O Estudo da Alquimia



— CAPÍTULO NOVE —
O Estudo da Alquimia




Harry contou a Hermione que tinha tentado, com a capa da invisibilidade, visitar a seção reservada da biblioteca certa noite, atrás de informações sobre Nicolau Flamel.
— Filch quase me pegou — disse ele, causando-lhe pavor. — Acontece que ao fugir dele, acabei descobrindo algo incrível. Encontrei um espelho que mostra à pessoa o que ela mais gostaria de ver. — Hermione contraiu as sobrancelhas em ansiedade. — Vi meus pais nesse espelho, falando comigo.
— Ora, Harry... — disse ela, tocando o ombro do amigo, que estava cabisbaixo. Rony estava ao lado deles na sala comunal, sem dizer uma palavra.
— Estive lá nas duas noites seguintes — continuou Harry, e Hermione tapou a boca com as duas mãos para demonstrar o quanto considerava grave aquela revelação. — Na última delas encontrei Dumbledore, e ele me contou a história do espelho. Chama-se Espelho de Ojesed, e agora já está escondido em outro lugar. Dumbledore me explicou que sonhar com a imagem do espelho não adianta nada.
— Harry, odeio ter que dizer isso, mas...
— Então simplesmente não diga — disse Rony bruscamente, levantando-se. — Sabemos que vai dizer que Dumbledore está certo.
Hermione dirigiu a ele um olhar ao mesmo tempo furioso e magoado. Talvez para impedir a tempestade iminente, Harry levantou-se e mudou rapidamente de assunto.
— Temos que voltar a procurar na biblioteca, precisamos descobrir o mais rápido possível quem é Nicolau Flamel. — disse ele. — Isso é o que importa agora.


O próximo jogo do campeonato de quadribol se aproximava, e Harry treinava quase todos os dias, deixando a busca na biblioteca mais a cargo de Hermione e Rony; o que não era a solução mais harmoniosa. Por várias vezes Madame Pince acabou por expulsá-los, por causa de suas discussões.
— Você não tem modos mesmo, Ronald! — era mais ou menos o que ela dizia quando isso acontecia, ignorando os protestos de Rony de que ela se alterara tanto quanto ele.
Em uma dessas noites, após o fim das aulas e de mais uma busca frustrada, os dois foram até a sala comunal esperar por Harry, que estava treinando. Jogaram xadrez de bruxo, e Rony continuava a ganhar sempre. Hermione podia perceber o prazer imenso que ele sentia em superá-la.
— Mione, você é muito ruim! — disse ele, após mais um xeque-mate. Harry sentou-se ao lado deles nesse momento, e Rony se dirigiu a ele radiante — Ela consegue ser ainda pior do que você, Harry. Hermione bufou, mas não retrucou. Não tinha argumentos; era realmente péssima.
Harry não riu da brincadeira de Rony. Na verdade parecia muito desanimado, e explicou o motivo.
— Snape insistiu em apitar o próximo jogo.
— Não jogue! — disse Hermione, como num reflexo. — Finja que quebrou a perna!
Quebre a perna de verdade — reiterou Rony.
— Não posso, pois — mas eles nunca souberam o motivo, pois Neville adentrou a sala comunal naquele momento, pulando como um coelho.
Todos caíram na gargalhada, exceto Hermione, que se levantou de um pulo, reconhecendo o Feitiço da Perna Presa e fazendo o contrafeitiço no mesmo instante. Depois precipitou-se até ele e trouxe-o para onde estava com Harry e Rony.
— Diga o que aconteceu — disse Hermione, tentando acalmá-lo com palmadinhas no ombro.
— Malfoy... Esbarrei com ele no corredor e ele fez isso comigo.
— Você precisa enfrentá-lo — disse Rony.
— Ele está certo, não sou corajoso o suficiente para pertencer à Grifinória.
— Você vale doze Dracos — disse Harry, entregando a um Neville choroso um sapo de chocolate. — O Chapéu Seletor escolheu você para a Grifinória, e ele? Foi para aquela Sonserina nojenta.
Neville sorriu e abriu o chocolate. Depois de comê-lo, entregou a figurinha que vinha junto a Harry.
— Dumbledore — disse Harry. — Já tenho... Pode ficar com ele.
— Não precisa, eu não coleciono. — E Neville subiu para o dormitório.
Os alunos, que tinham rodeado Neville curiosos, se dispersaram novamente. Hermione e Rony já iam começar um novo jogo de xadrez quando Harry exclamou:
— Dumbledore!
— Já sabemos, e você já tem a figurinha de Dumbledore... — disse Rony, espantado.
— Não, veja isso! Está escrito aqui entre os grandes feitos de Dumbledore, “um trabalho de alquimia em parceria com Nicolau Flamel”!
Alquimia? Uma luz se acendeu dentro da cabeça de Hermione, e ela se levantou de um salto, animadíssima.
— Me esperem bem aqui!
Ela subiu correndo até o dormitório. Entre os livros que levara para ler nas férias, havia um que ela não tinha tido tempo de ler ainda, A História da Alquimia. Minutos depois descia novamente as escadas, com o enorme livro debaixo do braço.
— Peguei há semanas para me distrair... — Comentou, ofegante, a única frase inteligível dentre os resmungos que dirigiu a si mesma enquanto folheava nervosa as folhas do livro.
Distrair? — admirou-se Rony, mas ela não lhe deu atenção.
— Eu sabia, eu sabia! — exclamou, quando finalmente encontrou o que procurava. — Nicolau Flamel é, ao que se sabe, a única pessoa que produziu a Pedra Filosofal.
— A o quê? — perguntaram os dois meninos juntos.
— Francamente, vocês dois não lêem? Tomem, leiam isso aqui.
Os outros dois obedeceram. O trecho dizia:

”O antigo estudo da Alquimia preocupava-se com a produção da Pedra Filosofal, uma substância lendária com poderes fantásticos, como transformar qualquer metal em ouro e produzir o Elixir da Vida, que torna quem o bebe imortal. A única Pedra existente na atualidade pertence ao famoso alquimista Nicolau Flamel, que completou seu sexcentésimo sexagésimo quinto aniversário no ano passado.”

— Viram? — Hermione perguntou, assim que eles levantaram os olhos. — Tenho certeza de que o cachorro está guardando a Pedra Filosofal, que é o que Snape quer roubar!
— É compreensível — disse Harry. — Qualquer um ia querer uma pedra dessas.


No dia da partida de quadribol da Grifinória contra Lufa-Lufa, Hermione e Rony desejaram sorte a Harry um tanto mais apreensivos que o normal. Harry decidira que ia jogar, mas apesar de ele negar, eles sabiam que ele estava morrendo de medo.
— Não se esqueça, é Locomotor Mortis — recomendou Hermione a Rony, mais uma vez, para que ele não esquecesse como fazer o Feitiço da Perna Presa, para o caso de terem que usá-lo contra Snape.
— Eu sei — respondeu Rony de má vontade. — Não me enche.
Assim que sentaram-se na arquibancada, porém, tranqüilizaram-se: Dumbledore estava assistindo à partida.
— Snape não terá coragem de tentar nada contra Harry com Dumbledore assistindo! — vibrou Hermione.
O jogo teve início, e não chegou a completar cinco minutos de duração. Hermione, preocupada, não tirava os olhos de Harry, que deu um mergulho espetacular com a vassoura, para depois surgir com o pomo de ouro na mão.
Depois que todos os jogadores estavam em terra firme foi que Hermione percebeu que Rony, Neville e Draco Malfoy estavam embolados no chão, brigando.
— Francamente! — exclamou. — Locomotor Mortis!
As pernas de Malfoy uniram-se como se fossem uma coisa só, e ele ficou estirado no chão, tentando se levantar. Hermione puxou os outros dois pelo braço e ouviu Draco gritar, conforme se afastavam:
— Você me paga, Granger!

— Mas o olho dele ficou roxo! — disse Rony, maravilhado.
— Não adianta, brigas são sempre estúpidas. Você não vai me convencer de que fez a coisa certa. Principalmente com seu nariz... — Hermione hesitou, contraindo o rosto numa expressão preocupada. — sangrando desse jeito.
— Srta. Granger — disse Madame Pomfrey, responsável pela ala hospitalar. Hermione levara os amigos aos cuidados dela, que agora estava muito ocupada cuidando de Neville. — Vou demorar aqui, por que a senhorita não desinfeta o ferimento do Sr. Weasley?
— C-claro — gaguejou Hermione. Ela levantou-se da maca onde estava sentada ao lado de Rony e foi pegar material para curativos. Quando ela se aproximou para passar um algodão no nariz do amigo, ele começou a choramingar de medo. — Fique quieto.
— Por que você precisa fazer isso? Vai me machucar ainda mais...
— Não se atreva a pôr a culpa em mim. — disse ela calmamente, e começou a limpar o sangue. Rony prendeu a respiração e forçou uma expressão de dor profunda. Ela simplesmente ignorou-o e continuou o trabalho.

— Onde você esteve? — Hermione perguntou, quando Harry entrou na sala comunal mais tarde.
— Você venceu, nós vencemos! — vibrou Rony. — eu e Neville brigamos com Malfoy, e eu deixei o olho dele roxo!
Hermione dirigiu um olhar feio de censura a Rony, mas Harry, com um gesto da mão, pediu que ficassem quietos.
— Depois... Tem algo que preciso contar a vocês primeiro.
Os três foram para uma sala de aula vazia, onde Harry contou aos outros dois que vira Snape ameaçando Quirrell nos arredores do campo de quadribol. — Ele perguntou se Quirrell já descobrira como passar pelo Fofo, e perguntou de que lado estava a lealdade dele.


— Mione, os exames ainda demoram um século para começar! — disse Harry.
— Dez semanas, Harry. Isso não é nada para Nicolau Flamel. — respondeu Hermione. Ela organizava suas revisões em cores diferentes, e insistia para que eles fizessem o mesmo.
— Mas nós não temos seiscentos anos — disse Rony. — Além disso, por que você precisa estudar se já sabe de tudo?
— Não sei se você percebeu, Rony, mas precisamos passar nesses exames para podermos ir para o segundo ano.
E os professores pareciam concordar com ela, pois era inacreditável o volume de deveres que eles estavam passando aos alunos. Os três passavam horas na biblioteca estudando. Num dia desses, encontraram Hagrid.
— Hagrid! — admirou-se Rony, parecendo também se recuperar um pouco do imenso tédio que tomava conta dele durante aquela situação. — O que você faz aqui?
Hagrid parecia esconder algo atrás do corpo enorme. Aproximou-se deles dizendo:
— Espero que já tenham desistido de procurar informações sobre Nicolau Flamel.
— Não se preocupe — disse Rony. — Já descobrimos quem ele é há séculos, e sabemos também sobre a Pedra Fi...
— CHHHHHHHHH! — exclamou Hagrid. — Ninguém deve saber sobre isso!
— Aliás — disse Harry. — Você sabe nos dizer que outros obstáculos estão protegendo a Pedra?
— CHHHHHH! — fez Hagrid mais uma vez. — Parem já de dizer essas coisas. Passem na minha casa mais tarde, mas não prometo nada!
Depois que ele se retirou, Rony foi verificar o que ele andara procurando, e voltou em seguida.
— Dragões! Ele estava lendo sobre dragões!
— Ele sempre quis ter um — disse Harry. — Ele me contou isso na primeira vez que nos vimos.
— Mas é proibido criar dragões! — disse Rony. — O Ministério da Magia proibiu pois fica difícil os trouxas não repararem na gente se criarmos dragões no quintal...
— O que será que ele está aprontando? — disse Hermione, pensativa.

Ao entrarem na cabana de Hagrid, os três tiraram imediatamente as capas, pois fazia um calor sufocante lá dentro. Todas as janelas e cortinas estavam fechadas e a lareira estava acesa.
— E então, o que é que vocês querem me perguntar? — disse Hagrid, demonstrando alguma apreensão.
— Queremos saber o que mais protege a Pedra Filosofal além de Fofo — disse Harry, sem rodeios.
— É claro que eu não vou dizer. Até porque não sei... e se soubesse não diria, já disse que estão se metendo onde não foram chamados!
— Ora Hagrid, você pode até não querer nos contar, mas é óbvio que sabe de tudo o que se passa por aqui. — disse Hermione, carinhosamente. — Sabemos que Dumbledore confia cegamente em você, aliás, todo mundo sabe disso. Só queríamos saber em quem mais ele confiaria para a proteção de algo tão importante.
Hagrid sorriu, visivelmente lisonjeado.
— Ah, acho que não tem problema contar a vocês... — disse ele. — Além do Fofo, Dumbledore pediu a alguns professores que fizessem feitiços... — e começou a contar nos dedos. — o prof. Flitwick, a profa. Sprout, a profa. McGonagall, o prof. Quirrell, e ele mesmo, que também fez um feitiço. E ah, quase me esqueço, o prof. Snape também.
Snape? — disseram os três juntos, abismados.
Nesse momento, Hagrid desligou-se completamente da conversa, dirigindo-se à fogueira. E então os três viram que dentro de um balde havia um ovo negro.
— O que é isso, Hagrid? — perguntou Harry.
— Um... Um... Ovo... Ganhei-o num jogo de cartas, quando estava tomando uns tragos na vila. É de... Dragão... — ele abriu um enorme sorriso e pôs-se a cantarolar.

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