Aniversário
Capítulo XIV
That nothing ever came from nothing man
Oh man ain't that the truth?
“O que você está fazendo?” – perguntou Bella muito rapidamente.
Acabara de entrar no quarto. Rodolfo atirava suas poucas peças de roupa numa mala com uma ferocidade e determinação impressionantes.
“Já basta. Estou indo embora desta casa!” – ele exclamou sem se virar, continuando a jogar os pertences dentro da mala.
Bella o observou, atônita e muda, até que Rodolfo terminou e finalmente virou-se.
“Para onde você vai?” – ela perguntou sem emoção.
“Voltar para a minha casa” – ele disse, e estava com tanta raiva que faíscas vermelhas saíra da ponta da varinha que segurava.
“Não seja idiota” – Bella retrucou irritada – “É muito mais seguro aqui.”
Rodolfo lhe dirigiu um olhar incrédulo e sem falar nada, levitou a mala acima da cabeça, começando a levá-la para fora.
“Como se você se importasse muito com a minha segurança!” – Rodolfo exclamou, encarando-a - “Como se você desse a mínima para mim, tendo o Lorde das Trevas ao seu lado, não é, se enroscando feito duas cobras pela casa toda... Pois eu cansei, ouviu? Cansei! Sei que não posso fazer nada... mas... não vou ficar aqui quieto, assistindo.”
“Rodolfo, espere...” – disse Bella, agarrando seu braço para impedí-lo de sair, mas o bruxo desvencilhou-se dela com força e saiu pisando duro, a mala flutuando à sua frente.
“Eu sou mesmo um idiota!” – ele exclamou, e parou de repente. – “Você e seus acessos de loucura, claro, foram feitos um para o outro...”
Bella percebeu, mesmo de longe, que Rodolfo tremia, continha-se muito para não cair no choro. Era possível ver a humilhação e a vergonha estampadas em seu rosto, e Bella lamentou.
“Se você for pode ser preso.” – sentenciou – “Não deve demorar muito para os aurores de verdade acharem a casa.”
“Não me importo. Eu sei me cuidar.” – disse secamente – “Só não quero ter de ficar aqui, assistindo o que sei que não posso impedir. Não a culpo, no entanto...”
Bella se aproximou. Estendeu a mão para tocar o rosto do marido, mas conteve-se a tempo.
“Só me diga por quê” – ele suspirou tristemente, e seus ombros se curvaram.
“Eu amo você, Rodolfo” – Bella disse, sem se surpreender com as próprias palavras – “O que eu sinto pelo Lorde das Trevas não é amor. É paixão, e eu não sei viver sem ela. Eu o amo, mas não estou apaixonada. Sinto muito”.
“Eu não sinto. As coisas têm de ser como são. Eu simplesmente não sou digno de você” – ele disse e Bella achou ter visto uma lágrima surgindo no canto de seus olhos, que depois revelou ser apenas um reflexo mais intenso das velas que flutuavam iluminando o corredor da Mansão.
“Se você acha que vai ser mais feliz longe daqui...” – Bella murmurou.
“Se você acha que algum dia será capaz de ser feliz depois de Azkaban...” – e desapaatou.
[...]
“Hoje é seu aniversário, não é?”
Voldemort calou-se. Parecia ter se tornado muito pensativo com a pergunta.
“É, sim.” – ele respondeu por fim – “Só não pergunte a minha idade” – e sorriu.
“Hmmm... Considerando que você ficou treze anos sem corpo...”
“Meu corpo antigo não era assim, sabe.” – Voldemort falou com um ligeiro tom de pedido de desculpas na voz - “ Eu era mais...”
“Humano?” – completou Bella astutamente.
“Humano, é.” – ele concordou
Eles permaneceram calados por algum tempo, imersos em seus próprios pensamentos. Aqueles diálogos haviam se tornado cada vez mais comuns pela manhã logo que acordavam nos braços um do outro. Era verdade que Bella não passava mesmo a noite toda com ele. Tomava sempre o cuidado de deixar Rabicho vê-la entrar e sair de seu próprio quarto à noite e pela manhã, embora pensando bem, aquela não era realmente uma boa técnica, porque provavelmente o rato Rabicho (suas transformações estavam se tornando cada vez mais freqüentes agora que Bella voltara a morar na casa junto com Rabicho, que obviamente lhe tinha verdadeiro pavor) já devia ter lhes surpreendido nas mais comprometedoras situações pela casa toda. Era incrível como pareciam dois adolescentes descontrolados, como dois imãs que insistiam em se grudar um no outro a cada mínima aproximação.
“Você fica assustador quando está com raiva. Muda completamente”.
“Eu sei. Intimida as pessoas.”
“Tem a... sabe, a...” – ela murmurou envergonhada
“A cara ofídica, eu sei.” – Voldemort disse divertido
“E os...”
“Olhos vermelhos com pupilas verticais? Mãos com dedos estranhos?”
“Bem, é” – Bella murmurou corando.
Voldemort riu, e com uma expressão de dor, seu rosto de repente mudou completamente. Os olhos castanhos vivos deram lugar a um par de olhos vermelhos com pupilas verticais. Onde haviam bonitos cabelos negros começando a ficar grisalhos surgiu um horripilante crânio pálido.
Assustada, Bella pulou para longe de seus braços, dando um gritinho de horror. Não tinha boas recordações daquele rosto. Voldemort tornou a rir de sua surpresa.
“Levou algum tempo para eu aprender a controlar essas minhas duas faces. O fato é que quando eu digo que pretendo ser imortal não significa que meu corpo tenha que envelhecer junto.”
“Então você...?” – Bella falou assombrada, mas não sabia exatamente o que perguntar.
“Pode parar de tentar calcular minha idade, o que eu sei que você está tentando fazer. Não sei quantos anos eu tenho, mas esse é o meu corpo de quarenta.” – ele disse ainda divertido, e com uma nova expressão de dor, tornou a exibir um rosto que se não era bonito, era positivamente atraente.
“O senhor precisa de um presente” – Bella declarou após desaparecido o susto.
“Um presente?” – Voldemort perguntou, erguendo uma sobrancelha – “E o que você pretende me dar?”
Bellatrix parou, pensativa. Que poderia dar para seu Mestre? Algo que ele não pudesse conseguir sozinho, isso seria mesmo muito difícil. Um pensamento maldoso perpassou por sua mente, e antes que pudesse se conter, Bella disse:
“O presente ideal, claro, seria a cabeça de Harry Potter” – e imediatamente se arrependeu de ter dito tal coisa diante do olhar letal que ele lhe dirigiu.
“Desculpe” – murmurou, e virou o rosto envergonhada, mas ainda pensativa.
E então, de repente, uma idéia lhe ocorreu.
“E então, já decidiu o que vai me dar?” – Voldemort perguntou sarcasticamente
“Já”
“E o que é?” – ele perguntou fingindo interesse.
“Eu. Vou me dar”. – Bella declarou
A resposta de Voldemort foi uma risada alta e gostosa.
“Se dar? Mas você já faz isso toda noite.”
Enraivecida, Bella não pôde fazer nada além de atirar-lhe um travesseiro, que Voldemort explodiu com um aceno certeiro da varinha, espalhando penas por todo o quarto.
“Não estou falando disso!” – ela exclamou irritada – “Vou lhe ensinar a dançar, vou ser sua professora.”
Voldemort riu com vontade novamente, olhando incrédulo para a Comensal. Porém, surpreendeu o olhar sério dela e parou de rir, para perguntar:
“Você está falando sério?”
“Estou” – Bella respondeu com firmeza.
“Você não acha mesmo que eu vou dançar, acha?” – Voldemort perguntou incrédulo.
“Ora, e por que não? A dança é a expressão vertical do desejo horizontal..., e foi você mesmo quem disse que precisávamos nos esforçar mais”
“Bellatrix…” – ele disse ameaçadoramente.
“Venha, senhor!” – Bella exclamou risonha, e saiu do quarto descendo as escadas rapidamente, levando um Voldemort curioso em seu encalço.
“Para onde está me levando, para a sala?”
“Não, Rabicho poderia nos ver lá, e acho que ambos preferimos a privacidade.”
Bellatrix seguiu pelos corredores até a conhecida cozinha da mansão, e com um gesto da varinha desapareceu com a grande mesa que ocupava o centro do cômodo, liberando bastante espaço para dezenas de casais dançarem. Um novo aceno da varinha e uma música começava a tocar: uma valsa lenta e melódica, que inspirava dança. Revirando os olhos, Voldemort cruzou os braços no peito. Mas Bellatrix ignorou completamente sua expressão exasperada e se aproximou, tomando a mão dele na sua e guiando-a até sua cintura. A outra mão dele entrelaçou os dedos nos dela, e Bella repousou a mão livre em seu ombro.
“Você deveria me guiar, mas por enquanto sou eu quem farei isso. Acompanhe meus passos.” – ela disse autoritária, e Voldemort não pôde deixar de se perguntar por que diabos estava fazendo aquilo.
Bellatrix deu um passo para a frente com a perna esquerda, e instintivamente Voldemort recuou sua perna direita, imitando o movimento. Ela andou um passo para o lado, ele fez o mesmo, acompanhando-a. Ela colocou os pés lado-a-lado, e num movimento lento porém gracioso, pisou novamente para frente e ele a acompanhou dando um passo para trás; estavam de volta ao início.
“Bom, muito bom” – ela aprovou – “Esse foi o box step, é um dos primeiros passos que aprendemos a dançar, um requisito básico para as damas da sociedade” – disse, crispando os lábios num sorriso.
“Isso é ridículo...” – Voldemort murmurou, e fez um movimento para se separar, mas Bella prendeu sua mão com firmeza na cintura.
Eles retomaram a posição de dança, Bellatrix o guiando firmemente. Ela deu um passo com o pé direito, obrigando-o a fazer o mesmo, mas ao invés de dar um passo para o lado e voltar para o início como eles haviam feito inicialmente, ela fez um movimento como um meio-Box step colocando os pés juntos, girando, completando quatro meio Box steps e por fim, voltando ao início. Em seguida, Bella deu um passo para trás com a perna direita, e Voldemort imitou-a, pisando para frente. Ela pisou para o lado e novamente para trás.
“Esse último foi a movimento progressivo. Você está indo bem, mas ainda está me deixando conduzi-lo.”
Ela tornou a conduzi-lo por um daqueles passos iniciais mais simples, o que Voldemort ficou surpreso em constatar, não era tão difícil afinal, e sentia que estava começando a pegar o jeito; quando Bella levantou a mão em que se entrelaçavam os dedos e ergueu-a até acima da cabeça, dando um rápido rodopio até cair nos braços estendidos dele num gracioso cambrê.
Apertada entre os braços de Voldemort que ainda a segurava, Bella não pôde conter uma risada. Ele a encarava sério, mas não demorou a ceder ao riso, e logo ambos riam de se acabar, ainda abraçados. Ele aproximou-se para beija-la, mas Bella o afastou.
“Nada disso, espertinho. Seu presente de aniversário não é esse.” – disse, e retomou a posição inicial da dança.
A música mudou, e agora um ritmo latino tomava conta do ambiente. Ele rezava para que Bella tivesse tido o cuidado de fazer a porta à prova de som. Ela aproximou-se mais, unindo os corpos firmemente. Ele reparou vagamente que aquela dança era bem mais ousada que a valsa que haviam dançado anteriormente.
Bella apertou Voldemort ainda mais firmemente e deu um passo curto para trás, obrigando-o a fazer o mesmo, andando para a frente. Em seguida deu um novo passo muito longo até seus joelhos quase baterem no chão e levantou-se de repente. Ela continuou guiando seus passos rapidamente sem olhar para trás, andando e rodopiando, até que, de repente, suas costas bateram numa prateleira da cozinha que desabou sobre eles, fazendo um barulho estrondoso que sobrepunha a música.
Uma montanha de coisas caiu em cima deles, e Bellatrix se viu coberta por algo cremoso e Voldemort tinha as vestes sujas de farinha. Ele xingou baixinho, amaldiçoando a prateleira quebrada e as vestes sujas que tornaram a ficar limpas com um curto aceno da varinha.
“O que é isso?” – ele perguntou apontando para as vestes sujas de Bella.
“Glacê. Para o seu próximo bolo envenenado, eu presumo” – ela falou rindo. – “Uma pena que eu não goste de chantilly.”
“Eu adoro chantilly.” – Voldemort falou maldoso, enfiando um dedo no monte de creme branco doce depositado no decote dela e levando a boca – “muito mais do que aulas de dança.”
“Talvez eu devesse fazer um bolo coberto de chantilly?” – Bella sugeriu igualmente maldosa.
“Talvez você devesse ser o bolo.” – ele disse estreitando os olhos – “Com chantilly, claro.”
[...]
“Bella, há uma coisa que você precisa saber” – disse Voldemort alguns dias depois, entrando no quarto de Bella de repente.
A Comensal voltou o rosto curioso. Era noite, mas cedo demais para que pudessem se encontrar, e o tom sério da voz dele a alertou.
“Sim, Mestre?” – ela jamais perdia o hábito de chama-lo de Mestre ou Senhor. Sinceramente, Voldemort preferia assim, mantinha algum respeito entre ambos, alguma formalidade apesar de tudo.
“Rodolfo está morto” – ele disse secamente e assistiu toda a cor do rosto de Bella sumir de repente.
“Morto?” – ela sussurrou, atônita – “Como...?”
“Os aurores o acharam”
“Mas aurores não matam...” – argumentou Bella desesperadamente.
“Era isso ou o Beijo.” – disse Voldemort sem emoção – “Acho que foi o que ele preferiu.”
“Foi minha culpa.” – Declarou Bella sumariamente, sentindo os olhos inundarem de lágrimas contra a sua vontade.
“Não seja idiota. Ele saiu porque quis, sabia que era perigoso.” – retrucou Voldemort irritado.
“Foi minha culpa, minha culpa. Rodolfo está... morto.” – ela sussurrou, mal consciente do olhar impaciente que Voldemort lhe dirigia. Lágrimas silenciosas rolavam por seu rosto. – “Eu disse que se ele quisesse sair, saísse”.
“Bem, não é como se você o tivesse expulsado ou coisa assim. Não foi sua culpa, por favor não chore!” – falou Voldemort exasperado – “Estou só comentando um fato que achei que você devia saber, você nunca pareceu gostar dele realmente...”
“Eu o amava.” – Disse Bella corando e abaixou a cabeça; as lágrimas caindo em seu colo.
Voldemort revirou os olhos, incrédulo.
“Não, não amava. Amor é para os fracos.” – concluiu Voldemort. – “Não se culpe, não vale a pena sofrer por isso.”
“Eu só...” – ela murmurou, mas as palavras ficaram enganchadas em sua garganta.
Dando um muxoxo impaciente, Voldemort se retirou, deixando Bella sozinha com seus pensamentos.
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Nossa, o que foi esse capítulo, hein? O mais curto até agora, e um dos mais engraçados. Voldemort aprendendo a dançar foi hilário, e se alguém quiser ter uma noção melhor desses passos, entre aqui:
http://www.dancetv.com/tutorial/foxtrot/foxtrot4.html
Ahhnn... Rodolfo morréééu, coitado; eu planejava uma cena mais emocionante, mas isso fica para o próximo capítulo ^^
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