Um passeio por L. Hangleton



Capítulo XVIII

Why do you love me?
Why do you love me?


“...Estou grávida

Voldemort a olhou, seus olhos focando o nada absoluto. Não, com certeza tinha ouvido errado. Acabara de ouvir que Bellatrix esperava um filho. Mas Bella não podia... Ela simplesmente não podia.

“...não, é...”
“...impossível, claro que não é...”
“...você está bêbada...”
“...estou perfeitamente consciente...”
“...só pode ser um engano...”
“...absolutamente certa, você acha que...?”
“...você não usou nada...?”
“...depois de tanto tempo não achei que fosse precisar...”
“...que é que você pretende com isso?”

Ele tornou a encará-la. Não conseguia emitir mais do que algumas poucas palavras balbuciantes. Subitamente tinha assumido o papel de mero observador enquanto via a sua vida e a de sua melhor serva virando de cabeça para baixo. Completamente transtornado, Voldemort tornou falar; sua voz saiu um pouco mais fina do que o normal.

“Alguma chance de esse filho não ser meu?”
Bella negou com um curto aceno da cabeça.
“Nenhuma chance”

Voldemort observou Bellatrix passar a mão compulsivamente sobre a barriga. Ainda não era possível perceber a gravidez, mas ela logo se tornaria evidente. Ninguém deveria saber dessa criança, ou seus servos perderiam o respeito por ele. Depois de anos... Anos, e ele deixa as coisas fugirem de seu controle dessa maneira. Como pudera ser tão burro?

“Eu não vou tirar, se é nisso que você está pensando” – falou a voz grave de Bella. A Comensal se levantara e assumira uma postura decididamente defensiva, e não tirava os braços que cercavam a própria cintura.
“Eu... Preciso pensar.” – ele disse num tom aflito e, batendo a porta com força atrás de si, deixou Bellatrix sozinha trancada no quarto.

Desceu as escadas furioso, pisando duro. Os outros Comensais cochichavam animados sobre os últimos acontecimentos. Era consenso geral entre eles que Bella, com a loucura que Azkaban lhe despertara, não estava fazendo nada bem ao Lorde das Trevas, e o arrastava junto rumo à insanidade e isso, unido ao fato de os dois manterem um tórrido e mal-disfarçado caso, também não ajudava a faze-los esquecer a cena teatral que presenciaram. Snape ao menos tivera a dignidade de levar Narcisa para casa.

“Eu sempre achei que isso não ia dar certo...” – disse um dos comensais mais ao fundo da sala.
“Ela podia ao menos disfarçar...”
“Pirou de vez...”
“CHEGA! Acabou! Todos embora daqui agora!” – gritou Voldemort lívido.

Os Comensais se entreolharam assustados, parando imediatamente com suas fofocas animadas. Apesar do tom positivamente ameaçador de seu Mestre a ficha deles não parecia querer cair.

“Eu-mandei-todos-vocês-darem-o-fora agora!”

Um a um os asseclas assustados foram aparatando, e logo os estalos de aparatação foram cessando, deixando para trás somente um Voldemort realmente transtornado.

Nagini deslizou para fora de sua toca, ou fosse lá onde ela estivesse escondida. Ela normalmente não comparecia aos eventos, mas como sempre parecia onisciente dos fatos que se desenrolavam neles. Essa capacidade da cobra de saber de tudo que acontecia debaixo daquele teto era algo que Voldemort prometia a si mesmo investigar havia muito tempo.

“Você ainda tem alguma dúvida sobre o que é certo a fazer?” – Nagini sibilou.
Ele voltou os olhos de um vermelho intenso e ameaçadoramente brilhantes para encarar as pequenas pérolas negras que eram os olhos da cobra.
Ela poderia ficar com o bebê, não é preciso que ninguém saiba que é meu filho...
Você está amolecendo, é isso?
Não, claro que não. É só que não há realmente necessidade de...
Eles descobrirão, é claro que descobrirão...

Ele desviou o olhar dos olhos hipnotizantes da serpente para encarar o nada, pensativo.

E então, de repente, uma idéia lhe ocorreu.

Eu poderia treinar a criança. Seria o melhor guerreiro que eu poderia querer, meu filho, meu sangue, meus poderes. Treinado por mim.
E depois o rei seria deposto pelo príncipe das Trevas... E você, meu caro, seria peça fora do jogo
Besteira, eu jamais me aliaria com alguém mais forte que eu... Está decidido” – disse com firmeza

Nagini ergueu-se armando o bote, como fazia ao se enfurecer. Seus olhos brilhantes reluziam com as chamas já quase extintas da lareira e o chocalho na ponta de seu rabo agitou-se ameaçadoramente.
Seja como queira, meu senhor...

A cobra desarmou o bote, tornando a assumir sua posição habitual, submissa porém mortal, e rastejou até fora do alcance das vistas de seu mestre.

Voldemort não estava bem certo se a maneira como Nagini havia aceitado tudo tão passivamente era uma boa notícia. De qualquer maneira, ela tinha um pouco de razão, não?

Filhos eram perigosos. Podia-se fazer magias à distância utilizado-se os filhos. Filhos podiam crescer e se rebelar. Filhos podiam nos amar. Filhos podiam ser amados....

Voldemort agitou a cabeça como se espantasse uma mosca incômoda zumbindo por ali. Pensamentos idiotas. Ele tinha controle sobre uma legião de bruxos poderosos; não teria sobre uma criança?

Ele o treinaria. Faria de seu filho o maior Comensal da Morte, o mais competente e poderoso. Não seu herdeiro – era imortal, não precisava de herdeiros – mas seu servo e guerreiro. Na pior das hipóteses... Alguém para lhe vingar.

Antes que completasse seu pensamento jubiloso, no entanto, uma criatura que era capaz de lhe deixar de mau-humor até em seus melhores dias cruzou seu caminho.

“É verdade, Mestre?” – fungou Rabicho – “Bellatrix está grávida?”

Irritado, Voldemort girou os calcanhares parando para encarar o homenzinho de voz roufenha e rosto miúdo como de rato. Rabicho ofegava e sorria idiotamente como se acabasse de receber um afago.

“Eu imagino que isto não seja da sua conta, e que você não deveria estar sabendo disso. Mas como sempre, Rabicho, você ouve às portas e mais uma vez na sua existência miserável você tem a oportunidade de saber demais. Imagino que um Obliviate limparia sua mente, mas você sabe que, se eu fizesse isso perderia o crédito com meus Comensais leais que esperam ser recompensado. Agora escute aqui...”

Voldemort curvou-se um pouco para ficar com o rosto mais próximo do de Rabicho, que agora apagara o sorriso bobo do rosto. Sua expressão revelava medo e confusão.

“Bellatrix está grávida, mas ninguém deve ficar sabendo disso. Ninguém, está me ouvindo?”
“Mas, mestre...” – o outro ofegou – “A criança... O filho de Bellatrix...?”
“É meu filho” – respondeu Voldemort com tranqüilidade.

O queixo de Rabicho foi ao chão. Piscando com força os olhos pequenos e aguados, ele permaneceu como se fixado ao chão.

“Mas, mestre...?”

Mas Voldemort já sumira.


[...]



Os dias se arrastavam lentos e vagarosos conforme abril chegava ao fim, com o clima se tornando mais morno. Bella sentia-se feliz, como não lembrava de sentir-se mesmo depois de liberta de Azkaban. Uma tranqüilidade indescritível a invadira, e a despeito de estar trancafiada em casa e obrigada a se esconder do resto do mundo, passava o tempo lendo ou observando a vila, desejando poder passear um pouco.

Little Hangleton era uma vila trouxa, claro, e isso apenas mantinha Bella distante de lá. De cima do morro onde a mansão estava incrustada era possível ver toda a vizinhança, uma cidadela de casario humilde que parecia curvar-se diante da magnitude da Mansão Riddle, ainda que a casa estivesse depredada e arruinada pela ação do tempo.

As vezes, entediada, sentada em seu quarto como passava boa parte do dia, cogitava a hipótese de tomar uma poção polissuco e dar uma volta no Beco Diagonal. Depois lembrava-se do quão perigoso a operação seria, e no que poderia acontecer se fosse capturada. Conforme o Lorde das Trevas lhe dissera, ninguém deveria saber de sua gravidez.

Ah, sim, ele a permitira ficar com o bebê. Mas, francamente, Bella não saberia o que fazer caso ele não permitisse. Descobrira que a perspectiva de ser mãe era bem melhor e mais feliz do que poderia ter imaginado, e mais ainda de ter um filho que poderia não só servir ao Lorde das Trevas, mas ser Seu maior servo, o mais poderoso guerreiro das Trevas. O orgulho enchia seu peito e novamente, Bella jamais lembrava de ter sido tão feliz naquela casa.

Voldemort, no entanto, não a procurara mais. Tratavam-se com fria cortesia. Por algum motivo (e Bella tinha um palpite bem correto do porquê) ele não a castigara pelo escândalo e dera algum jeito de silenciar seus Comensais a respeito do ocorrido (ou pelo menos enquanto ele estava por perto), porque Rabicho nada comentara. Mas despeito do jeito que o animago a encarava e sorria com leve deboche, Bella podia deduzir que Rabicho sabia muito mais do que os outros a respeito da paternidade de seu filho. Ou quem sabe os outros também soubessem (ou presumissem) mais do que o Lorde das Trevas sabia, apesar de sua gravidez ainda não ser claramente visível sob as longas vestes.

Naquele dia, então, já em meados de abril, com o fim da primavera dando as caras e a brindando com um belo e ensolarado dia, Bella decidiu que era hora de quebrar o longo jejum social que cumpria. Iria a Little Hangleton. Apenas algumas horas perto dos trouxas, ela podia suportar. Se não levasse a varinha quem sabe até podia resistir à tentação de explodir com eles todos. Talvez comprasse alguma coisa para o bebê.

Delicadamente pousou a mão sobre o ventre que começava a mostrar sinais de crescimento. Sorriu ao sentir um leve chute do bebê. A verdade é que mesmo para ela era difícil sentir algum movimento da criança. Tom – que era como ela gostaria de chamar o filho (tinha quase certeza de que era um menino) – não era um bebê muito agitado e raramente dava sinais de vida. Tom pareceu agitar-se dentro de sua bolha, dando chutes e cambalhotas, e então parou. Parecia ter adormecido novamente, ou se acalmado com os sussurros que a mãe lhe dirigia:

Você será o maior guerreiro das Trevas, o melhor servo do Lorde das Trevas. Tem o sangue dele. Será o bruxo mais poderoso do mundo, depois de seu pai, claro.”.

Era estranho pensar no Lorde das Trevas como pai. Simplesmente não parecia se encaixar direito, era como se as palavras se repelissem. Não nutria esperanças de que ele fosse um pai minimamente carinhoso ou participativo. Ainda assim, sentia-se carregando seu herdeiro, mesmo que lá no fundo soubesse que seres imortais não precisavam de herdeiros.

Apanhou o casaco, embora estivesse quente lá fora e vestiu-o por cima das vestes que revelavam a barriga despontando. Desceu as escadas, esperando não topar com Rabicho. O verme com certeza a delataria, sabia que estava proibida de sair de casa, mas, bem, o que os olhos não viam o coração não sentia.

Felizmente encontrou o caminho livre. O Lorde das Trevas estava, como sempre, concentrado em elaborar seus planos ou tentar desvendar os planos alheios de seus inimigos, que, diga-se de passagem, não eram poucos.

E que sem dúvida adorariam pôr as mãos em nosso filho. – Bella pensou com um arrepio e levou as mãos novamente à barriga. Dessa vez, porém, Tom não se mexeu.

Enquanto trilhava o caminho que saía pelo grande jardim dos fundos até a porta da saída, tentava pôr todos os pensamentos desordenados em ordem em sua cabeça. Quando a criança nascesse provavelmente não seria poucos os riscos que ambas correriam. Teria de se esconder mais do que já fazia.

Sentiu medo. Não sabia nada sobre crianças, a última que vira de fato fora Draco, e apesar de gostar muito do sobrinho, nunca levara jeito para cuidar de crianças. E, francamente, não gostava muito delas de um modo geral; as achava chatas e inúteis. E isolada, sozinha... Seria capaz?

Talvez se deixasse outra pessoa criar seu filho...

Não – disse com firmeza para si mesma. O Lorde das Trevas lhe confiava essa missão.

E então Little Hangleton cresceu diante de seus olhos. Ou melhor, apareceu diante de seus olhos, porque a vila era tão minúscula que não devia contar com mais de uma centena de casas. Não havia muitas pessoas na rua, o que para Bella foi francamente um alívio. Conviver com trouxas, para ela, uma Black, legítima puro-sangue, era quase tortura. Quase não compensava o fato de estar há semanas trancada em casa.

Entrou por uma ruazinha que parecia comercial; vitrines sujas enfeitavam os dois lados das calçadas. Roupas trouxas (estúpidas – pensou), comida trouxa, livros trouxas, brinquedos trouxas... Quase sentia pena das crianças trouxas que jamais poderiam montar numa vassoura, brincar com um frisbee dentado ou jogar snap explosivo. Com alguma sorte, Tom seria também um ótimo jogador de quadribol, e quem sabe jogaria pelo time da Sonserina. Apanhador, ele seria. Gostava de quadribol, e aproveitou para fazer uma anotação mental de conferir os resultados das Copas dos anos que passara presa. O Chudley Cannons tinha de ter vencido alguma!

Riu de si mesma. Fazendo planos para uma criança ainda nem nascida... A verdade é que estava amolecendo e se tornando mais boba do que poderia ter imaginado. E foi a essa conclusão que chegou quando se surpreendeu brigando com o dinheiro trouxa a fim de comprar um belo móbile exposto na vitrine, de pequenas cobras de prata que balançavam ao sabor do vento, e que poderiam ser enfeitiçadas para se mexer conforme o exemplar vivo.
Ralhando consigo mesma e se achando extremamente idiota, porém incapaz de resistir, comprou também um par de sapatinhos azuis, minúsculos. E quando ia entrar numa nova loja a procura de ursinhos de pelúcia, achou que era hora de voltar para casa antes que passasse a tratar os trouxas normalmente (ela ia mesmo pedir desculpas por ter esbarrado naquela velha?!).


Cruzou a ruazinha comercial de volta à estrada principal que serpenteava subindo o morro onde a Mansão Riddle se erguia imponente. Quando passava pela calçada em frente à igreja ladeada por um enorme cemitério, porém, viu algo que chamou sua atenção.

Detrás de uma cerca engolida pela vegetação densa, um casebre arruinado e quase todo destruído erguia-se, mantendo-se de pé com alguma dificuldade. Não foi sem um chamado de sua razão à realidade que Bella saltou a cerca e penetrou no casebre arruinado, pensando que aquele era decididamente o dia em que cometia mais loucuras de toda a sua vida.

Achou nada além do lugar mais imundo em que já pisara. Respirando com alguma dificuldade, percorreu os curtos e poucos cômodos da casa, até achar a única porta trancada. Um feitiço simples, e foi capaz de abri-la.
Era um quarto, igualmente imundo. Tossindo, Bella espanou a poeira grossa que cobria a única coisa que ainda havia dentro do quarto, debaixo da cama comida por traças e mofo: um pequeno diário, conservado do tempo magicamente, embora sujo como todo o mais na casa. Estava intitulado:

Mérope Gaunt, 1924, e sobre o nome Gaunt, estava riscado toscamente o nome “Riddle”.

Excitada, Bellatrix abriu-o.



//*//*//*//*//*//*//*//*//*//*//*//*//*//*//*//*//*//*//*//*//*//*//*//*//*//*//*//*//*//*//*//*//*//*//*//*//*


Oiee! Espero que tenham gostado desse capítulo... Ele foi bem cheio, as reações de Voldemort, de Bella (tão feliz, tadinha ^^), o surto dela em querer passear em Little Hangleton... No começo vocês vão achar essa história de diário de Mérope meio forçado, mas acredite, tem um motivo!

Hope you enjoy ^^

Lillith

Compartilhe!

anúncio

Comentários (0)

Não há comentários. Seja o primeiro!
Você precisa estar logado para comentar. Faça Login.