A Cilada de Malfoy



— CAPÍTULO CINCO —
A Cilada de Malfoy




No dia seguinte, Hermione pulou da cama cedo, acreditando estar atrasada para a primeira aula. Não estava, no entanto. Como ainda faltava um bom tempo para a hora do café da manhã, ela ficou relendo trechos dos livros a fim de absorver mais alguma informação.
O café da manhã foi fascinante. O teto do salão principal era encantado para parecer-se com o céu, e fazia uma manhã linda. A uma certa altura da refeição, um bando enorme de corujas adentrou o salão para entregar correspondências. Para Hermione chegou um exemplar do Profeta Diário, o jornal dos bruxos, que ela assinara para ficar por dentro das notícias do mundo mágico. Leu alguns artigos enquanto comia o resto de seu mingau de aveia.
A primeira semana de aulas fascinou Hermione ainda mais. Adorava todas as matérias e todos os professores, exceto o de Poções, Severo Snape, que em sua primeira aula fizera perguntas a Harry Potter, para testá-lo, e não deixara que ela respondesse, embora ela implorasse, vendo que Harry não sabia as respostas. Dava para perceber que o único objetivo de Snape, que era também o diretor da casa Sonserina, era desmoralizar Harry com suas perguntas. Hermione sentiu pena, simpatizava muito com Potter.
Já a primeira aula de vôo tinha sido ligeiramente desastrosa... Madame Hooch, a professora, tentara ensinar os alunos a controlarem e montarem em vassouras. Hermione se saiu bem, mas a vassoura de Neville derrubou-o no chão. Quando as coisas pareciam não ir bem, pioraram: enquanto a professora levou Neville à ala hospitalar, Draco Malfoy e Harry Potter se envolveram em uma perseguição aérea. Minerva McGonagall viu tudo, e imediatamente levou Harry consigo, deixando os colegas a imaginarem que ele seria expulso. Hermione torceu para que isso não acontecesse. Na saída da aula acabou esbarrando na vassoura de Rony Weasley.
— Olhe por onde anda! — disse ele, impaciente.
— Olhe você para onde deixa a vassoura... Poderia ter me derrubado! — respondeu ela, e saiu à beira das lágrimas. Nunca pedira a Weasley para ser seu amigo, mas também não entendia o motivo de tanta antipatia gratuita.
Na verdade, Hermione andava sempre sozinha. Não fizera amigos, apenas Neville, mas não andavam juntos. Talvez os colegas a achassem mandona, pensava ela, ou sabe-tudo, e não quisessem se aproximar dela... Costumava ser assim na escola de trouxas também, antes de entrar para Hogwarts; as meninas a achavam chata e os meninos tinham nojo dela. Por muitas vezes isso a deprimira, e continuava acontecendo. Nesses momentos, ela se recolhia no dormitório feminino da Grifinória ou em um banheiro para chorar sozinha. Passava muito tempo na biblioteca também, lendo furiosamente tudo o que podia em seu tempo livre.
O destino parecia empurrá-la para a direção de Harry Potter, no entanto. No jantar daquela noite, ouviu na mesa da Grifinória que não apenas ele não tinha sido expulso como tinha ganhado uma vaga de apanhador no time de quadribol da casa. Aí estava, aliás, um assunto do mundo dos bruxos que Hermione não dominava: embora já tivesse lido sobre o esporte, o mais popular entre os bruxos, não conseguia entender muito bem as regras. Mais tarde ainda no jantar, no entanto, aconteceu algo em que não pôde acreditar: Draco Malfoy, achando que Harry tinha sido expulso depois do incidente na aula de vôo, apareceu junto à mesa da Grifinória.
— Comendo sua última refeição antes de tomar o trem de volta para a terra dos trouxas, Potter?
Seguiu-se alguma discussão e Draco acabou por propor um duelo a Harry.
— Pego você sozinho, um duelo de bruxos. Só varinhas, sem contato. Que tal à meia-noite?
Harry e Rony aceitaram o desafio e marcaram o duelo. Estupefata, Hermione esperou Draco se afastar para se aproximar de Harry e tentar chamá-lo de volta à razão. O que Weasley tinha na cabeça para incentivar uma idéia como aquela? Ainda mais depois do que acontecera na aula de vôo... Harry poderia ser expulso desta vez, se descoberto!
— Com licença — disse.
— Será que a pessoa não pode comer sossegada neste lugar? — exclamou Rony imediatamente. Hermione ignorou-o.
— Não pude deixar de ouvir o que você e Draco estavam dizendo...
— Aposto que podia — resmungou Rony. Ela ignorou-o outra vez.
— ... e você não deve — continuou ela, frisando a palavra “deve” — andar pela escola à noite, pense nos pontos que irá perder para a Grifinória se for pego, e você vai ser. É muito egoísmo da sua parte.
— E, para falar a verdade, não é da sua conta — respondeu Harry.
— Tchau — emendou Rony, num tom que se assemelhava a uma bofetada.
Hermione deu as costas e andou para fora do salão o mais rápido que pôde, com destino à torre da Grifinória.

Hermione não conseguiu dormir, observando um relógio ao passo em que a hora se aproximava de onze. Desistiu de dormir e foi para a sala comunal. Vestiu seu robe e desceu, sentando-se sozinha na sala escura. Meia hora depois, pôde ver claramente no topo da escada circular dois vultos de robe, descendo o mais discretamente que podiam. Ligou um abajur e disse:
— Não posso acreditar que você vai fazer isso, Harry.
Você! — exclamou Rony, furioso. — Volte para a cama!
— Quase contei ao seu irmão Percy — ela retrucou, em tom de desafio. — ele acabaria imediatamente com essa história.
— Vamos — resmungou Rony, arrastando Harry em direção ao retrato da mulher gorda. Hermione seguiu-os.
— Vocês não se importam nem um pouco com a Grifinória, só pensam em vocês mesmos! — ela acabou saindo da sala comunal atrás deles. — Vão acabar perdendo todos os pontos que ganhei na aula da profa. McGonagall!
— Vá embora — rugiu Rony.
— Eu os avisei... — ela se dirigiu de volta para o retrato, mas ele estava vazio. A mulher gorda provavelmente fora visitar alguém em outro retrato, e agora Hermione se viu trancada do lado de fora da sala comunal.
— E agora, o que vou fazer? — esganiçou-se, exasperada.
— Problema seu — disse Rony, a voz cada vez mais distante no fim do corredor. Numa decisão súbita, Hermione correu até eles.
— Vou com vocês.
— Ah, não vai não! — disse Rony. Harry tinha uma expressão de pura impaciência no rosto, mas não dizia nada.
— Vocês acham que vou ficar parada aqui esperando Filch ou Madame Nora me pegarem? — Argo Filch era o zelador, conhecido por divertir-se punindo alunos. Madame Nora era sua gata de estimação, alerta como ele a qualquer sinal de aluno fazendo o que não deve. — Se ele nos encontrar, contarei que estava tentando impedi-los de sair pelos corredores à noite, e vocês podem confirmar.
— Mas que cara-de-pau! — exclamou Rony incrédulo.
— Calem a boca — disse Harry, tão bruscamente quanto a forma como parou de andar no meio do corredor. — Ouvi alguma coisa.
Os três começaram a entrar em pânico, mas logo viram que não era Filch e nem sua gata, mas sim Neville, dormindo no chão. Quando se aproximaram dele, ele acordou sobressaltado.
— Que bom que me acharam — disse ele, recuperado do susto. — não consegui me lembrar da nova senha para entrar na torre.
— Você não vai conseguir entrar lá nem com a senha, a mulher gorda saiu do quadro... — disse Hermione, pesarosa. Neville automaticamente inseriu-se no grupo, para impaciência total de Rony, que checava o relógio a intervalos, com uma expressão de fúria no rosto.
Durante o resto do caminho, os quatro mantiveram-se quietos. Alternavam corridas com trechos em que andavam nas pontas dos pés para evitar o barulho, e pouco depois chegaram na sala dos troféus, onde Draco tinha marcado o duelo. Ele não estava lá, no entanto. Eles ouviram alguém se aproximar, mas não era Malfoy.
— Vá farejando, minha querida... Eles devem estar escondidos. — era a voz de Filch. Horrorizados, os quatro saíram correndo com o mínimo de barulho que puderam, mas denunciaram-se no momento em que Neville e Rony se embolaram e desabaram com estrépito. Desembestaram, então, corredor afora, e correram tanto que chegaram nos arredores da sala de aula de Feitiços, que ficava bem longe da sala de troféus.
— Acho que os despistamos — disse Harry.
— Eu... avisei... vocês... — ofegava Hermione.
— Temos que voltar à torre — disse Rony.
— Draco enganou você — disse Hermione, assim que recuperou o fôlego. — Não tinha a intenção de enfrentá-lo, apenas montou uma armadilha. Marcou um encontro e avisou Filch...
Mas falando nele, ouviram-no correndo em direção a eles.
— Não o tínhamos despistado... — disse Harry, e os quatro saíram a correr novamente, até se deparar com uma porta trancada, no final do corredor. Rony desesperou-se.
— Estamos ferrados, é o fim!
— Saia da frente — disse Hermione impaciente, puxando a varinha. — Alorromora! — gritou, testando pela primeira vez o feitiço de destrancar portas; e funcionou.
Os quatro precipitaram-se para dentro e fecharam a porta novamente. Na ânsia de tentar escutar se Filch se aproximava, nem perceberam onde estavam... Até que Neville chamou a atenção dos outros: estavam num corredor do terceiro andar cujo acesso Dumbledore avisara ser proibido aos alunos. E havia um bom motivo: um cachorro gigante e monstruoso, de três cabeças, os encarava com seus três pares de olhos e com as três bocas cheias de dentes espumando. Imediatamente, os quatro tornaram a sair da sala, prontos para encarar Filch, uma detenção ou talvez até uma expulsão...
O zelador não estava mais por ali, entretanto. Provavelmente os procurava em outro lugar... Os quatro correram desabalados até a entrada da torre da Grifinória, onde a mulher gorda perguntou onde tinham estado, num tom preocupado.
— Não importa — disse Harry, ofegante. — Focinho de porco...
O retrato girou para trás e os quatro atiraram-se para dentro da sala comunal e depois por cima das poltronas. Demorou até que dissessem alguma coisa. Foi Rony quem quebrou o silêncio.
— O que um cachorro daqueles faz dentro de uma escola?
— Você não usa seus olhos mesmo, não é? — perguntou Hermione, impaciente. — Ele estava em cima de um alçapão, provavelmente guardava alguma coisa. — e levantou-se, olhando-os com raiva. — Espero que estejam satisfeitos com o que fizeram. Podíamos ter sido mortos, ou pior, expulsos. Agora, se não se importam, vou me deitar.
E subiu, batendo os pés nos degraus de pedra da escada circular. Demorou a pegar no sono, curiosíssima sobre o que um monstro daqueles poderia estar guardando.

Compartilhe!

anúncio

Comentários (0)

Não há comentários. Seja o primeiro!
Você precisa estar logado para comentar. Faça Login.