Poção Polissuco
Poção Polissuco
O domingo amanheceu frio, o que provavelmente fez com que muitos alunos ficassem até mais tarde na cama. Hermione estava sentada na sala comunal, sozinha, esperando Rony. Tinham combinado na noite anterior que iriam visitar Harry logo depois do café da manhã.
Como Rony não viesse nunca, ela subiu até o dormitório masculino. Não surpreendeu-se ao encontrar o amigo profundamente adormecido em sua cama.
— Rony! — sussurrou. — Rony, acorde!
Rony remexeu-se na cama, sem abrir os olhos. Hermione sacudiu-o outra vez. — Rony!
— Mione! O que está fazendo aqui?
— Acordando você! Não lembra do que tínhamos combinado?
A conversa dava-se em sussurros furiosos.
— Lembro, mas por que tão cedo?
— Não é cedo, são dez da manhã!
— Mas hoje é domingo!
— Então durma, e eu vou vê-lo sozinha.
Ela fez menção de retirar-se do quarto.
— Espere... Só vou me trocar, desço em um minuto.
Hermione assentiu satisfeita, mas antes de sair disse:
— Você vai se arrepender se voltar a dormir.
Rony demorou poucos minutos para aparecer na escada em espiral. Hermione levantou-se da poltrona onde estivera esperando, e juntos se encaminharam para a saída da torre.
— Vamos tomar café primeiro, não vamos? — Rony perguntou, aflito.
Hermione riu.
— Você é mesmo um morto de fome!
Ficaram sorrindo um para o outro, e como ficassem assim por um instante a mais que o necessário, ambos coraram. Hermione empertigou-se e atravessou o retrato, seguida por Rony.
Quando mal tinham alcançado o corredor, ouviram algo que os fez parar de andar imediatamente para ouvir.
— ... ontem à noite — dizia a profa. McGonagall.
— Qual é o nome do menino? — perguntou o interlocutor, era o prof. Flitwick, de Feitiços.
— Colin Creevey, da Grifinória.
Hermione sentiu um arrepio forte na espinha. Colin era um menino do primeiro ano. Carregava sempre consigo uma máquina fotográfica, e seu modelo preferido era Harry, por quem tinha uma enorme adoração.
— Ele era...?
— Nascido trouxa. O encontramos perto da escada, petrificado, segurando a máquina fotográfica à frente do rosto. Se conseguiu tirar uma foto do que o atacou, nunca saberemos. O filme inteiro queimou.
— Onde ele está agora?
— Na ala hospitalar. Mas você compreende o que isso significa?
— É o que estou pensando, Minerva?
— Sim. A Câmara Secreta foi mesmo aberta.
Com aquela nova informação, Hermione decidiu cancelar a visita a Harry e agilizar o preparo da Poção Polissuco. Disse a Rony que tomasse café no salão principal e depois a encontrasse no banheiro da Murta Que Geme, onde ambos concordaram que seria um bom lugar para trabalharem escondidos.
Agora, ela dirigia-se à sala da aula de Poções, nas masmorras, sentindo o corpo tremer inteiro de medo de ser descoberta por alguém. Ao chegar na sala, certificou-se de que estava vazia, e então entrou. Foi diretamente ao armário, onde ficavam guardados os ingredientes que seriam usados pelos alunos. Olhando um papel no qual escrevera os ingredientes, ela separou todos da lista que constavam ali. Pegou ainda um dos vários caldeirões velhos que ali ficavam para serem usados por algum aluno que ocasionalmente estivesse sem o seu.
E assim Hermione deixou a sala, carregando os ingredientes e o caldeirão e desejando ao mesmo tempo ter uma capa de invisibilidade e que ninguém estivesse, naquele momento, usando uma para vigiá-la, já que não encontrou absolutamente ninguém visível em seu caminho até o banheiro feminino do primeiro andar.
Tão logo entrou no banheiro, ouviu o choro baixo de Murta. Ignorou-o e fechou-se dentro de um boxe. Conjurou um fogo portátil dentro do vaso sanitário e pôs o caldeirão em cima, começando depois a preparar os ingredientes. Tomou um susto quando uma voz sussurrou:
— Mione!
Mas era Rony; ela respirou aliviada.
— Aqui — disse, abrindo a porta do boxe. Rony entrou e tornou a fechá-la.
— Conseguiu pegar tudo?
— Faltaram os que não estão disponíveis para os alunos. Teremos que pensar em uma maneira de pegá-los no armário particular de Snape...
— Você fala como se fosse fácil!
Hermione comprimiu os lábios, era algo realmente sério e perigoso invadir o armário de Snape. Lembrou-se de Colin Creevey.
— Mais um aluno foi atacado, Rony. — disse Hermione.
O olhar que trocaram a seguir significou o que mais temiam: que ela fosse a próxima. Rony começou a ajudá-la a cortar os ingredientes.
Harry apareceu no banheiro mais tarde, assustando Hermione e Rony.
— Que bom que Madame Pomfrey deixou você sair — disse ela, recuperando-se do susto. — Como está seu braço?
— Ótimo... Mas tem algo que preciso contar a vocês. Lembram do Dobby?
Harry contara a Hermione e Rony que um elfo doméstico chamado Dobby aparecera misteriosamente em sua casa durante as férias, dizendo que ele não deveria retornar à escola. Na época, o elfo até interceptava as cartas que ele recebia.
— O elfo? — perguntou Rony.
— Ele mesmo. Esteve na ala hospitalar ontem à noite, e me disse que foi ele quem enfeitiçou o balaço, e também foi ele que nos impediu de atravessar para a plataforma nove e meia.
— Mas por que diabos? — perguntou Rony indignado.
— Para me impedir de continuar em Hogwarts. ele diz que eu corro perigo, porque a câmara secreta foi reaberta.
Hermione, que até então ouvia mas mantinha os olhos concentrados no preparo dos ingredientes da poção, levantou os olhos para Harry e disse, ansiosa:
— Espere, pode repetir isso? Como assim reaberta?
— Isso mesmo — disse Harry. — Dobby disse que a câmara já foi aberta uma vez.
— Faz sentido! — disse Rony admirado. — Isso significa que Lúcio Malfoy a abriu quando estudou aqui, e agora ensinou a Draco como fazer o mesmo.
Depois disso, os três empenharam-se ainda mais na poção.
Nos dias que se seguiram, Hermione, Harry e Rony discutiram exaustivamente sobre como tentar obter os ingredientes que faltavam para a poção, até que entraram num consenso.
— Vocês dois precisam armar uma confusão enorme, para distrair Snape. Enquanto isso, eu entro lá e pego a pele de ararambóia e o chifre de bicórnio. É melhor que vocês não façam isso, ou serão certamente expulsos depois de tantas confusões que já arranjaram.
As orelhas de Rony tingiram-se de vermelho e ele parecia pronto para defender-se, mas Hermione impediu-o com um movimento da mão, dizendo:
— Por favor, Ronald, agora não; é um momento crítico.
Os três estavam sozinhos na sala comunal da Grifinória, numa noite de quarta-feira. Na tarde do dia seguinte, teriam aula de Poções e executariam seu plano. Hermione andava de um lado para o outro, discutindo detalhes finais do plano. Liderava o grupo com o máximo de coragem que podia demonstrar; mas por dentro estava completamente apavorada.
— Poção para Fazer Inchar. — anunciou Snape, com desânimo. Pôs lentamente os ingredientes no quadro e depois mandou os alunos começarem a trabalhar imediatamente.
Enquanto eles picavam e amassavam ingredientes, o professor passava por entre os caldeirões, criticando os alunos da Grifinória e elogiando os da Sonserina. Num momento em que viu Snape de costas, Hermione fez um sinal para Harry que, escondido debaixo da carteira, acendeu um fogo de artifício emprestado por Fred e Jorge e jogou-o dentro do caldeirão de Goyle, respingando Poção para Fazer Inchar na maioria dos alunos.
O caos tomou conta do recinto. Snape tentava em vão fazer com que os alunos parassem de gritar e correr por todos os lados, enquanto partes de seus corpos inchavam absurdamente. Hermione aproveitou para esgueirar-se para dentro da sala do professor.
Ouvia as batidas de seu coração como se fosse um toque de tambor, alto e grave. Percorreu os dedos trêmulos de nervosismo por entre inúmeros vidros de ingredientes, tentando ler nos rótulos os nomes que procurava. Achou primeiro o chifre de bicórnio. Depois, achou a pele de ararambóia, bem no fundo de uma das prateleiras. Escondeu os vidros nas vestes e saiu sorrateiramente. Retornou para seu caldeirão sem que ninguém percebesse que estivera ausente.
— Ele sabia que tinha sido eu — disse Harry. — Eu senti.
— Ele não terá como provar que foi você, Harry — disse Rony, para tranqüilizar o amigo.
Hermione não ouviu; adicionava empolgada os novos ingredientes à poção, e depois mexeu a mistura borbulhante, anunciando:
— Vai ficar pronta em duas semanas.
Os três sorriram.
Quando dirigiam-se ao salão principal para jantar, viram em um mural um aviso sobre um clube de duelos que aconteceria ali mesmo no salão, às oito da noite. Empolgados, conversaram sobre o clube durante o jantar e na sala comunal, enquanto esperavam o tempo passar. Às oito, os três desceram para o salão apinhado de alunos ao redor de um palco comprido.
— Quem será o professor? — Hermione perguntou.
E então Gilderoy Lockhart adentrou o salão seguido por Severo Snape.
— Todos podem me ver e ouvir? — perguntou Lockhart. — Ótimo. Sejam bem-vindos. Em vista dos recentes acontecimentos, resolvi apresentar este clube de duelos aos senhores, para que aprendam técnicas de defesa em casos de perigo como os tantos que eu mesmo já enfrentei.
Hermione lembrou-se tristemente do que o professor fizera com o braço de Harry. Mas riu internamente quando ele apresentou Snape como seu “assistente”. Na verdade, todos estavam achando hilária a expressão de ódio que Snape dirigia a Lockhart.
— Comecemos, então — disse Lockhart, fazendo um floreio com a varinha e indo para o lado oposto ao de Snape no palco. Os dois apontaram as varinhas um para o outro.
— Expelliarmus! — gritou Snape, fazendo sair de sua varinha um raio vermelho que atingiu Lockhart tirando-lhe a varinha e derrubando-o no chão.
Lockhart levantou-se com aquela mesma expressão de constrangimento que fizera ao perceber que seu feitiço não funcionara para curar o braço de Harry.
— Obviamente, Severo, seu golpe era totalmente previsível. Deixei que você o aplicasse, porém, pois achei instrutivo para os alunos. — e agora dirigiu-se aos alunos: — Este é o feitiço do desarmamento. Agora formem pares com os colegas para praticá-lo.
Snape fez questão de garantir que Hermione, Harry e Rony seriam separados. Colocou-a contra uma menina da Sonserina chamada Emilia Bulstrode, bem maior do que ela. Harry fez par com Draco Malfoy e Rony com Simas Finnigan.
Antes mesmo de Lockhart anunciar o início das batalhas, Hermione já temia o olhar assassino que Emilia Bulstrode lhe dirigia. Assim que o professor mandou começarem, então, não pensou duas vezes e gritou com uma voz esganiçada:
— Expelliarmus!
Emilia caiu para trás e sua varinha a alguns metros de distância. Quando se levantou, porém, pareceu não dar pela falta da varinha, pois avançou diretamente até Hermione e desferiu-lhe um soco na boca que a atirou tanto quanto ou mais longe do que o feitiço que ela lhe lançara. Sentindo gosto de sangue na boca, Hermione tentou inutilmente se levantar enquanto a outra apertava seu pescoço com um dos braços.
Choramingando de dor, Hermione percebeu que todas as outras batalhas tinham sido paralisadas. Rony olhava para ela, naquela situação, com uma expressão de pânico. Harry foi mais prático e com certa dificuldade conseguiu soltar Hermione do braço de Emilia Bulstrode.
Uma vez livre, Hermione afastou-se o quanto pôde da adversária. Havia sangue em suas vestes, e quando ela foi limpá-lo achou mais uma coisa ali: um fio de cabelo. Sorriu internamente. “Acabo de conseguir um pedaço de uma pessoa da Sonserina em quem me transformar com a poção Polissuco”, pensou.
— Atenção! — disse Lockhart. — Gostaria de lembrar a todos que os duelos não são físicos. — Hermione ouviu risadinhas das pessoas ao redor. — Vocês devem usar suas varinhas aqui. Façamos mais uma demonstração então. Chamarei dois alunos... Harry Potter!
Snape adiantou-se e chamou:
— Draco Malfoy!
Neste momento Rony postou-se ao lado de Hermione.
— Mione, você está bem?
— Estou... Obrigada, Rony. — ela passou a mão pelo lábio machucado, e como a mão continuasse limpa concluiu que o sangue estancara.
Harry e Draco encaravam-se com ódio. Antes que os professores anunciassem o início do duelo, Malfoy gritou:
— Serpensortia!
Um raio que saiu da varinha dele transformou-se em uma cobra, rastejando no meio do palco em direção a Harry. Subitamente, ela mudou seu alvo, e começou a se aproximar rapidamente de um menino da Lufa-Lufa. Harry então abaixou a varinha e começou a fazer sons estranhos com a voz.
Hermione e Rony se entreolharam. Ela perguntou, com o cenho franzido:
— Ele é um...?
— Ofidioglota. — completou Rony.
Hermione estremeceu. Ofidioglota era uma pessoa capaz de falar a língua das cobras. Pouquíssimos bruxos tinham essa habilidade, e um dos mais conhecidos ofidioglotas era Salazar Slytherin. Harry conversava com a cobra, causando espanto em todos os presentes. Hermione e Rony também se assustaram; Harry parecia estar incitando a cobra a atacar o garoto da Lufa-Lufa.
Neste momento, Snape fez a cobra desaparecer com um aceno da varinha. Murmúrios e cochichos encheram o salão, e Lockhart anunciou o final da aula. Rony adiantou-se para o palco e puxou Harry pelas vestes, de um modo brusco que surpreendeu Hermione.
Rony seguiu calado, puxando Harry, que perguntava o que estava acontecendo mas não obtinha resposta. Hermione corria para acompanhá-los. Quando chegaram à sala comunal da Grifinória, Rony soltou Harry e disse:
— Você é ofidioglota. Por que não nos contou?
— Sou o quê?
— Ofidioglota, Harry. Você conversa com cobras.
— Ah — disse Harry. — Isso já tinha acontecido... Uma vez, no zoológico, fiz uma cobra atacar meu primo.
— Como fez ainda agora?
Hermione mantinha-se calada, alternando olhares entre os dois.
— O que quer dizer? — perguntou Harry, perplexo. — Vocês estavam ali, ouviram o que eu disse. Estava pedindo para ela parar, se afastar!
— Ah, então era isso? Acontece que o que ouvimos foram uns sons muito estranhos... Língua de cobra, Harry. E parecia que você estava mandando-a atacar.
— Mas como eu posso falar uma língua que eu nem sei que posso? Além do mais, que mal há nisso? Tenho certeza de que muitos bruxos também são ofidioglotas.
— Pois está enganado. Pouquíssimos são.
— Entre eles — disse Hermione, com medo de magoar o amigo. — Salazar Slytherin.
— Agora todos vão pensar que você é o herdeiro dele.
— Mas... É claro que eu não sou! Vocês tem alguma dúvida?
— Harry... — disse Hermione, com um tom grave. — Pelo que se sabe, Slytherin viveu há mais de mil anos. Você poderia muito bem ser descendente dele.
A expressão de Harry anuviou-se. Hermione pôs a mão em seu ombro.
— Sabemos que você não é o herdeiro. Não é, Rony?
Rony, com a expressão mais branda agora, assentiu. Hermione prosseguiu. — E vamos provar para todos quando tivermos a confissão de Malfoy.
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