I wanna hold your hand

10- I wanna hold your hand


“Vai com os anjos, vai em paz
Era assim todo dia de tarde, a descoberta da amizade.
Até a próxima vez.
É tão estranho, os bons morrem antes.
Me lembro de você e de tanta gente que se foi cedo demais”
(Love in the Afternoon - Legião Urbana)


31 de Outubro de 1981.


Para os antigos celtas, o dia trinta e um de outubro comemorava o Samhain, noite onde o véu que separa o mundo dos vivos do mundo dos mortos ficava mais tênue. Uma noite de passagem, de recomeço, onde toda a vida era renovada. E naquele ano, aquele dia teria um significado diferente para os bruxos modernos. Iria ser um recomeço de vida para aqueles que viviam no meio da incerteza da guerra, uma era de terror que estaria terminando.

E para alguns, no entanto, seria um dia de pesar e lamentação...

Desde que chegara no Caldeirão Furado, Tonks passara boa parte do tempo trancada em seu quarto. Tinha medo de deixar o seu lado impulsivo tomar conta da situação e ela tomar alguma atitude impensada. Estava sentada numa poltrona em frente à janela, apenas observando o céu limpo e sem nuvens daquela noite escura. Alguns poucos ousados comemoravam o dia das bruxas no bar do andar de baixo da hospedaria, mas Tonks não tinha nenhum motivo forte o suficiente para comemorar. Saber que em pouco tempo pessoas com quem ela convivera e se afeiçoara iriam morrer lhe dava uma sensação muito ruim de impotência.

Não soube dizer ao certo quanto tempo ficou ali. Já devia ser de madrugada, quando notou uma agitação no andar inferior. Apurou os ouvidos e escutou sons de comemoração. Voltando a encarar o céu, viu uma, duas, várias e várias corujas cruzando os céus de Londres, espalhando rapidamente pelo país a notícia que marcaria para sempre a história do mundo bruxo.

Com certo pesar, deitou-se na cama, apenas aguardando o dia seguinte e as notícias conhecidas que chegariam aos seus ouvidos.


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01 de Novembro de 1981


CAI AQUELE-QUE-NÃO-DEVE-SER-NOMEADO


O dia trinta e um de outubro será para sempre marcado na história dos bruxos modernos.

Por motivos ainda desconhecidos Aquele-que-não-deve-ser-nomeado promoveu um ataque à residência da família Potter, membros conhecidos e honrados de nossa sociedade. O casal Potter fora brutalmente assassinado, mas, contrariando todas as certezas e convicções Vocês-Sabem-Quem não foi capaz de assassinar o pequeno Harry, filho do casal, um garotinho de apenas um ano de idade.

Ninguém sabe como explicar o fato, mas ao atacar o pequeno Harry, Aquele-que-não-deve-ser-nomeado não só foi incapaz de matar o garoto, mas também perdeu os seus poderes e desapareceu. Fato realmente espantoso, já que Aquele-que-não-deve-ser-nomeado matara várias pessoas ao longo do seu império de terror.

Correm boatos de que a Suprema Corte dos Bruxos cogita transformar o dia trinta e um de outubro no “dia de Harry Potter” ou no “dia do menino-que-sobreviveu”, título que Harry Potter recebeu após escapar do ataque de Você-Sabe-Quem.

Mais detalhes numa reportagem especial nas páginas 5 e 6.
Por todo o país as pessoas comemoram o fim dessa época sombria, página 7.
“O que será do destino do pequeno Harry Potter?”, páginas 8, 9 e 10.
E não percam o artigo de um renomado especialista em Artes das Trevas, a respeito da queda d’Aquele-que-não-deve-ser-nomeado.


Trêmulo, Remus largou o Profeta Diário no chão, andando de um lado para o outro, no seu pequeno apartamento. Ele estava chocado e não sabia ao certo se era pelo o que ocorrera na madrugada anterior ou se era pela falta de sensibilidade humana. Um punhado de palavras vazias num pedaço amarelado de pergaminho não eram o suficiente para descrever todo o horror daquela notícia. Como eram capazes de falar com tanta naturalidade da morte das pessoas? Remus entendia que todos ficavam aliviados com a queda de Voldemort, mas como ele seria capaz de comemorar sendo que havia perdido dois amigos que, além de tudo, deixaram um filhinho pequeno órfão?

Aquilo era um absurdo!

Se ele ao menos soubesse que era por isso toda a agitação na madrugada anterior, talvez ele tivesse tomado uma atitude. Mas, pensando com racionalidade, que atitude ele deveria ter tomado?

“Lutar ao lado deles até a morte!”

Sim, com certeza ele teria feito isso. Era o mínimo que poderia fazer pelo casal que tanto o ajudara ao longo da vida, sendo os amigos leais que foram, fazendo com que sua vida amaldiçoada fosse mais fácil de suportar.

“E agora estão mortos... mortos!”

Ele tinha impressão de que uma garra de aço havia se fechado sobre a sua garganta. Aquilo era tão doloroso. Todos os esforços para deixar os Potter em segurança haviam sido em vão. O rapaz ficou tão transtornado que mal conseguia raciocinar. Tudo o que lhe vinha em mente era que James e Lilly estavam mortos... mortos... para sempre...

Estava tão confuso com aquilo tudo. Não tinha tido contato com nenhum membro da Ordem da Fênix e tinha certeza que ninguém saberia ao certo explicar o que aconteceu. E ele precisava de respostas.

Vestiu sua capa com mãos trêmulas e desaparatou em Hogsmeade. Caminhando pelas ruelas do povoado bruxo, via as pessoas comemorando aliviadas nas lojas e bares. Festas, banquetes, comemorações... nada daquilo fazia sentido para ele. Estava num estado de torpor tão grande que apenas caminhou, deixando suas pernas o guiarem por um caminho que ele conhecia muito bem. Nunca se dera conta de como o caminho até Hogwarts fosse longo. Não tinha problema. Ele precisava caminhar um pouco, na esperança de que parte de sua dor ficasse perdida ao longo do caminho.

Quando notou, já estava em frente aos portões de Hogwarts. Ficou por um tempo ali, apenas observando a monumental construção com suas várias torres e torrinhas, as janelas brilhando tristemente quando tocadas pelo sol fraco daquela manhã nebulosa.

Inevitavelmente várias lembranças começaram a povoar sua mente. Lembranças de uma época onde a sua única preocupação era qual a aventura que teria de planejar ao lado dos marotos para as noites de Lua Cheia, ou como iria ajudar James a conquistar Lilly - uma missão que parecia ser impossível aos olhos de toda a Hogwarts. Mas existia algo que parecesse impossível para algum dos marotos? Remus sorriu tristemente. Naquela época nada era impossível, mas agora que as coisas tinham tomado tal rumo, ele já não sabia no que acreditar.

Do caminho que conduzia aos portões da escola, uma figura gigantesca avolumou-se à frente de Remus. Por detrás do emaranhado de barbas e cabelos escuros, os olhinhos negros como besouros de Rúbeo Hagrid estavam vermelhos e inchados. O meio gigante encarou Lupin com certeza tristeza, abrindo os portões da escola para o rapaz.

-Remus, como vai? - Hagrid perguntou bondosamente.

Era difícil falar como Remus estava se sentindo. Queria ficar num lugar isolado, sozinho com a sua própria dor, mas ao mesmo tempo queria ter conhecimento de toda a situação. Saber o que havia dado de tão errado.

-Vou indo, Hagrid! - Lupin pigarreou e ficou surpreso ao notar como sua voz soara calma e serena. - Eu queria falar com o Profº Dumbledore. Você sabe se ele está no castelo?

-Ah, sim, ele está, Remus. Depois do que aconteceu ele teve coisas a resolver por aí, mas já voltou para a escola. Tem os alunos, né? Grande homem, o Dumbledore. Mesmo sendo chamado pelos chefões do Ministério ele não quis se ausentar por muito tempo da escola. Voltou hoje de manhã cedinho.

-Então você soube o que aconteceu com James e Lilly...

Os dois começaram a caminhar em direção ao castelo, Remus tentando inutilmente acompanhar as largas passadas de Hagrid.

-Soube sim... - Hagrid fungou. - James e Lilly... tão jovens ainda e... oh, meu bom Merlin, deixando o pequeno Harry sozinho.

Lupin deu um tapinha consolador no braço do meio gigante.

-Você sabe o que aconteceu ao Harry?

-Bem, fui eu que o resgatei na casa deles, sabe. O pobrezinho parecia tão inocente, tão despreocupado. Só teve uma cicatriz em forma de raio na testa, no lugar onde Você-Sabe-Quem tentou... bem, você sabe - Hagrid pigarreou e secou uma lágrima furtiva. - Cheguei nos escombros da casa antes mesmo dos trouxas aparecerem. Foi uma sorte ter encontrado o Sirius por lá, ele me emprestou a moto dele para que eu levasse o pequeno Harry para a casa dos tios...

-Hagrid! - Lupin estacou, quando eles subiam as escadas que davam para o saguão do castelo. - O Sirius estava lá na casa do James?

-Oh, sim! - Hagrid confirmou com a cabeça, os cabelos emaranhados acompanhando o movimento. - Pobre Sirius! Ele parecia bem transtornado, sabe... Chorou como se fosse uma criança. Me entregou a moto dele, disse que eu ia precisar mais do que ele. Não sei se ele ficou por mais tempo ali, eu tinha coisas a fazer. Ordens de Dumbledore...

Mas Remus já não conseguia escutar o que Hagrid lhe dizia. Algo muito quente e amargo começou a subir pela sua garganta, algo que ele não sabia definir o que era, mas que lhe dava uma sensação muito ruim por dentro.

-Bem, você sabe como chegar no escritório do diretor, não sabe? - Lupin afirmou. - Eu vou ficar por aqui, tenho que terminar de colher as minhas abóboras. Apareça qualquer dia desses para um chá, Remus.

Lupin acenou vagamente, mal se dando conta das palavras de Hagrid. Caminhar novamente na sua antiga escola lhe dava um peso opressivo no peito. Conforme passava pelos corredores, ouvia as movimentações nas salas de aula. Certamente os professores estariam comentando o grande fato que ocorrera na noite anterior com os seus alunos, quase podia ver o brilho ansioso dos estudantes querendo saber cada mínimo detalhe do que acontecera lá fora, ávidos de notícia e informação. Chegou finalmente em frente às gárgulas que guardavam a entrada para o escritório de Dumbledore. Ficou alguns minutos ali, achando-se estúpido por não ter lembrado que não sabia a senha e que não tinha anunciado a sua visita ao diretor.

No entanto, a sua espera não demorou muito tempo. As gárgulas que guardavam a entrada saltaram para o lado e uma figura sombria desceu as escadas em caracol que levavam ao escritório de Dumbledore.

-Snape?

Estranhamente, Snape não exibira um dos seus famosos sorrisos finos e irônicos e nem fizera qualquer tipo de comentário maldoso ou malicioso ao se deparar com Lupin. Na verdade, Snape parecia mais pálido do que o normal e estranhamente perturbado. Saiu a passos rápidos dali, com suas vestes negras farfalhando às suas costas, deixando Lupin curioso quanto à sua atitude. Aproveitando que a passagem para o escritório de Dumbledore ainda estava aberta, o ex-maroto galgou os degraus rapidamente, estando em poucos segundos em frente às aldravas de metal que dava para o escritório. Com duas batidas secas na madeira polida anunciou a sua presença e a voz serena e com traços de cansaço do diretor permitiu a entrada de Lupin.

-Bom dia, Remus! - Dumbledore cumprimentou cordialmente, um sorriso leve nos lábios, fazendo um gesto para que o rapaz entrasse e se acomodasse. - Vejo que já soube das notícias do último Halloween, estou certo?

Lupin sentou-se, pousando as mãos sobre os joelhos, encarando o tampo da mesa longamente. Ouvir aquelas palavras do próprio Dumbledore lhe deu a sensação de que aquelas notícias pesarosas eram definitivas e verdadeiras.

-Sim, professor! - Ao pronunciar essas palavras, ele tinha a impressão de que estava afirmando a si mesmo o que não gostaria de acreditar. - Mas como isso... eu não entendo. Depois de todo o esforço para deixa-los em segurança, depois de todo o sigilo... - Lupin engoliu em seco, angustiado. - Eu pensei que tudo tivesse sido o suficiente!

O olhar do velho mestre parecia um pouco deprimido.

-Eu fiz o que estava ao meu alcance. Sugeri a James e Lilly que protegessem a casa deles com um Feitiço Fidelius. Você sabe como o feitiço funciona, não sabe? - Ao ver que Lupin afirmara, Dumbledore prosseguiu. - Eu até próprio me ofereci para ser o Fiel do Segredo, mas James disse que, caso eu não me importasse, ele próprio iria escolher o Fiel do Segredo.

-Sirius! - Lupin exclamou, arregalando os olhos. - Só pode ter sido ele o Fiel do Segredo. Mas é claro. James confiava nele mais do que em qualquer outra pessoa... - E um misto de mágoa e ira começou a tomar conta dele. Como Sirius fora capaz de fazer isso aos amigos? - Eu não posso acreditar que ele tenha feito aquilo... ter entregue os próprios amigos nas mãos de Voldemort!

-Eu também estou surpreso, no entanto, não temos como afirmar que Sirius tenha sido o Fiel do Segredo. James não chegou a dizer o nome da pessoa escolhida!

-Mas o senhor tem dúvidas de quem era? - Lupin se levantou e começou a circular pela sala. Agora, todas as suas desconfianças a respeito do amigo pareciam ser cheias de fundamento. Isso explicaria os estranhos sumiços de Sirius, ou o modo explosivo como ele agia quando era contestado a respeito de suas missões... mas ainda assim, ter coragem de entregar os amigos, pais do seu afilhado...

-Remus, por favor, sente-se! - Com um movimento elegante da varinha, Dumbledore conjurou um bule de chá e duas xícaras e serviu o rapaz aturdido, que voltara a se sentar. - É realmente lamentável o que aconteceu e imagino o quão difícil seja para você aceitar isso...

Mas Dumbledore não conseguiu terminar de concluir a sua sentença. Uma pequena coruja parda entrou voando velozmente através da janela do escritório do diretor e pousou graciosamente encima da mesa. Fawkes, a fênix, lançou um olhar penetrante à Albus, como se fosse capaz de adivinhar as novas notícias que o outro pássaro trouxera. O diretor recolheu a carta que chegara, leu rapidamente o conteúdo do pergaminho e seu rosto assumiu ares sombrios enquanto processava todas aquelas informações.

-Remus, você vai ter de ser forte! - Dumbledore suspirou, cruzando os dedos longos e finos num gesto característico. - Eu acabei de receber uma notificação de um dos meus contatos no Ministério, me informando de que Sirius foi preso.

-Preso? - Remus indagou. O que mais iria acontecer naquela semana? Já não haviam tido desgraças o suficiente? - Porque? Qual foi a acusação?

-Assassinato. - Dumbledore falou lentamente, ele próprio muito chocado com a notícia que acabara de receber. - Sirius foi acusado de assassinar Peter Pettegrew e mais treze trouxas na frente de testemunhas.

Remus afundou na cadeira onde estava sentado, incapaz de esboçar qualquer reação. Tudo no que ele acreditava, todas as suas crenças haviam ruído e ele tinha a impressão de que o mundo estava desabando na sua cabeça.


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03 de Novembro de 1981.


Agora que tudo havia passado, Tonks achou que as coisas fossem melhorar um pouco para ela. Achou que aquela angústia, aquele peso por ter de assistir todos aqueles fatos de maneira impassível fossem finalmente passar. Que belo engano o dela! O sentimento de solidão ficara ainda mais intenso, quase insuportável. Não tinha com quem conversar e não sentia a menor disposição de procurar o Profº Dumbledore. Obviamente Tonks não ficara trancada o tempo todo, afundando-se em melancolia. Saíra algumas vezes para o Beco Diagonal, com a intenção de se distrair e afastar os pensamentos sombrios de si.

Chegou a procurar Remus uma vez, mas não encontrara o rapaz em casa. Não sabia o que ele fazia durante o dia e nem se ele estava ocupado com alguma coisa. No entanto, ela sentia uma vontade desesperada de convívio humano, precisava conversar com alguém. Por isso, novamente ela estava defronte à porta do apartamento de Remus, aguardando ansiosamente a aparição do rapaz. Pouco se importando por ser noite e o horário estar um pouco adiantado.

Após alguns momentos ela ouviu sons de dentro do apartamento, sinal de que o rapaz estava em casa. Sorriu em expectativa. Chamou novamente por Remus e no instante seguinte a porta era aberta, o dono do apartamento aparecendo apenas por uma fresta estreita. Ele parecia mais abatido do que o normal e Tonks bem sabia que não era por causa das suas transformações, afinal, eles ainda estavam na lua nova.

-Oi Remus! - Sorriu gentilmente para o rapaz. Vê-lo assim, parecendo tão desamparado era de cortar o coração. - Você sumiu, me deixou preocupada. Posso entrar?

Ele se afastou da porta, dando passagem para Tonks. Nos últimos dias era assim que ele estava vivendo. Ou melhor, sobrevivendo. Continuava mantendo suas atividades junto à Ordem da Fênix, mas agia mecanicamente. Um mero espectro do que ele fora um dia. Não era fácil perder todos os seus amigos de uma só vez. Todos tendo ido embora de maneira tão trágica.

Perguntar se ele sabia o que tinha acontecido era bobagem. Até mesmo as pedras das calçadas do Beco Diagonal sabiam o que tinha acontecido. Os jornais não falavam de outra coisa que não fosse a queda de Voldemort e a prisão de alguns de seus seguidores, inclusive Sirius Black, notícia que deixara toda a comunidade bruxa chocada devido à brutalidade do crime.

Entretanto, Tonks não sabia o que dizer para Lupin. Só agora ela se dera conta de como aquilo tudo devia ser horrível para ele. Dois dos marotos estavam mortos e um preso por assassinato. Era difícil de encarar para ela, claro que era, mas ao menos Tonks tinha consciência do que estaria por vir, enquanto Remus recebeu toda aquela carga de uma vez.

-Claro, sinta-se em casa. - E apesar de estar em um estado de infeliz dor, Lupin tentou ser gentil e atencioso com Tonks. Afinal, que culpa ela tinha a respeito do que acontecera? Nenhuma. Sem contar que ela também conhecera os seus amigos, mesmo que não tenha convivido tão intensamente com eles. - Como você está?

-Estou bem. - A garota fez um gesto indiferente com os ombros e depois acrescentou receosa. - Você é que não me parece muito bem...

Lupin suspirou. Sentou-se numa poltrona e passou as mãos pelos cabelos castanhos; em seguida encarou Tonks, que estava sentada perto dele.

-Eu realmente não estou nada bem!

Tonks ficou comovida. Lupin era o tipo de amigo que estava presente em todos os momentos. Um amigo verdadeiramente fiel, que sempre estaria pronto para ouvir os seus problemas com atenção e ajudando se isso estivesse ao seu alcance. E naquele momento, talvez ele precisasse de alguém que o ouvisse, que estivesse ao lado dele e dissesse: “hey, eu estou aqui para o que der e vier”. Ela não pensou duas vezes antes de se aproximar do rapaz e puxá-lo para um abraço.

-Eu sei que é uma coisa meio estúpida de se dizer, mas isso vai passar. - Ela sussurrou, perto do ouvido dele. - É bom curtir a sua tristeza por uns dias, mas isso vai passar...

Talvez aquilo fosse tudo o que ele precisasse; sentir o corpo quente e sólido de Tonks o envolvendo em seus braços, lhe dando uma certa segurança de que ele não estaria sozinho, murmurando palavras de encorajamento no seu ouvido. Aquilo era realmente muito bom. O mais estranho é que acontecera de forma tão natural, que ele não se sentira constrangido por se mostrar fraco de certa forma.

-Eu sei que vai. - Ele tentou sorrir, um sorriso meio choroso, quando se afastou do abraço. - Obrigado, Nymphadora!

Tonks fez uma careta engraçada por ter sido chamada pelo primeiro nome, arrancando um sorriso do rapaz.

-Já vi que você melhorou! - Ela fingiu aborrecimento. - ‘Tá até me chamando por aquele nome. Você só está perdoado por causa do momento. Mas não pense que vai ter clemência da próxima vez, não vou ser tão boazinha assim, viu, Sr. Lupin.

Só mesmo a Tonks para conseguir dissipar um clima tão melancólico com tanta facilidade.

-Eu acho que você precisa de um relaxante banho quente, uma xícara de chocolate quente e uma boa noite de sono. - Tonks se ergueu de um salto, falando animadamente e gesticulando.

-Eu estou tão deplorável assim? - Remus apalpou o rosto, notando que fazia pelo menos dois dias que não se barbeava e tinha consciência de que os seus cabelos estavam desalinhados.

Tonks se aproximou do rapaz, segurando o rosto dele entre as mãos e ficou estudando-o por um tempo, parecendo muito compenetrada. Lupin sentiu o seu rosto esquentar, talvez estivesse corado. Sempre se incomodava um pouco quando as pessoas o observavam.

-Não, não está tão ruim assim. - Ela deu um tapinha leve no rosto dele, sorrindo com o seu costumeiro jeito travesso. - Dá uma espécie de charme sombrio.

-Eu vou... hum... tomar um banho! - Lupin apontou para o banheiro, desvencilhando-se das mãos de Tonks. - Eu não demoro, ok?

Rapidamente o rapaz se trancou no banheiro, voltando a se sentir o mesmo adolescente desajeitado que fora. O mesmo adolescente que ficara extremamente sem jeito quando fora beijado por aquela mesma garota.

E, de fato, o conselho dela parecia estar cheio de razão. O corpo recebeu com agrado a água quente que relaxava todos os seus membros. Deixou-se ficar ali por um bom tempo, enquanto parte daqueles sentimentos ruins que estavam com ele deslizavam e escoavam junto com a água. Barbeou-se, tentando parecer um pouco mais apresentável, apesar da palidez significativa; e vestiu uma camiseta limpa e a calça do pijama. Sentia-se uma nova pessoa!

Quando ele saiu do banheiro, deparou-se com Tonks o esperando com duas canecas de chocolate quente. Ele podia jurar que tinha ouvido vários ruídos de xícaras se quebrando, mas não tinha como ter certeza por causa do barulho do chuveiro. Mas apesar de Tonks ser desastrada, ela havia conseguido preparar o chocolate quente sem danos sérios ao apartamento de Lupin.

Ficaram conversando por um bom tempo, enquanto apreciavam o chocolate quente de Tonks; “a única especialidade culinária dela”, segundo a própria. Não falavam sobre nada em específico. Falaram um pouco sobre a guerra, sobre o que poderia ter acontecido à Voldemort, sem nunca se aprofundar no assunto. Era um assunto de certa forma seguro para Tonks, já que ela realmente não sabia o que sucedera ao bruxo das trevas - aliás, ninguém sabia ao certo.

A madrugada já havia avançado, quando os dois notaram o quanto estava tarde, cabeceando sobre as suas canecas vazias.

-É melhor eu te deixar em casa. - Lupin ponderou, enquanto Tonks bocejava. - Não é bom ficar circulando por aí, mesmo depois da queda de Voldemort. Ainda tem Comensais soltos por aí, raivosos como nunca.

-Não mesmo! - Tonks protestou. - Eu não vou deixar você sozinho. Você precisa de companhia hoje. Bem, eu também preciso de companhia hoje...

Lupin era capaz de ouvir as engrenagens de seu cérebro funcionando vagarosamente, tentando processar o que ela dissera. Mas nem precisou se esforçar muito, pois Tonks dissera o que ele tentava compreender.

-Eu passo a noite aqui sem problemas. Eu não vou ter coragem de deixar você sozinho, todo tristinho do jeito que você tá! - Tonks puxou Lupin pela mão, guiando-o até o quarto do rapaz. Ele tentou protestar, mas foi vencido pelo sorriso daquela garota. - Eu vou te colocar na cama, como o bom menino que você é! Se for o caso conto até uma historinha pra você dormir!

-Você não tem jeito, hein? - Lupin não pôde deixar de sorrir. Aquele sentimento de segurança ficando mais intenso.

-E acho que nunca vou ter! - Tonks fez uma reverência como se tivesse dito algo realmente brilhante. - Agora já pra cama, mocinho!

Tonks tirou as botas e esgueirou-se para debaixo das cobertas, pouco ligando por estar usando jeans. Afastou-se um pouco para o lado e deu um tapinha no colchão, chamando Lupin. Ele encarou sua cama com seus lençóis e cobertores gastos, e depois encarou Tonks. Parecia decididamente constrangido.

-‘Tá esperando o que? Se você prefere dormir em pé, eu não vou achar ruim. Vou ter a cama só pra mim. - Apoiou-se sobre um cotovelo, um sorriso divertido no rosto. - Ou você está com medo de mim?

“Nós vamos apenas dormir. D-O-R-M-I-R. Não tem problema nenhum nisso. Você é um cara adulto, tem que deixar de se comportar como se fosse um adolescente idiota!”

Remus acabou aceitando a sugestão da garota. Deitou-se na cama e Tonks lhe deu um abraço carinhoso, os dedos pequenos dela acariciando os seus cabelos castanhos. Na pouca iluminação do aposento, parecia que os olhos dela brilhavam mais do que o normal. Quase podia ouvir o coração dela bater contra o seu, os dois quase no mesmo ritmo. E ele também foi capaz de sentir a respiração morna dela contra o seu pescoço, lhe provocando arrepios.

Gentilmente tomou o rosto dela entre as mãos e beijou-a. Tonks inclinou a cabeça levemente para o lado e os lábios se encaixaram com perfeição, enquanto as mãos de Lupin desciam, acariciando o pescoço dela com os polegares. Foi um beijo lento, carinhoso, cheio de significado. Aquele tipo de beijo que te faz perder o rumo do mundo, que te faz ter a impressão de que o seu espírito vai se desprender do corpo a qualquer momento.

Um beijo que fez com que Lupin e Tonks esquecessem quem eram e só se dessem conta dos lábios um do outro. Um beijo que poderia durar por toda a eternidade, sem que eles se cansassem.

Quando finalmente se afastaram, Lupin achou que o que acontecera fora tão certo, que não chegou a sentir acanhado. Ajeitou-se embaixo dos cobertores, cobrindo ele e Tonks melhor. Ela aninhou-se em seus braços e, deixando que o calor do corpo um do outros os embalasse, adormeceram abraçados.


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Notas do Remus: Quando beijei Tonks naquela noite, achei que havia feito unicamente por carência, por estar me sentindo sozinho. No entanto, agora vejo que não tomei aquela atitude por essas razões. Fiz por que me senti atraído por ela, porque senti que ela esperava aquilo de mim. Talvez tivesse sido um modo de mostrar o quanto me sentia agradecido por ela ter aparecido num momento tão ruim da minha vida e me animado. Ou talvez não. Talvez fosse alguém além disso...


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Yesssss!!!!!!! (estoura um champagne) Finalmente aconteceu alguma coisa mais concreta entre esses dois. Ok, não tão concreta, mas pelo menos o Lupin tomou uma iniciativa.
Não disse que teríamos cenas melosas? Essa até escorre mel, apesar de ter tido a sua cota de drama.

Preparem-se, o próximo capítulo vai ter mais romance e menos drama. =)

Obrigado à: Helen, Carolzinha, Sally, Ana Black, Sônia, Vanessa, Ana Luiza, Géia, Charlotte, Mrs. Radcliffe, Bruna, Regina, Holly Granger, Agatha

Beijokas e inté o próximo.

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