Calor e damas-da-noite
Capítulo VII
Why do you love me
Why do you love me?
Quando o calor característico da poção neutralizante cessou em seu corpo, Bella sentiu que não haveria necessidade de dar continuidade a seu plano. Um sinal luminoso havia surgido em sua mente e piscava alertando-a dos riscos que correria se resolvesse mesmo ir ao beco Diagonal.
Ademais, toda a ânsia por emoções fortes parecia ter sido neutralizada também. Bella supunha que aquele fosse o efeito colateral da Poção da Indiferença quando não havia mais chocolate por perto e sua mente imergia em tédio com mais facilidade o que nunca, deixando a prudência totalmente de lado.
Sentia raiva por ter se deixado manipular tão facilmente, ter deixado sua própria vontade e liberdade de lado, e virado uma espécie de montanha russa de hormônios e emoções fragilmente controladas.
Agora tudo parecia claro em sua mente – claro como água. A verdade é que apesar da sensação arrebatadora e dos infinitos arrepios que percorriam seu corpo só de estar diante da perspectiva de encontra-lo, Bellatrix nunca se sentira tão lúcida em toda a sua vida, nem mesmo antes de Azkaban. Sabia exatamente o quê fazer. A questão era como fazer... E se teria coragem.
A porta do armário de poções e ingredientes ainda estava aberta, rangendo baixinho ao movimentar-se lentamente conforme a brisa que entrava pela porta que ela deixara entreaberta batia nela; parecia convida-la.
Rapidamente, passou a mão nos ingredientes de que se lembrava que precisaria. Já havia feito aquilo uma vez; não haveria de se enganar. Sorrindo para si, saiu do escritório e trancou-se em seu quarto, ansiosa e excitada.
[...]
O que mais poderia fazer a respeito? Já dera a Bella todos os avisos possíveis. Já lhe ministrara a Poção da Indiferença, mas sabia que ela era astuta demais para permanecer muito tempo subjugada daquela maneira. A verdade é que sob outras circunstancias, já a teria matado. Mas Bella era competente demais, fiel demais, leal demais, para que simplesmente a matasse. Mesmo depois de tantos anos em Azkaban, ela ainda era poderosa, esperta – e verdade fosse dita, ela ainda permanecia bonita, embora não tanto quanto antes da prisão. E Voldemort também estava bastante ciente dos boatos que circulavam entre seus outros servos. Não que lhe importasse realmente, uma vez que sabia que eram todos mentira. O que lhe intrigava, além de como tais calúnias tinham se espalhado, era que uma intuição martelava insistentemente em sua cabeça. Simplesmente sentia que Bella estava aprontando alguma...
“Rabicho!” – Chamou Voldemort
“Sim, mestre?”
“Quero que você fique de olho em Bellatrix.”
“De olho?” – piscou Rabicho, confuso
“Isso quer dizer que eu quero que você a vigie. Vinte e quatro horas por dia. Não desgrude os olhos dela até descobrir o que ela está aprontando; porque eu sei que ela está aprontando.”
Rabicho tornou a piscar confuso. Aquilo era decididamente intrigante. Mas antes que pudesse questionar suas ordens novamente, o Lorde das Trevas se foi.
[...]
Bellatrix misturava a poção branco-perolada conforme se lembrava das instruções. Deveria misturar sete vezes em sentido anti-horário, depois acrescentar uma lágrima de fênix, uma gota de sangue de unicórnio – algo realmente difícil de se achar no mercado negro – mexer mais seis vezes no sentido horário, pausar por uma hora e acrescentar veneno de acromântula. Então a poção cozinharia por mais um mês e estaria pronta.
Aquela idéia havia se fixado de tal maneira em sua mente que nem se sua sensatez criasse vida e lhe desse um soco no meio da cara, ela mudaria de idéia. Dia e noite, tudo o que fazia era lamentar por não ter tido aquela idéia antes e rezar para que não tivesse esquecido nenhuma das instruções para o preparo da poção.
Então, uma semana após ter começado seu projeto secreto, seu tédio finalmente foi interrompido.
Era final de primavera, e o sol brilhara ferozmente o dia todo, e agora o calor permanecera à noite, a lua Cheia brilhava mais forte do que nunca, junto com as es estrelas; e o cheiro doce e forte da dama-da-noite se espalhava pelo jardim. O calor era úmido e abafado e a fazia se sentir ligeiramente nauseada, tanto que voltara a dar seus passeios no jardim. E foi numa noite excepcionalmente quente, quando até havia abandonado sua capa e as pesadas vestes escuras que costumava usar, e adotado um simples vestido de verão, que viu dois vultos aparatarem no jardim em frente à mansão.
Os vultos sussurravam, nervosos e pareciam discutir seriamente. Um deles chegou a ameaçar com a varinha o outro duas vezes, mas desistiu e se resignou a entrar na casa, trêmulo e angustiado. Quando a luz da lua iluminou-os, Bellatrix reconheceu Rookwood e Avery.
Intrigada, subiu as escadas junto com ambos, tentando se camuflar nas sombras, porém não teve muito sucesso.
Avery e Rookwood cutucaram-se, surpresos:
“Bellatrix? Que é que está fazendo aqui?”
“Poderia fazer a mesma pergunta a você, Augusto” – respondeu secamente.
“Avery passou informações erradas a Milorde.” – Disse num tom sombrio. – “E você? Por que não está em sua casa?”
“Assuntos pessoais” – respondeu Bellatrix, e virou-se para Avery, sorrindo – “Você está ferrado, Avery. É sobre a Profecia, não é?”
“Não foi minha culpa” – ele apressou-se a dizer, quase chorando. Em seguida assumiu um ar positivamente hostil - “Ah, eu sei porque você não está em casa. Lúcio me contou...” – ele sorriu maldosamente.
Toda a cor do rosto de Bellatrix sumiu de repente e sua face se inchou de fúria demente.
“Ora, seu...”
Mas não pôde completar a frase, porque uma voz fria aguda soou do outro lado da porta, mandando Rookwood entrar primeiro.
Assim que se viram sozinhos, Bellatrix e Avery recomeçaram a trocar farpas.
“Não me interessa o que vocês estão falando de mim pelas costas, seu bando de porcos traidores, vocês jamais chegarão aos meus pés...”
“Se ser o preferido do Lorde das Trevas significa servir de... ah, bonequinha, bem, eu prefiro ter de encarar uma sessão de Cruciatus a assumir o seu posto, Bellatrix”
“Bem, então você descobrirá que a fúria do Lorde das Trevas pode ser bem mais desagradável do que você imagina, Avery. Seria mais seguro se você fechasse essa boca imunda antes de falar de mim ou dele.”
“Escute aqui...” – Disse Avery, agora realmente inflamado; a voz saindo num sussurro de fúria – “Eu não aceito ofensas de ninguém, nem mesmo da puta particular do Lorde das Trevas”
PLAFT!
A próxima coisa que Avery sentiu foi a mão pesada de Bella em seu rosto e o barulho seco de um tapa bem aplicado. Ela tremia da cabeça aos pés, lívida de fúria.
“Como ousa... Como ousa...!”
Custou todo o seu auto-controle para não mata-lo ali mesmo. Então, antes que esse controle já frágil se esvaísse, Bellatrix se foi, deixando Avery para trás no momento em que o Lorde das Trevas abriu a porta e o chamou. A próxima coisa que ouviu foram os berros de dor de Avery sendo castigado.
Sorrindo, Bella voltou para seu quarto e sua poção, que agora deveria ter assumido uma coloração vermelho-sangue.
Algumas horas após a discussão com Avery no corredor, Bellatrix ainda sentia um calor e um rubor subindo por seu rosto cada vez que se lembrava das palavras do colega.
“...nem mesmo da puta particular do Lorde das Trevas...”
Será que era realmente isso que os outros achavam que ela fosse? Uma vadia qualquer que somente era tida como favorita por dormir com seu Mestre? Será que a julgavam tão incompetente assim? Com raiva, Bellatrix pensava a respeito, enquanto picava as caudas de salamandra para a poção.
Alguém bateu na porta, fazendo-a se sobressaltar e cortar-se com a lâmina. Furiosa, ela prometeu a si mesma manter a porta destrancada dali por diante, e levantou-se para atender a porta. Era Rabicho.
“Ãhn...” – Ele resmungou. Não parecia fazer a mínima idéia do que tinha ido fazer ali. – “Eu vim saber... Digo, vim perguntar...” – Olhava insistentemente por cima de seu ombro – “Vim saber se você vai jantar.”
Bellatrix franziu a testa. Será que Rabicho não sabia ao menos ser mais discreto?
“O que é que você veio espionar aqui, Rabicho?”
Rabicho corou.
“Eu... O Lorde das Trevas me mandou ficar de olho em você.”
“Mesmo?” – Perguntou Ballatrix, tornando a franzir a testa. Grifinórios deviam ser mesmo burros para não perceberem que ele era um espião – “Posso lhe assegurar que não estou fazendo nada de indevido.”
“Ah, é?” – Perguntou Rabicho dando um sorrisinho incômodo – “E que poção é aquela ali cozinhando?”
Bellatrix gelou. Sentiu vontade de se chutar. Como pudera ser tão descuidada?
“Não é nada que seja da sua conta.”
“Tudo é da minha conta, porque tudo é da conta do Lorde das Trevas” – Rabicho tornou a dar um sorrisinho sarcástico – “Acho que ele gostará de saber que você anda preparando poções escondida, Bellatrix.”
“NÃO!” – Ela gritou, segurando o braço de Rabicho e o impedindo de sair. – “Não, espere...”
Rabicho sorria triunfante.
Bellatrix sentia sua raiva borbulhando, mas a verdade é que estaria literalmente morta se Voldemort sequer suspeitasse dessa poção...
“Então, me diga, Bellatrix...” – Disse Rabicho suavemente – “Que poção é essa? Posso sentir cheiro de verniz para cabo de vassouras, queijo e lírios... O que vem a ser?”
“Definitivamente isso não é da sua conta!” – Bella respondeu rispidamente.
“Pode não ser da minha conta, mas certamente é da conta do Lorde das Trevas.” – Seus olhos faiscaram.
Bellatrix sentiu o desespero de estar nas mãos de alguém – e o pior, nas mãos de Rabicho – crescendo dentro de si... Ela suspirou. Não tinha opções.
“É Amortentia” – Rabicho lhe lançou um olhar confuso – “Uma Poção do Amor.”
“Ahhhhh...!” – exclamou Rabicho, excitado – “Então é mesmo verdade o que estão dizendo?”
Bellatrix limitou-se a negar com a cabeça, mas Rabicho não pareceu se convencer.
“Diga logo o que você quer em troca do seu segredo, Rabicho.”
“Por enquanto, nada. Mas não se esqueça de que você me deve essa, Bellatrix. Não se esqueça. Eu posso precisar de você qualquer dia desses.” – Rabicho abriu um grande sorriso maldoso e foi embora, quase pulando de contente.
Bella ouviu a porta se fechando atrás de si quase como uma sentença de morte. Não fazia mais sentido continuar com a poção agora que alguém além dela sabia. Sentindo mais lágrimas escorrerem pelo rosto, ela se debruçou sobre o caldeirão, pensando no quão tola havia sido. Por que continuava a agir como uma adolescente?
Uma de suas lágrimas escorreu para dentro do caldeirão, misturando-se à poção. Ela ferveu por alguns instantes e então explodiu.
Xingando alto, Bellatrix de repente se viu coberta de uma gosma verde que um dia havia sido sua Poção do Amor.
Maldito Rabicho!
A verdade é que estava totalmente perdida, totalmente sem saída e presa nas garras do animago.
Com raiva, abriu a torneira da banheira, esperando sinceramente que fosse capaz de tirar aquele cheiro de ovo podre de si. Enquanto esfregava os cabelos com força, só conseguia imaginar formas e mais formas violentas e dolorosas de matar Rabicho. Nunca a idéia de servi-lo de sobremesa a Nagini lhe pareceu mais tentadora.
Apenas uma hora e litros de poção perfumada depois se deu por satisfeita e saiu da banheira. Como gostava de fazer, parou em frente ao grande espelho do armário no quarto, só de toalha e começou a se examinar.
Desde adolescente tinha essa mania – sua mãe costumava dizer que era vontade de achar defeito em si própria. Fazia isso, claro, no tempo em que os defeitos praticamente não existiam e os inventava apenas para receber elogios. Agora, porém, eles eram tão numerosos que perderia toda a noite contando-os. Ao contrário, procurou em si a beleza que Azkaban lhe roubara.
Certamente – ela pensava – Certamente seu cabelo permanecia bonito e brilhante, sem nenhum fio branco. Alguns meses de descanso e havia recuperado algum peso e alguma cor, mas tinha de admitir a si mesma que seu perfil esguio lhe caía bem. E se colocasse os cabelos na frente, seus seios até pareceriam maiores e o rosto mais cheio e não mais tão encovado. Ela piscou para sua própria imagem, que piscou de volta. Sorriu, pensando que seus lábios, afinal, não eram tão finos quanto os de Narcisa, e seus olhos eram mais bonitos que os de Andrômeda.
“Você não está assim tão mal, minha cara...” – ela disse para si mesma.
Virou-se para vestir-se, mas nesse momento, a porta abriu.
“Bellatrix, você...” – Era Voldemort.
Ele parou, como se tivesse sido petrificado. Ambos se encararam, surpresos demais para dizerem alguma coisa. Bellatrix tinha viva em si apenas a consciência de estar completamente nua. Finalmente, após alguns segundos que pareceram uma eternidade para ambos, Voldemort recobrou a lucidez.
“Dá próxima vez pelo menos tranque a porta!” – Ele disse, nervoso, e saiu batendo a porta.
Pensando ter visto um ligeiro rubor na face pálida de seu Mestre, Bellatrix sorriu.
Vestiu o camisola de seda – não o comprido branco que a fazia parecer um fantasma, e que vestira naquele dia de nevasca há uns meses atrás quando ele mais uma vez salvara sua vida - mas o vermelho rendado curto que não vestia desde sua noite de núpcias com Rodolfo, e que na ocasião lhe parecera vulgar demais. Aliás, continuava achando o tal camisola simplesmente brega, e ainda se perguntava porque se preocupara em resgata-lo da Mansão Lestrange quando voltara para apanhar suas roupas.
Vestiu-o de forma inconsciente, convencendo a si mesma de que só o vestia devido ao calor sufocante daquele começo de verão e colocou um respeitoso robe por cima. Então desceu para a sala de estar onde o Lorde das Trevas a esperava, parecendo muito preocupado com alguma coisa.
“O senhor queria falar comigo?” – Ela perguntou cautelosamente. Rabicho espiava da porta da cozinha.
“Sente-se, Bella.” – Fosse o que fosse, era decididamente importante. Bella sentou-se na poltrona em frente e ao fazer isso, a parte do robe que cobria sua perna deslizou.
“Como você provavelmente já sabe, Avery me passou informações erradas. Descobri que só quem pode pegar a Profecia são aqueles sobre quem elas falam. Obviamente, isso significa eu e Harry Potter.”
“Sim, senhor” – Bella sentia-se bastante consciente de que toda a sua perna estava exposta, mas por algum motivo não a cobriu.
“Obviamente eu não quero me arriscar a descobrirem meu retorno. O Ministério está sendo absolutamente fantástico em me ignorar. Terei de fazer com que Potter pegue a Profecia para mim...” – Os olhos castanhos finalmente notaram o par de pernas desnudo que se insinuava diante deles. Voldemort não fez nenhum comentário, mas não desviou o olhar.
“Pegá-la? Mas como fará isso, senhor?” – Perguntou ingenuamente.
Bellatrix sentiu-se tomada por alguma força desconhecida que a levou a cruzar as pernas tentadoramente.
O robe deslizou ainda mais revelando até as coxas. Ela podia sentir o olhar de Voldemort como se a queimasse com um ferro em brasa.
“Parece que eu e Potter temos uma espécie de conexão mental... Ele pode acessar meus pensamentos e emoções durante o sono, e eu os dele. O que se revelou uma desvantagem no passado, quando Potter viu Arthur Weasley sendo atacado, agora poderá vir a ser uma vantagem para nós.”
Bellatrix foi tomada por aquela força estranha novamente, e tornou a cruzar as pernas sedutoramente. Até Rabicho prestava mais atenção nela do que nas instruções do Lorde das Trevas.
“O senhor quer dizer que pode levar Potter a ter falsas visões?”
“Exatamente.” – Voldemort respondeu; o olhar ainda fixo nas belas pernas à sua frente. – “Farei com que Potter apanhe a Profecia manipulando sua mente. E é aí que entram vocês, meus fiéis Comensais. Você e Lúcio vão estar no comando da operação.”
“Algo mais, mestre?” – Perguntou inocentemente enquanto deixava uma alça do camisola escorregar pelo ombro e a levantava.
“Não, Bella.” – Voldemort ergueu o olhar pela primeira vez e a encarou no rosto. – “Boa noite.”
Seu olhar foi tão intenso, e seu Boa-Noite tão carregado de malícia, que Bellatrix não pôde deixar de lamentar que ele fosse tão bom Oclumente e ela tão má Legilimens. Sorrindo, e ainda ciente – mesmo que estivesse de costas – de dois pares de olhos que a acompanharam até sumir de vista na escada, ela retornou ao quarto.
[...]
O calor estava ficando realmente insuportável. Mesmo seu melhor feitiço de resfriamento não era páreo para a o calor do sol acumulado no chão e nas paredes durante o dia e que agora vinha perturbar seu sono já tão pouco tranqüilo.
Bella remexia-se em sua cama, totalmente descoberta; os olhos fechados, em vão, sabendo que o sono não viria. A noite estava mais iluminada do se houvessem postes elétricos do lado de fora e o cheiro forte das flores noturnas, combinada com o mormaço abafado, tornava o ar pesado de se respirar. Mais de uma vez Bellatrix tinha saído da cama e se enfiado debaixo da água gelada, mas nada parecia resfriar o calor. Aquele par de olhos castanhos – vermelhos quando seu dono se inflamava – haviam deixado brasas espalhadas por seu corpo todo. Ela sentia a pele arrepiar e queimar ao menor toque de seus próprios dedos.
Definitivamente, não conseguiria dormir àquela noite. Até se resignaria com o fato se ao menos pudesse deitar na cama, fechar os olhos e não imaginar coisas tão inapropriadas que fariam até a mais liberal das mulheres gritar de horror. O clima parecia brincar com ela e até o sussurro do vento tomava outro sentido quando chegava aos seus ouvidos.
Levantou-se mais uma vez para lavar o rosto, decidida a encontrar uma maneira de conseguir paz antes do amanhecer. Mas ao invés de entrar pela porta do banheiro de sua suíte, seus pés a levaram à outra porta, da saída.
Tateando no escuro e guiando-se apenas pelo eco de seus próprios passos no assoalho de madeira, ela seguiu até o último quarto da mansão. Reconheceu o grande “R” floreado gravado em alto-relevo na madeira pesada da porta através dos dedos, e surpreendeu-se ao achar a porta entreaberta. Talvez o Lorde das Trevas estivesse sofrendo tanto quanto ela com o calor.
A janela e as cortinas também estavam abertas, em busca de uma brisa inexistente. Ela andou até a cama, sentindo o frio na barriga aumentar junto com a excitação e ajoelhou-se diante dele.
Observou o peito nu subindo e descendo lentamente e alguns poucos movimentos durante o sono.
Aproximou-se mais – podia sentir o hálito quente em seu rosto, agora. Quando uma nuvem que cobria a luz se afastou, e a luz banhou o corpo imóvel, Bella pôde jurar que vira o belo rosto de seu Tom, e não o rosto pálido de Voldemort.
Ainda mais próxima, sentindo a adrenalina correndo mais rápida do que nunca, encostou seus lábios nos dele, trêmula de medo. Mas ele não acordou. Aumentou a pressão do beijo até que a boca entreabriu-se, como se tivesse sido programada para aquilo. Ele, no entanto, continuou dormindo, ou fingindo que estava dormindo e nada fez ou disse quando ela intensificou o beijo e desceu os lábios até o pescoço.
Semi-inconsciente, totalmente inflamada pelo calor e sua própria excitação, ela continuou beijando-o – da boca, para o pescoço, do pescoço para o peito; até que ele não pôde mais fingir indiferença, embora mantivesse os olhos fechados e não deixasse sair um único ruído de aprovação ou desaprovação.
Ele a puxou para a cama sobre si, e finalmente Bella compreendeu porque tinha optado por vestir aquele camisola àquela noite. Soltou-o facilmente do corpo, na ânsia de aliviar – ou talvez aumentar – o terrível calor que parecia piorar cada vez mais.
Bella tornou a beija-lo na boca, perguntando-se porque ele ainda mantinha os olhos fechados se respondia a todas as suas carícias com igual intensidade. Perguntou-se se ele também estaria imerso naquele torpor inconsciente, como se estivesse drogado, que era exatamente como Bella se sentia...
De repente, ele abriu os olhos, cheios de horror.
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