Bandeira branca



Capítulo XX

I get back up and I do it again
I get back up and I do it again



O silêncio caía sobre a Mansão Riddle, e o verão parecia mais distante do que jamais estivera, embora julho se aproximasse rapidamente. A névoa densa dos dementadores embaçava o ar e tornava a visibilidade difícil, e havia um certo ar sombrio e mal-assombrado naquela casa grande, velha e encoberta de neblina; a qual os habitantes de Little Hangleton ainda temiam se aproximar. Principalmente porque agora dera para aparecer luzes à noite, e se alguém se aventurasse a chegar mais perto, poderia ouvir vozes também.

Naquela noite, então, encobertos pela neblina, dois vultos apareceram de repente em frente à velha casa, parecendo materializarem-se do nada.

O vulto mais alto, cujos cabelos platinados faziam o reflexo do brilho pálido da lua cheia refulgir, estancou por um momento. Ele recuou um pouco, não parecendo muito a fim de entrar na casa. O outro vulto, ligeiramente mais baixo e magro, de cabelos negros que se confundiam com o negrume da noite, o puxou pela manga do sobretudo que ele usava.

“Maldito hipogrifo...” – sussurrou Snape, apertando com a outra mão o braço ferido.
“Professor...” – Draco ofegou, tropeçando nas próprias pernas enquanto era arrastado por Snape – “Que lugar é esse?”

Snape não respondeu, mas continuou andando, Draco em seu encalço, até a porta da casa. Bateu, e o instante que Rabicho demorou-se para atende-la foi suficiente para que o professor respondesse a pergunta do garoto.
“Esse é o quartel-general da Ordem das Trevas. É aqui que o Lorde das Trevas passa a maior parte de seu tempo...” – Snape hesitou por um momento antes de concluir a fala – “E para onde ele mandou que nós viéssemos caso algo desse errado no plano”.
“Mas, senhor...” – disse Draco – “O plano...”
“Silêncio!” – ordenou Snape ao ver a porta se abrir.

Rabicho, o homenzinho pequeno e nervoso de sempre, abriu a porta. Recepcionou-os com um sorriso afetado e um olhar de ligeiro receio.

“Snape... ! E Draco...!” – ele ofegou ao vê-los.
“É Malfoy para você, verme” – resmungou Draco.
Snape não respondeu. Seu olhar estava atento na mulher que os observava do alto da escada.

Era Bellatrix, que os observava com os braços cruzados e um sorriso de desdém, e claro, o onipresente ar de superioridade tão típico seu. Seus olhos de pálpebras pesadas pareciam atentar para cada centímetro da mente e do corpo dos três homens à porta.

Parece que Bella está perdendo o jeito, se é isso que ela faz para me provocar

“Se vocês estão atrás do Lorde das Trevas, receio que ele esteja ocupado” – ela disse; seu sorriso desdenhoso aumentando.

Snape sorriu com igual ironia; seus olhos brilhando pela breve guerra de provocações em que estavam próximos a entrar. Seus olhos analisaram a mulher à sua frente, buscando quebrar a firme barreira de Oclumência. Uma batalha mental travava-se entre ambos, e alguns segundo depois, quando tornara-se por demais óbvio que nenhum conseguiria ler a mente do outro, Snape quebrou o silêncio:

“É extremamente importante” – disse Snape, apertando os lábios.
“É, mas...”
“Deixe, Bella” – disse a voz gélida atrás deles.

Voldemort vinha entrando na sala com uma expressão homicida. Não precisou de mais que um minuto para compreender o que havia acontecido. Draco Malfoy, pálido, trêmulo e extremamente perturbado; e Snape, quase tão nervoso quanto, apertando uma ferida no braço esquerdo que não queria parar de sangrar. Professor e aluno se entreolharam, e Draco pareceu empalidecer mais um pouco.

“Eu vou primeiro” – Snape sussurrou para Draco pelo canto da boca
“Não, eu quero os dois juntos no meu escritório. Agora”
Snape acompanhou o Lorde das Trevas, mantendo-se o mais afastado possível. Parecia profundamente transtornado. Draco, hesitante, acompanhou os dois homens; sua mão apertando compulsivamente a varinha por dentro das vestes e lançando olhares pidões a Bellatrix.
Por um momento ocorreu a Bellatrix que pudesse ajuda-lo, quem sabe amenizar o castigo – o menino parecia já ter sofrido um bocado, fosse pelo que fosse. Mas então lembrou-se de que ele provavelmente merecia o castigo, e não se sentiu nem minimamente culpada em segui-los até o escritório.
“Isso não é da sua conta, Bellatrix” – rosnou Snape
“O Lorde das Trevas divide tudo comigo!” – ela retrucou irritada
“Estou vendo que ele divide” – Snape respondeu, indicando a barriga evidente sob as vestes, e entrou na sala.
Bella abriu a boca para retrucar, indignada, mas a porta bateu com força ante seu rosto antes que pudesse elaborar uma resposta à altura.
Rosnando impropérios, ela se debruçou sobre a porta e pôs-se a ouvir a conversa que se desenrolava lá dentro:

Mestre, eu...” – disse a voz frágil de Draco
Dumbledore está morto, milorde.” – interrompeu Snape de repente.
Um silêncio pesado se abateu dentro da sala, de modo que Bella teve de apertar ainda mais o ouvido contra a porta para se certificar de que estava ouvindo tudo.
Eu disse, Snape, que viessem aqui somente caso algo desse errado
Bem eu...” – gaguejou Draco
Sim, Malfoy?” – incentivou Vodlemort com uma nota de ironia – “Você...?”
Eu não consegui mata-lo” – o garoto sussurrou.
Você não conseguiu mata-lo... Entendo.” – disse Voldemort baixinho.
Milorde, por favor, não o castigue” – disse Snape rápido – “Ele só tem dezessete anos, e...”
Se bem me lembro, Snape, você era capaz de fazer muito mais do que matar aos dezessete” – disse Voldemort no mesmo tom letal. – “Então Dumbledore foi morto por você, Snape?
Snape hesitou por um momento antes de confirmar:
Sim, senhor. Eu o matei”.
Mais um momento de silêncio hostil se seguiu, e Bellatrix, excitada, se aproximou ainda mais da porta. Era sorte que ela não estivesse Imperturbável.
Então Alvo Dumbledore, um dos maiores bruxos que já conheci; Alvo Dumbledore foi morto por um mero Comensal da Morte traidor?” – disse Voldemort; o volume de sua voz aumentando, mas mantendo-se calmamente controlada – “Você não me engana, Snape. Nem você, Draco. Ambos, eu posso ver, gostariam de estar do lado daquele velho amante de trouxas. Não estariam aqui se achassem que o outro lado tem condições de vencer esta guerra”.
Milorde, não...” – protestou Draco.
Crucio!” – exclamou Voldemort, e os gritos de Draco alcançaram rapidamente os ouvidos da mulher que ouvia à porta. – “Você acha que sua mísera Oclumência é capaz de ocultar sua verdadeira lealdade, Snape?” – ele perguntou, sobrepondo os gritos de Draco.
Não fosse o elo mortal em que Narcisa o envolveu, você não estaria aqui, e ainda serviria Dumbledore.
Milorde, eu sou fiel! Já expliquei ao senhor que...” – disse Snape desesperado.
Silêncio!” – Voldemort exclamou, e Snape parou de falar, e Draco, de gemer. – “Malfoy, você se provou mais covarde do que eu imaginava, e haverá castigo para isso, pode estar certo. Por hora, os dois sumam das minhas vistas antes que eu mude de idéia!

Bella mal teve tempo de se afastar da porta antes de a ouvir abrindo e Snape e Draco serem expulsos de dentro.
“Então você matou o velho?” – perguntou Bellatrix debochada – “Parabéns, Snape. Agora que já sabe qual lado está se saindo vencedor, quem sabe não sossegue em um deles? Você sabe, proteção dos mais poderosos é sempre bem conveniente...”
Snape, lívido, virou-se para encara-la com uma expressão homicida no rosto.
“Por mais leal que você seja, Bellatrix, não precisa repetir tudo o que o Lorde das Trevas acaba de me dizer. Sei que é difícil para você pensar sozinha...”
“Pelo menos eu não sou traidora!” – ela vociferou.
Snape revirou os olhos. Será que ela não cansava de dizer aquilo?
“E o fato de não traí-lo lhe proporcionou algo além de uma estadia prolongada em Azkaban?” – disse Snape, curvando os lábios finos num sorriso irônico.
“Claro que sim!” – respondeu Bellatrix furiosa – “Sou a serva mais dedicada e fiel, e ele divide tudo comigo, e...”
“... e a usa para gerar mais um servo; um que ele possa treinar pessoalmente e garantir que jamais o traia, porque ele confia tanto em você...”
O queixo de Bellatrix caiu, e ela piscou aturdida.
“Como...?”
“Algumas coisas são simplesmente óbvias” – respondeu Snape com um sorriso ao mesmo tempo desdenhoso e enigmático, e dando as costas a ela, saiu andando em direção à saída.
Draco, no entanto, ainda a fitava muito sério. Não que Bella notasse – estava ocupada demais tentando escolher a pior maldição que poderia aplicar a Snape sem que alguém suspeitasse dela -, mas Malfoy não seguiu o professor.

“É dele, não é?” – perguntou Draco baixinho, indicando a porta do escritório de Voldemort com a cabeça.
“O quê?” – Bella disse, despertando de seus devaneios assassinos.
“O bebê. É filho do Lorde das Trevas, não é?”
“E que isso interessa a você?”
“É que, você sabe... Ninguém tem realmente provas de vocês dois...” – falou Draco com a voz arrastada.
“Se você quer mesmo saber, é de Rodolfo” – retrucou Bella irritada, e se virou para ir embora. Draco, no entanto, permaneceu parado, e quando Bella tornou a encara-lo para verificar porque o garoto não tinha ido embora também, deparou com Draco sorrindo sinistramente.
“Teoricamente, ninguém pode provar que o filho é do Lorde das Trevas... Exceto eu.” – disse.
“Que quer dizer com isso?”
“Quero dizer que você pode, sabe, evitar que algo aconteça com a minha mãe” – disse Draco, e sua expressão mudou de sarcástica para positivamente apavorada – “Ele vai matar minha mãe. Sei que vai. Matar... Ou coisa muito pior.”
“E por que você acha que o Lorde das Trevas me ouviria?”
“Ahh... Você espera o filho dele, não espera? Acho que poderia pedir isso. De qualquer maneira, imagine como o Lorde das Trevas não ficaria furioso se todos descobrissem nosso segredinho...?”
“Ora...!” – exclamou Bella indignada, mas Draco já se fora.
“Bellatrix...” – chamou Rabicho baixinho, que estivera observando a cena calado – “Seus sapos de creme de menta. Tive de ir a Hogsmeade para consegui-los, e quase fui devorado por uma coruja”
“Que se danem os malditos sapos!” – exclamou Bellatrix, explodindo os doces na mão de um Rabicho muito assustado.

[...]

Bella ruminava os últimos acontecimentos com raiva em seu quarto. Algumas horas já haviam se passado, e a humilhação de estar sendo chantageada pelo pirralho Malfoy a enchia de irritação crescente. Por mais que a intenção de Draco fosse relativamente nobre – salvar a vida da mãe – ainda se sentia humilhada. A segunda vez que era chantageada, e estava começando a concordar com Rodolfo quando ele dissera que seu envolvimento com o Lorde das Trevas poderia lhe sair muito caro.

Narcisa... Era sua única irmã. Sabia que Andrômeda ainda era viva, mas não considerava a traidora do sangue como irmã desde que ela tivera o nome expurgado da Árvore Genealógica da família Black. Ainda a odiava profundamente pelo ocorrido, mas não a desejava morta. Ademais, havia o fato de que correriam, ela e Tom, muito mais perigo se a paternidade da criança fosse de conhecimento público.

“Senhor, eu gostaria de lhe falar” – disse Bella, ao entrar no escritório.
“Diga” – respondeu ele sem se virar.
“Milorde... Milorde, o que acontecerá com Narcisa Malfoy, agora que Draco falhou na missão?”
Voldemort hesitou por um momento antes de virar e encará-la; uma expressão irônica no rosto pálido.
“Por que está me perguntando isso, Bella? Achei que de todas as pessoas a serem castigadas, Narcisa seria a última para quem você ligaria...”
“Milorde... Eu não quero ver Narcisa morta.” – disse Bella com cuidado – “Há outras maneiras de se castigar Draco...”
“No entanto, nenhuma tão eficiente quanto se eu atingisse Narcisa...”
“Milorde, por favor...!” – disse desesperada – “O senhor poderia, sei lá, manda-lo seguir Harry Potter; seria um castigo por si só...”
Voldemort ergueu uma sobrancelha, mas Bella pôde constatar que mais do que irritado, ele estava divertido.
“Muito bem, não farei nada contra Narcisa por enquanto. A idéia de ver Draco Malfoy seguindo Potter, confesso, é bem mais divertida. Mas... Precisarei falar com Narcisa de qualquer maneira; precisamos ter uma conversa sobre o futuro do herdeiro Malfoy – ou da falta de futuro, caso ele continue a se recusar a matar quem eu mando ele matar”.

[...]


O silêncio incomodo e constrangedor pesava entre as duas irmãs. A lembrança do acontecido da última vez em que elas haviam se encontrado ainda estava bastante fresca, apesar de ter ocorrido já havia bastante tempo.

“Eu não sabia” – disse Narcisa cautelosamente – “Eu não sabia que você estava grávida”
“Ninguém sabe” – respondeu Bella, e o silêncio tornou a baixar.
Juntas, elas encararam algum ponto no meio do nada, decididas a ignorarem a presença uma da outra. Algum tempo transcorreu até que Narcisa cortou o silêncio novamente:
“Então... Você tem certeza de que Rodolfo é o pai?”
“Claro que tenho”.
“E não... Não há a menor possibilidade de o pai ser... Você sabe...”
“Não, nenhuma possibilidade” – Bella retrucou
Mais uma onda de silêncio guardou-as, particularmente pesada e incômoda, até que, pela terceira vez Narcisa falou:
“Ah, olhe, Bella, me desculpe, está bem?!” – ela exclamou de um jeito meio histérico – “Me desculpe!”
Desculpar?!” – exclamou Bella irritada – “Acho que isso vai ser difícil, irmãzinha.”
“Eu sei o que estou dizendo quando digo que ele gosta mesmo é de você! Se quer saber, ele ficou o tempo todo dizendo seu nome; só dormiu comigo porque achava que eu era você...!”
“E você quer que eu acredite nisso?” – rosnou Bellatrix
“...e agora você está grávida, e eu sinto muito, muito, mas eu estava desesperada, e na verdade ainda estou, e... Bella, não sei se esse é o termo correto..., mas ele gosta de você!”
Bella olhou para a irmã, piscando levemente aturdida.
“Você... Você acha mesmo?”
Ah, Bella...!” – exclamou Narcisa chorosa
E sem ver como, como se o mundo tivesse virado de cabeça para baixo, e sem entender porque fazia aquilo, Bellatrix se viu abraçada à irmã com força, e ambas as mulheres choravam com vontade no ombro uma da outra.
“...a vida de Draco está arruinada, nossas vidas estão um inferno, e o pobrezinho certamente será castigado...” – choramingou Narcisa.
“...o filho é dele, Cissa, é dele, é do Lorde das Trevas!”
“Você é louca, Bella, louca de pedra!” – disse Narcisa, meio rindo meio chorando.
“E você é uma idiota, Narcisa!” – exclamou Bella no mesmo tom divertido, soltando-se do abraço.
“Acho que as roupinhas de Draco servirão no bebê” – disse Narcisa por fim – “Quando vai nascer?”
“Tenho certeza que servirão” – respondeu, sorrindo – “Acho que por setembro ele deve estar vindo”
“Então temos muita coisa para pensar...” – disse Narcisa retribuindo o sorriso.



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Oi, galera.
Espero que tenham gostado do capítulo. O final foi meio manteiga-derretida, mas eu precisava dessas duas em paz ^^
Estou só fazendo essa nota para pedir que vocês visitem minha nova short-fic, minha primeira tentativa de NC-17 séria. O endereço é: http://www.floreioseborroes.com.br/menufic.php?id=11811 , espero que curtam e comentem ^^

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