Desencontro
Cap.3 - Desencontro
Ele insistiu em acompanhá-la até sua casa. Ela aceitou prontamente, é claro. Agora, faltavam apenas algumas casas até chegarem à dela. E, a cada passo, ela torcia para que a casa se afastasse, para que um buraco se abrisse no chão, levando os dois para longe dali. Longe do adeus.
Não queria se despedir. Fora um dia maravilhoso ao lado daquele homem que ela tão pouco conhecia. Não que ela sentisse qualquer constrangimento ao conversar com ele. Ela não era exatamente tímida, afinal. Falava com ele como se fosse um amigo de infância.
Faltava apenas uma casa agora. Já estavam em frente ao seu portão. Apenas alguns passos. Entraram no jardim da frente da casa, do qual sua mãe cuidava tão dedicadamente. Continuaram. Ela esqueceu sobre o que estavam falando, e o assunto antes fora entusiasticamente discutido. Talvez fosse algo sobre duendes. Ou gnomos. Na verdade, bem que podia ser sobre quadribol. Ela não se lembrava, e, pra ser sincera, que importância tinha? Assim que chegassem à porta provavelmente nunca mais se veriam...
Não que ela não quisesse mais encontra-lo. É claro que queria. Queria muito, mesmo. Mas por que um homem de vinte e oito anos – como ela descobrira em meio a conversa – gostaria de vê-la? Por que um homem de qualquer idade gostaria de vê-la? Era só uma adolescente desastrada, que podia mudar a cor dos cabelos. Não era como se fosse uma veela, uma ninfa ou algo assim.
Encarou-o. Ele parecia não saber o que dizer. E ela, de repente, também se viu sem nada para dizer. Viu que já estavam parados em frente à sua porta de entrada. Engoliu em seco. Era agora.
- Bem, aqui estamos – ele disse, como se desejasse que fosse mentira. Isso a animou.
- É... E então, para onde você vai agora?
- Procurar um hotel onde ficar, acho. Não sei bem por quanto tempo vou permanecer na cidade, na verdade...
- Espero – ela começou hesitante e então concluiu – espero que tempo o suficiente para nos vermos de novo.
Ele olhou para ela, e ela sentiu o rosto corar, mas viu, com uma breve satisfação, que o mesmo acontecia com o dele. Parecia encabulado e ansioso. E hesitante. Hesitante, pensou ela amargamente, como alguém muito educado que está tentando encontrar uma maneira de dar um fora na garota sem magoá-la. Ah, ela não ia se submeter a isso.
- Acho que já vou indo – disse ela – A gente se vê por aí.
Apanhou a chave em sua bolsa, e virou-se para colocá-la na fechadura. Girou-a e segurou a maçaneta. Empurrou a porta. Ele tocou seu ombro. Ela se virou depressa, e os cabelos ondularam à suas costas. As pontas de seus dedos deslizaram lentamente pelo braço dela, enquanto ele olhava hipnotizado dentro de seus olhos.
- Então... – ele disse – posso te pegar amanhã às nove?
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Ela suspirou. Mais um relatório. E mais outro, e mais outro e mais outro. Já estava nisso há quase três horas. Montes de pergaminho estavam empilhados por toda a grande mesa da cozinha escura e fria da mansão Black
Terminou de ler uma carta enviada pela professora McGonagall sobre a segurança na ida à casa do garoto Potter. Ali estavam os nomes dos que iriam compor sua guarda, o trajeto que percorreriam, como despistariam os tios trouxas do menino. Tudo explicado detalhadamente. Ela correu os olhos pela caligrafia fina e pequena da professora, e achou o que queria. Ali estava, entre Marly McKinnon e Quim Shanklebolt.
Ninfadora Tonks
Ela deixou um sorriso lhe escapar dos lábios. Estava escalada! Seria sua próxima missão e com toda a certeza era bem melhor e muito mais importante do que havia sido a primeira. Mas seus olhos foram mais abaixo e encontraram o que mais queriam. Ou talvez o que ela mais temia que acontecesse. Fosse como fosse, ali estava. Apenas algumas linhas abaixo.
Remus Lupin
Certo, não havia porque se preocupar agora. Ainda faltavam duas semanas para isso. Ela tinha coisas mais urgentes com que se ocupar no momento. Como, por exemplo, escrever o falso convite para as finais de um concurso, que tinha que ser enviado logo para a casa dos Dursley. Catou um pedaço de papel dentre os milhares de pergaminhos, molhou a ponta da pena no tinteiro e a ergueu centímetros da folha branca. O que escreveria?
Caros Senhor e Senhora Dursley,
Temos o prazer de informar que os senhores foram escolhidos como finalistas do concurso do gramado mais bonito da Grã-Bretanha! Para receber seu prêmio terão de comparecer a uma cerimônia de premiação na noite de 02 de Agosto, sexta-feira.
Meus Parabéns,
Associação de Paisagismo e Decoração.
Ela riu. Ficara bastante satisfeita com o resultado. Inventou um endereço qualquer e escreveu abaixo, sendo em uma cidade suficientemente longe para que eles tivessem tempo de salvar Harry. Associação de Paisagismo e Decoração. Ora, por favor, será que eles iriam mesmo acreditar?
- O que está fazendo?
Ela pulou alguns centímetros da cadeira ao ouvir a voz masculina chamando-a e prendeu a respiração. Mas era apenas Sirius, recostado à parede com os braços cruzados, e um ar entediado. Ela relaxou. Pensou que fosse outra pessoa.
- Ah, é só você – disse soltando o ar – Me assustou.
- Quem estava esperando? – perguntou com ar superior.
- Ninguém.
- Oh, claro. Bem, pelo que sei, Ninguém está em uma missão. Deve voltar esta noite, se você quiser, hmm... falar com ele.
Ela olhou para ele nervosa. Será que sabia mesmo em quem ela estava pensando? Seria mesmo Remus de quem ele estava falando? De qualquer forma, ele sorria de modo malicioso, como se achasse que ela não estava querendo apenas “falar” com a pessoa que voltaria naquela noite.
- Não sei de quem está falando.
- Provavelmente sabe. Mas não vou perder meu tempo insistindo no assunto, não se preocupe. Aliás, não sei qual de vocês dois é pior!
- Pior? – ela ergueu uma sobrancelha.
Mas ele apenas deu mais um sorriso cheio de malícia e desapareceu pela porta.
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Era agora. Nove horas. Ele logo chegaria.
Ela não podia contar quantas vezes checara cada mínimo detalhe àquela noite, antes do seu encontro. A roupa, o que levaria na bolsa, o relógio da sala – E se ele se atrasasse? Merlim, será que ele viria mesmo? E se não conseguisse ficar pronta há tempo? O cabelo, então, mudara já quinze vezes, mas por fim se decidira. Agora exibiam um bonito tom de castanho, brilhante e sedoso, que lhe caíam abaixo dos ombros em cachos bem-feitos.
Nove e dois. Merlim, ele havia se atrasado. E se tivesse desistido? Talvez só quisesse ser educado e não tivera coragem de dispensá-la pessoalmente. Talvez agora nem estivesse mais na cidade, tivesse fugido, na esperança de nunca mais encontra-la, para não precisar lhe dizer algumas verdades, como, por exemplo, que ela era só uma garotinha de dezesseis anos e não tinha a menor chance com ele.
Nove e cinco. Na certa ele já estava na estação, pegando o próximo trem para algum lugar bem distante. Ou aparatando do outro lado do mundo, provavelmente no Japão. Ele parecia um homem que aprenderia japonês tranquilamente, pensou. E com certeza havia empregos suficientes por lá, ele acharia algum.
Nove e oito. Esquecera o batom! Oh, meu deus, e se ele chegasse e a visse sem batom? E se seu cabelos estivesse horroroso, ou a roupa não lhe agradasse? Correu para o banheiro e olhou para a própria imagem no espelho. Quem diria que ficaria assim por um cara? Ela sempre estava no comando de seus relacionamentos, fazia o que bem entendesse. E agora estava praticamente rastejando por um homem.
- Ninfadora, o que há com você?
Era a mãe, Andrômeda. Ela entrou no banheiro, mesmo embora a porta estivesse fechada, e parou, analisando a filha com o olhar. Tonks estava a meio caminho de passar mais uma camada de batom, mas parou ao surpreender-se com a mãe ali, olhando para ela daquela forma tão esquisita.
- Você deve estar mesmo apaixonada, Ninfadora. Nunca a vi assim, tão inquieta. Quero dizer, com relação a um namorado. Você também não é lá muito silenciosa, normalmente – falou, em um meio sorriso.
- Eu estou absolutamente normal – garantiu – Mas é nosso primeiro encontro, é importante. Quero estar bem. Ah, e não me chame de Ninfadora. Odeio esse nome.
- Não sei por que, um nome tão bonito... Mas, em todo caso, que rapaz é esse com quem vai sair? Não sei se gosto muito dele, sabe, se está te fazendo agir desse jeito tão... incomum.
- Ele é legal mãe. Não se preocupe.
Ela murmurou um “Certo” e saiu do banheiro. Logo Tonks voltou para a sala e sentou-se outra vez no sofá, olhando fixamente para o relógio. Nove e quinze. A campainha tocou. Ela se levantou em um salto e correu para a porta. Não deixaria que a mãe abrisse, ficaria louca se soubesse que o “rapaz” tinha já quase trinta anos. Mas o que podia fazer? Estava apaixonada por ele. Louca por ele. Obcecada.
- Oi – era ele! ERA ELE! Ele viera, não estava fugindo para o Alasca nem nada parecido! Viva! – Tudo bem?
- Ótimo – ele respondeu – Desculpe pelo atraso. Ah – ele pareceu ter-se lembrado de algo importante – trouxe para você.
E ergueu para ela uma rosa, uma única rosa branca. Ela não gostava de rosas, achava muito “sentimentais”, muito batidas. Todos davam rosas para as namoradas, antigamente. Podiam dar orquídeas ou lírios, que eram muito melhores. Mas ali estava aquela singela flor branca em sua mão e ela estava maravilhada. O coração dera tal pulo que era de se pensar que ele a pedira em casamento. Mas apenas lhe dera uma rosa branca. Que estranhas eram as pessoas quando estavam apaixonadas!
Pegou-a e levou para perto do rosto lentamente, para sentir o perfume. O cheiro era bom, delicado, suave. Sorriu para ele.
- Obrigada. É linda.
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Ela já estava quase pegando no sono. Olhou para o pesado relógio na parede da sala da mansão. Já eram quase quatro horas. Onde diabos ele estava?
Tentou manter os olhos abertos, enquanto estes teimavam em fechar, e com intervalos de tempo cada vez maiores, permanecer fechados. Passara o dia trabalhando, era um crime que se sentisse cansada? Precisava dormir, precisava, mas tinha uma coisa mais urgente a tratar com Remus. Algo que ela não poderia falar na frente dos outros. Mas onde será que ele estava?
Os minutos se passavam lentamente. Lentos demais, pensou ela. O tempo parecia ter absorvido um tanto do seu cansaço, e tinha preguiça de andar mais depressa. Mas se não andasse logo, ela bem poderia cair no sono ali mesmo.
Meia hora depois, ele ainda não tendo chegado, ela lançou um último olhar mal-humorado ao relógio, como se ele fosse o culpado por ela não ter agüentado, como se tivesse feito de propósito, atrasando as horas para que eles não se encontrassem e, rendendo-se ao cansaço, adormeceu.
Por que essas coisas acontecem? Apenas cinco minutos depois de Ninfadora Tonks acabar dormindo na sala escura e fria da mansão, a porta lá embaixo se abriu e puderam-se ouvir passos subindo a escada. Com um rangido audível da porta da sala, ele entrou no aposento parecendo exausto e deparou-se com ela, deitada ali, dormindo profundamente, os cabelos cor de laranja vivos espalhados pelo velho sofá verde-musgo.
Ele andou até ela e, delicadamente, pegou-a nos braços. Depois a levou até seu quarto e colocou-a na cama, onde a deixou dormindo profundamente, sem saber o quão perto chegara de seu objetivo daquela noite.
Mas não era caso para se preocupar. Eles ainda teriam que conversar sobre isso, por mais tempo que levasse. Ele sabia disso, por mais que tentasse evitar. E ela estava decidida a esclarecer as coisas. Não havia como fugir. Não se pode fugir do passado.
*
N/A: Oiiii! Gente, que bom que vocês estão gostando da minha fic!!!! Obrigada pelos coments!!
E no próximo capítulo, tchãntchãntchãntchãn...: o encontro de Tonks e Remus!!!! Comida, música e alguns pequenos desastres... Não percam!!
Beijos,
Senhorita Granger ^_^
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