A Verdade
“O-Menino-Que-Sobreviveu-Novamente” – dizia o título.
“O bruxo mais conhecido do planeta se envolveu em mais um caso misterioso. Diz o povo que Harry Potter entrou, num ato corajoso, em uma loja dominada por Comensais da Morte, com o único objetivo de retirar os intrusos. Não se sabe ao certo o que aconteceu lá dentro, mas o teto desabou sobre todas as pessoas presentes no local. Apenas uma pessoa foi encontrada com vida – apesar de petrificada - : Harry Potter. Harry está internado no St. Mungus em estado grave. Cruzem os dedos pela melhora dele!”
— Voldemort! O que aconteceu com Voldemort?
— Voldemort? — perguntou vagarosamente o sr. Weasley, olhando de esguelha para a sra. Weasley. — Bom, Harry... tudo o que encontraram no lugar foi você petrificado, um cachorro morto com a espinha partida, vassouras e uns Comensais. Voldemort não estava lá, estava?
— Eu o vi! — gritou Harry tentando se levantar. Todos avançaram para cima dele e o imobilizaram facilmente. Harry se acalmou, e o sr. Weasley contou tudo o que sabia.
— No Ministério, os aurores estão dizendo que as testemunhas contaram sempre a mesma versão. Você foi visto entrando na loja por cinco pessoas, Harry, mas, incluindo essas, doze pessoas testemunharam cada feitiço que foi lançado.
“Elas dizem que, quando você entrou, um cachorro começou a latir. Isso é verdade?”
— Sim — respondeu Harry.
— Bom. Logo depois, elas dizem que viram um feitiço que acham que é o de mover objetos.
— Eu movi as vassouras de lugar. Por um tempo... até que...
— Até que os Comensais surgiram — completou o sr. Weasley. — Bom, e o que aconteceu em seguida? Quem lançou o primeiro feitiço?
— Um dos Comensais. Virei-me a tempo de perceber o feitiço, e me protegi com o “protego”.
— E então? — indagou o sr. Weasley ao perceber a hesitação.
— Não lembro muito bem... Acho... Acho que Voldemort... É, ele pediu para duelar comigo! Ordenou que todos os Comensais se afastassem!
Harry se remexeu desconfortavelmente na cama.
— E então? Quem começou a batalha?
— Eu... eu não tinha opção! Tentei paralizá-lo, mas ele se esquivou... e então, ele conjurou uma cobra e mandou ela me matar, mas se deu conta de que eu entendia o que ele falava para a cobra e a desmanchou. Então, ele começou a produzir a Maldição da Morte, então simplesmente o empurrei com o “protego”. Um lado da parede desmoronou, e aquilo me deu uma idéia. Deixei ele inconsciente e comecei a fazer um feitiço para explodir o lugar. Os Comensais, a esse ponto, já estavam começando a fazer feitiços. Quando eu lancei o feitiço em direção ao chão, um feitiço me atingiu, e era igual ao de Voldemort. E se eu estou vivo, quer dizer que ele também está!
— Fui eu.
— Foi você o quê?
— Fui eu quem te petrificou. Eu estava justamente indo ao Beco Diagonal porque algumas pessoas aparataram para o Ministério e me encontraram. Eu apareci no lado da parede que você contou que desabou. Vi o que você ia fazer, e tentei fazer você parar. Por sorte, escolhi o feitiço de petrificar, e aí está você. Bom, a explosão realmente aconteceu, e todos os Comensais estavam mortos. Voldemort sumiu.
— Sumiu? Como?! — revoltou-se Harry.
— Ainda não sabemos. Agora, Harry, acalme-se. Suas queimaduras já estão totalmente curadas, e talvez depois de amanhã você já possa sair do hospital.
— Querido, não acha que é demais para ele? — perguntou a sra. Weasley ajeitando novamente as cobertas do jovem bruxo, que se remexeu novamente. Estava com calor e pediu para que a sra. Weasley retirasse os cobertores extra.
— Querida — resmungou o sr. Weasley finalmente. — Precisamos ainda saber se Harry reconheceu algum Comensal. Eles estavam totalmente desfigurados.
O sr. Weasley se virou, então, para Harry, como se esperasse uma resposta.
— Eu reconheci um. Malfoy.
Foi a única coisa que fez Harry se sentir não tão mal assim. Saber que Malfoy agora estava morto. Ele e mais quatro de seus companheiros vagabundos e covardes, que tinham de agir em grupo para matar um bruxo vários anos mais jovem.
Não só o sr. Weasley também pareceu gostar da notícia, mas também Hermione e Rony lançaram olhares orgulhosos na direção de Harry, Luna afrouxou o corpo, a sra. Weasley suspirou em alívio e Fred e Jorge sorriram abertamente.
— Bom, Harry. Você não será acusado de crime algum, pois, afinal de contas, eles eram Comensais. Porém, devo avisá-lo de uma notícia terrível.
“Não fui culpa do Ministério, Harry, entenda. Mas o Ministério foi atacado ontem. Alguns aurores foram torturados e... mortos. Entre eles... bem, estava... Tonks.”
Mais essa agora. Harry mal se recuperava de seu próprio ataque a já sabia da morte de outras pessoas.
Tonks... Tonks agora se juntava à lista dos mortos pelos Comensais... é demais... já basta... isso vai acabar em breve... Tonks...
— Bom, Harry, vamos deixá-lo dormir. Procure não pensar nisso agora. Descanse. — disse a sra. Weasley, ajeitando mais uma vez as cobertas de Harry e se afastando.
Luna e Neville foram os primeiros a sair do quarto. Depois, foram o sr. e a sra. Weasley e Hagrid. Hermione abraçou Harry e saiu também, desejando melhoras. Gina deu um beijinho nos lábios secos de Harry e se despediu. Rony apertou a mão de Harry – agora sim Harry conseguiu retribuir o gesto – e lhe desejou boa noite. Saiu, e, quando finalmente só ficaram Harry, Fred e Jorge no quarto, os gêmeos começaram a falar.
— Harry, este licor é dose única. Vai uma quantia... razoável... hum... de álcool na mistura, e você deve engolir de uma só vez. Acreditamos que talvez você durma, e isso é importante. Você tem de dormir bastante, caso contrário sentirá uma dor incômoda. Adeus.
— Isso é tudo. De uma só vez. Dormir depois. Tchau!
Os gêmeos saíram apressadamente do quarto depois de entregarem para Harry um frasquinho com um líquido arroxeado dentro. Quando Harry retirou a rolha, sentiu o inconfundível cheiro do álcool.
Não teve escolha. Enfiou logo goela abaixo o licor.
“Quantia razoável?!”, pensou Harry quando sentiu a queimação na garganta e sua consciência foi se esvaindo.
Harry não teve noção de quanto tempo dormiu, mas posso lhe dizer que só acordou na noite do dia seguinte.
Sentia-se tão bem que teve vontade de se levantar imediatamente após acordar. Só não conseguiu porque Fred, que estava ao seu lado, o assustou com o alto suspiro que deu, seguido por um grito, ao que Jorge apareceu prontamente.
— Olha, Jorge! Ele acordou!
— Que sorte! Harry, que enorme susto você nos deu! Tivemos que falar para a mamãe que você devia estar dormindo tanto assim por causa da recuperação.
— Ela desconfiou, mas mentimos tão bem que ela acabou achando a história convincente. Espere aí, eles ainda estão jantando! Vou pedir para que a enfermeira traga algo para você.
— Nós não estávamos com muita fome... achamos que talvez tivéssemos lhe preparado uma poção para dormir eternamente ou algo assim...
— Eu achei que vocês me deram veneno! — gargalhou Harry ao se lembrar do sabor do licor. — Aquilo devia ter uns 80% de seu conteúdo de álcool!
Fred e Jorge riram também, e jogaram para ele seu jeans e uma camiseta que provavelmente alguém lhe dera. Os dois saíram do quarto para dar a Harry um tempo para se vestir e para chamar a enfermeira.
Cinco minutos depois, a enfermeira e um médico apareceram. A mulher lhe entregou uma bandeja com uma fatia de pão, um pequeno pote de manteiga e uma sopa fumegante.
Já o médico realizou um breve feitiço – uma luz que primeiramente ficou iluminando a varinha do sujeito. Depois, com um gesto dele, a luz voou diretamente para a barriga de Harry e se espalhou pelo corpo do garoto. Harry nada sentiu, mas conseguiu perceber um flash em sua visão quando a luz atravessou seu olho.
A luz voltou para a varinha do médico, e ele a levou à têmpora. Fez um gesto afirmativo com a cabeça e anunciou:
— Você está de alta, Harry Potter. — Sua voz rouca chegou ao ouvido de Harry, e a notícia o alegrou. Sairia finalmente daquele hospital.
Largou a bandeja na cama, agradeceu à enfermeira e ao médico e saiu.
O sr. Weasley informou a Harry que não seria necessário. Todos os casos de ataque de Comensais da Morte contra pessoas seria pago pelo Ministério – e Harry soube, então, que o Ministério passaria dificuldades por algum tempo.
Os Weasley, Harry, Luna, Neville e Hagrid saíram do hospital de madrugada, após assinarem uma série de papéis que não aparentavam ter importância.
Cada um foi para sua respectiva casa – aparatando - , exceto Harry, que agora iria ficar hospedado com os Weasley. Não havia motivos para que ele se isolasse. Na verdade, os folhetos distribuidos pelo Ministério – que agora eram distribuídos mais que nunca – recomendavam justo o contrário.
Ao chegar à Toca, Harry não percebeu nenhuma mudança. Porém, ao chegar ao quarto de Rony – onde a coruja do garoto e a de Harry estavam – notou que havia vassouras lá.
— Papai achou que não fazia sentido deixá-las lá — explicou Rony.
Quer dizer que as vassouras não haviam sofrido nenhum dano?
Rony e todos os outros arrumaram suas camas e se deitaram. Harry também preparou uma cama para ele no chão, mas não conseguiu dormir. Em alguns minutos começou a ouvir os altos roncos de Rony, mas ele ainda estava desperto. Nem ao menos se sentia sonolento.
Mas fome ele tinha. Levantou-se silenciosamente para não acordar o amigo e desceu as escadas sem fazer ruído algum.
Ao chegar à cozinha, ouviu sons de vidro e de talheres. Era óbvio que alguém estava lá. Harry apoiou a mão no cabo de sua varinha – que se encontrava presa em sua cintura – só para garantir.
Então, quando girou cuidadosamente o trinco da porta e a empurrou, se viu de frente para Gina. A garota estava bebendo leite e um enorme pacote de biscoitos estava sobre o balcão ao seu lado. Ela percebeu Harry e parou de beber o leite. Caminhou até ele e o beijou. Por um longo tempo. Gina foi se apoiando cada vez mais em Harry.
Quando Harry percebeu onde aquilo ia parar, começou a parar de beijá-la. Ela continuava, então Harry parou subitamente.
— Vamos parar, Gina. Vamos dormir.
Gina pareceu decepcionada, mas ainda assim deu um último beijinho em Harry e pareceu se esquecer do leite e dos biscoitos.
Harry caminhou até o balcão e pegou o copo de leite. Terminou de beber o líquido e se serviu de alguns biscoitos. Comeu por aproximadamente cinco minutos, ao final dos quais já se sentia satisfeito e com muito sono. Fechou o pacote, apanhou um grampo na gaveta para lacrar a abertura e retomou o caminho para o quarto.
Antes de dormir, pensou se fizera a coisa certa com Gina.
Sim, pensou. Eu fiz a coisa certa.
Falara aquilo só para se tranqüilizar.
Então, sem que ele percebesse, o sono tomou conta do seu cérebro e ele deixou que seu corpo relaxasse e que suas idéias se esvaíssem.
Dormiu pesadamente.
Um grande erro.
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