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Capítulo XIII
Does it really come as a surprise
When I tell you I don’t feel good?
“Você parece cansada, Bella.”
Voldemort disse aquilo como se fizesse a mais inocente constatação do mundo, na mesa do café da manhã, alguns dias depois.
Bella sorriu, pensando que era muita hipocrisia da parte dele falar aquilo, quando ele era o responsável por não deixa-la dormir direito nos últimos cinco dias.
“Mesmo, milorde? O senhor também não parece muito descansado”.
“Talvez devêssemos ambos dormir mais cedo”. – Voldemort respondeu após alguns instantes.
Rodolfo os encarava com raiva e havia uma clara ferocidade no modo com que espetava os pedaços de salsicha em seu prato.
“Teremos uma reunião esta noite” – comentou como quem não queria nada – “Você tem tido notícias de seu sobrinho ultimamente, Bella?”
“Não, milorde. Não posso mandar cartas por questões de segurança... Mas segundo soube por Narcisa, as tentativas de Draco estão sendo bastante insuficientes. O garoto está sobrecarregado... E perseguido dia e noite pelo Snape.”
“E o que Snape quer com Draco?” – Voldemort perguntou, ansioso.
“Descobrir seu plano, acho. Não faço idéia do que Draco está planejando, mas seja o que for, não está indo bem.” – Bella respondeu.
“Bem, espero que ele não se mostre tão incompetente quanto o pai, ou terei de castiga-lo” – falou, e seus olhos brilharam maliciosamente. – “Mas falando em Snape, é de se admirar que ele não tenha usado legilimência contra o garoto.”
Bellatrix corou ao se lembrar da cena que involuntariamente fluíra para a mente de Draco, e então respondeu:
“Eu andei lhe ensinando alguma oclumência durante as férias” – disse, e procurou mudar de assunto – “Sobre o que tratará a reunião de hoje à noite, milorde?”
“Ah, nada demais” – Voldemort respondeu despreocupadamente – “Os dementadores estão procriando rápido demais. Greyback anda às voltas com um lobisomem subversivo. E, claro, as implicações caso o plano de Draco seja bem sucedido.”
“Certamente será interessante” – Bella respondeu baixinho e tratou de terminar a refeição rapidamente.
Não agüentava mais os olhares de nojo e raiva que Rodolfo lhe dirigia.
[...]
A noite chegou rápida, trazendo consigo as trevas mais profundas e, claro, a reunião tediosa na Mansão Riddle. Bella observava a própria silhueta no espelho enquanto arrumava os cabelos negros num coque elegante. Como única mulher comensal realmente competente, não era de se admirar que os outros a temessem um pouco... Como se ela estivesse um degrau acima na hierarquia, logo abaixo do Lorde das Trevas.
Primeira dama das Trevas... - Bella pensou, rindo, enquanto tingia os lábios fortemente de vermelho.
Amante do Lorde das Trevas... – pensou também, rindo.
Amante... - ousaria falar em voz alta?
“Amante do Lorde das Trevas” – Bellatrix falou em voz alta, em tom grave e solene e riu novamente, sentindo-se idiota. – “Amante...”
“Você está se achando muita coisa, não é?” – disse uma voz grave da porta.
Bella virou-se de repente e deixou a escova cair; ela partiu-se em dois.
“Reparo” – disse, apontando a varinha para a escova quebrada e concertando-a – “Que quer dizer com isso?”
Rodolfo entrou no quarto e continuou a encará-la com a mesma expressão que usara àquela manhã, revelando profundo desgosto.
“Você se acha muita coisa porque virou amante dele. Quer dizer, eu nem sei se a palavra ‘amante’ se aplica nesse caso, porque você sabe, o Lorde das Trevas não ama, ele não se importa com você. É só um pedaço de carne.”
“Não me lembro de ter pedido a sua opinião a respeito” – respondeu Bellatrix azeda e deu as costas ao marido, voltando a escovar os cabelos compulsivamente.
“Você é apaixonada por ele. Eu sei que é.” – disse Rodolfo, sorrindo triunfante.
“Você não entende, não é?” – Bella voltou-se novamente para encarar o marido, e desta vez tremia violentamente de raiva contida – “Não se trata de amor. Amor não existe. Nenhum de nós realmente ama. Nós existimos única e tão-somente para servir ao Lorde das Trevas. Nós todos o amamos e o odiamos...”
“Então vamos todos amá-lo e odiá-lo!” – Rodolfo exclamou – “Vamos fazer uma orgia e depois apunhala-lo pelas costas!”
Rodolfo deu um passo para frente, apanhou Bella pelos ombros e a sacudiu, dizendo:
“Livre-se disso enquanto pode. Você não é obrigada... Não a isso. Acabe com isso ou você vai se machucar de verdade!”
“Aprendi a suportar a dor muito bem, obrigada.” – Bella disse por fim, e saiu do quarto a passos duros.
Desceu as escadas, ainda trêmula, e encontrou a sala apinhada de outros bruxos encapuzados. Além de Aleto era a única mulher comensal do círculo, mas a outra bruxa era um bocado obtusa, demais até para os padrões dos Comensais mais baixos. Bellatrix reparou também que Rabicho estava de volta, e ela ficou satisfeita em constatar que o animago parecia mais amedrontado e derrotado do que nunca. Certamente efeito de umas semanas com Snape...
“Ah, Bella.” – Voldemort a cumprimentou, beijando sua mão na frente de todos! - “Finalmente se reúne a nós.”
Bella retribuiu o cumprimento com uma singela mesura e se reuniu aos colegas em círculo. Um ou outro comensal a olhou pelo canto dos olhos, mas ninguém ousou se pronunciar.
“Bem, meu amigos. Estamos aqui para tratar de alguns pequenos problemas que podem estar atrapalhando nossas missões.”
O Comensal à direita de Bella deu um passo à frente e falou, e Bella imediatamente reconheceu a voz áspera de Fenrir Greyback:
“Estou tendo sérios problemas com um dos lobisomens novos do clã. O nome dele é Lupin, e tem vivido entre os bruxos por muitos anos... Sua posição não é clara, mas achamos que traz a mensagem de Dumbledore.”
“Mate-o” – proclamou Voldemort.
“Sim, milorde...” – Greyback concordou e voltou ao seu lugar; um brilho maníaco injetado em seus olhos amarelos.
“E os dementadores?” – perguntou Voldemort para um dos Comensais que Bella lembrava vagamente como um de seus colegas de Azkaban.
“Não há como pararem, senhor. Já investiguei... Trabalhei por muito tempo na sessão de ligação com os Dementadores, e não sei de nenhum modo para pará-los...”
“Verei isso depois, então” – Voldemort disse displicentemente, e fez sinal para que o grupo se sentasse à mesa, enquanto taças de diversas bebidas apareciam na frente de seus ocupantes.
“Verdade, Bella, você parece exausta. Espero que não a esteja fazendo trabalhar demais.”
Bella levantou o rosto e encarou seu Mestre, surpresa com a ousadia. Ele, no entanto, disfarçava perfeitamente bem, e apenas seus olhos, que brilhavam cheios de malícia, denunciavam o duplo sentido de sua declaração.
“Não, de jeito nenhum, milorde. É um imenso prazer trabalhar para o senhor” – os cantos de seus lábios se curvaram num breve sorriso – “A culpa, na verdade, é de Rodolfo. Ele ronca como um motor” – e acrescentou: - “Espero que o senhor não ronque.”
Voldemort riu friamente e respondeu:
“Não sei. Nunca ninguém se queixou. Talvez você devesse dormir comigo um dia e verificar por si mesma.”
Bella observou, satisfeita, o queixo de cada um dos Comensais cair até o chão, e os olhos se arregalarem até quase saltarem fora.
“E por que não? Talvez assim eu pareça menos cansada”.
“Dificilmente, minha cara. Eu não a deixaria dormir”. – Voldemort tornou a rir e seu olhar cruzou com o de Bella. Era claro que ambos se divertiam imensamente com o duplo sentido de suas palavras e a surpresa dos outros Comensais.
“Isso é uma proposta, senhor?” – Bella disse, erguendo a sobrancelha
“É, talvez seja” – respondeu Voldemort após um breve momento.
Bella riu baixinho e voltou sua atenção para a taça de bebida, ciente de que todos os olhares estavam voltados para si.
“O senhor não deveria ficar fazendo propostas indecentes à mesa. As pessoas já falam de nós...” – disse Bella assim que se viu sozinha com seu mestre.
“A última proposta que lhe fiz você não aceitou. No entanto, da última vez que nos encontramos, não precisei fazer proposta alguma...”
Ele a abraçou por trás, beijando seu pescoço e deslizando as mãos por seu corpo até o decote. Bella virou-se e o beijou, sorrindo ainda mais para si.
[...]
Nagini deslizava com facilidade pelo chão de madeira escura da mansão, a língua bifurcada para fora, farejando o cheiro conhecido de seu dono. Achou a porta do quarto dele entreaberta e entrou, tão silenciosa quanto uma sombra.
Seus pequenos olhos escuros e brilhantes estreitaram-se quando a cobra pousou seu olhar sobre a cama. O Lorde das Trevas dormia a sono alto ao lado de Bellatrix Lestrange; os corpos nus tão entrelaçados um no outro que era difícil distinguir qual era qual, e o vasto lençol de cetim negro os cobria como uma mortalha.
“Eu avisei...” - ela sibilou, mas Voldemort permaneceu imerso em seu sono cansado.
Nagini subiu na cama, enroscando-se na cabeceira, até ficar com o rosto ofídio diretamente encarando o de Bella, que dormia tranqüilamente aconchegada nos braços de seu amante.
Nagini sibilou de fúria contida e preparou-se para dar o bote, erguendo o corpo e expondo as presas venenosas...
Fincou as presas direto no pescoço de Bella, que acordou assustada e teve tempo apenas de dar um grito agudo e alto antes de cair desmaiada; o veneno da cobra correndo direto em suas veias.
“COBRA ESTÚPIDA! ” – Voldemort gritou, levantando-se de repente. Por que fez isso?
“Eu avisei, Thomas...”
Voldemort gritou um palavrão, expulsando Nagini de seu quarto e sacudiu Bella com força, tentando acorda-la, mas sua pele havia adquirido um horripilante tom de verde, e seus olhos giravam brancos na órbitas.
“Bella, acorde!” – gritou, sacudindo-a, mas o pescoço da bruxa pendeu molemente para o lado.
Ele então fez uma busca desesperada pelo seu estoque de antídotos, derrubando frascos e mais frascos de poções variadas, exatamente como no dia em que Bella tentara se matar.
“Você não tem o antídoto para esse veneno” – sibilou Nagini, assistindo Bella ter espasmos violentos e seus olhos girarem.
“Bella...” – Sussurrou Voldemort, dando tapinhas no rosto cada vez mais frio e pálido da bruxa.
“ELA ERA MINHA MELHOR SERVA!” – gritou para Nagini.
Ele continuou procurando um antídoto qualquer desesperadamente, até que achou, atrás de um frasco vazio de poção do Sono Sem Sonho, a pedrinha com aspecto de rim murcho, o bezoar. Atirou-a dentro da boca de Bella, que tremia e suava frio, a pele agora decididamente esverdeada. Seu corpo deu um último espasmo, finalmente parou e a respiração voltou ao normal.
[...]
“Então eles estão definitivamente tendo um caso?”
“Acho que sim. É o que todos comentam, e o que eu vi...”
“Isso é estranho” – disse Lúcio Malfoy após pensar por alguns instantes – “Justo Bellatrix?”
“Ela sempre foi a preferida” – respondeu Narcisa com uma nota de amargura na voz – “O Lorde das Trevas a ensinou pessoalmente as Artes das Trevas.”
“Era de se esperar que depois do que aconteceu no Ministério Bellatrix fosse receber um castigo à altura.” – ponderou Lúcio.
“Ah, mas ela andava muito sofrida, a Bella. Creio que depois de tantos anos em Azkaban ela tenha provado sua verdadeira lealdade... O Lorde das Trevas recompensa quem lhe é fiel, sabe?” – atacou Narcisa com azedume
Lúcio fez uma careta como se tivesse sido atingido em cheio por um tapa.
“Você sabe que não tive opção.”
“Eu não o culpo” – respondeu Narcisa, e estendeu a mão para tocar os dedos do marido através das grades da cela – “Estou só tentando explicar porque não é uma surpresa isso que esteja acontecendo. Para ser sincera, era mesmo de se esperar...” – Narcisa parou de repente e levou as mãos à boca como se tivesse acabado de deixar escapar um segredo.
“Que quer dizer com isso?” – perguntou Lúcio, pressuroso.
“Bom... É que Bella estava meio que, sabe... apaixonada.”
“Apaixonada?” – repetiu Lúcio incrédulo, rindo – “E o Lorde das Trevas simplesmente concordou com essa loucura?”
“Bem, aí eu não sei” – disse Narcisa, encolhendo os ombros – “Mas você precisava vê-los na festa de Halloween, e na última reunião de Comensais. Mobby os surpreendeu... em certas situações comprometedoras. Tem sido assim desde então. Ele realmente a trata como especial. Eu me pergunto o que isso pode significar. Por que o Lorde das Trevas...?”
“Ah, não acho que ela realmente seja especial, se é que me entende.” – disse Lúcio vagamente – “Bellatrix pode estar só sendo a bonequinha de luxo do Lorde das Trevas...”
“Mas então por que me perguntou isso?” – indagou Narcisa desconfiada.
Os olhos de Lúcio Malfoy brilharam momentaneamente no outro lado da cela, mas ele mudou rapidamente de assunto.
“E como vão as coisas aí fora?” – ele perguntou, a voz triste.
“Nada bem. Draco está arrasado... Seus planos estão fracassando, ele está entrando em desespero... Pobrezinho.” – Disse Narcisa, e soltou um longo suspiro. – “E sem você, as coisas estão ficando difíceis. O banco tem colocado cada vez mais dificuldades, você sabe que o dinheiro é só de Draco, e como ele é menor de idade...”
“Talvez se eu pudesse sair daqui...” – resmungou Lúcio – “Aposto que sem os dementadores é muito mais fácil”.
“Eu ficaria aí se fosse você, Lúcio. O Lorde das Trevas não está nada satisfeito. A missão de Draco... Tenho certeza de que foi castigo. Uma missão suicida.” – disse, soltando mais um longo suspiro.
“Bem, talvez haja um jeito... Um jeito de amenizar as coisas, tornar segura a minha fuga...” – Disse Lúcio muito rápido, desviando o olhar.
“O que quer dizer?” – perguntou Narcisa rispidamente.
“É só que... Querida, me ouça, por favor!” – disse Lúcio rapidamente – “Você diz que Bella é tratada de maneira especial pelo Lorde das Trevas... Quem sabe se você...?”
“Você está pedindo que eu me venda para o Lorde das Trevas?” – sussurrou horrorizada.
“Não!” – Lúcio exclamou – “Estou só dizendo que você podia, sabe, tentar cair nas graças dele de algum jeito, implorar por perdão... Sei que Draco já está pagando pelos meus erros...”
“Você tem sorte dessa cela ser à prova de maldições, Lúcio Malfoy!” – rosnou Narcisa, enojada – “Se Bella resolveu virar uma vadia, o problema é dela! Agora, não me peça o mesmo...”
“Narcisa, olhe para mim! Olhe para você, olhe para nós! Não acha que já estamos sofrendo o bastante? Um pequeno sacrifício...?”
“NÃO!” – Narcisa gritou, e virou-se para ir embora; o rosto vermelho de raiva.
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