Natal Sombrio em Hogwarts
Natal Sombrio Em Hogwarts
O inverno chegou repentinamente e castigou os terrenos de Hogwarts. Já não se enxergava o verde da grama e das plantas, e sim o branco da neve que cobria cada milímetro do castelo e seus arredores.
As suspeitas de Rony acabaram por se confirmar. Toda a vez que ele, Hermione e Harry passavam por algum lugar, as pessoas se afastavam como se fossem pegar uma doença. Era comentário geral da maioria que Harry era o herdeiro de Slytherin e responsável pelos ataques.
A última aula de Herbologia do período letivo foi cancelada. A profa. Sprout queria ter cuidados especiais com as mandrágoras quanto ao frio, já que elas seriam tão importantes para ressuscitar os atacados. Os alunos permaneceram nas salas comunais de suas casas. Hermione, enrolada em um cobertor na poltrona à frente da de Rony, travava com ele uma partida de xadrez de bruxo. Estava perdendo, como de costume.
— Queria esclarecer as coisas com Justino. — disse Harry, sentado perto deles e referindo-se ao menino da Lufa-Lufa que todos pensavam que ele tinha mandado a cobra atacar.
— Ora, Harry... — disse Hermione. — Então vá procurá-lo.
Harry foi.
— Será que Justino vai acreditar nele? — perguntou Rony.
— Não é que seja difícil de acreditar nele, mas essa boataria que anda correndo pela escola... A história já ficou muito maior do que realmente era. Tem gente dizendo que Harry tem uma cobra escondida no dormitório... Acho difícil.
Rony apenas comprimiu os lábios, pesaroso. Continuaram jogando em silêncio até que, verificando o relógio, Hermione disse:
— Está na hora da aula da profa. McGonagall. Será que Harry irá direto para lá?
— Não sei, mas acho melhor irmos andando; McGonagall nunca deixa os atrasados entrarem.
A aula já começara e Harry ainda não tinha voltado. Talvez ele tivesse se atrasado e, seguindo o mesmo raciocínio de Rony, não tivesse nem tentado entrar na aula. Hermione deixou a preocupação com Harry de lado e prendeu completamente sua atenção na aula, anotando tudo o que a professora dizia e escrevia no quadro.
Um som de vozes gritando começou a ser ouvido um pouco depois, e foi ficando mais alto. Havia também o barulho de dezenas de pares de pés correndo; um tumulto geral acontecia nos corredores da escola. Minerva McGonagall pediu licença aos alunos e saiu correndo para ver o que estava acontecendo. Aos poucos, os alunos começara a sair também, na intenção de descobrir qual era o problema. Rony convenceu Hermione a ir também, mas ela ainda temia ser repreendida pela professora, conforme corria atrás do amigo.
A cena que atraía tanta confusão era algo realmente assustador; Hermione e Rony pararam na entrada da sala em que a maioria das pessoas estavam aglomeradas, e o que elas todas observavam era a imagem mórbida de Justino Finch-Fletchley, justamente o garoto que Harry fora procurar, caído no chão evidentemente petrificado. Pairando ao lado dele, Nick Quase Sem Cabeça também poderia ser considerado petrificado, se não fosse um fantasma... O fato é que ele também tinha os olhos vidrados e estava completamente imóvel, além de ter mudado sua cor do branco perolado habitual para um preto fumegante.
Harry, boquiaberto, também observava a cena. Pirraça flutuava ao redor, anunciando histericamente que houvera outro ataque e que agora nem os fantasmas mais estavam seguros.
Com um movimento da varinha, que causou um estalo muito alto, a profa. McGonagall restabeleceu o silêncio. Correu os olhos pelos alunos e logo depois ordenou:
— Todos para suas casas. Agora!
Os alunos começaram a dispersar-se, correndo, em obediência à ordem.
— Venha, Rony — disse Hermione, puxando o amigo pelo braço.
— Mas e Harry?
— Falaremos com ele depois. Tenho certeza de que ele não tem nada a ver com isso. Você concorda comigo, não concorda?
— Claro — apressou-se ele.
— Então vamos.
Hermione e Rony sentaram-se na sala comunal, junto com muitos outros alunos da Grifinória que comentavam os acontecimentos em voz alta. Os dois esperavam e volta de Harry. Não demorou muito, porém, para que o amigo entrasse na sala. Ele andou diretamente até onde os amigos estavam, com uma expressão aflita.
— Não tive nada a ver com o que aconteceu, — disse ele apressadamente — quando eu cheguei lá eles já estavam naquela posição, eu...
— Harry, sabemos que não foi você. — disse Rony.
— Que bom. — Harry acomodou-se em uma poltrona, aliviado. — Dumbledore também sabe.
— Dumbledore? — Hermione quis saber.
— A profa. McGonagall me levou até a sala dele, disse que ele queria falar comigo. Pensei que seria expulso... Mas Dumbledore me disse apenas que sabe que não fui eu.
— Será que ele sabe quem é? — disse Rony.
— É provável. — disse Hermione. — Mas ainda precisamos provar que Malfoy é o culpado, e acabar com toda essa confusão.
Por causa do terceiro ataque, quase todos os alunos da escola quiseram passar as férias de fim de ano em suas casas. Na Grifinória, por exemplo, sobraram apenas Hermione, Harry e os Weasley. Sabiam eles que Draco e seus amigos Crabbe e Goyle também tinham ficado, o que tornava a situação muito propícia para a prática do plano da poção Polissuco.
Na manhã de Natal, então, Hermione acordou-se muito cedo. Antes mesmo de procurar presentes, correu ainda vestindo sua camisola até o banheiro da Murta Que Geme. Por causa do frio, apertava o robe contra o corpo. Levava consigo um saquinho contendo hemeróbios.
Já olhando para a poção e acrescentando os hemeróbios, Hermione concluiu exultante que ela estava finalmente pronta. Mexeu-a mais um pouco e voltou à torre da Grifinória. Subiu correndo ao dormitório e vestiu-se. Harry e os Weasley ainda dormiam, constatava ela, devido ao silêncio.
Na sala comunal, ao redor da grande árvore de Natal, havia uma porção de pacotes de presentes. Procurou os que tinham seu nome, e os que comprara para Rony e Harry. Ganhara livros dos pais, bolinhos de Hagrid, uma agenda de Harry e um conjunto de pergaminhos decorados de Rony. Achou ainda mais um pacote, e era um suéter com um “M” bordado, presente da Sra. Weasley. Sorriu, levou correndo seus presentes para o dormitório feminino e depois seguiu para o masculino.
— Meninos! Acordem!
Os dois despertaram sobressaltados. Rony resmungou:
— Mione? Você não devia estar aqui...
— Feliz Natal para você também — disse ela, atirando-lhe seu presente. — Estou acordada há quase uma hora, estive acrescentando hemeróbios à poção. Está pronta.
Harry sentou-se na cama.
— Tem certeza?
— Positivo. — respondeu ela, afastando Perebas para poder sentar-se na cama de Rony. — Acho que devemos usá-la hoje à noite.
O almoço de Natal foi magnífico. O salão principal estava lindo, decorado com uma dúzia de pinheiros decorados e neve encantada caindo do teto. A comida também estava deliciosa. Rony e Harry estavam tão concentrados nela que nem perceberam quando Hermione se ausentou.
Cautelosamente, ela furtou dois bolinhos de chocolate da mesa e correu para a torre da Grifinória com eles. Subiu diretamente para o dormitório feminino deserto, e tirou do malão seu caldeirão e sua caixa de ingredientes para poções. Com rapidez e habilidade, preparou uma poção do Sono, que injetou depois nos bolinhos. Satisfeita com o trabalho, voltou ao salão principal, onde “capturou” os amigos para discutir detalhes finais do plano.
— Escutem: já tenho tudo planejado para que vocês peguem os pedaços de Crabbe e Goyle. Afinal, eles são os melhores amigos de Draco. Recheei esses bolinhos com poção do sono. É só vocês darem um jeito de que os dois os encontrem e comam. Quando eles caírem adormecidos, vocês pegam fios de cabelo e os escondem em um armário de vassouras.
— Tem certeza de que acha que isso vai dar certo? — perguntou Harry.
Hermione irritou-se com as expressões incrédulas dos garotos.
— Todo o trabalho que tivemos até agora será inútil sem os pedaços deles. Vocês não querem descobrir se Draco é o herdeiro de Slytherin? Pois chegou o momento.
— E você, — disse Rony, acusador. — vai pegar o fio de cabelo de quem?
Hermione tirou de dentro das vestes um frasco contendo o fio de cabelo de Emilia Bulstrode.
— Como ela foi para a casa — explicou. — só preciso dizer a eles que resolvi voltar mais cedo.
Houve um chá de Natal à tarde, e foi depois dele a hora escolhida para a execução do plano. Enquanto Rony e Harry livrariam-se de Crabbe e Goyle, Hermione ficou de guarda ao lado da poção, que borbulhava e fumegava com seu aspecto viscoso de lama preta.
— Mione! — Era a voz de Rony, e ele batia na porta do boxe. Hermione abriu.
— Conseguiram?
— Sim — disse Harry. Aqui está.
Harry e Rony entregaram a ela os fios de cabelo que tinham arrancado. Ela pegou do bolso o frasco com o cabelo de Emilia Bulstrode. Serviu poção em três cálices e juntou os fios. Cada uma ficou de uma cor mais repugnante que a outra.
— Acho que fiz tudo certo... — Hermione disse, revisando mais uma vez a receita. — A partir do momento em que nos transformarmos, teremos uma hora até voltarmos ao normal.
— É melhor tomarmos em boxes separados — disse Harry. — Quando nos transformarmos, não caberemos todos juntos aqui dentro.
— Bem pensado — disse Rony.
Quando já estavam cada um em um boxe, Harry disse:
— Prontos?
Hermione e Rony responderam que sim em uníssono. Hermione virou o cálice e sentiu um gosto condizente com a aparência asquerosa do líquido. Imediatamente, sentiu algo sacolejar dentro de sua barriga, e um formigamento incômodo nos braços e pernas. Começou a sentir, porém, uma enormidade de pêlos crescendo por seu corpo todo.
Quando tudo terminou, Hermione tocou seu rosto e sentiu-o coberto de pêlos macios. Tinha grandes orelhas saindo de dentro dos cabelos e o pior de tudo: um rabo que levantava e sacudia sua saia por baixo. Ouviu as vozes de Crabbe e Goyle dizendo coisas como “incrível” ou “ficou igualzinho”. E a seguir uma batida na porta.
— Venha, Mione. O tempo está passando.
Ela não sabia de quem era a voz, se era de Crabbe ou Goyle, então não sabia se era Harry ou Rony. De qualquer maneira, respondeu:
— Acho que não vou... Vão indo sem mim.
A cabeça em turbilhão, Hermione revivia todos os momentos que passara com o fio de cabelo de Emilia Bulstrode. Como não percebera que era um pêlo? Um pêlo de gato... Emilia devia ter um gato...
— Ora, Mione. Sabemos que a Emilia é feia, mas ninguém saberá que é você.
— Vão indo, estão perdendo tempo!
— Você está bem?
— Ótima, agora vão!
Quando ouviu a porta se fechar, Hermione desatou num choro convulsivo. No instante seguinte, Murta Que Geme adentrou o boxe, soltou uma gargalhada e gritou:
— Você virou um gato horrível!
anúncio
Comentários (0)
Não há comentários. Seja o primeiro!