Dia das Bruxas



Capt. 3 – Dia das Bruxas

31 de outubro, Dia das Bruxas. Hogwarts estava preparada para sua festa mais tradicional em todo o ano letivo, com comes e bebes fartos e a casa cheia. Mesmo o Natal sendo uma festa bastante bonita, a maioria dos alunos da escola estava em suas casas, com suas famílias. No Dia das Bruxas, estando ainda em período escolar, estavam todos presentes em Hogwarts.

O salão principal havia sido enfeitado com abóboras e velas por toda parte. O teto, enfeitiçado para parecer um céu de verdade, estava azul e com algumas nuvens, exaltando a lua cheia. Parecia uma noite perfeita. Apesar de todos os rumores a cerca de Você-Sabe-Quem, era um momento quando todos poderiam relaxar e apenas curtir a festa.

Todos, exceto Alvo Dumbledore. Ele conhecia Lord Voldemort muito bem para acreditar que nada aconteceria naquela noite. No entanto, não existia qualquer evidência do que poderia ser, então ele continuava simplesmente sorrindo aos alunos que se sentavam pouco a poucos nas mesas de suas casas, chegando para o jantar. Lembrou-se da conversa tida com Severo Snape, um Comensal da Morte, há alguns meses, lamentando profundamente que ele jamais tenha-o procurado novamente. Sei que ele é diferente... dos outros, pensou, mas seus pensamentos foram interrompidos pela voz de outro professor.

- Ãhn, Dumbledore. Me permite uma palavrinha com o senhor?

Dumbledore olhou atentamente para o professor Horácio Slughorn, atual professor de Poções em Hogwarts, e fez um sinal para que este sentasse na cadeira ao seu lado.

- Diga, Horácio.

- Me... desculpe por dizer isto assim, desse jeito, mas...

- Mas?

- É que... eu pretendo me aposentar, Dumbledore. Já estou velho, cansado, e gostaria de passar meus últimos anos em minha casa, sozinho.

- Entendo.

- Claro que gostaria de ter conversado antes com o senhor, mas foi uma decisão repentina, resultado de várias noites sem sono... E cheguei à conclusão de que é realmente o que desejo fazer.

Dumbledore bebeu mais um gole do suco de abóbora em seu cálice e, calmamente, respondeu:

- Está bem, Horácio. Já havia percebido que há muito você não possuía o mesmo interesse pelo ensino que possuía antes. Se for o melhor que pode fazer por você, ficarei satisfeito também.

- O-obrigado, professor. Devo...?

- Não, sente-se, Horácio – disse Dumbledore, fazendo menção para que Slughorn se sentasse novamente – Aproveite a festa. São tempos difíceis e qualquer momento de descontração e alegria é sempre bem-vindo. Você pode arrumar as suas coisas depois.

O professor Slughorn sorriu nervosamente e se sentou. Em poucos minutos, todos os professores estavam em seus lugares de costume e, após o tradicional discurso de Dumbledore, iniciou-se o banquete. Todos participavam contentes, conversando sobre assuntos relacionados aos seus cotidianos, sem sequer imaginar o que poderia estar acontecendo lá fora, debaixo do céu de verdade.




A poucos metros dali, Rúbeo Hagrid estava em sua cabana, alimentando seu novo bicho de estimação. Desta vez ele escolhera algo mais convencional: um cão, dando-lhe o nome de Canino. Apesar de ser ainda um bebê, o animal já era suficientemente grande para a cabana do meio-gigante, ocupando quase um sofá inteiro. Hagrid segurava sua cabeça em uma das mãos e, em outra, uma enorme mamadeira com leite de cabras.

- Hoho, oras, seu brutamontes! Tem que beber leite, sim! Carne é só para quando tiver esses dentes fortes!

TOC! TOC! TOC!

- Hagrid! – dizia uma voz desesperada, do outro lado da porta. Hagrid não reconheceu a voz. Pegou o seu guarda-chuva e, apontando para a entrada, receoso, a abriu.

- Quem...

- Hagrid!

O corpo de Severo Snape pulou para dentro da casa, cambaleando. Respirava profundamente, como se tivesse corrido quilômetros e o vento frio da noite tivesse rasgado seus pulmões. Os cabelos suados grudavam em seu rosto, que transpirava pânico.

- O que foi, homem? O que faz aqui a essa hora? Como...?

- O-o salgueiro... eu... vim...

- Está bem, está bem. Sente aqui – disse, empurrando com força o ombro do jovem rapaz para baixo, fazendo-o dobrar os joelhos e sentar na cadeira – O que está acont...

- Não há tempo!! – ele gritou, levantando-se novamente – Dumbledore! Preciso ver Dumbledore!

- Oras, ele está na festa de Dia das Bruxas! Deve estar jantando, no momento! Se puder esperar algumas horas...

- NÃO SERÁ POSSÍVEL! – ele disse, o desespero crescendo em sua voz. Hagrid não estava reconhecendo o rapaz frio que conhecera outro dia. Parecia completamente descontrolado – Escute, Hagrid: eu preciso ver Dumbledore, AGORA! Alguém irá morrer esta noite!

Hagrid abriu os olhos o máximo que podia e, mudando as feições de seu rosto para uma expressão muito mais preocupada, pediu que Snape esperasse e foi buscar o professor. Severo Snape sentou-se na cadeira novamente e levou as mãos ao rosto, batendo as pernas em extrema ansiedade. Estava pálido como de costume, com profundas olheiras marcando seu rosto, que exalava sofrimento. Não vai dar tempo, pensou. Não vai dar tempo...

Poucos instantes depois, a porta da cabana de Hagrid se abriu novamente e passaram por ela o meio-gigante e um velho curvado, com suas longas vestes roxas e uma barba que poderia ser amarrada como cinto ao redor de seu corpo.

- Severo – ele disse – A que devo a honra...?

- Dumbledore! – Snape disse, levantando-se e agarrando a roupa do diretor desesperadamente – Ele matará os Potter! HOJE! E os Longbottom! Precisamos fazer alguma coisa! O senhor prometeu que…

- Calma, Severo – disse Dumbledore. Apesar de parecer tranqüilo, a menção das duas famílias ameaçadas pelo que dizia a profecia de Sibila Trewlaney o fez ficar visivelmente preocupado – Conte exatamente o que sabe.

- Ele sabe onde estão os Potter e os Longbottom e planeja matar os meninos hoje! Ele matará os dois bebês! Apenas alguns Comensais foram convocados, enquanto outros deverão guardar o lugar onde se esconde – eu sou um deles, mas assim que soube dos planos eu vim o mais rápido que pude... Tentei aparatar aqui, mas...

- Não é possível aparatar em Hogwarts – completou Hagrid.

- Exatamente, eu havia me esquecido. Então entrei na Casa dos Gritos em Hogsmeade e saí pelo velho salgueiro, e vim para a cabana de Hagrid. O senhor precisa fazer alguma coisa! Ele vai matar os Potter! Lílian...

- Severo, não há tempo – disse Dumbledore – Você sabe quem ele irá perseguir primeiro?

- Não, ele deve mandar os Comensais para um lado e deve ir para o outro...

- Certo. Veja – disse, tirando um enorme pano de dentro de suas vestes – Esta é a capa de invisibilidade do Tiago. Ele deixou comigo da última vez que nos encontramos, e não tive a oportunidade de devolver. Vá atrás dos Potter, mas se esconda. Ninguém pode saber que você está agindo como um agente duplo.

- E o senhor?

- Quanto a mim – ele continuou – Irei atrás dos Longbottom. Acredito que Voldemort irá atrás do que ele considera um bebê de “sangue-puro”. Não acredito nessa bobagem, mas sei que ele sim.

- O senhor tem razão. Mas...

- De qualquer forma, vá! E lembre-se: você não pode ser visto. Quanto tempo temos?

- Quase nenhum.

- Então vamos. Hagrid? – disse, virando-se para o guarda-caça – Fique aqui. Eu envio notícias assim que as tiver.

- Sim, senhor. Eu estarei aqui – disse Hagrid, vendo Snape sumir embaixo da capa de invisibilidade – Tomem... cuidado.

Dumbledore olhou sério por cima de seus oclinhos meia-lua e saiu atrás de Snape, deixando os terrenos de Hogwarts e partindo para uma corrida mortal.




Ao passar pelos portões, ele e Snape aparataram, cada um em um lugar diferente. Dumbledore seguiu em silêncio pela rua onde moravam os Longbottom, observando ansioso a mansão da família, que havia pertencido a várias gerações de bruxos. Estava muito quieto para uma noite de Dia das Bruxas, mesmo para quem estava escondido. Ele precisava entrar na casa, fazer alguma coisa. Certamente os Longbottom já estariam correndo perigo de vida...

Aproximou-se um pouco mais. Não havia ninguém, exceto alguns morcegos que voavam para dentro das árvores sombrias ali perto. Não havia festa, não havia som, não havia nada... Apenas a porta, entreaberta. Estranho, pensou. Tirou de um dos bolsos um estranho artefato que parecia olhar através das paredes, e com ele viu que não havia ninguém atrás da porta. Resolveu entrar. Estava com a nítida sensação de que havia algo errado, mas não poderia arriscar a vida dos Longbottom e de seu bebê. Voldemort estava lá, disso ele tinha certeza...

Entrou pelo corredor escuro que levava à sala principal e uma grande escada branca, que resolveu subir, ao escutar vozes. Não eram as vozes dos Longbottom.

Lá em cima, viu uma luz passando por baixo de uma das muitas portas da enorme casa, e se aproximou com cuidado. A cada passo que dava, as vozes ficavam mais altas. De repente, um grito. E outro. Risadas. Estão sendo torturados. Não havia sinal de choro. Devem ter escondido o menino e estão torturando-os para saber onde está...

Mas mal teve tempo para pensar em uma saída. Em poucos segundos, foi interceptado.

- Petrificus Totallus! - a voz gritou, e ele caiu duro no chão. Ele olhou da forma que pôde a figura que se aproximava, rindo sarcasticamente, em um contraste com os gritos apavorados que vinham de dentro da porta.

- Achou que o Lorde das Trevas fosse burro, seu velho? – disse a voz, se aproximando mais e mais, enrolando o corpo imóvel de Dumbledore com cordas invisíveis, tornando-o impossibilitado de fazer qualquer coisa – Me dê sua varinha.

Dumbledore não pôde identificar o homem mascarado que falava, apesar de desconfiar de... Não, não pode ser. Quem estava lá dentro com os Longbottom, então? Certamente, não era Voldemort. E agora estava sem sua varinha.

Ele foi atrás dos Potter, pensou. Severo...

- Crucio! - disse a voz com ímpeto, e o corpo de Dumbledore, mesmo resistente, começou a se contorcer. Precisava ser forte, continuar o jogo do Comensal, enquanto reunia tempo para pensar no que fazer. Sua vida não importava – pensou. Precisava salvar os Longbottom, e depois os Potter. Em uma solução que passou como um raio por sua mente, ele disse, em desespero:

- É tudo minha culpa, tudo minha culpa – soluçou, ouvindo os gritos de Frank e Alice na porta ao lado, sofrendo com a maldição Cruciatus – Por favor, pare com isso, sei que errei, ah, por favor, pare com isso e eu nunca, nunca mais...

- Ah, pare com essa ladainha, Dumbledore! – disse Bartô Jr., empunhando sua varinha – Os Lestrange estão cuidando desses aí. Não há nada que você possa fazer para impedir o Lorde das Trevas de conseguir seu intento!

- Não os machuquem, não os machuquem! – Dumbledore começou a gritar o mais alto que pôde, para que os Lestrange o ouvissem e deixassem os Longbottom livres – Por favor, a culpa é minha, machuquem a mim...

- Sei o que está fazendo, velho, e não vou deixar! Abaffiato! – disse Bartô Jr., enfeitiçando a porta para que não ouvissem nada. Os gritos cessaram, mas Dumbledore sabia que continuavam sendo torturados, mesmo não podendo ouvir nada.

- Por favor, isso não... Farei qualquer coisa... MATE-ME!

- Agora chega, velho – Dumbledore percebeu o quão ansioso e nervoso estava Bartô Jr., sem saber lidar com a situação. Não esperava ter que lidar com Alvo Dumbledore enquanto simplesmente vigiava a missão dos Lestrange – Se quer morrer, então é o que terá! Avada...

Mas sua varinha voou de seus braços e foi parar a quase quatro metros de onde estava.

- Mas o quê...

Sem entender, ele foi buscar sua varinha, enquanto Dumbledore se livrava de suas cordas invisíveis. Quem realmente poderia acreditar que ele ficaria preso de maneira tão simples? É claro que não.

Pegando sua varinha de volta, ele fez um movimento rápido e estuporou o corpo de Bartô Jr., que caiu desacordado, a máscara ainda cobrindo seu rosto e seus cabelos. Com sua própria varinha, abriu a porta, mas tudo o que encontrou foram os corpos dos Longbottom no chão. Não estavam mortos, mas absolutamente abalados. Certamente, a maldição Cruciatus em tal intensidade tinha fundido seus cérebros. Possivelmente, eles jamais se recuperariam.

Os Lestrange já não estava lá – devem ter ido embora, após perceberem que Frank e Alice não diriam onde estava o bebê. Há pouco tempo..., pensou. Será que Snape conseguiu chegar antes de...

Mas não havia tempo para pensar. Ele rapidamente projetou uma grande ave branca que saiu voando, a muitos quilômetros à frente, em direção a Hogwarts. Precisava avisar Hagrid e levar os corpos ao St. Mungus o mais rápido possível. Levando os corpos para fora da casa, ele rapidamente aparatou com os dois no saguão do hospital.

- Rápido, é urgente. Eu retornarei – e, com um outro estalo, aparatou novamente, desta vez nos portões de Hogwarts, deixando para trás uma recepcionista confusa. Hagrid estava lá, esperando o diretor chegar.

- Professor Dumbledore! – ele disse, em extremo desespero – O que aconteceu? O senhor está...

- Não se preocupe comigo, Hagrid – disse Dumbledore, caminhando em direção à escola – Onde está Snape?

- Não sei, senhor. Ele... ainda não voltou.

Mas sua conversa foi interrompida por um grande estalo, indicando que alguém aparatara fora dos limites da escola.

- É ele – disse Dumbledore – Rápido, Hagrid, abra os portões.

Em poucos instantes, Snape entrava em Hogwarts. Olhou para Dumbledore e este viu no reflexo de seus olhos o que não gostaria de ver.

- Severo...

- Eles estão mortos, Dumbledore. Mortos – disse Snape, os olhos tremendo junto com o seu corpo, enquanto tentava retrair a dor em sua alma e em seu coração. Caiu de joelhos no chão, levando as mãos à face. A neve caía sobre seus cabelos e fazia uma nova capa branca sobre a sua, já surrada. – Não pode ser... Não deu tempo, eu...

- Está bem, você fez o possível – disse Dumbledore, chegando mais perto.

- NÃO FIZ O POSSÍVEL! – gritou Snape, desvencilhando-se de Dumbledore – Eles estão mortos, velho, é o que chama de possível? Nada sobrou lá, apenas ruínas! Não havia ninguém quando eu cheguei. Acabou, é o fim! O Lorde das Trevas matou os meninos da profecia! E... Lílian!

O profundo ódio nos olhos de Snape pareciam furar a alma do diretor de Hogwarts. Ele podia sentir naqueles olhos toda a tristeza acumulada em anos, resultado das más escolhas de uma vida difícil. Em um pensamento que lhe passou de repente pela cabeça, ele perguntou:

- Você entrou na casa para ver se realmente não havia ninguém?

- E o senhor acha realmente necessário? – disse Snape, sarcasticamente - Já disse, estava em ruínas, não havia ninguém, Dumbledore!

- E Voldemort?

Snape contraiu o estômago como se tivesse levado um balaço na barriga, ao ouvir o nome.

- Não... sei – ele respondeu, com o olhar vago fitando a neve no chão – Não havia ninguém. Ninguém.

- Então – disse Dumbledore – Suponho que deveríamos averiguar. Hagrid?

- Sim, professor.

- Vá até Godric’s Hollow e traga os corpos para Hogwarts. Precisamos dar a eles um enterro digno ao que sempre foram. Corajosos os Potter, e deram suas vidas pela Ordem. Merecem todas as honras possíveis.

- Ordem?

- Escute, Severo – disse Dumbledore, virando-se para o rapaz – Você pode ir até o esconderijo de Voldemort e saber o que aconteceu?

- Ele me matará, se souber que não estava lá – respondeu friamente.

- Não necessariamente – disse Dumbledore – Diga que estava indisposto e tinha se recolhido. Ou algo melhor. Confio em você, Severo.

Snape apertou os olhos e, com um suspiro profundo e um movimento brusco, saiu pelos portões de Hogwarts. Hagrid partiu em seguida, enquanto Dumbledore voltava ao hospital St. Mungus para dar explicações e, quem sabe, porém sabia ser improvável, salvar a sanidade dos Longbottom. O bebê deles, ao menos, estava salvo em algum lugar, sem saber o destino que lhe aguardava. Seria ele o menino da profecia?, Dumbledore pensou, mas voltou ao hospital, onde explicaria o que tinha acontecido aos bruxos especialistas e, provavelmente, ao Ministro da Magia, que a essa altura já deveria saber o que tinha acontecido.

A muitos quilômetros dali, Severo Snape chegava a um sombrio lugar, encontrando, para sua surpresa, Comensais desesperados indo embora o mais rápido que podiam.

- Mas o quê...

- Severo, onde estava? – disse o jovem Lúcio Malfoy, tirando sua máscara e deixando à mostra seus longos cabelos platinados.

- O que está acontecendo? – disse Snape, ignorando a pergunta.

Lúcio o encarou.

- Você não sabe? O Lorde das Trevas... falhou.

Snape arregalou os olhos.

- O quê?

- Mas que diabos, homem, onde você estava que... – Lúcio estava tão abalado que desistiu de tentar investigar onde Snape estava - Bom, deixa pra lá. Foi isso. Ele não conseguiu matar o bebê dos Potter. O garoto sobreviveu.

- Não! – Snape parecia horrorizado – E... quanto aos pais? – perguntou, agarrando-se a esperanças desesperadas.

- Estão mortos, os dois. Só o garoto que sobreviveu.

- Mas, Lúcio, espere... Como? Como ele sobreviveu?

Mas Lúcio apenas deu de ombros, deixando um Snape pensativo à porta de onde estavam, vendo o fogo começar a tomar todos os aposentos.

- Severo, é melhor ir embora – disse Narcissa Malfoy, passando por ele, que continuava imóvel, paralisado, olhando para o nada – Em breve os aurores do Ministério estarão aqui e não podemos deixar vestígios... Vamos. Esqueça, o Lorde das Trevas foi destruído. Vamos embora.

Mas Snape não estava ouvindo. Voldemort não pôde matar um bebê?, pensou. Mas por quê?

Longe dali, já em Godric’s Hollow, Hagrid encontrou uma vila em alvoroço. Todos estavam nas ruas comentando o tumulto que acontecera há pouco em uma das casas. O frio da madrugada parecia não incomodar ninguém.

- Eu sabia que eles eram esquisitos! – dizia uma velha senhora enrolada em seu manto cor-de-rosa – Aposto que eram criminosos!

Hagrid conseguiu, não se sabe como, pelo seu tamanho, passar desapercebido por trás das casas onde estava a multidão, chegando enfim ao local em ruínas que antes fora a morada dos Potter. Parou em frente e olhou, horrorizado, para as pedras que ainda exalavam fumaça no chão. Certamente, Snape tinha razão – não havia ninguém ali.

BAQUE!

- Severo?

Severo Snape acabara de aparatar ao lado de Hagrid.

- Hagrid, o menino! Onde está? – disse, segurando as roupas do meio-gigante.

- Oras, mas que menino? Do que está falando?

- Hagrid, Voldemort não matou Harry Potter! Ele deve estar aí dentro!

- O quê? Mas...

Hagrid não pôde terminar a frase. Snape correu para dentro da casa em ruínas, pulando as pedras pelo caminho. Hagrid, com muita dificuldade, seguiu atrás dele.

- Não pode ser... – disse Hagrid, chegando ao local onde Snape parara.

Ele se aproximou lentamente de um canto na parede, onde havia um bebê enrolado em um grosso cobertor de lã. Vivo.

- Hagrid, precisamos avisar Dumbledore. O garoto sobreviveu. Sabe-se lá como, mas sobreviveu.

- Bom, sim, eu vou...

- Não! – interrompeu Snape – Eu vou. Espere aqui.

Snape saiu do local em ruínas e, em frente à casa, ignorando a neve que agora caía pesada sobre seus cabelos, estendeu o braço no ar e projetou um patrono branco-prateado fortíssimo, que foi voando rapidamente em direção a Hogwarts. Ele observou atentamente o enorme morcego planar sobre as montanhas e sumir atrás delas.

- Meu Deus, homem, como consegue projetar um patrono em um momento como esse? – disse Hagrid, olhando de onde estava – Em que pensou?

Mas Snape não respondeu para Hagrid. Olhou mais uma vez para a neve no chão e, para si mesmo, sussurrou baixinho: No menino que sobreviveu.

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