O Professor Favorito



— CAPÍTULO OITO —
O Professor Favorito




— Quem poderia ser? — perguntou Hermione, certa noite na sala comunal da Grifinória.
— Ora, pense bem. — disse Rony. — Quem é que nós conhecemos que vive se gabando por ter sangue puro e falando mal dos nascidos trouxas?
Hermione franziu o cenho. Já sabia de quem ele falava, mas poderia ser?
— Malfoy? Herdeiro de Slytherin?
— Pense só — disse Harry. — A família toda dele estudou na Sonserina, eles podem muito bem ser parentes de Slytherin.
— Tudo bem, digamos que seja mesmo Malfoy...
— Como iremos provar? — Harry desanimou-se. Nesse momento Hermione teve uma idéia maluca; tão maluca que tinha medo de contar a eles. A situação, porém, era grave...
— Talvez exista um jeito. Podemos entrar na sala comunal da Sonserina, tenho certeza de que se for Malfoy mesmo, ele deve estar se gabando disso.
Rony soltou uma risada.
— É óbvio que ele não ia contar para a gente, além do mais, como entraríamos na sala comunal da Sonserina? Você pirou de vez?
— Existe um jeito, Ronald, se você puder me deixar terminar, você saberá.
Encararam-se por um momento, depois Hermione virou-se para Harry e disse: — A poção Polissuco. Snape falou sobre ela na semana retrasada.
— Francamente, Hermione, você acha que não temos nada melhor para fazer na aula de Poções do que prestar atenção em Snape? — disse Rony, impaciente.
— Ela pode nos transformar em qualquer pessoa; — continuou Hermione, sem tomar conhecimento da interrupção. — podemos ficar iguais a alunos da Sonserina e assim poderíamos ouvir o que Malfoy diz na sala comunal.
Harry pareceu animado, mas Rony perguntou, aflito:
— E se ficamos com a aparência, por exemplo, de Crabbe e Goyle, para sempre?
— Passa depois de um tempo... — disse Hermione impaciente, fazendo um gesto com a mão como quem espanta um inseto. — Mas será muito difícil... E estaremos desrespeitando umas cinqüenta regras da escola. Além do mais, o livro em que ela está, Snape disse, fica na seção reservada. Se chama Poções Muy Potentes.
— Por acaso tem alguma parte do seu plano que não seja impossível?
— Ronald! — Hermione exclamou, olhando para ele exasperada. Levantou-se dizendo: — Teríamos que pedir a algum professor uma autorização para retirar o livro, é o único jeito de pegar um livro da seção reservada. Podemos dizer que só queremos saber mais sobre a teoria, que ficamos muito interessados...
— Você só pode estar brincando! — disse Rony. — Ninguém seria tão tapado.
Hermione baixou o olhar para os pés, obrigada a concordar. Mas Harry parecia ter uma idéia, pois levantou-se animado.
— Por que Hermione não pede a autorização a seu professor favorito, já que é a aluna favorita dele também?
Rony franziu o cenho, Hermione corou.


— Dever de casa... — anunciou Gilderoy Lockhart quando o sinal bateu ao final de sua aula. — Compor um poema sobre a minha vitória contra o lobisomem de Wagga Wagga!
Os alunos começaram a sair da sala, e Hermione fez um gesto, pedindo para Rony e Harry esperarem.
— Vamos deixar todos saírem.
Os três ficaram por último na sala, enquanto Lockhart organizava sua escrivaninha. Só de pensar em se aproximar dele, Hermione sentia uma fisgada na barriga de ansiedade. Ligeiramente trêmula, tomou coragem e andou até a escrivaninha.
— Ah... Prof. Lockhart? — gaguejou. Rony e Harry postaram-se logo atrás dela. — Eu queria... retirar este livro na biblioteca... — e entregou a ele um papelzinho com a mão tremendo. — Mas o problema é que ele é guardado na seção reservada da biblioteca, então preciso que um professor autorize. Tenho certeza de que o livro me ajudaria a entender melhor o que o senhor diz em Como se divertir com vampiros sobre venenos de ação retardada...
— Ah! Como se divertir com vampiros , acho que é meu preferido! Você gostou? — Lockhart pegou o papel, sorrindo.
— Gostei, — Hermione apressou-se em responder. — achei genial o modo com que o senhor apanhou aquele último, com o coador de chá.
— Bom, tenho certeza de que ninguém se importará se eu der uma ajudinha extra à melhor aluna do ano... — Hermione sorriu sentindo o rosto corar, enquanto Lockhart assinava caprichosamente o pedaço de papel e a seguir lhe devolvia. Fez um movimento de agradecimento com a cabeça e saiu, seguida pelos amigos.
— Não acredito, — disse Harry, quando eles já estavam longe da sala do professor. — ele nem leu o nome do livro!
— Nem eu pensei que ele fosse tão burro... — disse Rony.
— Ele não é burro — replicou Hermione irritada.
Foram apressados para a biblioteca, e lá chegando entregaram a autorização a Madame Pince. A bibliotecária, desconfiada, analisou bem o papel atrás de algum indício de falsificação, mas não encontrou nada. Sumiu por alguns instantes e voltou trazendo um livro grande, meio esverdeado de mofo. Hermione guardou-o na mochila e os três saíram imediatamente, com o cuidado de tentar não parecer tão culpados...
— Nunca vi uma poção tão complicada! — exclamou Hermione ao examinar a receita da poção Polissuco.
Estava sentada no chão do banheiro da Murta Que Geme, acompanhada de Harry e Rony. Convencera-os de que o lugar era um bom esconderijo. — Hemeróbios, sanguessugas, descurainia e sanguinária, esses podemos conseguir facilmente no armário dos alunos. — murmurou. — Já pó de chifre de bicórnio, pele de ararambóia picada... Só deve ter no armário particular de Snape. Ah claro, e um pedaço da pessoa em que...
— Espera, pode repetir isso? — Rony interrompeu, ríspido. — Não vou tomar nada que tenha um pedaço de unha do Crabbe!
— Os pedaços só entram no fim; não precisamos nos preocupar com isso agora — defendeu-se.
— Quanto tempo levará para ficar pronta? — quis saber Harry.
— Cerca de um mês, se conseguirmos todos os ingredientes.
— Um mês? É muito tempo!
— Até lá, — disse Rony — Malfoy já terá atacado todos os trouxas da escola!
— Mas é o melhor plano que temos — retrucou Hermione. — Pensem bem, o que mais podemos fazer?

No sábado, aconteceu o primeiro jogo de quadribol do ano: Grifinória contra Sonserina. Harry estava nervoso como sempre, e Hermione e Rony tiveram pouco ou nenhum sucesso em tentar animá-lo. Já nas arquibancadas, Rony comentou com Hermione:
— É pena que Malfoy esteja no jogo e não na arquibancada, eu adoraria deixar o olho dele roxo outra vez.
— Não seja bobo — replicou Hermione, aborrecida. No ano anterior, Rony e Neville tinham-se envolvido em uma briga com Draco Malfoy durante um jogo de quadribol, e Hermione além de separar o tumulto, tivera de levar os dois amigos machucados à ala hospitalar.
Durante o jogo, um dos balaços parecia perseguir Harry, disposto a derrubá-lo da vassoura a qualquer momento.
— Como é que ninguém faz nada? — disse Rony, desesperado. — É evidente que alguém da Sonserina enfeitiçou o balaço!
Hermione ergueu-se, aflita. Rony a seguir fez o mesmo.
— Olhe, é o pomo! — disse ele. — Na cara do Malfoy, e ele não vê!
Com uma certa demora, Hermione localizou a cena: o pomo pairava no ar bem ao lado da cabeça de Draco Malfoy. Harry voava não muito longe dali, aparentemente preparando-se para agarrar a bolinha de ouro. Foi nesse momento que o balaço que o estava perseguindo atingiu-o com toda a força no braço, quase derrubando-o da vassoura. Antes que Hermione pudesse se preocupar com isso, porém, ele agarrou algo no ar, que devia ser o pomo, para logo em seguida descer ao chão com a vassoura e cair, desacordado.
— Vamos lá — disse ela, fazendo sinal para Rony segui-la.
Quando chegaram ao campo e conseguiram aproximar-se de Harry, passando por muitas pessoas que o observavam curiosas, Gilderoy Lockhart estava ao lado dele e dizia:
— É apenas uma fratura no osso, tenho certeza de que consigo curá-la num instante.
Hermione respirou aliviada. Talvez Harry nem precisasse ir à ala hospitalar... Lockhart lançou um feitiço, depois do qual a expressão de dor no rosto de Harry se esvaiu. Quando ia dizer alguma coisa, porém, ela reparou que o braço dele assemelhava-se a uma luva de borracha, e ele tinha agora uma expressão de pânico no rosto.
— Meus... ossos? — balbuciou ele.
Hermione procurou Lockhart e viu no rosto dele uma expressão esquisita, como se ele estivesse constrangido.
— Bem — começou ele. — A fratura não existe mais.
— Nem os ossos — murmurou Rony, boquiaberto. Por um instante, Hermione sentiu-se em queda livre, como se o chão tivesse sido arrancado debaixo de seus pés, como se fosse um tapete. Olhou mais uma vez para Lockhart; ele saía discretamente de cena.

— Vocês deviam ter me procurado em primeiro lugar! — exclamou Madame Pomfrey, ao perceber o estrago causado no braço de Harry.
Hermione engoliu em seco ao pensar que era obrigada a concordar com ela. Ela e Rony tinham acabado de chegar à ala hospitalar trazendo Harry. Este último perguntou desesperado se o braço voltaria ao normal.
— Sim, mas será doloroso. Terei que dar-lhe Esquelesce.
Madame Pomfrey trouxe o remédio, um líquido que Harry tomou e que pareceu ser algo realmente ruim, pela expressão dele.
— E você terá de passar a noite aqui — completou ela.
Um pouco depois, os jogadores da Grifinória apareceram para parabenizar Harry pela captura do pomo; Grifinória vencera. Madame Pomfrey expulsou a todos quando percebeu o barulho que faziam, e Hermione e Rony foram junto.
Hermione sentiu-se desligada da realidade por alguns instantes, enquanto subia as escadas ao lado de Rony e atrás dos jogadores da Grifinória. Embora tivesse consciência dos pés se sobrepondo aos degraus, das vozes dos jogadores exaltadas em comemoração e da presença de Rony ao seu lado, Hermione só pensava no episódio de Lockhart. A coisa toda fora irreal: ele aparecendo, solícito, oferecendo-se para ajudar, o feitiço, o efeito e a maneira covarde com que ele se retirara. Lembrou-se imediatamente dos diabretes e de Rony dizendo que ele se escondera embaixo da mesa, acuado.
Era uma contradição exorbitante demais para Hermione que alguém que tivesse escrito os livros que ele publicara pudesse agir dessa forma. Tratava-se de um questionamento geral sobre tudo o que já lera na vida, sendo que em nada ela acreditava como acreditava nos livros. Lockhart era para ela uma personificação da sabedoria da leitura; um livro em forma de professor, algo perfeito, a que só restava admirar.

Passaram pelo retrato da Mulher Gorda. Do outro lado, na sala comunal da Grifinória, acontecia uma festa em comemoração à vitória no quadribol. Fred e Jorge Weasley comandavam, oferecendo a todos a comida que tinham roubado das cozinhas.
Naquele momento, outro Weasley entrou na sala comunal. Percy andava apressado, mas foi detido pelos gêmeos.
— Onde estava, monitor? — perguntou Jorge. Percy hesitou e suas faces coraram.
— Reunião de monitores — disse, no que pareceu ser um improviso. Em seguida mudou de assunto. — Onde está Gina?
Hermione virou-se automaticamente para procurar Gina, mas não a achou entre as pessoas. Quando voltou a olhar para Percy, Fred e Jorge os irmãos discutiam, e antes que Rony se envolvesse no conflito familiar ela chamou-o para sentar.
Rony trouxe um prato cheio de tortinhas de creme para ele e Hermione, e ela pegou dois copos de suco de abóbora. Comeram em silêncio por alguns instantes. Hermione ainda pensava na decepção com Lockhart. Como que lendo seus pensamentos, Rony disse, provavelmente tentando provocá-la:
— Deve ter sido assim que ele venceu todos aqueles vampiros.
Hermione venceu o impulso de, no instante seguinte, olhá-lo com fúria e retrucar. Limitou-se a soltar um suspiro, fixando o olhar no copo de suco. Por fim, olhou para o amigo com um sorriso, e disse:
— Acho que não devíamos nunca conhecer nossos heróis; para não corrermos o risco de descobrir que eles também falham.
Talvez por ela não ter retrucado, talvez porque sorrira ou talvez pelo que dissera, Hermione não soube, mas Rony parecia desconcertado.

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