Reencontro no Beco Diagonal



— CAPÍTULO DOIS —
Reencontro no Beco Diagonal




Hermione acordou cedo no dia seguinte. Errol estava estirado na sua cômoda, aparentemente adormecido, ou, na pior das hipóteses, morto. Ela levantou-se e cutucou a coruja, que moveu-se assustada, denunciando que ainda não falecera. Hermione sorriu.
Acendeu o abajur na mesa de cabeceira, juntou pergaminhos, uma pena e tinta e sentou-se na cama para escrever a resposta para a carta de Rony. Releu a carta antes de começar a responder. Ele falava do plano para resgatar Harry... Ela desejou que desse tudo certo. Começou a escrever a carta.

“Queridos Rony e Harry, se estiver aí.

Espero que tudo tenha corrido bem, que Harry esteja bem e que você não tenha feito nada ilegal para tirá-lo de lá, Rony, porque isso criaria problemas para o Harry também. Tenho estado realmente preocupada e, se Harry estiver bem, por favor mande me dizer logo, mas talvez seja melhor usar outra coruja, porque acho que mais uma entrega talvez mate essa aí.”

Hermione parou um instante de escrever, lendo o trecho em que Rony reclamava que ela não lhe respondera ao convite de ir a sua casa.

“Estou muito ocupada, estudando, é claro,”
escreveu, e a seguir lembrou-se da lista de material que chegara na tarde anterior, o que lhe deu uma boa idéia. “e vamos a Londres na próxima quarta-feira comprar os livros novos. Por que não nos encontramos no Beco Diagonal?
Mande notícias do que está acontecendo, assim que puder.
Afetuosamente,
Mione.”


Julgou que a carta estava bem satisfatória. Logo depois de mandá-la por Errol, desejando fervorosamente que a coruja não morresse no caminho, desceu para o café da manhã e combinou com seus pais a ida a Londres para comprar o material escolar.


E então, na quarta-feira, Hermione e seus pais entraram no Beco Diagonal, através do Caldeirão Furado. A primeira parada seria no banco Gringotes, onde trocariam dinheiro de trouxa por dinheiro de bruxos. Hermione segurava a lista de livros que recebera de Hogwarts; a maioria deles era de autoria de Gilderoy Lockhart, um bruxo famoso por seus grandes feitos e enorme coragem. Tinha certeza de que seria muito interessante ler os livros dele.
Ela pôs-se a imaginar quem seria o professor de Defesa Contra as Artes das Trevas, já que o professor do ano anterior, Quirrell, tinha morrido. Comentava-se que o cargo de professor daquela disciplina era amaldiçoado, pois nenhum professor resistia no cargo por mais de um ano. Deveria ser alguém de pelo menos muito bom gosto, Hermione imaginou, por ter pedido livros de Gilderoy Lockhart.
Já quase no topo da enorme escadaria de Gringotes, Hermione se virou para trás furtivamente e acabou pondo os olhos sobre duas figuras conhecidas.
— Alcanço vocês num segundo — anunciou aos pais, que entraram no banco enquanto ela desceu correndo as escadas. — Harry!
Correu até onde Harry estava, conversando com Hagrid. Este último recebeu-a com seus enormes braços abertos e deu-lhe um carinhoso abraço.
— Mione! Como vai? — disse ele. Depois de responder que estava bem, Hermione percebeu que, embora provavelmente nunca fossem encontrar-se às costas dele quando o abraçassem, seus braços já alcançavam um pouco mais além da barriga de Hagrid, devido aos centímetros que ela andara crescendo.
Quando ela se desvencilhou do abraço e se aproximou de Harry, notou que ele estava sujo, com os cabelos bagunçados e os óculos quebrados.
— Harry, como está? Que aconteceu com seus óculos? — perguntou, preocupada.
— Minha primeira viagem com Pó de Flu...
Pó de Flu era um pó usado pelos bruxos para transportarem-se entre lareiras.
— Você veio com a família do Rony?
— Sim, mas me perdi deles. Alguma coisa saiu errado e fui parar em outro lugar...
— Na Travessa do Tranco — disse Hagrid, em tom grave. — Sorte que eu o encontrei lá, é um lugar mal-freqüentado. Muitos bruxos das trevas, definitivamente não é um bom lugar para um garotinho.
Hermione notou que, pela expressão de Harry, ele não gostara de ser chamado de “garotinho”. Ela resolveu mudar de assunto.
— Estava indo para Gringotes?
— Sim, tão logo eu reencontre os Weasley...
— Não vai precisar esperar muito — anunciou Hagrid, alegre. A família Weasley vinha na direção deles: à frente, o Sr. Weasley seguido de Rony, Fred e Jorge. No meio, vinha Percy, com um certo ar distraído. E fechando a fila, Molly Weasley vinha com a filha mais nova agarrada a sua mão.
— Ainda bem que não foi muito longe, Harry — disse o Sr. Weasley. A Sra. Weasley abraçou-o, aliviadíssima. Enquanto isso Hagrid contou a ela que resgatara Harry da Travessa do Tranco, e ela cobriu o rosto com as mãos, numa expressão de terror. Enquanto agradecia a Hagrid por tê-lo achado, Hermione prestou atenção em Rony. Ele estava um pouco mais alto. Ao vê-la, ele esboçou um sorriso, mas no segundo seguinte já olhava para outra direção, totalmente sério.
— Hermione, querida — disse a Sra. Weasley. — Tudo bem com você?
— Tudo ótimo, Sra. Weasley.
— Esta é a minha caçula, Gina. Ela entra em Hogwarts este ano.
Hermione já vira Gina, ela era uma perfeita Weasley com seus cabelos cor de fogo e o rosto cheio de sardas.
— Olá Gina, é um prazer — disse. Gina mal dirigiu-lhe o olhar, e Hermione pôs-se a imaginar se seria timidez ou se Gina a detestara.
— Oi — foi o que a garota se limitou a dizer, com os olhos fixos em algum ponto perto dos próprios pés.
— Oi, Mione — disse Rony, finalmente demonstrando abertamente que notara a presença dela ali.
— Oi Rony, tudo bem?
— Tudo bem. — os dois coraram, olharam para qualquer outro lugar e deram o reencontro por encerrado.
Subiram todos juntos as escadarias de Gringotes, o pai de Rony fascinado pelos pais de Hermione. Como Rony já contara anteriormente, ele tinha grande admiração pelos trouxas e suas invenções. Achava incríveis as soluções criadas por eles para viver sem a utilização de magia. Rony ainda contara que Arthur Weasley trabalhava no Ministério da Magia, no setor de Controle do Mau Uso dos Artefatos dos Trouxas.
Harry comentou, a certa altura da subida das escadas:
— Sabem quem eu vi lá na Borgin & Burkes, na Travessa do Tranco? Lúcio Malfoy.
— Ele estava comprando alguma coisa?— perguntou o Sr. Weasley ansioso.
— Não, pelo que eu entendi ele estava vendendo.
— Ah, claro... Então ele está preocupado com as blitze do ministério... Eu adoraria pegá-lo por alguma coisa.
Enquanto os Granger ficaram no balcão de câmbio, os Weasley e Harry seguiram para os cofres subterrâneos. Depois tornaram a encontrar-se e se dispersaram novamente. O Sr. Weasley insistiu em levar os pais de Hermione para tomar alguma coisa no Caldeirão Furado. A Sra. Weasley levou Gina para comprar suas vestes e os gêmeos deviam estar em alguma loja de logros.
Hermione, Harry e Rony saíram andando juntos. Ao passar por uma sorveteria, Harry pagou sorvetes enormes para os três, e ainda comendo eles foram à Floreios e Borrões, comprar seus livros escolares. Na porta da loja havia um anúncio, que Hermione transmitiu aos amigos animada:
— Gilderoy Lockhart, ele está aqui! Está autografando a sua biografia, O Meu Eu Mágico! Vamos poder conhecê-lo! Quero dizer, ele é o autor da maioria dos nossos livros deste ano...
Enquanto Harry olhou-a com estranheza, Rony tinha no rosto uma expressão de nojo.
— Pensei que só mulheres da idade da minha mãe achassem ele... — começou ele a dizer, mas foi interrompido por um grupo de senhoras que atropelou os três, na pressa de adentrar a loja. Quando ele pôde finalmente terminar sua frase, dizendo — bonito... — já fazia tanto tempo que tinha dito o início que já nem fez sentido.
— O que você disse? — perguntou Hermione, limpando o sorvete que as senhoras tinham feito-a derrubar em si mesma.
— Deixa pra lá.
Quase não havia por onde andar dentro da loja, visto que a fila diante da mesa onde Lockhart assinava seu nome na capa dos livros dominava quase todo o espaço físico. Hermione juntou rapidamente todos os livros que ia comprar, inclusive alguns que não constavam na lista de material, como a biografia de Lockhart, e postou-se ao final da fila.
— Hermione, o que você está fazendo? — perguntou Rony, boquiaberto.
A resposta de Hermione foi interrompida pela aparição repentina de Molly Weasley, que, com o rosto corado e ajeitando os cabelos, ocupou o lugar seguinte atrás dela. Gina pareceu mais uma vez incomodada com a presença de Hermione, e pediu permissão à mãe para dar uma volta pela loja.
Entre um autógrafo e outro, Lockhart levantava-se para posar para um fotógrafo que o clicava sofregamente e usava um colete com “Profeta Diário” escrito às costas. Completando o cenário, havia diversos retratos enormes de Lockhart nas paredes, nos quais ele sorria e acenava para os fãs, exatamente como fazia ali, ao vivo.
Era um homem bem-apessoado, Hermione reconhecia, mas preferia admirá-lo pelo seu talento como bruxo e escritor, ao invés de colecionar fotos dele como muitas meninas faziam. Em algum momento, o bruxo percebeu a presença de Harry no recinto, e imediatamente trouxe-o para junto de si, anunciando:
— Harry Potter, mas que honra!
O fotógrafo acelerou seu ritmo ainda mais. — Imaginem que surpreendente, — continuou Lockhart. — o jovem Harry entrou aqui hoje com o único propósito de comprar meu livro mais recente, O Meu Eu Mágico, sem nem desconfiar de que este ano ele e seus colegas terão o meu eu mágico em pessoa! Sim! Estive guardando em segredo mas vou revelar agora; tenho o prazer de anunciar que este ano ministrarei a disciplina de Defesa Contra as Artes das Trevas na Escola de Magia e Bruxaria de Hogwarts.
Aplausos gerais. Hermione deu pulinhos, empolgada, sem perceber Rony enraivecido ao seu lado. Antes de liberar Harry, Lockhart ainda presenteou-o com toda a coleção de seus livros. A primeira coisa que Harry fez ao sair dali, no entanto, foi colocar todos os livros dentro do caldeirão que Gina segurava.
— Fique com eles, vou comprar os meus. — disse ele, enquanto ela enrubescia totalmente.
Naquele mesmo momento, Draco Malfoy se aproximou dos dois, e, vendo de longe a confusão se armar, Hermione chamou a atenção de Rony, com uma sacudida no braço.
— Ta, me deixa, já sei que você ficou feliz com...
— Rony, olha — interrompeu ela. E depois de ver Malfoy provocando Harry, Rony acompanhou-a na direção deles. Os dois esgueiraram-se com dificuldade entre a multidão.
— Malfoy — disse Rony enojado.
— Weasley! Que surpresa encontrá-lo em uma loja — disse o outro, com um sorriso desdenhoso. — Suponho que os seus pais vão passar fome por um mês para pagar por essas compras.
Rony quase avançou em Malfoy, mas Hermione e Harry seguraram-no a tempo de impedir. Foi quando Lúcio Malfoy surgiu do nada atrás do filho.
— Ora, ora, filho... Se não são Weasleys, decadentes e mal-acompanhados... — fez uma pausa e lançou um olhar rápido e incisivo a Hermione — Como sempre.
E então surgiram Arthur Weasley e os pais de Hermione.
— Malfoy. — disse o Sr. Weasley.
— Weasley... Muito trabalho? Pena que não esteja recebendo hora extra... De que adianta ser uma vergonha de bruxo se você nem ao menos é bem pago para isso?
— Obviamente, Malfoy, nós temos um conceito completamente diferente sobre o que é ser uma vergonha de bruxo.
Lúcio Malfoy repentinamente enfiou a mão no caldeirão de Gina, o que a fez pular de susto. Ele puxou um exemplar de segunda mão de Guia de transfiguração para principiantes..
— Pobre garotinha... Terá que tentar aprender algo deste lixo.
Gina avançou em Malfoy com o objetivo de retomar o livro, furiosa. O outro desviou, sorrindo, e tocou no rosto de Gina. — Sinto por você, querida. Fazer parte de uma família tão... Falida.
Arthur Weasley avançou violentamente em Lúcio Malfoy, e os dois rolaram no chão, engalfinhando-se. Hagrid, que passava naquele momento na frente da Floreios e Borrões, viu a briga e entrou, separando os dois rapidamente. Furioso, Malfoy atirou de volta o livro de Gina, e arrastou Draco para a rua.
— Vamos logo nos afastar desta gente imunda! — vociferou.
— Que exemplo para os seus filhos, Arthur! — bradou Molly. A seguir, os Weasley, os Granger e Harry saíram da loja, e lá fora Hermione se despediu dos amigos.
— Nos vemos no dia primeiro de setembro... — disse, antes de se juntar aos pais no caminho de volta para o Caldeirão Furado.

Naquela noite, Hermione demorou a pegar no sono. Passou alguns minutos revivendo as sensações do dia. Sentira-se muito mal quando Lúcio Malfoy insinuara que os Weasley estavam mal-acompanhados por estarem com ela e seus pais.
— Que preconceito ridículo! — disse a si mesma. — Eu sou uma bruxa, não sou?
Mas aquele “não sou” ficou ressoando como se um eco desse pensamento estivesse vibrando bem no fundo de sua cabeça. Além disso, outra coisa a incomodava: a implicância de Gina Weasley. Não havia nenhum motivo para que Gina não gostasse dela assim, gratuitamente... Ou havia? — Rony — disse, pondo-se a imaginá-lo falando sobre ela para a família. “Não admira que ninguém a suporte. Francamente, ela é um pesadelo”. Tentando em vão afastar aqueles pensamentos, Hermione apertou os olhos como que para forçar o sono. Mas conseguiu apenas derramar algumas lágrimas.

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