No Expresso de Hogwarts
No Expresso de Hogwarts
Hermione despediu-se de seus pais, que pareciam ao mesmo tempo que orgulhosos muito tristes em se distanciar da filha.
— Nos escreva, filha, sempre que puder! — disse sua mãe, contendo lágrimas.
— Claro, mamãe... Não se assuste quando vir uma coruja se aproximando de casa!
No momento em que se aproximava da barreira entre o mundo não-mágico e a plataforma nove e meia, Hermione quase bateu de frente com uma senhora e uma garotinha que ela levava pela mão.
— Sinto muito — disse Hermione, empertigando-se.
— Não tem problema, querida — disse a senhora, sorridente. Tinha cabelos muito vermelhos, só não mais que os da garotinha, que choramingava. — Pare com isso, Gina... Só falta um ano para você ir para Hogwarts. — e então voltou-se novamente a Hermione: — Está no primeiro ano?
— Sim — respondeu Hermione imediatamente. — Meus pais não são bruxos, mas recebi a carta, e então fomos ao Beco Diagonal e tudo o mais, já li todos os livros da lista de material e muitos outros, estou completamente fascinada pelo mundo da magia e não vejo a hora de...
— Claro, querida, mas se me permite interrompê-la, é melhor você ir logo pois o trem partirá em poucos minutos.
— Ora, claro, claro... — disse Hermione, apressando-se e precipitando-se em direção ao caminho da plataforma nove e meia. Só depois de ter ultrapassado a barreira, ela se deu conta de que nem perguntara à senhora qual era seu nome... Será que todas as bruxas eram tão bondosas? Pensando nisso, ela pôs os olhos sobre o Expresso de Hogwarts, que soltava fumaça. Ao redor dele, um número incrível de bruxos e bruxas, de todas as idades. Hermione ficou ainda mais fascinada. Correndo os olhos pelos lados, avistou o menino do sapo, e sorriu.
— Neville! — disse, aproximando-se. Ele cumprimentou-a com um ar levemente angustiado, e então ela percebeu que as mãos deles estavam vazias. — Perdeu seu sapo outra vez?
— Perdi! E o trem já vai sair e...
— Ali! — disse Hermione. — Lá está ele!
Neville correu e pegou o sapo, que pulava perigosamente perto dos trilhos.
— Muito obrigado, Hermione...
— Não há de quê... Vamos entrar no trem?
Neville e Hermione subiram no trem e se acomodaram em uma cabine que já tinha três meninas, duas delas idênticas. Hermione percebeu que elas deram risadinhas ao ver Neville e seu sapo. Depois de algum silêncio, ela resolveu se apresentar:
— Meu nome é Hermione Granger, e vocês?
— Somos as gêmeas Patil — disseram juntas as duas meninas idênticas. Uma delas continuou: — Eu sou Padma e esta é Parvati.
— E eu sou Lilá Brown — disse a terceira menina.
Houve um silêncio constrangedor enquanto as três esperaram Neville se apresentar. Quando ele percebeu, disse de uma vez só:
— Sou Neville Longbottom!
— Vocês três também estão no primeiro ano? — perguntou Hermione, tentando desviar a atenção (e as risadinhas) delas do envergonhado Neville.
— Sim. Em que casa quer ficar?
— Acho que na Grifinória, ou na Lufa-Lufa, ou ainda na Corvinal... Li muito sobre a história de Hogwarts e de todas as suas casas... Apenas não posso ficar em Sonserina, isso não, de jeito nenhum, a maioria dos bruxos das trevas saiu de lá, inclusive... bem, Aquele-Que-Não-Deve-Ser-Nomeado.
Todos estremeceram, especialmente Neville, sentado ao lado de Hermione. Ela continuou falando sobre tudo o que lera nos livros, ansiosa em mostrar o quanto já sabia sobre magia mesmo tendo descoberto que era bruxa pouco antes daquele dia. Também pôde finalmente praticar os feitiços que já decorara dos livros, encantada com seus próprios resultados. Seus companheiros de cabine começaram a demonstrar tédio, mas Hermione continuava, incansável, suas explicações, mal podendo respirar entre as palavras, de tão rápido que falava. Foi interrompida apenas quando uma bruxa apareceu na porta da cabine com um carrinho cheio de caixinhas coloridas.
— Doces e guloseimas?
Hermione não conhecia de perto as guloseimas do mundo dos bruxos, mas evidentemente já lera muito sobre cada uma delas. Havia os feijõezinhos de todos os sabores, os sapos de chocolate com figurinhas de bruxos famosos e muitos outros. Na confusão da compra de doces, no entanto, o sapo de Neville escapou das mãos dele mais uma vez. Ele saiu correndo atrás do animal, desabalado, e Hermione foi atrás para ajudá-lo, perguntando em cada cabine se alguém havia visto um sapo. Alcançou Neville na altura de uma cabine em que um menino agitava sua varinha, aparentemente pronto para fazer um feitiço. Na outra mão, ele segurava um rato cinzento.
— Alguém viu um sapo? Neville perdeu o dele.
— Já dissemos a ele que não vimos o sapo — respondeu o garoto da varinha, ríspido. Tinha cabelos tão vermelhos quanto os da garotinha que ela vira na estação, e ao lado dele um menino de óculos e cabelos pretos estava sentado. Os dois estavam rodeados de doces e guloseimas.
Ignorando a resposta ríspida, Hermione perguntou, sentando-se na frente dos meninos:
— Está fazendo mágicas? Quero ver.
O garoto da varinha pareceu muito incomodado e ligeiramente envergonhado.
— Hum, está bem... — respondeu, hesitante, depois pigarreou e disse: — Sol, margaridas, amarelo maduro, muda para amarelo este rato velho e burro.
O menino agitou a varinha, mas nada aconteceu. O rato continuou da mesma cor acinzentada e estava tão imóvel que parecia morto.
— Você tem certeza de que este feitiço está certo? — perguntou Hermione, certa de que nunca tinha lido sobre um feitiço parecido. — Bem, não é muito bom, né? Experimentei uns feitiços simples só para praticar e deram certo. Ninguém na minha família é bruxo, foi uma surpresa quando recebi a carta, mas fiquei tão contente, é claro, quero dizer, é a melhor escola de bruxaria que existe, me disseram. Já sei de cor todos os livros que nos mandaram comprar, é claro, só espero que seja suficiente; aliás, sou Hermione Granger, e vocês quem são?
Os dois meninos se entreolharam, espantados, e depois responderam.
— Sou Rony Weasley — disse o menino ruivo que tentara mudar a cor do rato.
— Harry Potter — disse o outro, falando pela primeira vez.
Hermione surpreendeu-se muito. Nos livros em que lera sobre Voldemort, Harry Potter era mencionado como a única pessoa que já sobrevivera ao poder maléfico do bruxo. Na verdade, Harry era apenas um bebê quando isso ocorreu. Na ocasião, Voldemort teria matado os pais de Harry e, ao tentar atacar o bebê, não apenas não conseguira matá-lo como perdera seus poderes e fugira, enfraquecido. Hermione mal podia acreditar que estava sentada na frente de Harry Potter, podia até mesmo ver a cicatriz em forma de raio deixada na testa do garoto pelo feitiço do bruxo das trevas. Tentou, no entanto, esconder a surpresa e o entusiasmo para não se constranger nem constranger o garoto.
— Verdade? Já ouvi falar de você, é claro. Tenho outros livros, e você está na História da magia moderna e em Ascensão e queda das artes das trevas e em Grandes acontecimentos mágicos do século XX.
— Estou? — disse o garoto, parecendo muito surpreso.
— Nossa, você não sabia? Eu teria procurado saber de tudo se fosse comigo. Vocês deviam pôr as vestes de Hogwarts, já estamos quase chegando.
— E por acaso você poderia sair para que pudéssemos fazer isso? — disse Rony, visivelmente irritado. Magoada, Hermione levantou-se e saiu, dizendo:
— Eu já ia mesmo procurar o sapo de Neville...
Ela alcançou o corredor, à beira das lágrimas. Que menino estúpido! Por que precisava tratá-la daquele jeito? Neste momento, passaram por ela três garotos, dois deles eram altos e fortes e o do meio era pálido e tinha cabelos louros, muito claros. Foi ele quem lhe dirigiu a palavra.
— Perdida, garota?
— Não — disse ela, com a voz ainda embargada.
— Vi você na estação e não reconheci seus pais, qual é mesmo o seu sobrenome?
— O quê? — perguntou ela, pega de surpresa.
— Seu sobrenome, afinal, quero saber de que família bruxa você vem.
— Bem, meus pais não são bruxos — disse ela, levemente envergonhada. — Eles são dentistas.
O garoto mediu-a de cima a baixo, com um ar que foi do pesar à arrogância.
— É uma pena, eu sou Draco Malfoy e você com certeza já ouviu falar da minha família.
Sem mais palavras, Draco e seus companheiros se retiraram, dando risadinhas pelas costas de Hermione. O que mais faltava lhe acontecer? Ela certamente já ouvira falar na família Malfoy. Lúcio Malfoy, provavelmente o pai de Draco, tinha sido um Comensal da Morte. Com a queda de Voldemort, Malfoy alegou que tinha sido enfeitiçado para seguir o bruxo das trevas. Antes que Hermione começasse a chorar, o trem parou e vozes anunciaram que já haviam chegado a seu destino.
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