Viagem ao Beco Diagonal



— CAPÍTULO DOIS —
Viagem ao Beco Diagonal




Recuperados do choque inicial, os pais de Hermione decidiram ceder aos pedidos da filha para levarem-na ao chamado Caldeirão Furado.
— Vocês não querem descobrir do que se trata? — ela dizia. — Eu quero, e muito! Isso só pode ser a resposta para todas aquelas esquisitices que já aconteceram comigo.
Num sábado, então, a família Granger foi até Londres para conferir o endereço anexado na carta misteriosa que chegara para Hermione.
— É bem aqui — disse o Sr. Granger, antes de acrescentar, pesaroso: — Ou pelo menos, deveria ser bem aqui.
— O que você quer dizer, papai?
— Olhe, querida... Eu sinto muito, isto só pode ter sido uma brincadeira de mau gosto. Venha, vamos levá-la a uma sorveteria e...
— Mas papai, não estou entendendo o que você quer dizer... O que há de errado? — perguntou Hermione, ansiosa. Animada, apontou para a frente quase dando pulinhos. — Está bem aqui, você não está vendo? Está escrito “O Caldeirão Furado”, bem ali, neste bar bem na nossa frente!
— Hermione, meu bem... — disse a Sra. Granger, hesitante. — Não vejo nada parecido com um bar por aqui... É apenas uma rua qualquer no meio de Londres... Nada de bruxaria ou magia... Sentimos muito, só pode ser mesmo uma brincadeira de alguém...
— Vocês não entendem! — disse a menina sorrindo, dividida entre a alegria e a impaciência. — Vocês não podem ver o Caldeirão Furado, é o que diz na carta, porque não são bruxos... Mas eu posso! Eu posso vê-lo! Venham!
Não disposta mais a ouvir os consolos dos pais, Hermione puxou-os pelas mãos e entrou no bar. Notou a expressão de pânico e incredulidade que os dois estamparam nos rostos ao se verem dentro do bar que não tinham sido capazes de ver, especialmente porque estavam rodeados por pessoas vestidas em roupas coloridas e extravagantes, usando todos os formatos de chapéus, sem contar com as bandejas que voavam sozinhas por entre as mesas oferecendo bebidas.
— Isso é... fantástico! — disse Hermione, maravilhada. Logo em seguida, um homem se aproximou dos três, dizendo:
— Ora, ora... Trouxas! É mesmo a época da chegada das cartas de Hogwarts... Acredite, garotinha, você não é a primeira e muito menos a única a entrar aqui com pais que mal podem acreditar no que estão vendo. Tivemos que cuidar de alguns desmaios hoje mesmo, é claro, e estou pensando em contratar um empregado temporário para esta época, pois sempre há tantas pessoas precisando aprender a chegar ao Beco Diagonal...
— Trouxas? — disse o pai de Hermione, subitamente recuperando a voz.
— Ah sim — disse o homem. — Os não- bruxos. Deixem que eu me apresente, sou Tom, e este é o meu bar, o Caldeirão Furado. A entrada do Beco Diagonal é pelos fundos, uma senhora acabou de passar com um menininho, peçam ajuda a ela...
Os pais de Hermione seguiram-na, hesitantes, porém ela só faltava saltitar por entre as mesas e seus ocupantes em direção aos fundos do estabelecimento. Quando chegaram lá, viram uma senhora e um garotinho gorducho, bochechudo que tinha dentes salientes e orelhas de abano. Ele parecia estar em pânico tanto quanto os pais de Hermione.
— Olá — disse Hermione, timidamente. — Será que vocês podiam nos ajudar a chegar ao Beco Diagonal?
— Primeiro ano, mocinha? — disse a senhora, sorrindo. — Meu neto também irá para o primeiro ano. Ele se chama Neville Longbottom.
— Olá, Neville — disse Hermione, apertando a mão livre do menino. Hermione viu que na outra ele segurava um sapo. Ela se lembrou de ter lido na lista de material que os alunos poderiam levar uma coruja, um sapo ou um gato para a escola.
— Ajudaremos vocês, claro — disse a senhora, tirando de dentro das vestes um objeto comprido, estreito e cilíndrico, com o qual tocou alguns tijolos da parede e fez aparecer, para total espanto dos Granger, uma passagem para uma rua completamente diferente da que eles tinham deixado ao entrar no Caldeirão Furado.
— Me desculpe a indiscrição, — começou a senhora, pousando a mão sobre o ombro de Hermione — mas os seus pais são trouxas, não são?
— T-trouxas? — a menina gaguejou, lembrando-se que esse era o termo usado para os não-bruxos. — Sim, eles são...
— Então naturalmente vocês precisarão de mais ajuda do que isso... Olhe... Levarei vocês em primeiro lugar a Gringotes.
— Gringotes? — perguntou Hermione. Seus pais já nem falavam, de tão admirados que estavam com tudo o que estava acontecendo.
— O banco dos bruxos. Vocês evidentemente não devem ter nenhum dinheiro de bruxo, então devem trocar seu dinheiro de trouxas lá. Só então poderão começar a fazer as compras do seu material...
E assim, o silencioso e assustado Neville Longbottom e sua avó ajudaram os Granger a trocar o dinheiro e depois os levaram às lojas do Beco Diagonal: a Olivaras, para comprar uma varinha de condão, a Madame Malkin para comprar o uniforme e a Floreios & Borrões, para comprar os livros. Além dos solicitados na lista de material, Hermione pediu aos pais que comprassem mais diversos outros livros sobre a história da magia, de Hogwarts e dos bruxos contemporâneos.
— Quero estar muito bem informada quando chegar à escola — justificou ela.
Também compraram um caldeirão, ingredientes para poções e outras coisas enquanto a avó de Neville se separou deles para comprar as passagens para as crianças no Expresso de Hogwarts. Os pais de Hermione foram do espanto ao encantamento, ao ver a felicidade da filha. Ela tinha sido avisada de que não podia praticar magia fora da escola, mas agitava sua varinha pelo ar enquanto andava, com um sorriso costurado no rosto.
— Lembre-se, menininha, para chegar na plataforma nove e meia há um segredo. — disse a avó de Neville a Hermione, lhe entregando sua passagem. — Há uma parede entre as plataformas nove e dez, até a qual você deve correr sem medo de bater. No momento em que deveria se chocar contra ela, você irá, na verdade, chegar à plataforma.
— Muito obrigada — agradeceu Hermione, e depois seus pais.
— Ora, não há de quê... Hermione é uma garota adorável e muito esperta, não é, Neville?
O garoto sacudiu rápida e afirmativamente a cabeça, como se tivesse medo de discordar da avó. Quando se despediram dos Granger, o “tchau” dele foi quase inaudível. Mesmo assim, e principalmente depois de ajudá-lo algumas vezes a recuperar o seu sapo, que pulava a todo o momento para fora de sua mão, Hermione gostara dele.

De volta em casa, Hermione começou a devorar todos os livros que comprara. Logo já sabia de toda a história de Hogwarts, após ter lido Hogwarts – Uma História. Com os outros tantos livros que leu em seguida, descobriu tudo sobre Voldemort, o maior bruxo das trevas que já existira, cujo nome os bruxos tinham medo de pronunciar, usando sempre os termos “Você-Sabe-Quem” e “Aquele-Que-Não-Deve-Ser-Nomeado” para se referir a ele. Hermione ficou horrorizada ao ler sobre os Comensais da Morte (ajudantes de Voldemort), as maldições imperdoáveis e as técnicas das Artes das Trevas.
Encantou-se, porém, com os diversos feitiços que aprendeu só de ler, sem poder praticar ainda, e todas as poções que poderia preparar assim que começasse seus estudos em Hogwarts.
Hermione estava tão ansiosa pelo início das aulas que falava sobre isso o tempo todo com os pais. Se no início eles tinham se assustado com a idéia de a filha ser uma bruxa, agora já sabiam muitos detalhes sobre o mundo mágico, pelos comentários incessantes da filha, o suficiente para já terem se acostumado completamente.

Quando o dia primeiro de setembro finalmente chegou, Hermione acordou muito cedo, antes de seus pais, e não conseguiu mais dormir. Não encontrava nada com que se distrair, pois suas coisas já estavam completamente prontas para a viagem. Pegou então um dos livros e começou a reler – ela já tinha lido todos eles.
Ela só levantava os olhos do livro para verificar que horas eram, e o tempo parecia passar muito devagar.

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