Entre tapas e beijos
Capítulo XVII
Why do you me?
It’s driving me crazy
A primeira coisa em que Narcisa pensou quando acordou é que seu plano tinha dado certo. Aparentemente. No segundo seguinte é que percebeu que na verdade nada tinha dado certo.
Assim que o palavrão gritado por Bellatrix chegou aos seus ouvidos, Voldemort, ainda sonolento, se perguntou vagamente o que estaria acontecendo. Os gritos exaltados que perfuravam seus tímpanos pareciam vir de alguém muito histérico, e ele sinceramente não conseguia pensar em nenhum motivo razoável que justificasse aquele escândalo. Irritado e de extremo mau-humor, procurou pela varinha às cegas, decidido a amaldiçoar a alma infeliz que tivesse ousado acorda-lo daquela maneira. Quando a achou na mesa de cabeceira e abriu os olhos, entendeu então o motivo dos gritos. Era Bellatrix.
Mas então...?
Ele olhou para o lado e deu de cara com a última pessoa que esperava ver: Narcisa Malfoy.
Gritou assustado, e pulou da cama para o chão.
“Que di...?” – ele resmungou, totalmente confuso. Sequer tinha muita certeza sobre estar acordado ou dormindo.
“VADIA!” – gritou Bellatrix, e seu rosto se contorceu numa expressão de fúria assassina.
Sem dizer mais nada, Bella fechou a porta com tanta força que fez uma nuvem de poeira acumulada durante décadas no teto cair e tapar a visão por breves instantes. Quando tornou a vê-la, Bella ia longe, e já virava o corredor em direção ao seu próprio quarto.
“Bela, espere...!” – ele exclamou agitado, apanhando um roupão em cima da cama e vestindo-se.
Ele correu atrás da Comensal que àquela altura já alcançara a porta do quarto e a abria...
Voldemort aparatou exatamente à frente dela, impedindo-a de prosseguir.
Ele reparou que o olhar de Bella não tinha agora mais a fúria assassina contida, mas que eles expressavam o mais profundo desgosto; escuros de ódio contido. Ele podia ver em sua mente que o maior desejo dela naquele momento era mata-lo. Não sem matar Narcisa antes, é claro.
Ele agarrou seu pulso, obrigando-a, à força, a encara-lo, o que ela não parecia disposta a fazer voluntariamente. Os olhos vermelhos encararam os azuis estreitos de ira. Os lábios de Bella tremiam como se ela quisesse verbalizar o que ela sentia inverbalizável; xinga-lo, gritar, bater, explodir a casa se fosse possível...
“Bella, me escute. Eu não faço a menor idéia de como Narcisa...”
“Não precisa gastar suas explicações comigo, milorde. O senhor não presta contas de sua vida para ninguém, muito menos para mim!”
E, bem, ela tinha razão.
“Eu sou apenas a bonequinha de luxo, escrava sexual...!”
“Não seja ridícula, eu não a estou obrigando a nada! Mas se quer saber, é, eu não devo satisfações a ninguém, muito menos a você!” – ele exclamou
“Então me deixe em paz!” – gritou ainda mais alto. Estavam aos berros.
“Estou deixando!”
“ÓTIMO!” – Gritou Bella, e puxando o braço com força das mãos que o prendiam, trancou-se no quarto.
Como fora burra, idiota, estúpida... Se iludindo, achando que poderia haver algo além de sexo entre os dois, amando-o...
Com um rugido feroz, ela apanhou um velho vaso empoeirado que enfeitava toscamente a prateleira e atirou-o contra a parede; o vaso quebrou-se, os cacos de fina porcelana chinesa se espalhando pelo tapete.
Gostaria que cada caco daqueles fosse o rosto de Narcisa, para quebrá-lo, esfacela-lo, machuca-lo... Como gostaria de apagar aquele sorriso cínico de seu rosto, roubando aquilo que ela tinha dado tão duro para conseguir...
Puta, cadela maldita! - pensou com raiva, enquanto chutava agressivamente um móvel que estava em seu caminho para o banheiro. A raiva era tamanha que Bellatrix sequer derramara uma lágrima; seu pranto todo transformado em ódio mortal, ela tentava organizar os pensamentos, buscando uma forma para explicar de outra maneira o que obviamente só tinha uma explicação.
Ao enxergar a imagem refletida no espelho odiou-se por não ser tão bonita quanto a irmã. Odiou-se, porque houvera um tempo em que Narcisa mal lembrava a chama de uma vela enquanto ela, Bella, era o Sol, e tinha seu próprio sistema solar de adoradores; ela própria girando ao redor do centro de sua galáxia: O Lorde das Trevas.
Ah, maldito fosse o Lorde das Trevas também. Maldito; por que precisava ser tão deliciosamente mau, tão absurdamente atraente daquela maneira quase cruel com que seus olhos castanhos e frios a encaravam? Por que seu corpo continuava a ser percorrido por ondas de volúpia cada vez que pensava nisso, e sua respiração acelerava ao lembrar dos toques dele em seu corpo, da maneira com que se juntavam e se encaixavam perfeitamente, mental e fisicamente; como ele a completava e como ela não o completava porque ele por si só já era completo...? Como quando se uniam em nome de todos os prazeres terrenos e alguns decididamente satânicos, ou talvez divinos... Sacrificando tudo ao prazer dos sentidos.
E Narcisa... Não, tinha certeza de que Narcisa não poderia sentir aquilo, o universo jamais permitiria a alguém além de Bella sentir aquilo, que era só seu de direito. Somente com ele, somente presa ao corpo dele sentia-se viva novamente.
Ou talvez...Talvez estivesse apenas sofrendo as conseqüências de envolver-se com o Lorde das Trevas. Sempre soubera o quão poderoso ele era e certamente não devia ser a primeira a cair nas teias tão bem tecidas dele... Talvez todas se sentissem daquela maneira, e talvez por isso a maioria das amantes dele que Bella conhecera antes da queda tendiam a aparecer mortas sem explicação alguma. Talvez devesse seguir o mesmo destino delas... Não faria falta alguma ao Lorde das Trevas, agora que ele tinha Narcisa.
Mas antes... Antes precisava se certificar de uma coisa.
[...]
PLAFT!
O som do tapa que atingiu em cheio o rosto de Narcisa ressoou alto pelo quarto, e ela caiu para o lado com sangue escorrendo pelo canto da boca. A loira ergueu a mão fina e trêmula e levou ao rosto. Sua face expressava nada além do mais puro choque e horror.
“Que...?” - ela balbuciou, erguendo o olhar para o homem furioso que acabara de desferir o golpe.
“Sua vadiazinha imunda...!” – Voldemort cuspiu, olhando enojado para a figura da mulher ainda deitada na cama.
Ele tornou a desferir um golpe, errando por pouco e atingindo o travesseiro. Narcisa guinchou de pânico, saltando para longe do alcance das mãos de um Voldemort absolutamente lívido de fúria enquanto procurava desesperadamente a varinha que apontou inutilmente para ele. O objeto foi arremessado longe com um movimento displicente dele sem sequer utilizar a varinha
Ele atingiu-a novamente em cheio no rosto, urrando de fúria. A mulher tentava desesperadamente escapar, engatinhando na cama, usando os lençóis como defesa inútil até cair no chão. E então um par de mãos fortes agarrou-a pelo pescoço e encostou seu corpo na parede; o ar fugindo rapidamente de seus pulmões, sentindo a cabeça rodar...
“Eu deveria mata-la agora...” – ele disse com o rosto muito próximo do dela
“Não...” – ela sussurrou o mais alto que pôde, o que não foi além de um gemido agoniado.
“Você sabe o único motivo porque eu não a mato agora mesmo, Narcisa Malfoy?” – ele falou, apertando ainda mais as mãos em torno do pescoço dela. Seu rosto pálido já começava a ficar azul.
“É que eu sei que seu filho sofreria muito mais se a visse morrendo do que se ele próprio
morresse.” – disse triunfante, observando Narcisa arregalar os olhos.
“Não, milorde, por favor, Draco não...”
“Não se preocupe com Draco. Se eu fosse você me preocupava mais comigo mesma...” – Voldmort disse cruelmente e soltou o aperto no pescoço da mulher.
[...]
Não – Bella disse para si mesma com bastante firmeza – Isto está absolutamente fora de qualquer cogitação.
Então tornou a lavar o rosto, recuperando-se de mais uma crise súbita de enjôo. Enjôos e regras atrasadas, aquilo era só uma coincidência. Uma cruel coincidência. Não podia realmente estar... Não.
Depois de tantos anos casada com Rodolfo e nada... Era impossível que o destino lhe pregasse uma peça de tamanho mau gosto.
Recompôs-se o melhor possível, o que não era muita coisa já que sua maquiagem havia borrado quase toda. Tornou a pintar os lábios de pigmento escuro, quase preto. Seu cabelo estava liso e caía até quase a cintura; fazia bastante tempo que ela não o cortava, e o enfeitava com pequenas linhas de prata e brilhante, combinando formidavelmente com as vestes escuras e justas que escolhera para aquela noite.
Ainda de frente para o espelho, brincou de forjar sorrisos simpáticos. Não se decepcionou, claro, fazia aquilo há décadas. Para se ser um Black é preciso se parecer um Black o tempo todo.
Mas agora... Agora seria especialmente difícil ter de fingir que estava tudo bem ente eles, quando mal o via e o evitava o máximo possível há pelo menos uma semana desde o incidente desagradável.
Bella suspirou, tornou a ajeitar o penteado e então saiu, jurando a si mesma que não olharia para ele sequer uma única vez.
Havia uma pequena multidão de comensais reunida para a reunião. Não era bem uma festa, portanto a decoração não estava realmente diferente do normal – talvez um pouco mais escuro que o normal se é que isso era possível. Mas como toda boa reunião de Comensais havia bebida. Muita bebida.
“Você não acha que está bebendo um pouco demais, Bella?” – disse Rabastan depois que a viu entornar o sexto copo de uísque de fogo em dois goles.
“Vá cuidar da sua vida!” – Bella exclamou agressiva e tornou a encher o copo.
Quebrara sua promessa, é claro. Passara a reunião toda olhando para ele, não dando a mínima para os assuntos sobre o qual conversavam. E encher a cara parecia ser uma boa idéia para faze-la esquecer da vergonha e da raiva que sentia. E além de tudo aquilo, sentia-se patética. Sabia desde o início quais eram as condições para um envolvimento com ele, e agora agia como, sei lá, uma namoradinha ciumenta. Ainda assim, o fogo do ciúme corroia muito mais que o uísque de fogo que descia queimando suas entranhas.
De repente, houve um novo estalo de aparatação. Bella virou o olhar para perceber, com desgosto crescente, que o retardatário era Severo Snape, e o porco traidor já prostrara-se aos pés de seu mestre. Desculpou-se pelo atraso e então murmurou alguma coisa sobre Dumbledore ter querido falar com ele antes de sair de Hogwarts. O Lorde das Trevas fez a habitual busca na mente do espião e deu-se por satisfeito, mandando que Snape fosse atrás do que fazer. Mais tarde falaria com ele em particular, e então, ia querer ficar sabendo de Draco.
“...o garoto continua a se recusar a contar seu plano – disse Snape -, e ele agora é perito em Oclumência. Seria mais interessante questionar Narcisa, Draco talvez lhe diga...?”
E então, como se Voldemort a conjurasse do nada, uma mulher – Narcisa – apareceu, imediatamente curvando-se mais do que era necessário, evitando deliberadamente o olhar do Lorde das Trevas. Ao invés de olhar para ele, então, o olhar de Narcisa caiu em Bella que, sentada em companhia do seu já nono copo de bebida, a observava com crescente fúria; os olhos estreitos como se à espera de uma presa para atacar.
“...E então, Malfoy, nós gostaríamos de saber se Draco...”
Mas antes que Voldemort completasse sua frase, as vistas de Narcisa foram escurecidas por uma montanha de cabelos pretos e uma mão surgida aparentemente do nada arranhou seu rosto com as unhas afiadas e compridas. Furiosa, ela ergueu o olhar para se certificar de quem era sua agressora – embora realmente já soubesse quem era – e revidou o ataque com um forte puxão nos cabelos negros de Bella, que urrava e gritava impropérios contra a irmã e tentava por tudo socar cada centímetro de seu corpo.
As duas rolaram pelo tapete, agredindo-se mutuamente; guinchos e gemidos e urros de dor permeando os golpes cada vez mais agressivos que desferiam uma contra a outra. Bellatrix puxou seu cabelo com força, arrancando uma mecha generosa de fios loiros e Narcisa fincou as grandes garras vermelhas no rosto da irmã em troca, fazendo a pele pálida de Bella encher-se de vergões avermelhados. De suas roupas, só restavam agora trapos rasgados em vários pontos. Em certo momento Bella havia arrancado seu grande brinco de pedras preciosas no intuito de dilacerar sua orelha – em que, felizmente, não obtivera sucesso. Quando Bella preparava-se para torcer seu braço atrás das costas numa chave dolorosa, os homens finalmente recuperaram-se do choque e agiram: logo, estavam ambas petrificadas, embora continuassem a gritar uma com a outra:
“...cadela, vadia miserável, desgraçada, ladra...”
“...louca, perturbada...”
“CHEGA!” – berrou Voldemort. Ele se aproximou de Bella, que acabara de livrar-se da azaração e agora partia novamente para cima da irmã. Segurou seus ombros, encarando-a.
“Bellatrix Lestrange, você por acaso perdeu seu último parafuso? Que é que...”
Mas então, num impulso totalmente inexplicável – ou talvez a bebida explicasse – Bellatrix beijou-o na boca. Um longo, molhado e provocante beijo.
Chocados, os Comensais observavam o beijo como se vissem a prova definitiva de que o mundo repentinamente virara de ponta-cabeça. Ou talvez estivessem todos numa espécie de sonho coletivo.
O fato é que eles estavam se beijando com fúria na frente de todos.
E quando Voldemort pareceu se dar conta do fato e afastou-se dela num pulo, cheio de choque e horror e sem saber exatamente o que falar, Bellatrix desferiu o último tapa da noite. Acertou-o em cheio, com força; um tapa seco e dolorido.
Bellatrix correu para fora do alcance de um Voldemort totalmente atônito que levava a mão ao local em que os dedos haviam sido marcados em vermelho contra a pele pálida. Ele então correu em seu encalço, seguindo a barra das vestes justas que ela vestia, correndo pelos corredores até acha-la já trancada no quarto.
Desesperada, Bella conjurou sobre si o feitiço que sabia que já devia ter conjurado havia muito tempo...
Vermelho, por favor dê vermelho...
Quando Voldemort entrou no quarto, viu Bellatrix sentada sobre a cama, tremendo e parecendo totalmente tresloucada. Havia uma luz azul pairando ao redor dela.
“Que...?”
Ela levantou o olhar para encara-lo. Havia alguma emoção indistinguível em seus olhos escurecidos pelo delírio.
“Estou grávida.”
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oiee \o/
Graças aos comentários de todos, que foram bastante generosos dessa vez (Asrail que o diga XD), eu fiquei tão feliz que decidi escrever um novo capítulo no mesmo dia :D
Hmmm... Bella grávida... Que vocês acharam? Calma, ninguém vai ficar bonzinho nessa história não... Veremos hehe ^^
Beijos, e infinitamente grata pelos comments,
Lillith
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