Náuseas
Capítulo XVI
Why do you love me?
Why do you love me?
Ela entrou a passos rápidos no banheiro, correndo. Mal teve tempo de encarar o próprio reflexo na água antes de despejar todo o conteúdo de seu estômago fora. Tonta, Bellatrix levantou-se e encarou sua imagem pálida no espelho do banheiro, perguntando-se o que estava acontecendo consigo. Ultimamente era difícil manter qualquer alimento dentro de si; sentia-se nauseada e doente.
Lavou o rosto e a boca, esperando que a sensação vertiginosa cessasse o mais rapidamente possível. O Lorde das Trevas já estava começando a notar sua ausência na mesa do jantar e Bella não queria incomodá-lo com seus pequenos mal-estares sem importância. Ergueu-se, cambaleando, e deixou o quarto.
Foi encontra-lo no escritório, e como era privilégio só seu, entrou sem bater. Concentrado como ele estava em alguma espécie de pergaminho muito velho e de aparência sigilosa, mal notou sua presença na sala.
“Bom-dia, milorde” – ela disse, e Voldemort respondeu com um resmungo ininteligível.
Bellatrix não se importou. Desde que pudesse só observa-lo, ter o privilégio de estar em sua presença sempre que desejasse, poder aproximar-se dele e sentir todo aquele poder... Bem, ela estaria satisfeita qualquer que fosse o jeito que ele lhe tratasse, e pensando melhor, Voldemort a tratava bastante bem. Só não gostava de ser interrompido quando estava trabalhando, e por isso Bellatrix se limitou a observa-lo.
“Diga, de uma vez por todas, o que você quer?” – ele exclamou levemente irritado, largando a pena na mesa e virando-se para encara-la.
“Só vim dizer olá.” – disse Bella, dando de ombros.
Voldemort tornou a virar-se, aparentemente tentando concentrar-se em seu pergaminho.
Ela aproximou-se, passou os braços ao redor dos ombros dele. Mordeu de leve a orelha dele, aproximando-se para falar; a voz rouca:
“O que você está fazendo?”
“Absolutamente nada que seja da sua conta” – ele respondeu, fingindo que os lábios de Bella não estavam trabalhando arduamente em fazer cada pêlo de seu corpo arrepiar-se.
E Bella adorava aquele jogo de vontades, o clima constante de sedução que se insinuava eternamente entre eles. O modo como ele reagia friamente às suas provocações. O modo como, depois de algumas provocações aparentemente sem resultado, ele explodia de desejo e seria capaz de qualquer coisa para sacia-lo.
Oh, Merlin, como o amava!
Continuou descendo com os lábios por todo o pescoço, e, embora ele continuasse a virtualmente ignorar sua presença, Bella percebeu que seus olhos estavam fixos em um único ponto do texto e ele arranhava a pena no pergaminho sem conseguir escrever mais que algumas frases sem nexo.
Rindo, Bella continuou a descer mais e mais com as carícias. Suas mão encontraram o fecho das calças pretas que ele usava por debaixo das vestes, e os dedos brincaram por um momento antes de puxar e abri-la.
“Bella...”
Ah, sim, agora ele perdia o controle...!
[...]
“O que a Narcisa queria com você naquele dia?” – Bella perguntou despreocupadamente.
“Ah, nada demais. Falar sobre Lúcio.”
Mas embora o Lorde das Trevas tivesse uma verdadeira muralha cercando sua mente; muralha que Bella não ousava tentar penetrar, algo, talvez intuição, ou talvez apenas o olhar que ele lhe dirigiu a fez concluir que havia algo demais no que quer que Narcisa pudesse ter ido tratar com Voldemort.
“Ela quer liberdade para Lúcio” – disse Bella por fim
“Lúcio pode fugir de Azkaban quando bem entender”
“Pode, mas o castigo que você aplicaria nele é bem pior que passar as férias de verão na prisão.”
Ela parou por um instante, observando a fraca luz do dia que já findava; os raios brincando de desenharem reflexos castanhos no cabelo escuro dele. A pele, pálida; os olhos, castanhos. Um corpo bonito. Nem Tom nem Voldemort jamais tiveram o tipo atlético, mas eram altos e magros. Mas enquanto Tom Riddle tivera o rosto mais bonito que Bella achava ser possível um ser humano possuir, o Voldemort cujo corpo ela acariciava agora, estirado ao lado do seu, também não deixava de ser atraente, embora já possuísse alguns dos traços ofídicos tão marcantes em sua versão irada.
Mais uma coisa que gostava nele. Essa capacidade de parecer não ser humano. Essa infinita aura de poder que emanava dele, e que podia sentir com intensidade ainda maior quando se tornava dele, e somente dele. Quando, em meio ao prazer que somente ele sabia proporcionar, gritava seu nome. Seu nome de verdade, e ele nunca perguntava como Bella havia descoberto essa informação tão confidencial. Em parte porque ele devia estar entorpecido demais para notar essas coisas. Ou talvez, sob toda aquela áspera máscara de cruel frieza que ainda a fazia teme-lo e respeita-lo, ele ainda gostasse de ser lembrado que havia um pouco de humanidade dentro dele.
Não muito. Só um pouquinho.
“Posso fazer uma pergunta?” – ela arriscou cautelosa
“Você já está fazendo uma”
“Como você era quando jovem...? Digo, antes de chegar ao poder. Antes de ser o Lorde das Trevas”
Voldemort parou por um momento. Parecia estar refletindo.
“Você acha mesmo que eu vou responder a essa pergunta?”
Não – ela pensou - É claro que não
“Você quer saber como eu era?” – perguntou Voldemort; um sorriso irônico formando-se em seus lábios.
Ele levantou-se e tomou o rumo do banheiro. Voltou trazendo um frasquinho de Poção da
Juventude, que ela reconheceu pelo brilho lácteo e o cheiro adocicado.
Ela sabia como ele tinha sido, claro que sabia. Mas Voldemort não sabia disso. Achava que estava prestes a revelar um imenso e obscuro segredo.
E de certa forma está – ela pensou, sorrindo para si.
O efeito da poção da juventude era bastante similar ao da Poção Polissuco; a pele parecia derreter, borbulhava, e uma expressão de incômodo dolorido instalou-se no rosto dele, até que finalmente o efeito revelou-se. A pele passou do tom mortalmente pálido para um pálido ligeiramente bronzeado. Os cabelos, começando a ficar grisalhos, tornaram-se negros como a noite, e já não haviam traços ofídicos em seu rosto. Ele estava mudado. Completamente mudado.
“E então, que achou?” – Voldemort perguntou.
Cínico – Bella pensou divertida – Ele sabe que é lindo
“Não sei. Muito jovem para o meu gosto...” – Bella respondeu rindo.
“Corpo de dezesseis e experiência de... Bem, não interessa.”
“Você não quer me dizer a sua idade?” – ela perguntou, erguendo a sobrancelha.
“Só se você me disser a sua” – ele respondeu com igual ironia.
Bella observou aquele protótipo de Deus Grego. O rapaz sorria para ela de uma maneira tão sensualmente provocante que poderiam sair faíscas de seus olhos e Bella não se surpreenderia.
[...]
“Você sabe que dia é hoje?”
“Não faço idéia”
“Hoje é dia dos namorados” – disse Bella, lançando-lhe um olhar enigmático.
Voldemort apenas franziu a testa, e um sorriso de frio escárnio fez curvar os cantos de seus lábios.
“Muito bem, pode ir dar os parabéns ao seu marido.”
Bella olhou-o, chocada.
Cretino! – ela pensou com raiva.
Levantou-se, furiosa, e bateu a porta atrás de si com força. Dentro do quarto, ouviu apenas as risadas divertidas e frias.
Ele simplesmente adorava pisar em seus calos. Mais de uma vez Bellatrix se perguntara se teria alguma tendência masoquista. Mas novamente, ser amante do Lorde das Trevas não era exatamente algo mentalmente saudável a ser fazer...
Dando de ombros, ela decidiu voltar ao quarto. Talvez tivesse deixado-o zangado; não queria isso.
E então seu estômago deu uma volta completa, lembrando-a de seu estado ligeiramente doente. Ela curvou-se com os braços massageando a barriga, e resolveu ficar no quarto àquela noite.
[...]
“...e eu serei sua serva mais dedicada... Farei tudo que o senhor quiser.”
Narcisa olhou para cima como se esperasse seu veredicto. Ao invés de palavras, recebeu um olhar. Intenso, assassino. Pior, mil vezes pior que qualquer feitiço que ele pudesse ter lhe lançado. Atreveria-se a dizer que preferia até uma Imperdoável no lugar de um novo olhar daquele.
“Malfoy. Saia. Daqui. Agora.” – o Lorde das Trevas sussurrou com seu tom de voz mais letal.
Merlin, como sentiu medo!
“Milorde, por favor, compreenda...”
“Eu compreendi tudo, Narcisa. Compreendi até mais do que você pensa”
“Milorde...” – choramingou
“VOCÊ ME DÁ NOJO!” – ele gritou, apontando a varinha para Narcisa.
Foi o suficiente para que a mulher, chorando de humilhação, corresse para fora da sala imediatamente.
Sabia que tinha muita sorte em ter saído viva. Mas naquele momento Narcisa Malfoy não tinha muita certeza sobre se estava grata ou não por ter sido poupada.
É uma sorte que ele precise de mim viva para chantagear Draco - Narcisa pensou com amargura.
Jamais sentira tanta vergonha, tanta humilhação... Repassava mentalmente cada pequeno detalhe de seu breve encontro com o Lorde das Trevas. Tinha certeza de estar bonita, disso sempre tinha. E tinha certeza de ter usado as palavras certas.
Mas não desistiria! Ah, não! Era apenas uma questão de faze-lo perceber como ela era melhor que Bellatrix.
Arrumou-se com ainda mais zelo. O sangue Black agora parecia mais evidente do que nunca. Apesar de ser a única loira da família, tinha o porte altivo e as feições bonitas.
Costumavam dizer que ela e Bella poderiam ser irmãs gêmeas não fossem as cores de seus cabelos tão contrastantes.
Se Bella conseguira, por que ela, Narcisa, não conseguiria?
Sorriu para si mesma. Seu plano era ousado, sem dúvida. Mas infalível.
[...]
Narcisa aparatou na Mansão Riddle à exata meia-noite. Seu coração batia descompassado. A casa estava escura, e mesmo que estivesse clara, a última coisa em que repararia seria na decoração.
Irônico o que o desespero faz com as pessoas, não? – ela pensou com amargor.
Devia amaldiçoar Lúcio por essa idéia. A culpa era dele somente dele. Ao contrário do casal Lestrange, no clã dos Malfoy o único com cérebro era Lúcio. Se ele não tivesse sugerido, Narcisa jamais pensaria em algo assim.
Subiu as escadas pé-ante-pé até chegar ao corredor que sabia que levava aos quartos.
Verificou o quarto de Bella. Estava trancado, e um rápido feitiço a permitiu enxergar por detrás da porta para ver que a irmã estava imersa num sono profundo e ininterrupto.
Caminhou mais um pouco e chegou à régia porta de ébano entalhado. Sentiu a respiração falhar por um momento e seu coração pareceu perder o compasso de vez; sentia-o como se comprimisse a garganta. Rezou para que a porta estivesse destrancada.
A porta estava aberta.
Tremendo, Narcisa entrou no quarto. Viu o corpo adormecido do Lorde ds Trevas estirado sobre a cama. Sabia que ele já esperava por Bella, daí a porta destrancada. Evitou os pífios raios de luz que vinham da rua e entravam pela janela fechada e coberta por cortinas grossas de tecido.
Luz da lua, que estava minguante. Lembrava-se vagamente sobre sua professora de astronomia falar que não se deviam começar projetos ou botar planos e prática quando estivessem sob a influência da Lua Minguante. Mas Narcisa não dava importância alguma a isso.
[...]
Ele viu apenas uma silhueta inconfundivelmente feminina recortada contra a penumbra sepulcral de seus aposentos.
Bella – ele pensou satisfeito.
Seu corpo reagia rapidamente apenas com o pensamento. Não podia ver nada com o escuro, mas estranhou vagamente o corpo – parecia mais magro – e o perfume enjoativo que ela usava. Mas não se importou, para falar a verdade. Quem mais poderia ser além de Bella?
Sem abrir os olhos, porém completamente desperto, deslizou as mãos pelas curvas delicadas do corpo dela. Achou-a diferente, mas reconheceu algo familiar, e o rosto era o de Bella. Bem, talvez ela tivesse feito alguma coisa com a maquiagem; parecia mais jovem.
Seus lábios encontraram o ponto logo embaixo do pescoço dela. Tocou-o, esperando com isso arrancar novos suspiros e gemidos. Se estivesse mais claro talvez pudesse ver seus pêlos se eriçando. Ele beijou as espáduas, descendo por toda a extensão das costas até encontrar uma última peça de roupa tapando seu caminho.
“Você sabe que eu prefiro a preta à vermelha...” – sussurou baixinho.
Mas por alguma razão Bella não respondeu. E, alguns minutos depois, quando ambos estavam entregues totalmente um ao outro – quando ela costumava gritar seu nome – por alguma razão mais estranha ainda ela manteve-se calada. E ele achou ter visto um reflexo dourado nos sedosos cabelos dela, mas antes que tivesse tempo de reparar direito, estava entregue ao sono exausto que se seguia às noites com Bella.
[...]
Bellatrix decididamente não se sentia bem. Havia acordado ainda mais enjoada. Os enjôos pareciam piorar de manhã quando acordava, sem falar que qualquer perfume mais forte a fazia se sentir pior, se é que isso era possível.
Terminou de lavar o rosto, vestiu-se e travou uma luta mental com seu estômago tentando convence-lo de que comer era uma boa idéia. Antes de descer, porém, tinha de passar no quarto dele. Explicar que andava se sentindo mal e que por isso faziam alguns dias que não aparecia à noite. Se pelo menos dispusesse de um médico...
Andou até a porá de ébano entalhada com a qual já estava acostumada. Como sempre, não a encontrou trancada.
Antes tivesse...!
A visão que teve fez todo o sangue de seu rosto sumir. Suas pernas pareciam ter derretido, e seu coração definitivamente estava parando de bater.
Narcisa.
E Voldemort.
Dormindo na mesma cama.
Nus.
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