Façanha das Trevas



Hermione e Rony tomavam café da manhã em silêncio, e ela se perguntava onde Harry estava. Não que se importasse, claro que não, que absurdo! Apenas achara estranho ele não estar junto a Rony, o que acontecia raramente. Estava absorta em seus pensamentos quando Rony limpou a garganta. Ela levantou os olhos e Rony começou:
- Preciso conversar com você. Sério.
“Pronto” pensou Hermione “Tava demorando pra falar sobre o Harry”.
- Eu sei que você não acredita muito nessas coisas de premonições, adivinhações, e essas balacas aí. Mas parece que Harry tem tido uns pesadelos bem sinistros com você, com o seu cadáver, mais precisamente. – Ao ouvir um muxoxo de impaciência vindo de Hermione, Rony tratou de parar de enrolar e ir direto ao assunto – Só que ele teve um, em particular, que deixou ele muito assustado. Voldemort mandando Malfoy te usar para enganar Harry. E não pense que esse sonho é fruto de muitas horas maquinando os acontecimentos que Malfoy causara ultimamente: Harry teve esse sonho muito antes das aulas começarem e por isso que ele vem fazendo esse escarcéu todo por causa de você e o Malfoy. Bom, não só por isso né, já que ele te ama como nunca amou ninguém e... – vendo a cara que Hermione fizera, voltou ao assunto – Mas, enfim, o importante é que você pode até não acreditar em Harry, mas em mim você vai ter que acreditar. Mione, não se engane com o Malfoy, ele não é o que aparenta.
- Rony, da última vez que Harry teve um daqueles “sonhos” dele, Sirius acabou morto. Voldemort só está jogando com o Harry, e ele está caindo direitinho. E diga para ele que da próxima vez que ele quiser falar comigo, ele não mande um pombo correio porque, Rony, é isso que você está parecendo.
- Se Voldemort está brincando com o Harry, como você diz, você não acha que ele sabe que vocês namoraram?
- O quê? Rony, não seja estúpido, Voldemort não sabe de nada.
- Ah é? E por que você acha que Voldemort enganou Harry com um sonho sobre Sirius?
- Ué, porque Harry ama Sirius e ele significava muito pro Harry.
- Exatamente, Hermione. Mesmo que Voldemort não tenha falado com Malfoy, ele sabe de vocês dois. E, se isso for verdade, pode ter certeza que ele tem uma razão muito boa para querer gerar essa intriga.
Hermione parou um pouco, para pensar. Realmente, o amigo tinha certa razão. Só que ela não queria aceitá-la.
- Você está errado. Draco gosta de mim por escolha própria. Você está errado, Rony.
- Gosta? Hermione, o Malfoy te odeia desde o primeiro ano! Você sempre foi a mais inteligente de todos nós, e você ainda acredita nas asneiras que aquele idiota te fala? Uma pessoa como Malfoy, não gosta nem da própria mãe, tá me ouvindo? Nem da própria mãe!
Rony tinha conseguido fazer Hermione pensar. Não que ela quisesse admitir, é claro, mas tudo que o amigo dissera fazia algum sentido, afinal.
- Rony, não diga bobagens. Não vou mais discutir esse assunto. – se levantou e foi pra aula.
No outro dia, Hermione encarava seus ovos mexidos, e futricava-os com o garfo mas não tinha vontade de comê-los. Sentiu uma mão sobre seu ombro e virou para trás.
- Quer sentar comigo hoje? – perguntou Malfoy com o sorriso mais meigo que Hermione já vira ele dar.
Imediatamente, Hermione se lembrou do que Rony falara sobre Malfoy. Hesitou um pouco, mas depois sorriu e se levantou. Queria tirar essa história a limpo.
***
Harry estava sentado num lugar bem estratégico. Conseguia ver Hermione, mas duvidava que ela olhasse para ele pois ele estava meio escondido atrás de Neville. Não agüentava mais se torturar daquele jeito, vendo-a com Malfoy, sem poder fazer nada.
- Rony, eu pensei que você tinha falado com Hermione.
- Eu falei, cara. Ela não quis dar o braço a torcer, mas eu conheço Hermione. Com certeza ela ficou analisando essa teoria durante horas.
- Parece que não adiantou muito, não é, já que ela foi se sentar com o Malfoy!

~~*~~

Malfoy apresentou Hermione para todos os seus amigos, que sabiam do plano de Voldemort, e tentaram ser o mais amigáveis possíveis. Apenas Pansy Parkinson que a deu um sorriso falso e não olhou mais para a cara dela.
Hermione realmente se surpreendera com aquela gente, que antes ela via com outros olhos. Eles eram muito legais e extremamente engraçados. Eles faziam piadas entre sim, avacalhando um com os outros, e ninguém parecia se ofender. Hermione não conseguira parar de rir um segundo na mesa da sonserina. Sempre imaginou os sonserinos como pessoas rudes, medíocres, egoístas e antipáticas, mas eles eram as pessoas mais engraçadas que ela já conhecera.
***
Hermione sentou-se com Malfoy de novo, naquele dia. Eles não se desgrudavam o dia inteiro, e sempre que podiam se ver, aproveitavam bem aquele momento.
- Hermione, você me encontra hoje as 22:00 em ponto, na frente da masmorra?
- É proibido, você sabe. Ainda mais que eu estou concorrendo à monitora chefe.
- Quem se importa? Não vão nos pegar. Filch gasta muito tempo no seu caso com madame Norah e não vigia os corredores.
- Ai, não sei. Porque tão tarde? Não vai ter ninguém nos corredores.
- Exatamente – disse Draco com um sorriso malicioso.
Hermione riu. “Tudo bem” respondeu ela.
***
Às vinte pras dez Hermione desceu e foi até a masmorra e se surpreendeu: Malfoy já estava lá
- O que você está fazendo aqui? – Hermione tirou sarro de Malfoy.
- Estou aqui desde as 21:30. Não queria te deixar esperando – sorriu Malfoy e chegou mais perto dela. Os dois ficaram se olhando por alguns segundos. Hermione olhava para cima, pois era um pouco mais baixa que Malfoy. Continuaram assim até quando Malfoy puxou Hermione pela cintura e a beijou como ninguém nunca havia beijado-a antes. Depois de uns cinco minutos seguiram de mãos dadas até o jardim e se sentaram na grama. Hermione sentada entre as pernas de Draco, de costas para ele, e apoiada em seu peito. Eles não falaram quase nada o tempo todo. Contentaram-se com aquilo; um sentindo o perfume do outro, admirando a lua que se escondia aos poucos atrás das nuvens, sentindo a brisa espalhar seus cabelos. Foi quando começou uma chuvinha que logo se tornou um temporal, e eles resolveram entrar, mas se matavam de rir toda vez que um deles escorregava, se encharcando de água e barro. Finalmente entraram no castelo, tremendo de frio e completamente molhados, com os cabelos lambidos na frente do rosto. Decidiram aproveitar mais um pouquinho juntos: ainda era cedo. Ficaram atrás de uma armadura. Hermione pensara um momento o quão feliz ela estava, e se deu conta que realmente gostava do Malfoy.
- Você gosta de mim de verdade? – arriscou Hermione.
Draco piscou algumas vezes, meio surpreso com a pergunta repentina, mas quando abriu a boca para responder, eles ouviram passos mancos vindo do início do corredor.
- Eu sei que tem alguém aqui – ganiu Filch, segurando um lampião trêmulo.
Imediatamente, Draco pegou Hermione pela mão e correu o mais silenciosamente que podia, até um armário de vassouras perto dali. O armário era pequeno, de modo que as pernas dos dois ficaram entrelaçadas e a boca de Hermione ficara quase colada no queixo de Malfoy. Ficaram em silêncio, arfando atentos aos barulhos que Filch produzia. Hermione deu um beijo no queixo de Malfoy. Deu mais um, e mais um, e mais um, e foi subindo um pouco. Logo estavam os dois agarrados um ao outro, quebrando todos os limites do armário. As suas caras molhadas se misturavam e um aquecia o frio do outro. Estavam tão entretidos que não notaram quando Filch abriu o armário e deu um berro.
- Eu sabia! Eu sabia! – ele gargalhava. – McGonagall vai adorar saber do novo casal de Hogwarts.
***
Hermione fora tomar café e não encontrara Malfoy. Fora até a mesa da Sonserina e perguntara para um amigo de Malfoy:
- Ei, Zabini! Você viu o Draco hoje?
- Parece que ele está doente, Granger. Quer se sentar?
- Não, tudo bem. Obrigada!
***
- Bom dia, flor do dia! – Hermione abriu as cortinas da cama de Draco, que imediatamente cobriu os olhos com as mãos.
- Ficou louca? Ainda é cedo! – reclamou com uma voz de nariz entupido
- Já passa das dez da manhã – completou Hermione dando um beijo em sua testa.
- Ótimo – falou Malfoy, se sentando na cama – agora além de duas semanas de detenção e uma gripe do Ca ralho eu também tenho uma noite mal dormida.
- Eu disse pra você secar os cabelos antes de dormir. – com uma cara de "Eu te avisei”
- Isso é para garotas sensíveis.
Hermione se sentou na cama de Malfoy.
- Garotas sensíveis? – riu Hermione – Eu peguei a mesma quantidade de frio que você, e não estou doente.
- Se não está, está prestes a ficar – disse Malfoy se aproximando, fazendo Hermione rir.
Hermione e Draco davam amassos quentíssimos em cima da cama dele, mas Hermione sempre empunha limites naquela mão de Malfoy. Ele reclamava, mas ela não estava disposta a fazer algo que pudesse fazê-la se sentir culpada mais tarde. Mas, Hermione pensava, se ela um dia o amasse, ela não via porque não. O único motivo de ela não ter dado para o Harry era porque ele era um garoto com uma cabeça no lugar; e nunca tinha tentado nada com ela. Draco parou o beijo e perguntou:
- Quer dar mais um passeio noturno hoje? – ele abriu um sorriso quando Hermione, também sorrindo, assentiu com a cabeça – mas vamos ficar dentro do castelo. Não quero piorar da gripe.
Um silêncio estabeleceu-se. Malfoy encontrando as palavras para formar sua frase.
- Eu não tive oportunidade de responder àquela pergunta sua... – Hermione sentiu-se corar quando lembrou que pergunta era aquela. – Bom, eu... – Mas, mais uma vez, Hermione não soube a resposta. Bem naquela hora, Malfoy olhou para a janela de seu dormitório e viu uma coruja negra, com os olhos extremamente azuis, parada; encarando-o com o mesmo olhar que sua tia sempre o olhava quando alguma coisa a desagradava. – Hermione! Você... você tem que ir...agora. Tem que... me dar licença...é. Eu preciso fazer uma coisa importante. – se desesperou Malfoy, levantando e empurrando Hermione em direção à porta. – Desculpa.
Quando Hermione foi abrir a boca, ele fechou a porta na sua cara. Ela ainda ficou alguns segundos parada, olhando para a porta, tentando processar o que acontecera. Depois, deu a volta e foi embora, indignada.

~~*~~

Draco pegou a coruja e abriu a carta que ela trazia:

Draco,

Como andam as coisas? Nosso plano está dando certo? Você já deu um passo a mais com aquela sangue-ruim? Espero que sim, pois essa família precisa se redimir com o Lorde das Trevas. Quero conversar com você, Draco. Me encontre hoje as 22:00 no décimo andar, e fique calado sobre isso. Sua mãe está lhe mandando lembranças.
Não responda essa carta, essa coruja foi captada pelo sensor do Ministério.

Bellatrix

“Me encontre?” repetiu Malfoy. “Como eu vou me encontrar com ela?”. Ele ficou imaginando o que sua tia tramava.
***
Nove e meia, Hermione estava pronta. Não havia visto Malfoy desde de manhã. Ficou esperando até as 21:50 na frente das masmorras e nenhum sinal daquele idiota. Ela perguntara para todos os sonserinos que vira, mas ninguém havia visto Malfoy naquele dia. Hermione se irritou ao extremo e voltou para a Sala Comunal da grifinória. Homens! Todos iguais! Tratou de ir fazer suas lições, para esquecer um pouco de tudo isso.

~~*~~

Malfoy estava nervoso; não sabia como se encontraria com a sua tia. Não sabia nem o quê esperar dela. Andava de um lado para o outro no seu dormitório, deixando um Blás Zabini sem entender nada.
- Mas o que houve afinal?
Draco não respondia; apenas esfregava as suas mãos e olhava no relógio. 5 para as dez. Hora de ir.

~~*~~

Harry decidiu dar uma volta no castelo, sozinho, para esfriar um pouco a cabeça. Não queria nem Rony junto. Resolveu explorar a parte que ele não conhecia de Hogwarts. Subiu as escadas e deixou-as mudar o quanto elas quisessem. Quando elas pararam, Harry olhou com curiosidade ao corredor em sua frente. Era escuro e estava preenchido de espelhos. De súbito, ele se lembrou de um sonho que tivera no início das férias. Harry estava com medo do final do sonho. (nota da autora: o sonho é narrado no início do capítulo I). Ele começou a ouvir passos...

~~*~~

Draco chegou até o décimo andar e ficou esperando por Bellatrix. Ele não sabia por onde ela apareceria, já que o corredor não tinha nada além de milhares de espelhos. Alguns minutos depois das dez, ele ouviu um dos espelhos que estava na sua direita, tremer e apareceu uma cara pálida, que era compensada pelos cabelos extremamente negros e o batom extremamente vermelho. Ela exibia um sorriso malicioso, igualzinho ao que Malfoy sempre dava.
- Olá.
O garoto estava em choque para responder. Como sua tia planejava uma coisa dessas? E se ela fosse pega?
- C-como você...? V-você pode ser... descoberta!
- Não se preocupe, ninguém vem aqui. Pelo menos foi o que Snape me informou.

~~*~~

Harry ouviu uma voz de mulher e tentou ver quem era. Andou sem fazer barulho e espiou na curva. Quando viu Bellatrix reprogetada num espelho e Draco Malfoy em frente dele, se escondeu atrás de um segundo espelho e aguçou os ouvidos:
- Como anda as coisas com a Sangue-Ruim?
- Melhor impossível.
- Ótimo. O Lorde das Trevas vai ficar muito orgulhoso, Draco. Convide-a para passar com você o feriado de Natal. Use um feitiço para confundi-la, se necessário. Nós cuidaremos dos pais dela, naturalmente. Leve-a para sua casa, e nós esperaremos por vocês lá. Mas faça com que Potter fique sabendo que ela corre perigo. Até lá, continue encantando ela. Faça o seu melhor e deixe a tola profundamente apaixonada por você.
Ouvindo essas palavras, Draco tentou dar um sorriso mas sentiu a gola da camisa mais apertada. E o que fazer se ele estiver profundamente apaixonado por ela?
- Tenho que ir agora, Draco. Faça seu trabalho bem feito.
- O.k. – e o rosto de Bellatrix se desfez como fumaça.
Harry sentia seu coração dando socos em suas costelas. Saiu correndo, tropeçando nos próprios pés e disparou até a sala comunal. Encontrou Hermione entretida num livro assustadoramente gigante e nem pensou que fazia dias que eles não se falavam.
- HERMIONE! – se esforçou para dar um berro, pois estava sem fôlego. Hermione deu um pulo quando ouviu o grito e piscou quando viu quem era o interlocutor.
- Hermione! O Malfoy! Ele está tramando contra você, Hermione! Contra mim! Não se engane!
- Pára de falar bobagem, Harry. Você me tirou da minha leitura para falar asneiras como essa?
- Eu não estou brincando. Eu ouvi! EU VI! Ele estava falando com Bellatrix Lestrenge, num lugar onde eu nunca tinha visto, um corredor, cheio de espelhos. Ela falou “convide a Sangue-Ruim para passar o Natal em sua casa, nós esperaremos por vocês. E faça com que Harry Potter saiba que ela corre perigo”. Eu estou falando sério.
- Eu não acredito em você. – respondeu ela, calmamente, recomeçando a sua leitura. – Agora, se não se importa...
Harry não podia acreditar no que estava acontecendo. Os Comensais da Morte estavam tramando bem debaixo do nariz dela e ela parecia incapaz de perceber. Ele respirou fundo.
- Ótimo. Mas quando você estiver presa num calabouço, sozinha, no escuro, e sendo torturada de hora em hora, não pense que eu vou te salvar.
- Que pena, Harry. Parece que você não vai poder dar uma de herói novamente, não é? – Hermione lançou um olhar desafiante para Harry.
Os dois ficaram se encarando por alguns segundos. Naquela hora, um se lembrou de quão bonito o outro era. Hermione pareceu incomodada por aquele contato visual, que desviou o olhar e baixou os olhos para o livro. Mas Harry continuou olhando para ela. Depois de um tempo, saiu porta a fora e Hermione não o viu voltar.

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