A Descoberta



— CAPÍTULO DOZE —
A Descoberta




Hermione sentiu uma tontura, e por um momento pensou que fosse perder os sentidos. Engoliu em seco, respirou fundo e sentiu os olhos marejados.
— Não pode ser — murmurou, quase inaudivelmente. Levantou-se, atordoada. Encarou os dois amigos já com lágrimas escorrendo pelas faces e disse: — Riddle pode ter pego a pessoa errada. Não pode?
Eles concordaram com a cabeça, mas sem muita convicção.
— Ele obviamente não tem nada contra trouxas; — disse Harry. — Mas bem sabemos do fraco dele por criaturas perigosas. Ou vocês já esqueceram do filhote de dragão? Ou do cachorro de três cabeças?
Hermione voltou a sentar-se, apoiando o rosto nas mãos.
— Mas não faz sentido, — disse. — só o herdeiro de Slytherin saberia como abrir a câmara. E Hagrid não pode ser o herdeiro, pode?
— Se ele descobrisse que havia um monstro trancado em algum lugar, descobriria um jeito de destrancá-lo para que ele pudesse esticar as pernas. — disse Rony.
Houve um silêncio prolongado. Até que Harry começou subitamente a contar os detalhes da descoberta .
— Perguntei se ele sabia algo sobre a câmara secreta, e ele respondeu que seria melhor me mostrar. Acabei de alguma maneira entrando dentro de uma lembrança dele.
“Vi a escola há cinqüenta anos atrás. Vi Tom conversando com prof. Dippet, o diretor da escola na época. Devido aos ataques a trouxas, o diretor não queria permitir que Riddle ficasse na escola durante as férias.
“Mas Riddle não queria deixar a escola. O lugar para onde iria se a deixasse era um orfanato de trouxas. Muito pouco ele sabia sobre seus pais. O vi contando ao diretor que sabia apenas que sua mãe era bruxa e seu pai trouxa. O fato de ser mestiço fazia com que o diretor temesse pela segurança dele.
“Tom então perguntou se, no caso de o culpado ser capturado, ele poderia ficar. O prof. Dippet desconfiou; perguntou se ele sabia de alguma coisa, mas ele afirmou que não. Mas alguns dias depois, ele encontrou Hagrid alimentando um bicho estranho e peludo, e disse a ele que não poderia mais fazer vista grossa, que era obrigado a entregá-lo. E então Hagrid foi expulso.”
Hermione permaneceu em silêncio por alguns instantes.
— Os ataques pararam depois disso? — perguntou.
— Acho que sim, mas não fazia parte da lembrança. De qualquer forma, Tom ganhou um prêmio; então devem ter parado.
Hermione mordeu o lábio e levantou-se da poltrona. Pôs-se a andar de um lado para o outro. Olhou para o relógio da sala comunal e disse:
— Por enquanto, vamos dormir. Já é muito tarde...
Os meninos concordaram e despediram-se dela.

A discussão sobre Hagrid voltou a ocorrer diversas vezes durante a semana. Hermione, Rony e Harry ficavam discutindo os motivos pelos quais era possível Hagrid ter aberto a câmara secreta e os motivos pelos quais era impossível. E não chegavam a um consenso.
— Vocês acham — Hermione perguntou — que devemos perguntar a Hagrid o que aconteceu?
— Ia ser uma visita animada. — retrucou Rony rispidamente. — "Olá Hagrid. Conte-nos, você andou soltando alguma coisa selvagem e peluda no castelo, ultimamente?"
Hermione suspirou, sem olhar para ele, mas obrigada a concordar.
Acabaram decidindo, então, que só perguntariam a Hagrid se houvesse outro ataque. Como já havia quatro meses que ninguém era petrificado, os três tinham esperanças de que jamais precisassem tocar no assunto com o amigo.


Ao final da aula de Transfiguração, a profa. McGonagall ordenou que os alunos da Grifinória permanecessem na sala de aula depois que os outros saíssem. Hermione captou pelo olhar da professora que era algo importante que ela tinha a dizer. Uma vez sozinha com os alunos de sua casa, a professora disse:
— Bem, vocês estão no segundo ano, como bem sabem, e a partir do ano que vem poderão escolher as matérias que desejam cursar. Gostaria de lembrá-los que a escolha das matérias é fundamental para a carreira que pretendem seguir. Portanto, pensem bastante e decidam conscientemente.
Hermione foi invadida pela idéia súbita de que nunca tinha pensado na carreira que desejava seguir dentro da bruxaria. Olhou longamente para Minerva McGonagall, e pensou: "Talvez professora...". Sorriu internamente ao imaginar-se no lugar da professora de Transfiguração.
A professora entregou a cada um dos alunos um pergaminho com todas as opções de disciplinas. Hermione leu os nomes e achou todas interessantes. Olhou para Rony e Harry excitadíssima, mas viu que eles não se encontravam no mesmo estado de espírito; olhavam o pergaminho desanimados, dando a impressão de que cada nome de disciplina que liam lhes parecia pior do que o outro. Divertiu-a ligeiramente a idéia de que era amiga de dois garotos tão diferentes dela. Olhou para Rony, que torcia o nariz ora para o pergaminho, ora para a sua varinha quebrada, que agora soltava bolhas de uma gosma verde. Sorriu e voltou a concentrar-se nas disciplinas.
Os alunos tiveram alguns dias para decidir sobre quais disciplinas iriam cursar no terceiro ano. Enquanto Rony e Harry escolheram as mesmas entre si, para pelo menos terem um companheiro a quem pedir ajuda, Hermione solucionou suas dúvidas com uma decisão simples: matriculou-se em todas


Desde que matriculara-se em Runas Antigas, além é claro de todas as outras, Hermione encantou-se pelo assunto. Estava devorando todos os livros que a biblioteca possuía sobre o assunto. Descobriu toda a história, os estudiosos e as técnicas do trabalho com runas.
Certo dia, estava na sala comunal completamente absorta lendo Runas antigas sem mistérios, quando alguém repentinamente a cutucou no ombro, trazendo-a subitamente de volta a Hogwarts.
— Mione! — era Rony. — Vê se acorda!
Harry vinha logo atrás dele, e disse:
— Alguém vasculhou todas as minhas coisas, parece que estavam procurando alguma coisa. E parece que encontraram... O diário de Riddle sumiu.
Hermione franziu o cenho, perplexa.
— Mas Harry, isso significaria que algum aluno da Grifinória pegou, porque ninguém mais sabe a nossa senha.
— Exatamente.
Hermione não soube por quê, mas subitamente uma suspeita surgiu-lhe, mas era tão absurda que nem chegou a comentar e logo afastou: Gina Weasley.


Sábado era dia de mais um jogo de quadribol: Grifinória enfrentaria Lufa-Lufa. Hermione tomou café junto com Rony e Harry, e o capitão do time insistia para que Harry comesse. Hermione e Rony já estavam acostumados; ele nunca se alimentava direito nos dias em que jogava, pois ficava nervoso. Rony foi o último a terminar de comer, e assim que ele terminou Harry convidou ele e Hermione para o acompanharem até a torre da Grifinória, onde pegaria seus equipamentos de quadribol.
Nem bem tinham começado a subir os degraus da escada, porém, Harry soltou um grito. Hermione e Rony olharam apavorados para ele, que disse:
— A voz! Estou ouvindo de novo!
Hermione pôs-se a pensar por um segundo e foi como se uma porta enorme se abrisse, pois lhe veio uma idéia sobre aquilo tudo que agora parecia totalmente óbvia. Desferiu um tapa forte na própria testa, e Rony mudou o foco de seu olhar apavorado de Harry para ela.
— Acabo de me dar conta de uma coisa — disse ela, com urgência. — Preciso ir à biblioteca.
E subiu as escadas correndo. O pensamento pulsava em sua cabeça, como uma música alta ou uma dor latejante: se somente Harry podia ouvir a voz, e sempre que ele a ouvia havia um ataque, então o monstro da câmara secreta só poderia ser algum tipo de cobra.

A biblioteca nunca parecera tão longe. Hermione corria desabalada pelas escadas, mas não na velocidade que gostaria. Cobra, um tipo de cobra, uma cobra, cobra. Sua cabeça chegava a doer tamanha a sua ansiedade e a velocidade com que pensava e corria.
Chegou finalmente à biblioteca. Entrou, tentando recuperar o fôlego, e se dirigiu diretamente à bibliotecária. Madame Pince não simpatizava com ninguém, nem mesmo com freqüentadores assíduos como Hermione. Dirigiu à garota uma pergunta impaciente:
— Nem mesmo numa manhã de sábado você vai tirar folga das runas?
— Preciso da sua ajuda... — disse Hermione, a frase já pronta em sua cabeça desde que se aproximara da biblioteca, tanto que acabou automaticamente ignorando a pergunta. — Preciso de um livro que fale sobre cobras, cobras perigosas, letais...
A expressão da bibliotecária mudou da impaciência para a desconfiança. Hermione poderia jurar que viu um brilho de curiosidade em seus olhos apáticos. Sem fazer perguntas, Madame Pince sumiu-se por entre as prateleiras e voltou logo em seguida com um livro muito velho, em cuja capa estava escrito, em letras douradas: O poder mortal das serpentes.
— Obrigada.
Com o livro posto debaixo do braço, Hermione dirigiu-se para uma das mesas destinadas ao uso dos alunos. Naturalmente, em uma manhã de sábado em que acontecia um jogo de quadribol, a biblioteca encontrava-se vazia exceto por ela mesma, a bibliotecária e ainda uma garota que estudava em uma mesa afastada da que Hermione escolheu. Tinha a impressão de que a garota era monitora da Corvinal.
Baixou a cabeça e abriu o livro, concentrada e nervosa. Sentia uma tremedeira de excitação, como se não houvessem veias suficientes por onde seu sangue correr, ou área cerebral suficiente para tantos pensamentos simultâneos.
Hermione leu sobre diversas espécies de cobras, até que chegou em uma que pareceu ser exatamente o que estava procurando:

Das muitas feras e monstros medonhos que vagam pela nossa terra não há nenhum mais curioso ou mortal do que o basilisco, também conhecido como rei das serpentes. Esta cobra, que pode alcançar um tamanho gigantesco e viver centenas de anos, nasce de um ovo de galinha, chocado por uma rã. Seus métodos de matar são os mais espantosos, pois além das presas letais e venenosas, o basilisco tem um olhar mortífero, e todos que são fixados pelos seus olhos sofrem morte instantânea. As aranhas fogem do basilisco, pois é seu inimigo mortal, e o basilisco foge apenas do canto do galo, que lhe é fatal.

O coração dela pareceu parar por um momento. Depois, voltou batendo mais forte do que nunca. Releu o texto. “Rei das serpentes”, pensou, “serpentes, Slytherin, ofidioglota, serpentes, Sonserina... Tamanho gigantesco... centenas de anos! Ela vive por centenas de anos... Presas... Não as usou... usou apenas o olhar... Mas o olhar é fatal... Por que as pessoas não morreram?”
Neste momento, o baque surdo de um livro caindo em algum lugar dentro da biblioteca a trouxe de volta dos devaneios. Baixou a cabeça em seguida e continuou. “Fatal... olhar fatal... Mas as pessoas não morreram. Da outra vez, uma pessoa morreu. Mas por que só uma? Nick Quase Sem Cabeça não podia morrer pois já estava morto... Mas ficou em um estado terrível... Justino não morreu! Justino viu o basilisco através do fantasma de Nick... E a gata do Filch o viu refletido na água que inundava o chão naquele dia. Reflexo... Reflexo! O reflexo protege do olhar mortal, de certa maneira o filtra, torna-o mais fraco... Por isso as pessoas ficam apenas petrificadas! Colin Creevey... Colin viu o basilisco pela lente da máquina fotográfica! As aranhas fogem do basilisco, tudo se encaixa! As aranhas que vimos! Mas tem algo errado...”
Hermione respirou fundo e apertou os olhos, tentando desacelerar o coração e os pensamentos, que lhe davam uma sensação de sufocamento. Voltou ao livro. Havia um problema... “Tudo bem, um basilisco, uma cobra gigante. Mas alguém teria que vê-la em algum lugar, rastejando pela escola... Harry dizia que ouvia a voz, subindo... As aranhas fugiam, andando pela parede... Canos! Canos! O basilisco rastejava pelos canos, dentro das paredes, só saía para atacar... Comandado pelo herdeiro... Que deve também ser um ofidioglota!”
Ouviu-se um grito estridente que disse:
— Hermione, cuidado!
Vinha de algum corredor perto dali e era a voz de Gina Weasley. Hermione mordeu o lábio, passando o olhar por onde a monitora da Corvinal estava sentada, mas o lugar estava vazio. A garota afastava-se, em direção à porta, mas Hermione sentiu que não podia deixar que a garota saísse naquele momento. Pôs-se em pé, como por reflexo, e gritou:
— Espere!
A garota parou subitamente e virou-se para Hermione, perplexa. Madame Pince aproximou-se, com uma expressão de espanto.
— Onde pensa que está?
— Mil desculpas... — Acenou com a mão para a garota, parada perto da porta, num sinal de que esperasse mais um pouco.
Madame Pince voltou a sumir atrás do balcão. Hermione pegou uma pena que encontrava-se em cima da mesa, molhou na tinta ao lado e escreveu no canto da folha referente ao basilisco: “Canos”. A seguir arrancou-a, desejando que Madame Pince jamais descobrisse a profanação.
A garota da Corvinal ainda encarava-a, séria, à espera de uma explicação. Hermione segurava a página do livro na mão direita, com muita força. Correu até a garota. Ofegante, perguntou:
— Você não tem aí, por acaso, um espelho?
— O quê? Tem espelho nos banheiros, por que você não...
— Não é nada disso. — disse Hermione apressou-se em dizer. — É muito importante, você tem um espelho?
A garota, ainda que contrariada, tirou da mochila um pequeno espelho circular, que Hermione praticamente arrancou de sua mão. A garota pôs as mãos na cintura e uma expressão de incredulidade no rosto.
— Você é maluca, garota?
— Vamos sair juntas daqui. Mas é muito importante, preste atenção: faça o que fizer, não olhe para lugar algum, só para o espelho. Vamos refletir o caminho com ele. É muito importante, não olhe para lugar algum.
— Você só pode estar brincando...
Hermione começou a perder a paciência.
— Escute: você pode até não acreditar em mim, mas eu estou dizendo que se você não olhar apenas para este espelho você corre risco de vida.
A outra ainda parecia perplexa.
— Tem a ver com aquele grito agora há pouco? “Cuidado”?
— Eu já lhe disse qual é o risco. Se você quiser sair sozinha o problema é seu. Eu vou usar o espelho, porque não quero morrer.
A garota agarrou-se ao braço de Hermione, já olhando para o espelho, e disse:
— Vamos.
Hermione abriu a porta da biblioteca, com a garota ao seu lado e refletindo o caminho à frente com o espelho. Saíram e fecharam outra vez a porta. Andavam devagar, uma ao lado da outra, refletindo o caminho com o espelho.
Foi então que a visão de algo enorme e negro lhes tirou o fôlego. Viram no espelho o reflexo de dois olhos amarelos muito penetrantes, e depois disso não viram mais nada.

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