31 de Julho



Capítulo XXI

I get back up and I do it again
I get back up and I do it again



Bellatrix remexia-se em sua cama, amaldiçoando o frio inesperado daquele meio de verão e a sensação oprimente do peso de sua própria barriga aos sete meses de gestação. Virou-se de lado, e seus olhos esquadrinharam o aposento em que se encontrava. Porta fechada, resquício de sua paranóia sempre presente, janela fechada onde gotas enormes de água batiam, a cômoda de poucas roupas e o berço. Sorrindo, ela observou as cobras do móbile acima do berço se enroscando umas nas outras, e o cortinado verde delicado se mexer conforme o vento batia nele. Era um ambiente um tanto inóspito para uma criança, tinha de admitir.

Virou-se novamente, dessa vez encarando a parede, tentando sentir os movimentos do bebê dentro de si e especulando quando tempo mais teria de esperar te poder tê-lo nos braços. Talvez o Lorde das Trevas preferisse um menino para carregar seu nome... Ou não. Talvez não quisesse ver o sobrenome imundo de seu pai trouxa passado adiante. Mas Bella sabia que, independente do sexo ou do nome que a criança tivesse, ela a educaria da melhor maneira possível, para servir o Lorde das Trevas com orgulho e louvor...

Ah, sim, o nome do bebê. O Lorde das Trevas havia lhe dito que em hipótese alguma queria outro Tom Riddle no mundo. Dissera, e na ocasião parecia estar falando muito sério, que não toleraria esse tipo de “homenagem”. E também insinuara que a criança receberia o sobrenome Lestrange, o que, se ao mesmo tempo lhe provocara uma certa revolta, também lhe trazia um pouco de conforto – ao menos seu filho não teria um sobrenome trouxa, afinal. Ela se perguntava se sua família a consideraria traidora do sangue se o mestiço de quem estivesse grávida fosse o próprio Lorde das Trevas... Suspirando, virou-se uma terceira vez, listando mentalmente as doze propriedades do uso do Sangue de Dragão para tentar adormecer...

Estava sentada no quarto do Lorde das Trevas, e segurava uma trouxinha pesada de panos nos braços. Sentia o bebê se mexendo e balbuciando sílabas sem nexo, e sorriu para o pequeno ser que carregava. Estava frio, e ela procurou chegar o casaco mais para perto de si, ao mesmo tempo que aconchegava o bebê em sua sobertas. O Lorde das Trevas entrou, e fitando o bebê com um olhar inexpressivo, disse:
“Esse é o teu filho?”
“Nosso filho” – Bella respondeu, estranhando a frieza de sua voz.
Um novo olhar no cenário, ela estranhou também o fato de nada ter cor, de nada parecer vivo ali. Uma sensação crescente de angústia apertava seu peito, e sentiu vontade de proteger mais ainda a criança em seus braços.
“Bella, você precisa mata-lo” – disse Voldemort com frieza
“Mas por quê?” – perguntou ela assustada
“Porque somente mortais se preocupam em deixar linhagem. Ninguém deve me suceder, porque eu jamais morrerei... Meu futuro é meu presente, você entende?”
“Desculpe, Milorde” – disse ela – “Mas não posso matar nosso filho...”
“Você não entendeu?” – ele disse, sorrindo torto – “Isso é uma ordem, e você deve me obedecer. Você está atada a mim, Bella.”
E de repente, Bella sentiu sua Marca Negra arder com intensidade, e correu com velocidade para fora do quarto, sem dar chance para que algum feitiço a atingisse.
Correu, e os corredores retos da casa pareciam ter se tornado sinuosos e escuros, embora uma luz indistinta clareasse seu caminho.
Não o viu correndo atrás de si, e sequer um único feitiço era lançado em sua direção. A sensação de falsa tranqüilidade se apossou de Bella. Parou para respirar um pouco, com a sensação de ter corrido por quilômetros, embora a porta por onde saíra ainda fosse visível no final do corredor. O bebê chorava. Então ergueu a dobra de pano que cobria seu rosto, e o que viu a fez tomar um susto...

Uma cobra! Uma cobra armada para dar o bote saía da trouxa de panos onde devia estar seu bebê... Bella gritou de susto, mas antes que a largasse no chão, viu sangue escorrendo por suas mãos; a cobra transformava-se num rio de sangue, que correu e correu, pingando no chão...

Com um grito, Bella acordou. Viu-se ensopada de suor, e enrolada nos lençóis quase como numa teia. Escorregou os dedos pela testa molhada e fria, tirando os fios negros da face e fechou os olhos, trêmula. Ainda olhou para as próprias mãos, como se verificasse se não havia mesmo sangue por ali, e deslizou as mãos pela barriga. Murmurou para si mesma que era apenas um pesadelo, dos mais desagradáveis...

Levantou-se lentamente, e pousou os pés descalços no chão frio. Seu coração ainda não se aquietara completamente, e sentia-se agitada. Decidiu-se por um copo de água, e quem sabe olhar a pouca lua que o céu ainda exibia; isso sempre a acalmava. Gostava do efeito daquela luz láctea sobre sua pele. A fazia sentir-se mais... leve. Brincava com os raios de luz entre os dedos. Seu cabelo descia em ondas delicadas até a cintura e pela primeira vez em muito tempo sentiu-se bonita. Sorrindo, Bella saiu caminhando em direção à cozinha, atrás de seu copo de água. Ou atrás de paz, de sono, que fosse.

[...]


Chovia. Muito. A cântaros. Naquela época, isso deveria ser comum, afinal, era verão. Mas aquela chuva era simplesmente intensa demais, e Voldemort sabia que a culpa era sua. Ou dos dementadores, que seja. A água castigava as vidraças, e as gotas do tamanho de pedregulhos batiam fazendo um barulho característico. O clima havia esfriado de uma vez, e até acendera a lareira.

Ele observava, então, o próprio reflexo no vidro. Quando se cansou, virou-se. Agora eram seus olhos castanhos quem refletiam, e mostravam o reflexo das chamas, fazendo suas pupilas brilharem num esgar rúbeo repentino. O corpo fino e sinuoso da serpente passou deslizando por seus pés, e Nagini ergueu-se para encara-lo.

Gostava de Nagini, apesar das constantes implicâncias da cobra em relação a quase todos os aspectos de sua vida. Ela gostava de se meter, a Nagini, mas em geral lhe dava bons conselhos, e afinal, tinha sido através de uma poção com seu veneno que se mantivera fisicamente vivo por algum tempo, o suficiente para se reestabelecer completamente.

Não falta muito para a criança nascer, milorde...” – Voldemort não respondeu.
Você vai mesmo ficar com a criança?”
Vou” – respondeu com firmeza. – “Já tomei minha decisão faz tempo.
E o que será dela? De Bellatrix?
Era uma pergunta francamente inesperada. Ele girou o corpo, dando as costas a Nagini. Não gostava de encarar um ser que era tão parecido com ele próprio, mas que as vezes o fazia se sentir um tanto bobo.

Que faria dela?

Ora, ela continuará me servindo.
E como o que ela continuará lhe servindo?
Como fiel assecla que sempre foi...
...e mãe de seu filho...
Não é meu filho, nem nunca será. Um servo, apenas isso, e um grande bruxo para me servir...
Mas ainda assim ela está um nível acima dos outros, e você gosta e se preocupa com ela...

Os olhos de Voldemort tornaram a encarar os olhos pequenos, negros e hipnóticos da cobra, e, procurando mudar de assunto, serviu-se de um cálice de vinho dos elfos, e sentou-se na poltrona defronte à lareira.

Você devia mata-la
Não vou mata-la....

Mas, afinal, o que o impedia de mata-la depois que o bebê nascesse? Bella era útil, decerto, e competente, mas tinha de admitir que ela estava interferindo demais em sua vida... Sentia-se idiota mais uma vez, e quando Nagini deixou a sala, pensamentos conflitantes travavam uma árdua batalha em sua mente.

“Não posso simplesmente mata-la...” – pensou alto

É claro que pode... – disse uma vozinha incômoda em sua mente, fazendo-o lembrar de Nagini – Matar foi sempre tão simples...

[...]


Ela não podia entender aqueles silvos estranhos, e os ruídos sussurrados emitidos por ele soavam aos seus ouvidos como uma sinfonia de sons bizarros; ainda assim ela permaneceu lá, espreitando à porta. Voltava da cozinha pé-ante-pé, quando percebeu a língua estranha sendo falada pela boca de seu mestre, e cedeu à tentação de ouvi-lo, num esforço inútil mas insistente para compreende-lo. Talvez ainda nutrisse alguma esperança de entender alguma palavra...

Viu então Nagini saindo da sala, arrastando-se em sua direção. Atemorizada, Bella se encolheu contra a parede, esperando passar despercebida. Nagini estendeu a língua bifurcada e ofídia no ar, provando seu cheiro... E foi embora, para seu alívio. Mas Bellatrix continuou lá, mais por inércia que por força da curiosidade, esforçando-se para entender algo da conversa ininteligível para seus ouvidos.

Não posso simplesmente mata-la...” – ele disse baixinho, mas ela pôde ouvir perfeitamente.

O choque então a invadiu, e Bella pôde compreender.

Eles estavam planejando mata-la!

A revolta fazia ondas de raiva sacudirem seu corpo, e, cega de raiva, Bellatrix fez as mãos deslizarem por dentro do roupão que vestia em busca da varinha com que até então iluminara seu caminho.
Seguiu o rastro aberto na fina poeira pela serpente.

Haveria de mata-la imediatamente...

A varinha tremia violentamente em sua mão, e lágrimas de raiva eram reprimidas e inundavam os olhos estreitos e odiosos...

A cobra acuada armou o bote... As presas pingando veneno rasparam em sua pele, quando ela apontou a varinha para Nagini...

“Avada Kedavra!”

[...]


Crucio!

A dor penetrava seu corpo, e ela mordia os lábios com força para evitar emitir mais que alguns gemidos. Se pudesse, gritaria e gritaria até não ser mais capaz de expressar a dor que sentia... Até sua garganta se rasgar e cada célula d seu corpo se romper em agonia... A dor, de fato, parecia multiplicada por dois – o que Bella nunca achara ser possível. Estava sofrendo por si mesma e pelo bebê, que sentia-se movendo em agonia...

“Pare, por favor...” – gemeu – “O bebê...”
“Então...” – falou um Voldemort lívido de fúria, cuja voz gélida emitia ondas da mais pura crueldade. Não parecia ter ouvido qualquer comentário da chorosa Bellatrix a seus pés. – “Então você simplesmente decidiu matar Nagini sem nenhum motivo?”
“Estava... me matar...” – ela ofegou.
Crucio!

Uma nova dor percorreu seu corpo, e dessa vez, não foi somente a dor do feitiço que a fez estremecer. Sentiu uma contração violenta na barriga; vergou o corpo, encolhendo os joelhos, e soltou um gemido choroso. Agora as lágrimas escorriam de fato, queimando a pele alva de seu rosto.

“Você acha que é especial? Você acha que eu sinto alguma coisa por você, Bellatrix Lestrange?” – perguntou Voldemort com o mesmo tom gélido de fúria.
“Deixe eu lhe explicar, então... Você é minha serva, sua alma e corpo pertencem a mim, e você não é nada além de minha escrava.”

Uma nova contração no ventre, e Bellatrix soltou o urro que estava preso em sua garganta. Mais lágrimas de dor e humilhação saltaram de seus olhos, e ela cravou novamente os dentes no lábio até o sangue invadir sua boca, e por um momento o gosto doce e ácido aliviou seu tormento, para depois perder-se na imensidão de seus sentidos...

“Se eu não tivesse tomado providências anteriores, Nagini estaria morta agora, e parte de mim se iria com ela.” – disse Voldemort calmamente – “Mas ela está viva, e somente por isso, a deixarei viva também. Não pense que essa criança que você carrega poderá poupa-la dos castigos. Você me conhece, Bella. Não ouse me desafiar novamente.” – ele disse, dando as costas, à mulher que tremia e soluçava no chão.

O desespero a atingiu com força, e Bella levantou-se, reunindo o ínfimo de dignidade que ainda lhe restava, e suas pernas a levaram para fora do cômodo escuro; cambaleando, Bellatrix correu rapidamente sem olhar para trás. Desceu as escadas; foi de encontro à porta fechada da casa que dava para os jardins. Um feitiço apressado, e as portas se abriram.

A água gelada da chuva a recepcionou, e alguns poucos segundos foram suficientes para que Bellatrix estivesse molhada até os ossos. A dor, a raiva, a frustração a dominavam...

Ele não dava a mínima!

Poderia estar morta, e isso não faria a menor diferença... ah, tão tola! Ao menos o bebê, ela achava... Não, sequer o bebê, não faria a menor diferença, e era uma questão de tempo até ser morta, pelo motivo que fosse; ele apenas aguardava um motivo qualquer para mata-la... Não era mais que uma serva, escrava, presa à sua insignificância, e sem qualquer valor...

As gotas de chuva eram tão grossas e densas que machucavam seu corpo já dolorido. As contrações se tornavam cada vez próximas umas das outras...

Contornou o lago que inundava com a chuva abundante, e chegou ao pequeno abrigo escondido entre as árvores. Via de longe a casa com suas poucas luzes acesas; era tarde e todos dormiam... O Lorde das Trevas certamente não se preocuparia com ela; já a salvara tantas vezes... Talvez fosse deixa-la morrer, talvez fosse isso que merecesse... Talvez fosse isso que se ganhasse ao amar alguém como ele...

Uma nova contração particularmente forte, e ela sentiu o líquido morno escorrendo por entre as pernas, molhando as vestes já encharcadas... Seu grito ecoou à distância quando sentiu a bolsa romper-se, e deslizou contra a parede do abrigo, implorando por alguém que a ajudasse...





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Oláá, pessoas \o/
Primeiro quero me desculpar pelo atraso de uma semana nesse capítulo, mas eu passei por tantos problemas que vocês nem fazem idéia...Provas, provas e provas!
Quero também me desculpar pela imagem de “implicante” da Nagini que é reforçada mais ainda nesse capítulo... É que eu precisava de alguém para ser a consciência de Voldemort, a “voz da razão”, como Hermione para o Harry... E depois, por terminar o capítulo dessa forma, mas eu não faço a mínima idéia das sensações de um parto – tudo que sei aprendi em aulas de biologia e em novelas da Globo. Espero que tenham curtido.

Hope you enjoy ^^

Lillith R.

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