Um dia perfeito!



11- Um dia perfeito


04 de Novembro de 1981.



Aquele gosto amargo do teu corpo
Ficou na minha boca por mais tempo



Vultos sem rosto lamentavam no escuro. Algumas vozes conhecidas chamavam o seu nome, suplicando por socorro. Em meio ao desespero, imagens de um passado não tão distante invadiam a sua mente. Imagens de tempos muito mais felizes, onde ele não estava sozinho, onde viver parecia uma grande brincadeira de criança. Não fosse o lamento agourento das vozes ao fundo, poderiam ser imagens reconfortantes. Então aquelas imagens dos seus tempos juvenis de estudante deram lugar à outras muito mais intensas e perturbadoras. Gritos agoniados de dor e desespero feriam os seus ouvidos, enquanto ele via uma rua inteira explodir, conseqüência de um único feitiço. Podia sentir o cheiro ácido e metálico do sangue proveniente dos corpos mutilados. Sabia que não era o culpado por aquelas mortes, mas não podia evitar a agonia de todo aquele cenário macabro. E quando achou que não suportaria mais aquilo, ouviu uma risada. Uma risada que ele ouvira durante anos e que sempre lhe parecera apenas divertida e displicente, e que, por vezes, lembrava o latido de um cão.

-Não... - Remus murmurou com voz abafada, em meio ao seu pesadelo. - Chega... chega... - Mas parecia que o som daquela gargalhada ficava cada vez mais alto, cada vez mais sinistra, cada vez mais maligna. - NÃO!!!

Abriu os olhos subitamente, suor frio escorrendo de seu rosto e encharcando a sua roupa. Olhou para os lados, atordoado, e notou que estava a salvo em seu diminuto quarto. Se esticasse o braço para o lado poderia alcançar facilmente a cômoda velha e encontrar os seus livros antigos. Um pouco trêmulo, elevou uma das mãos e afastou uma mecha de cabelo do seu rosto suado.

Foi quando sentiu uma mão menor e mais macia do que a sua tatear por debaixo dos cobertores e encontrar a sua outra mão. E o corpo macio, quente e delicado de Nymphadora Tonks se aconchegar mais ainda no seu, enquanto um braço dela deslizava levemente sobre o seu peito, enquanto ela murmurava alguma incompreensível durante o sono.


De amargo e então salgado ficou doce,
Assim que o teu cheiro forte e lento
Fez casa nos meus braços



E parte daquela angústia abandonou-o instantaneamente. Deitou-se de lado e ficou observando a garota que dormia a sono solto ao seu lado. Por sorte ela não acordara quando ele balbuciara aquelas coisas durante o sono. Tonks era tão linda, leve e tranqüila quando estava assim, que quando Remus se deu conta, estava sorrindo. Havia algo de muito tranqüilizante na presença dela (ao menos quando estava adormecida e sem derrubar e tropeçar em nada) que o rapaz adormeceu novamente, quase que instantaneamente.

Só acordou quando a manhã estava clara, por volta das nove horas. Sentia-se leve e relaxado demais apesar do pesadelo que tivera. Abriu os olhos lentamente, acostumando-se com a luz do sol que teimosamente conseguiu penetrar pelas persianas e se deparou com um par de olhos negros e brilhantes fitando-o intensamente.

-Bom dia, dormiu bem? - Tonks perguntou. Estava sentada na cama, recostada sobre os travesseiros.

-Dormi sim. - Apesar de ter tido aquele pesadelo estranho, ele realmente havia dormido bem, portanto não estava mentindo.

Remus espreguiçou-se, bocejando longamente. Olhou para Tonks e notou que ela parecia empolgada, como uma criança que acorda no dia do Natal.

-Que bom! - Tonks sorriu travessamente. Inclinou-se sobre o rapaz e beijou-o demoradamente nos lábios, sem a menor reserva; como se o fato de partilharem a mesma cama fosse a coisa mais corriqueira do mundo. Quando se afastou, ela apoiou o queixo sobre o peito de Lupin e falou. - Sabe o que eu estive pensando?

“Esquecer o mundo lá fora e passar o dia inteiro aqui?”, involuntariamente, Remus pensou. O beijo daquela garota tinha um efeito tão devastador sobre ele, que, às vezes, lhe deixava os pensamentos desordenados. Engraçado que isso só acontecera algumas poucas vezes. Imagine como seria se ocorresse com uma freqüência maior?


E ainda leve
E forte e cego e tenso fez saber
Que ainda era muito e muito pouco.



-Não faço idéia. - Ele murmurou, reprimindo o súbito desejo de concretizar os seus pensamentos. - Não sou um bom legilimente!

Tonks gargalhou.

Mas no instante seguinte uma sombra de tristeza instalou-se no olhar de Lupin. Como ele seria capaz de pensar coisas tão... agradáveis, quando em menos de uma semana haviam acontecido coisas tão lamentáveis? Sentia um pouco de vergonha, como se fosse totalmente errado viver momentos leves e despreocupados ao lado de Tonks, quando perdera os seus amigos de maneira tão injusta.

-Engraçadinho! - Ela respirou fundo, risonha. Mas quando notou o olhar do rapaz, sorriu com indulgência e falou suavemente. - Eu acho que seria uma boa idéia nós darmos uma volta em Hogsmeade hoje, sabe. Sair, ver gente, deixar a tristeza de lado um pouquinho... O que você acha? Uma voltinha vai te fazer bem, na minha opinião.

-Não sei, Tonks. - Lupin voltara a assumir o seu jeito cauteloso, a expressão em seu rosto ficando um pouco mais séria. - Não está tão seguro assim para se ficar zanzando por aí. Ainda tem Comensais da Morte que não foram presos e estão mais violentos do que nunca.

Tonks voltou a se sentar e parecia muito séria.

-Remus, eu sei disso. Mas não podemos deixar de viver as nossas vidas por causa disso. Quanto mais nós ficarmos nos escondendo, mais eles vão deitar e rolar encima da gente. Você acha que se tivessem tomado alguma providência quando Você-sabe-quem estava chegando ao poder, ele teria crescido tanto? Tá, ele pode até ser poderoso e tal, mas se as pessoas não tivessem tanto medo dele, ele não teria feito as maldades que fez!

Lupin piscou uma, duas vezes. Estava surpreso com a postura firme e enérgica daquela garota e mais ainda porque as palavras dela faziam todo o sentido do mundo.

-Você está certa! - Ele concordou. - Mas ainda assim...

-Ainda assim o que? - Tonks o interrompeu, fazendo bico. - Ah, deixa de ser chato, Remus. Poxa, hoje é domingo e eu não estou com nem um pouco de vontade de ficar trancada dentro de casa.

Sem esperar por aquela atitude, Remus ficou surpreso quando a garota se levantara repentinamente da cama e começara a calçar suas botas.

-Tonks?

-Hm...

-Err, o que você está fazendo? - O rapaz indagou, ao ver que Tonks estava de pé e terminava de vestir o casaco.

-Eu vou voltar para a hospedaria do Caldeirão Furado e trocar de roupa. Sabe, eu estou usando isso aqui desde ontem! -Vendo que Lupin estava ainda mais confuso, ela explicou. - Você não espera sair com uma garota que não troca de roupas, né?

-Tonks, eu...

-Eu vou me trocar e depois nós vamos nos encontrar em Hogsmeade. - Tonks interrompeu Lupin novamente, parecendo muito decidida. - Às dez horas em frente ao Três Vassouras está bom para você?

-Adianta eu dizer que não? - Lupin arriscou.

-Não mesmo! Senão eu iria ser obrigada a azará-lo. Até porque não existe nada mais frustrante do que um fora, né? -Tonks voltou a sorrir e piscou marotamente. -Até mais! - E com um movimento ágil, girou sobre os calcanhares e desaparatou.


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Quase que instantaneamente, Tonks reaparecera nos fundos do Caldeirão Furado, perto do muro que abria o portal para o Beco Diagonal. Adentrou o bar-hospedaria, acenando ao longe para Tom, o dono do estabelecimento. Talvez se ela não estivesse com tanta pressa, teria visto que um bruxo sentado numa das mesas mais reservadas do bar observou-a intrigado até que ela sumisse pelas escadas que levavam ao primeiro andar. Mas como ela estava ansiosa para subir ao seu quarto e resolver as coisas que a levaram até ali, não se deu conta da presença do bruxo.

Em seu quarto alugado, Tonks aproveitou para tomar um banho rápido e trocar as vestes. Ficou longos minutos em frente ao espelho, indecisa sobre a aparência que iria usar naquele dia. Por mais que não fosse uma garota extremamente vaidosa, queria estar bonita. Nem ela própria estava se reconhecendo com aquela atitude. Sempre fora tão desencanada, achando que a última coisa que importava fosse a cor dos seus olhos ou dos seus cabelos; e agora estava ela ali, completamente indecisa, pelo simples fato de que iria ter um encontro com Remus Lupin.

“Lupin”

O que mais a deixava surpresa com o seu comportamento nos últimos dias, era o modo que se sentia ao lado de Remus. Eles eram tão diferentes, mas ao mesmo tempo tão complementares... E ele era capaz de deixá-la mais calma, ou menos agitada se você preferir assim. Porque ele era capaz de ver que a mesma garota que era tão viva e alegre, que falava sobre aproveitar o momento e as oportunidades, e que às vezes parecia inconseqüente demais, também era uma garota que tinha sentimentos, que sabia falar sobre coisas sérias.

No começo, quando o conhecera nos tempos de Hogwarts, o seu único interesse era tentar descobrir um pouco mais sobre aquele rapaz de olhar triste e ao mesmo tempo maroto, o “Sr. Mistério” como ela costumava se referir a ele mentalmente. Entretanto, conforme foi conhecendo um pouco mais sobre ele, não conseguiu deixar de se cativar pelas maneiras gentis e simples com que ele a tratava, com o modo atencioso dele ouvir as suas conversas malucas, como se o que ela dissesse fosse de extrema importância.

Mas ainda assim, depois de ter entrado novamente na vida dele, no ano de 1981, ela achava que só procurava por Lupin por ele ser a única pessoa com quem pudesse contar. Porém, depois da última semana, depois de ver o modo como ele sofrera pela perda dos amigos, como aquilo o abalara profundamente; depois de saber que aquelas poucas pessoas que sabiam sobre a sua maldição haviam partido, foi que Tonks notou que talvez fosse mais do que amizade ou algum tipo de sentimento fraternal o que ela sentia por Lupin.


Faço nosso o meu segredo mais sincero
E desafio o instinto dissonante.



E a verdade a atingiu de uma única vez, quando estava se mirando no espelho, indecisa quanto à aparência à ser usada naquele dia. Indecisa quanto à aparência que deveria usar para ele.

Tonks estava apaixonada.

Não uma simples paixonite de adolescente. Paixões assim ela teve aos montes. Talvez tantas quantas as suas várias aparências. Mas nenhuma delas a deixara naquele estado de doce rendição, sorrindo bobamente ao se recordar dos momentos em que esteve ao lado dele, das longas conversas onde os dois falavam sobre os mais variados assuntos e onde ele nunca a repreendia pelo seu jeito desencanado de falar e agir.

E talvez aquela certeza tenha ficado ainda mais intensa, quando se dera conta de que vê-lo triste, também a deixava triste e que não mediria esforços para faze-lo sorrir. Porque fazer Remus Lupin sorrir, era algo muito mais gratificante do que qualquer coisa que ela tivesse feito até aquele dia.

“Oh, Merlin, estou perdida!”

Não estava nos seus planos se apaixonar por Remus. Aliás, as coisas que aconteceram nos últimos tempos não estavam nos planos de Tonks. Ela não planejara viajar para o passado e conhecer todas aquelas pessoas, viver todas aquelas experiências. E ainda tinha que tentar encontrar um modo de descobrir o que a levara para aquela época, caso existisse alguma explicação racional, coisa que ela já estava desistindo de entender.

E como boa adepta do “aproveite o momento”, como era e como sempre seria, Tonks deixou as divagações de lado e terminou de se arrumar. Havia um bruxo esperando por ela em Hogsmeade, e ela não iria deixá-lo esperando por muito tempo.


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A insegurança não me ataca quando erro
E o teu momento passa a ser o meu instante.



Assim que aparatou em Hogsmeade, Tonks sentiu o vento frio de outono acariciando o seu rosto e trazendo até ela os vários aromas das lojinhas do povoado: a maravilhosa cerveja amanteigada do Três Vassouras mesclada ao aroma levemente ácido de Fire Whisky, os deliciosos doces da Dedos de Mel... tudo tão envolvente e tão delicioso, como se fosse o prenúncio do dia maravilhoso que a aguardava.

Tonks aspirou o ar profundamente, de olhos fechados, uma sensação de plenitude tomando conta dela.

Quando voltou a abri-los, viu a poucos metros de distância Lupin parado em frente ao Três Vassouras, do mesmo modo como Tonks o intimara a aparecer. Ele parecia ansioso, enquanto olhava adiante, procurando por alguém. Procurando por ela. Apenas esperando por ela.

Tonks sorriu abertamente.

Lupin continuou observando as pessoas que saíam do bar, sem notar que alguém, às suas costas, se aproximava dele.

-Tonks? - Ele indagou, ao sentir um par de mãos cobrindo-lhe os olhos e uma respiração morna resvalar em seu pescoço. Contudo, nem era necessário perguntar, Remus já era capaz de reconhecer o toque, o calor, o perfume natural daquela garota.

-Bom, é um pouco óbvio que seja eu, né? - Ela replicou, ainda mantendo suas mãos postas sobre os olhos de Lupin. - A não ser que você estivesse esperando outra pessoa!

-Claro que eu não estava esperando outra pessoa! - Ele respondeu e pelo seu tom de voz, Tonks deduziu que ele estivesse sorrindo. -Depois de ter sido ameaçado por você, eu não teria coragem pra tanto.

Tonks gargalhou, sentindo uma pontinha de orgulho por ver Lupin um pouco menos sombrio e melancólico. Apesar de saber que a voz e o olhar dele ainda traziam traços de tristeza e desolação, ao menos ela fora capaz de faze-lo sorrir.

As mãos calejadas dele pousaram suavemente sobre as mãos de Tonks e trouxeram elas para baixo, desobstruindo a sua visão. Quando Lupin voltou-se para a garota, precisou usar todo o seu autocontrole para não parecer muito idiota na frente dela. Tonks estava linda. Bem, a aparência que ela usava naquele dia era linda: cabelos castanhos e repicados, que lhe caíam jovialmente sobre os olhos, que tinham nuances de um azul-esverdeado.

-Aonde você quer ir primeiro? - Lupin perguntou, desviando o olhar de Tonks, temendo se perder naquele olhar hipnotizante que ela possuía e não querer sair de lá nunca mais.

Tonks deu uma olhada rápida ao redor, em busca de um local legal para visitarem primeiro. Em uma das ruas laterais do povoado, havia uma pequena e enfumaçada casa de chá, onde um casal saía de lá e trocava um longo beijo apaixonado. A garota soltou uma risadinha provocativa, ao notar a expressão de quase desespero de Remus, ao ver que ela olhava para o Madame Pudifoot que, segundo os marotos, era o pesadelo de qualquer rapaz que estivesse namorando ou saindo com alguém.

-Não, bobinho, eu não quero ir pra lá! - Tonks mordeu o lábio inferior, tentando segurar as gargalhadas, que pareciam quase incontroláveis quando Remus soltara um suspiro quase imperceptível de alívio. - Que tal a Dedos de Mel? De acordo?

-Plenamente! - Lupin confirmou com um aceno da cabeça, um sorriso breve no rosto.

Só o aroma dos doces da loja eram o suficiente para deixar o coração mais leve e os pensamentos menos sombrios. Sapinhos de chocolate, bolos de caldeirão, diabinhos de pimenta... E apesar dos protestos de Lupin, que se sentia constrangido por não poder bancar todas as compras da garota devido à sua renda baixíssima, ela respondeu indignada que era extremamente careta um cara achar que uma garota não possa pagar por suas compras.

E uma das coisas que Remus devia ter compreendido rapidamente, era que discutir com Tonks era uma batalha perdida: o que ela tinha de alegre e irreverente, também tinha de teimosa. Muito teimosa, na verdade!


E o teu medo de ter medo de ter medo
Não faz da minha força confusão



A princípio, o rapaz ficara um pouco sem jeito, fazia muito tempo que não saía com uma garota, não sabia ao certo como deveria se comportar. Mas Tonks tinha o poder de deixá-lo à vontade, tagarelando sem parar e falando sobre os mais diversos assuntos. Vez ou outra ele a surpreendia lançando olhares longos e penetrantes a ele, que sempre terminavam com um sorriso largo, sem que ele se desse conta do real significado daquele sorriso.

O passeio se estendeu por praticamente todos os estabelecimentos de Hogsmeade e Remus sentia que era como resgatar uma parte dele que já estava quase esquecida no meio das suas reservas e incertezas: o seu lado maroto, que ele deixara adormecido devido às coisas que aconteceram durante a guerra.

Era por volta das três horas da tarde quando haviam acabado de sair da Zonko’s - Logros e Brincadeiras. Caminhavam a esmo pelas ruelas, sem saber ao certo para onde iriam e quando se deram conta, estavam subindo a ladeira que levava à Casa dos Gritos. Um calafrio atravessou o corpo de Lupin quando avistou a construção, mas todo e qualquer sentimento ruim e negativo que estivesse com ele desapareceu quando sentiu dedos pequenos e delicados tocarem a sua mão e deslizar suavemente por entre seus dedos. Olhou de esguelha para Tonks, que parecia bem à vontade em andar de mãos dadas com ele.

Lupin sorriu e fez uma leve pressão sobre a mão dela, como se estivesse aceitando aquela carícia.

-Eu sempre tive curiosidade de saber como era lá dentro! - Tonks comentou, quando os dois pararam em frente à cerca que ficava ao redor do jardim mal cuidado da propriedade. - Dizem que os espíritos que moram aí dentro são bem violentos!

Quando ela se voltou para o rapaz, viu que ele tinha um olhar perdido sobre a casa mal cuidada, parecendo distante, como se estivesse relembrando coisas do seu passado. Tonks passou um braço ao redor da cintura de Lupin, apoiando o queixo no ombro dele.

-Não tem nenhum espírito aí dentro, Tonks! - Ele respondeu muito sério, após alguns minutos de silêncio, em que os dois ficaram apenas observando a casa. - Era eu que ficava aí durante a semana da lua cheia. No ano em que cheguei à Hogwarts, Dumbledore mandou construir uma passagem que me levaria até essa casa, onde eu poderia me transformar sem trazer riscos à ninguém!

-E ninguém nunca descobriu que era você que ficava aí?

-Com exceção dos marotos, quase ninguém sabia disso. Dumbledore aumentou os boatos de que a casa era mal-assombrada e o barulho que eles ouviam no povoado à noite, eram os meus uivos quando eu me transformava. Ninguém tinha coragem de se aproximar!

Tonks estreitou o abraço e sussurrou:

-Dói muito quando você se transforma?

Lupin sorriu com amargura, mas uma parte dele sentiu um certo conforto ao notar a nota de preocupação na voz de Tonks.

-Na verdade sim. Eu perco completamente o meu lado racional, sem conseguir me lembrar quem sou. O meu corpo sempre demora um pouco para se recuperar após isso, porque sempre acabo me mordendo e me arranhando já que não tenho o que atacar.

E o coração de Tonks ficou pequenininho quando ouviu aquelas palavras. Cada vez mais ela se deixava envolver por aquele rapaz, queria poder reparar todos os danos que foram feitos em sua vida, todas as mágoas que ele carregava em seu peito. Não era pena ou compaixão, era apenas vontade de vê-lo bem e feliz.

-Eu acho injusto que uma pessoa tão doce quanto você sofra dessa maneira. - Ela sussurrou, uma lágrima teimosa escorrendo por seu rosto pálido.

-Doce? - Lupin comentou e sua voz parecia um pouco mais leve, encarando Tonks com o seu olhar sempre calmo e resignado, que tinha o poder de fazer Tonks se derreter por dentro como chocolate. Elevou a mão direita e secou a lágrima do rosto dela e dessa vez ele não desviou a vista, deixou-se mergulhar no olhar dela.

-Muito, muito doce! - Ela foi se aproximando, abraçando-o pela cintura.

E Lupin apenas se deixou guiar pelas sensações, pelos desejos, por aquilo que palpitava dentro dele. Quantas garotas ele conhecera que o aceitava exatamente do jeito que ele era? E a atração que sentia por ela era quase palpável, apenas camuflada por uma leve camada de reserva. Ele estava cada vez mais convencido de que não se tratava de carência, que ele queria apenas estar na companhia dela e que só de ouvir a sua risada, ele já se sentia infinitamente melhor. Era como emergir de um longo pesadelo e acordar à salvo em seu quarto, finalmente tendo a certeza de que está em segurança; como renascer de uma longa existência em meio às trevas e despertar numa quente e acolhedora manhã de primavera.

Tocou os lábios dela levemente com os dedos, sentindo a textura macia deles. Enlaçou-a firme e delicadamente pela cintura e sorriu ao notar que Tonks parecia ter fraquejado ao toque dele. Não demorou muito para os lábios se encontrarem novamente, as línguas se acariciarem, as mãos se abraçarem.

E Tonks não tinha mais controle sobre as suas pernas, que pareciam ter virado gelatina. Queria apenas ficar ali, nos braços dele, sem se importar com o dia de amanhã, sem se preocupar com a possibilidade de perdê-lo em algum momento. E, oh, merlin, o beijo era tão melhor quando vinha sem as reservas dele, quando Remus se entregava por completo. Ela podia jurar que havia um gostinho de chocolate, que misturado ao gosto dele, deixava a experiência ainda mais deliciosa.

-Não mais do que você! - Ele murmurou, trancando o Remus inseguro e cauteloso no fundo de sua mente. - Minha doce Nymphadora!


Teu corpo é meu espelho e em ti navego
E sei que tua correnteza não tem direção.



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Notas da Tonks: Merlin, o que dizer sobre o que aconteceu? Eu estou total e completamente apaixonada e a cada dia que passa, tenho mais certeza de que ele me corresponde. E a semana que se seguiu foi ainda melhor. O Remus parece estar cada vez menos triste, sorri com mais freqüência. E eu? Eu mal posso me reconhecer. Quem é essa garota patética que fica suspirando pelos cantos e sorrindo para o teto? E sabe o que mais? Eu não me importo com isso.


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oie, quanto tempo, não? então, o bloqueio aqui foi feio, viu. No mês passado eu atualizava com mais freqüência porque estive de férias e tinha tempo de sobra, mas depois que voltei ao trabalho o ritmo ficou um pouco mais lento e eu travei completamente, tanto que demorei horrores pra concluir esse capítulo. É, eu sei, ficou MEGA meloso, podem me jogar na cara. E eu ando decididamente insatisfeita com as minhas cenas românticas, ando achando tudo uma droga, piegas e açucarado demais. ¬¬ . Sem contar que achei Lupin & Tonks meio descaracterizados nesse capítulo.
mas espero que essa minha crise não demore tanto assim...rs... e no fundo até que achei bonitinho o final do capítulo. O Remus merece mais do que ninguém uma ceninha fofa, né?

ah, sim, música tema é 'Daniel na cova dos leões' do legião urbana. sério, eu amo essa música, acho a letra dela maravilhosa e super poética (hm, sou suspeita pra falar, afinal, sou maníaca por essa banda..rs)

Obrigado às pessoas fofas que moram no meu coração e comentaram o capítulo passado: Carolzinha (não precisa se desculpar, moça!), Aline e Mrs. Radcliffe (valeu pela compreensão), AnnaRaven (Bem vinda de volta! Ou talvez não... who knows?), Lunny, Priscila, Lara_Evans, Kitai Black, Hanna Carol, Sônia, Sally, Regina, Holly Granger (muitamuitaMUITA saudade da tua fic), Pérola Black (ainda tô emocionada com o teu comentário), Vanessa, Ana Luiza, Charlotte, Agatha, Helen, Géia. --Espero não ter esquecido ninguém. ;-)

See ya

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