O Diário



— CAPÍTULO ONZE —
O Diário




Madame Pomfrey aproximou-se da cama de Hermione para retirar a bandeja do café da manhã, que repousava sobre seus joelhos praticamente intocada.
— Com bigodes ou não, deveria se alimentar melhor. — reclamou a enfermeira.
Hermione esperou pelo momento em que ela perguntaria o que tinha acontecido para dar-lhe aquela aparência de gato; mas a pergunta não veio. Madame Pomfrey afastou-se e deixou-a sozinha. Ela lançou um olhar furtivo a Colin Creevey, petrificado algumas camas além da dela. O pior de tudo era que todo o esforço que ela, Rony e Harry tinham feito tinha sido em vão.
Na noite anterior, quando os meninos retornaram ao banheiro da Murta Que Geme, Hermione estava tão transtornada com o que havia lhe acontecido que tudo o que eles puderam contar a ela era que Draco Malfoy não era o herdeiro de Slytherin como suspeitavam.
Sentia agora uma ponta de vergonha por ter chorado na frente deles, chamando a si mesma de burra por não ter percebido que o que pegara de Emilia Bulstrode era pêlo de gato. Mas justificava-se a si mesma, lembrando como tinha sido difícil descobrir da pior maneira que a poção não servia para transformações de humanos em animais e ainda por cima ouvindo o deboche histérico de Murta.
Pouco depois, porém, Rony e Harry entraram pela porta da ala hospitalar para visitá-la. Puderam então contar-lhe os detalhes da conversa com Malfoy.
— Ele disse que o pai dele não quis dar as informações que tem sobre a câmara secreta — disse Harry.
— Disse que seu pai não queria que ele soubesse detalhes para não levantar suspeitas. — completou Rony. — Mas disse que queria saber quem era o herdeiro, para ajudá-lo. Disse que da outra vez um trouxa morreu, e que desejava desta vez mais um trouxa morresse, que queria que fosse...
— Você. — disse Harry, como Rony não demonstrasse que tinha a intenção de terminar a frase. Nesse momento as orelhas de Rony tingiram-se de vermelho e seu rosto exibiu uma expressão de ódio intenso. Perante àquela demonstração dele, Hermione acabou nem se importando com o fato de Malfoy desejar sua morte. — Ele disse ainda — continuou Harry — que seu pai falou que a câmara secreta foi aberta da outra vez há cinqüenta anos, e que embora não tenha lhe contado quem foi, contou que a pessoa foi expulsa.
Hermione ficou pensativa por um instante, mas uma risada de Rony a desconcentrou. Quando olhou para ele, ele disse:
— Desculpe, Mione, mas você ficou muito engraçada com esses pêlos todos e esses olhos amarelos...


Hermione permaneceu na ala hospitalar por longas semanas, tomando medicamentos até todos os vestígios felinos sumirem, o que aconteceu apenas no início de fevereiro. Depois que as aulas tinham recomeçado, haviam boatos de que ela teria sumido das aulas porque tinha sido petrificada.
Sem se importar com isso, ela fizera questão que Rony e Harry, que a visitavam todas as tardes, lhe trouxessem sempre a matéria e os deveres que estava perdendo. Rony sempre a criticava, dizendo que se estivesse na situação dela aproveitaria para ter uma folga. Ela, por sua vez, sempre se defendia alegando que precisava manter-se em dia com os estudos.
No dia em que recebeu alta, os meninos foram buscá-la depois do jantar. Harry disse logo:
— Vamos subir logo para a torre, tem algo que preciso mostrar a você.
Reuniram-se em seu canto habitual na sala comunal da Grifinória, onde Harry estendeu a Hermione um livrinho de capa preta desbotada.
— O que é? — perguntou ela.
— Um diário.
Pela data, tinha cinqüenta anos. Hermione folheou: estava todo em branco, exceto por um nome escrito em uma das primeiras páginas.
— T. S. Riddle. — leu em voz alta. — Quem é?
— Não sabemos — Harry disse.
— Só o que sabemos é que ganhou um prêmio da escola por serviços especiais prestados, há cinqüenta anos atrás. Sei porque esfreguei o troféu na minha detenção com Filch; tive que retirar lesmas dele várias vezes, porque foi naquele dia em que eu estava vomitando lesmas. Mas o diário está todo em branco, não entendo porque você ainda não jogou fora, Harry.
— Pois eu quero descobrir justamente por que alguém quis jogá-lo fora. O encontramos no banheiro da Murta, ela disse que alguém o atirou lá.
Hermione trocou um olhar significativo com Harry. Rony ficou impaciente com a impressão que tinha de estar sendo excluído de uma conclusão importante.
— Que foi? — perguntou ele, alternando o olhar entre um e outro.
— Bem, — disse Harry. — a câmara secreta foi aberta há cinqüenta anos, certo? Na mesma época, o dono do diário ganhou um prêmio por serviços especiais prestados à escola.
— E este diário também tem cinqüenta anos. — Hermione acrescentou.
— E daí?
— Ora Rony, acorda. A câmara foi aberta há cinqüenta anos, e a pessoa que a abriu foi pega e expulsa. No mesmo ano, Riddle ganhou um prêmio por serviços prestados à escola, será que o motivo não foi ter descoberto quem era o herdeiro de Slytherin? Talvez esteja tudo detalhado neste diário.
— Brilhante, Hermione. — disse Rony debochado. — Só tem um pequeno furo: o diário está todo em branco.
— Mas ele pode ter algum feitiço especial para esconder o que tem escrito.
Ela sacou a varinha imediatamente e lançou alguns feitiços sobre o diário, mas sem nenhum efeito. Tentou ainda usar um revelador de tinta invisível que comprara no Beco Diagonal, mas as páginas ainda continuaram em branco.
— Estou dizendo, não há o que achar aí. — disse Rony. — Riddle simplesmente ganhou um diário e não se deu ao trabalho de usá-lo.


Embora Rony não visse motivo, Hermione e Harry insistiam que o diário era importante na resolução do mistério da câmara.
— Só pode ser muita falta de outras provas. — Rony resmungou, no dia em que Harry resolveu olhar o troféu de T. S. Riddle. — E mesmo assim, eu o conheço de cor, poderia descrever todos os detalhes.
— Não reclame tanto, Rony. — disse Hermione, irritada. — Não consigo ficar de braços cruzados, você consegue?
Ele não respondeu com palavras, apenas com um profundo suspiro. Harry anunciou que tinham chegado à sala dos troféus. Não demoraram a achar o troféu de Riddle, que era muito bonito mas não mencionava quais seriam os serviços especiais que ele tinha prestado. Acharam ainda uma medalha atribuída a Riddle e o nome dele constava entre os monitores e monitores-chefes de sua época.
— Esse Riddle parece o Percy... Prêmios, medalhas, monitor, monitor-chefe...
Hermione imediatamente dirigiu-lhe um olhar magoado, vestindo a carapuça e ofendendo-se.
— Você fala isso como se fosse uma coisa ruim. — disse.



— Mione! Mione, acorde!
Hermione despertou sobressaltada, e deu de cara com Harry ao lado de sua cama.
— Harry! O que está fazendo aqui?
— Venha, preciso contar uma coisa. É urgente! Vou esperar na sala comunal.
E saiu do quarto. Hermione levantou-se, ainda atordoada, e vestiu o robe imaginando o que podia ser tão urgente. Olhou o relógio, era quase meia-noite. Desceu as escadas em espiral e lá embaixo encontrou Rony e Harry sozinhos.
— O que aconteceu? — perguntou alarmada. Sentou-se na frente deles, alternando o olhar entre um e outro.
— Descobrimos quem abriu a câmara secreta há cinqüenta anos atrás. — disse Rony.
Hermione sentiu seus músculos todos paralisaram-se.
— Como?
— O primeiro passo — disse Harry. — foi descobrir como ler o diário de Riddle.
Hermione sentiu o coração dando um pulo em direção à sua garganta.
— Como você fez?
— Escrevi nele e descobri que ele engolia a tinta. Um pouco depois, ele respondia.
— O que você perguntou?
— Comecei dizendo meu nome, e ele disse que o dele era Tom. Contou-me que, conforme você suspeitava, ele apanhou o herdeiro de Slytherin.
— Nossa! — Hermione exclamou, levantando-se. Mas como os meninos não parecessem nem um pouco entusiasmados, voltou a sentar-se. — O que houve? — perguntou. — Vocês vão ou não vão me contar quem abriu a câmara?
— Aí é que está. — disse Harry, sem a menor pressa de dar a informação. — A pessoa que Tom Riddle pegou e que foi expulsa de Hogwarts como responsável pela abertura da câmara secreta e pelos ataques aos trouxas foi Hagrid.

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