizia a Tom que estava ficando louca, que alguma coisa se apossava de mim e provocava os ataques. Ele me consolava.
“Contei a ele tudo o que eu sabia sobre Harry, e sobre meus sentimentos por ele. Ele pareceu especialmente interessado, mas eu só passei a desconfiar dele mais tarde. Comecei a reparar que tinha muito mais vontade de escrever no diário do que eu julgava ser normal. Comecei a me sentir mais fraca, a sentir mais sono, a ter pesadelos em que eu falava uma língua estranha com uma cobra gigantesca. Era como se o diário sugasse minha energia e inserisse em mim aquela coisa negativa que estava me fazendo atacar as pessoas.
“Desconfiada de Tom, tentei me livrar do diário. Joguei-o no lixo do banheiro da Murta Que Geme. Não tive mais notícias do diário, e durante o tempo em que estive sem ele não ocorreram mais ataques. Passei a me sentir melhor também. Até que um dia eu vi Harry derrubar suas coisas no corredor e reconheci o diário entre seus livros. Um desespero tomou conta de mim.
“Morri de medo que Tom contasse a ele sobre os meus sentimentos ou que era eu a responsável pelos ataques. Entrei um dia no dormitório dos meninos e vasculhei as coisas de Harry. Achei o diário e levei-o comigo, já pensando em atirá-lo na fogueira da sala comunal. Porém, o diário era muito mais forte do que eu. Tão logo pus as mãos nele, ele me dominou completamente. Voltei a escrever, mesmo contra a minha vontade, e voltei a apresentar todos os maus sintomas que apresentava antes de jogá-lo fora. Algo me impedia de tentar me livrar dele desta vez.
“Na manhã em que você foi atacada, por um momento eu voltei a mim enquanto açulava o basilisco. De alguma maneira soube que o alvo era você, e aproveitei aquele segundo de consciência para gritar seu nome e dizer ‘cuidado’. Quando retomei os sentidos a profa. McGonagall estava chamando todos os alunos às salas comunais. Vi Rony e Harry abalados depois de terem vindo ver você.
“Depois que você e Penelope Clearwater foram atacadas, naquele dia, a segurança na escola foi redobrada. Os alunos eram obrigados a andar pela escola sempre em grupos, e acompanhados por algum professor. O pânico tomou conta de todos, começou-se a falar sobre a possibilidade de Hogwarts fechar. Eu me sentia péssima, sabendo que estava intimamente envolvida com tudo aquilo.
“Lúcio Malfoy convenceu de alguma maneira os outros membros do Conselho escolar de que Dumbledore devia ser suspenso. Cornélio Fudge, o ministro da magia, mandou levarem Hagrid para Azkaban, a prisão dos bruxos. Isso aconteceu no mesmo dia em que você foi petrificada.”
Surgiram lágrimas nos olhos de Hermione. Hagrid em Azkaban? Dumbledore afastado da diretoria?
— Tom já não tentava mais me enganar. — prosseguiu Gina. Ele agora se mostrava como era, e o fato de ele me dominar completamente me impedia de contar o que sabia a qualquer pessoa, ou de destruir o diário ou mesmo de prevenir Harry de que ele passara a ser o alvo principal de Tom. Ele ainda me disse que eu tinha sido muito boba por não mostrar o diário a alguém. Ele disse que alguém poderia reconhecer aquele nome. Hermione, Tom Riddle era o nome verdadeiro de Lord Voldemort.
Hermione conteve um grito com as mãos sobre a boca. Não disse nada, apenas esperou que Gina continuasse.
— Tom Riddle era Você-Sabe-Quem com dezesseis anos. Naquela época, evidentemente, ainda não tinha perdido os poderes ao tentar atacar Harry. Mas eu contei a história toda; e ele ficou ansioso por conhecer Harry. Não demorou muito mais para que ele decidisse atacar. Para atrair Harry, Tom me fez ir até o banheiro da Murta Que Geme. O mais estranho era que, de tão fraca que eu estava, ele não precisava mais me tirar a consciência para me obrigar a fazer as coisas.
“Lembro-me exatamente: fui até uma das pias, disse alguma coisa em uma língua engraçada e um túnel se abriu. Escorreguei por ele até um lugar enorme. Tinha o diário em minhas mãos. Tom parou de me controlar e eu simplesmente caí, perdi os sentidos. Quando tornei a acordar, Harry já estava lá. Estavam com ele a fênix de Dumbledore, que veio ajudá-lo a combater o basilisco, e o chapéu seletor, que lhe trouxe a espada de Godrico Gryffindor. Com ela, Harry matou o basilisco. Ele destruiu também o diário, e Tom junto com ele.
“Harry me ajudou a sair de lá, e encontramos Rony e o prof. Lockhart. Rony contou que o professor queria apagar as memórias dele e de Harry para ficar com a glória para si, de ter encontrado a entrada para a câmara. Mas quem descobriu tudo foram Harry e Rony; eles chegaram à conclusão de que Murta era a garota que tinha morrido há cinqüenta anos. Perguntaram a ela como ela morreu e ela contou sobre os olhos do basilisco, e eles encontraram no banheiro dela a entrada para câmara. Só que quando o prof. Lockhart tentou disparar o feitiço de apagar memórias, usou a varinha de Rony. O feitiço acabou saindo pela culatra, e ele perdeu a memória. Não é mais capaz de lembrar o próprio nome.”
Hermione recebeu a notícia com horror, mas não com surpresa. Depois do que o professor fizera com o braço de Harry, aquilo apenas servia para confirmar que Rony estivera sempre certo; o professor não tinha feito nada do que estava escrito nos livros. Devia ter pego o feito de alguém e ter apagado a memória do verdadeiro herói.
— Depois de tudo fomos à sala de Dumbledore, ele já tinha voltado. Meus pais estavam lá, pois Percy tinha mandado uma coruja para avisar que eu tinha sido seqüestrada. Eles ficaram apavorados quando descobriram o que aconteceu, e meu pai me aconselhou a nunca mais confiar em algo que pensa se eu não puder ver o seu cérebro.
Hermione sorriu; era uma teoria com a qual ela simpatizava. O sorriso se desfez conforme ela tentava absorver todas as informações que acabara de receber. Neste momento, Madame Pomfrey voltou à ala hospitalar, trazendo consigo Dumbledore. Ele anunciou, sorridente:
— Está tendo início uma grande festa no salão principal, em comemoração ao fim da câmara secreta. Vim convidá-los.
Hermione abriu um sorriso enorme. Não havia nada que quisesse mais naquele momento do que rever Rony e Harry.
— Vamos lá, Gina!
— Vá você, Mione. Eu preciso dormir. E estou envergonhada de todos....
— Mas Gina...
— Está decidido. Vá você. Ao vê-la, Rony finalmente irá tirar aquela tristeza do rosto.
Hermione abriu mais o sorriso. Desabalada, desatou a correr para fora dali.

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