Hogwarts novamente
A manhã seguinte chegou sem maiores complicações. A professora McGonagal, apesar dos cuidados de Madame Pomfrey, continuava inconsciente. E nenhuma poção ou feitiço conseguiam fazer as cicatrizes desaparecerem.
_ Menos mal – comentou Hermione – pelo menos vou poder traduzir o que a Umbridge quis escrever no corpo da diretora.
_ Você vai ter que fazer isso com muito cuidado, Mione – assomou Gina – a professora não é bem um pedaço de pergaminho.
_ Eu sei, mas a Madame Pomfrey concordou em me ajudar e hoje a tarde eu vou estar junto dela quando for trocar os curativos. Mas agora o que mais me interessa é saber o que Harry encontrou naquela sala e que jato verde foi aquele.
O rapaz, que estava sentado perto da lareira da sala de estar, olhou para as duas. Sabia que elas iriam perguntar o que ele tinha visto e temia pela reação das duas.
_ Vamos Harry, conte pra gente, vai? – pediu Gina.
_ Eu conto, com uma condição: não quero ninguém me olhando como se eu fosse um trasgo de vestido de seda, está bem?
_ Sem problemas! – responderam as duas.
_ E nada de ficarem falando de mim pelas costas. Agora alguém pode chamar o Rony? Esse é o tipo de coisa que eu não quero ter que repetir, nem em palavras.
Assim que Rony chegou, Harry começou a contar.
_ Eu já tinha visto aquela sala antes. No meu último sonho com Snape, ele estava naquela sala. Eu a reconheci imediatamente, mas quando eu sonhei o quarto estava vazio. Não tinha nenhum paciente. Acredito agora que ela ainda não estava pronta. Mas quando olhei pela janelinha, lá na casa da Umbridge, eu vi que o quarto estava ocupado e vocês devem saber por quem, né?
_ Pela cobra, a Nagini – concluiu Rony, que agora entendia porque a outra cobra não quis entrar lá.
_ Exatamente! – disse Harry.
_ E aquela luz verde, Harry? Você fez o... a maldição? – perguntou Gina.
Ele não respondeu, apenas afirmou com a cabeça.
_ E pelo que pude perceber você usou a varinha da Umbridge. – assomou Mione – Muito esperto, assim se Voldemort desconfiar de alguma coisa a culpa vai cair em cima dela.
_ Então agora a gente só precisa descobrir quais são os outros dois horcruxes, se considerarmos que Voldemort fez um arcádio, e destruí-los junto com a varinha dele.
_ Até parece que vai ser assim tão fácil – comentou Harry.
_ Pode não ser fácil, mas é o que a gente combinou que ia fazer, não é mesmo? – desafiou Gina.
_ Ei, calma aí, eu não estou dizendo que a gente não vai. Só estou dando a chance de vocês desistirem. Ainda dá tempo!
_ Esquece, Harry, ninguém aqui vai desistir – afirmou Rony.
_ Está bem, está bem! Mas a gente vai precisar da ajuda do Lucius, esqueceram?
Era verdade. Sem Lucius Malfoy eles não conseguiriam encontrar a fortaleza de Voldemort. Mais tarde conversariam com Lucius. Talvez Draco pudesse ficar sob os cuidados de Madame Pomfrey para eles poderem partir.
A casa do Largo Grimmauld estava muito mais aconchegante. Sem aquelas tapeçarias velhas e os quadros dos membros mau-humorados da família Black. As paredes foram todas pintadas. A sala agora era salmão, o que deixava muito aconchegante quando a lareira era acesa. Os quartos todos pintados de branco ou bege, com roupas de cama claras e cortinas combinando. E até o tapete da escadaria fora trocado.
Só faltava arrumar a cozinha. E era isso que Monstro faria aquele dia, antes de fazer um último favor a Harry.
Estavam todos mudando as coisas de lugar na casa. A Srª Weasley agora dava polimento nos móveis com sua varinha enquanto Hermione e Gina reparavam o estofado das cadeiras e sofás.
A porta da frente se abriu de uma vez e um Sr° Weasley com seu pouco cabelo atrapalhado, todo esfolado e sujo, entrou esbaforido.
_ Cadê Harry? Preciso falar com ele, urgente!
_ Estou aqui – respondeu o rapaz.
A Srª Weasley correu para o marido ms ele fez um gesto indicando que ela parasse.
_ Estou bem, Molly. Agora só preciso falar com o Harry. – e virando-se para o jovem, perguntou – Você ainda pensa em transformar esse lugar num refúgio para os aurores e para as vítimas dos comensais?
_ Penso sim, só não tive tempo antes por tudo o que aconteceu...
_ Perfeito – interrompeu o homem – então venha comigo!
Ele puxou Harry para fora da casa. Todos os que estavam na sala os seguiram. Ali, na praça, havia um enorme caminhão parado.
_ O que está acontecendo? – perguntou.
_ St. Mungus foi atacado hoje de manhã. Muitos pacientes internados morreram, mas os que conseguiram se safar foram removidos imediatamente. Os casos mais graves foram encaminhados a outros hospitais bruxos em países vizinhos. Eu conversei com alguns medibruxos e eles acreditam que os ataques não vão parar. Então pensei em escondê-los aqui.
_ E onde estão todos? – perguntou Harry, revoltado pelo ataque ao hospital que seu avô construíra.
_ No caminhão. Ele foi enfeitiçado para transportar a todos com segurança. Venha ver.
E abrindo a caçamba do caminhão, Harry avistou uma ambulância gigantesca, diversos leitos espalhados, alguns equipamentos próprios dos hospitais bruxos. Também haviam medibruxos e enfermeiros entre as camas, cuidando dos doentes.
A um canto, Harry viu duas pessoas conhecidas e ficou um pouco mais aliviado. Os pais de Neville tinham sido trazidos também.
_ São todos de confiança, Sr° Weasley? – perguntou Harry.
_ São sim, tenho certeza.
Harry tomou todas as providências para que os doentes fossem instalados na casa. Todos os quartos foram ocupados e a cozinha foi dividida ao meio, sendo que uma parte ficou para o preparo das refeições e outra para o preparo de remédios e poções.
Até o quarto que pertencia a Gina e Hermione foi ocupado, e elas, assim como Gui e Fleur, foram dormir no quarto de Harry. O rapaz cedeu a cama para o casal e passou a usar o saco de dormir.
Neville ficou muito feliz de poder ficar perto dos pais e mais feliz ainda quando recebeu uma carta de Luna, entregue pelo Sr° Weasley, que tinha ido avisar a avó do rapaz sobre o ataque ao St. Mungus.
A carta informava que Luna chegaria em dois dias e pedia para ajudá-lo. Os jovens bruxos se animaram com a idéia de ter mais um membro da AD na casa e Harry ficou de ir junto com Neville buscar a garota.
Agora eles trabalhavam incansavelmente, e na mente de Harry o desejo de acabar com Voldemort ficava cada vez mais forte. Mandar atacar um hospital era algo cruel demais.
O Profeta Diário daquela manhã, trazido por Tonks, informava que o ataque não foi só ao St Mungus. Vários outros lugares foram atacados. O número de seguidores de Voldemort era cada vez maior e eles não sabiam quem tinha aceitado de bom grado o lado das trevas e quem estava sob a Maldição Imperius. Além disso, os trouxas estavam alarmados com a situação. Vários relatos de inferis foram registrados.
Como no ano anterior, os dementadores espalhavam uma onda de infelicidade por todo país. Fenômenos “naturais” como furacões, tremores de terra, lava brotando no quintal de trouxas e sumiço de prédios inteiros, pontes e monumentos fez o Ministro dos Trouxas tomar uma atitude drástica.
Ele foi aos jornais apelar ao “outro ministro” que o atendesse. Mas não havia mais ministro da magia e ele ficou com cara de louco na frente de todos. O que o fez o caos se espalhar ainda mais.
A maioria das famílias trouxas viajou para outros países. Os vôos estavam lotados até a semana seguinte.
Em contra-partida, apesar das empresas aéreas não registrarem nenhuma chegada aos aeroportos, o número de pessoas não parecia diminuir. Bruxos de várias partes do mundo vinham a Inglaterra para oferecer ajuda aos dois lados.
Todos ficaram alvoroçados com as notícias e faziam inúmeros planos para ajudar de alguma forma. Os doentes que já estavam em fase de recuperação ajudavam a manter a casa limpa, realizando pequenos feitiços.
Logo depois do almoço, o resto da família Weasley, Fred e Jorge, chegou com novas notícias ruins.
_ Todo Beco Diagonal foi destruído. O único prédio que ainda resiste é o Gringotes. Acho que os duendes são mais fortes que imaginamos. – contou Fred.
_ Só escapamos porque decidimos semana passada que hoje de manhã viríamos visitá-los – completou Jorge.
Parecia que Voldemort ficava mais forte a cada instante. Eles decidiram que falariam com Lucius aquela noite e depois que pegassem Luna, iriam para a fortaleza procurar as horcruxes que faltavam e encarar Voldemort.
Os gêmeos Weasley levaram para a casa uma grande quantidade de seus produtos. A loja era de logros e brincadeiras, mas eles também fabricavam algumas coisas bem úteis, como o pó que espalhava escuridão, o pântano instantâneo, as bolhas (que Harry não tivera coragem de usar). E eles contribuiriam com a missão de “caça ao tesouro” com essas invenções.
Logo eles também foram “convidados” a trabalhar e ajudar com os doentes. E faziam o que sabiam fazer melhor: distraíam as pessoas e os fazia rir. Molly Weasley ficaria brava se Madame Pomfrey não elogiasse o auxílio dos rapazes.
_ Sabe, ás vezes, quando a gente não tem remédio, o melhor é rir mesmo – disse aos dois enquanto subia para ver a diretora.
Voltou em seguida, chamando a todos, pois Minerva finalmente recuperara a consciência.
Estava pálida e fraca, mas conseguiu ficar sentada na cama e tomava um prato se sopa com muita fome. Assim que viu seus ex-alunos ali, parados na porta, sorriu e fez sinal para que entrassem.
_ E não diga apenas dois ou três, Pomfrey. Acho que todos esses jovens brilhantes podem me fazer um pouco companhia.
Hermione conjurou cadeira para todos e eles se sentaram ao redor da professora.
_ Quebrando as regras outra vez, hein Potter? – brincou a professora.
Todos riram e Harry respondeu:
_ Mas desta vez a senhora gostou, né?
Mais risadas.
_ Gostei sim! Obrigado, a todos vocês. Foram muito corajosos! Aquele lugar estava sempre cheio de comensais, não entendo como conseguiram entrar.
Eles explicaram que Gui farejou o local e descobriu que estava quase vazio, depois contaram o plano de forjar uma marca, de Tonks fingir estar morta e de Hermione petrificar Umbridge.
Minerva parecia surpresa com a ousadia do plano. Apesar de simples, era arriscado.
_ Então Gui realmente não virou um Lobisomem – disse olhando para o jovem de cabelos compridos ali perto – virou um perdigueiro.
Eles ainda conversaram bastante sobre os acontecimentos dos últimos dias. Minerva queria saber de tudo. Ficou alarmada com o ataque a St Mungus e as notícias do dia.
_ Agora que a senhora já sabe de tudo, professora, que tal nos contar o que aconteceu lá? – pediu Harry.
_ Não sei se é adequado – ajuntou Madame Pomfrey.
_ Não tem problema, eu conto – assentiu Minerva, e olhando para a enfermeira – fiquei semanas sem falar com ninguém. Preciso exercitar minha voz.
Ela contou que havia sido estuporada pelas costas por um bando de comensais. O castelo estava de pernas para o ar e ela foi levada. Quando acordou já estava amarrada na parede.
_ Ali, de frente para mim, Dolores Umbridge exibia sua Marca no braço esquerdo. Dizia que seria a senhora de toda magia e que precisava da minha ajuda. Lógico que disse que não ajudaria. Mas ela respondeu, cínica como sempre, que não estava pedindo, estava apenas informando. Então retirou uma pena verde escura de uma gaveta e com um gesto estranho a pena flutuou e veio na minha direção.
_ Aposto que a pena começou a escrever sobre a senhora, cortando sua pele – opinou Harry.
_ Exatamente! A pena escrevia e me cortava, e o sangue entrava por ela e ela ia mudando de cor. Depois de uma hora dessa tortura, a pena parou e depositou o meu sangue num vidro. Ela sorriu e disse que por hora bastava.
_ Todo dia ela fazia isso? – perguntou Rony.
_ Não, todo dia não. Ela fazia isso a cada três horas. No segundo dia eu fiquei inconsciente e não lembro de mais nada.
_ A senhora não se lembra do que a pena escrevia? – perguntou Gina.
_ Infelizmente não, eu não tive estômago suficiente para observar minha pele ser rasgada em forma de letras.
_ Não se preocupe, Minerva. Hermione anotou tudo o que estava escrito em seu corpo antes da gente dar um jeito nas cicatrizes.
_ Estava tudo em rúnico e eu vou traduzi-las hoje a noite, professora – disse a jovem.
_ Fico grata, Hermione. Mas agora precisamos fazer uma coisa muito importante. Eu preciso de um pergaminho e da minha varinha. Não quero usar uma pena tão cedo.
O pergaminho foi providenciado e com a varinha a ex-diretora de Hogwarts começou a escrever um bilhete. Depois, enrolou, selou e pediu que alguém enviasse a Hagrid.
_ Nós vamos precisar de um lugar bem maior que este para abrigar todos que quiserem lutar do nosso lado. Hagrid vai preparar o castelo para nossa volta.
A professora ainda quis conversar mais um pouco, agora sobre assuntos mais amenos. Falava da habilidade de Neville, do namoro de Gina e Harry, de Rony e Hermione. Perguntava a Fleur quando teria um filho e se ele estudaria em Beauxbatom ou em Hogwarts. Todos falavam ao mesmo tempo, até que a paciente parou no meio de uma palavra olhando para a porta.
Ali, de pé diante deles, estava Draco Malfoy. O olhar ainda perdido, mas caminhava com certa tranqüilidade.
Ele entrou no aposento e foi direto até Hermione. Parou na frente dela e entregou um pedaço de bolo.
_ Obrigado, lembro de você cuidando de mim – disse com voz fraca – você é meu anjo da guarda?
Todo ficaram pasmos. Malfoy não a reconhecia. E provavelmente não reconhecia ninguém ali.
Ela não soube o que responder. Ele se virou e já estava de saída quando Lucius entrou assustado.
_ Draco, Draco, você está andando! – disse emocionado.
_ Estou, sempre andei – respondeu não reconhecendo o próprio pai – me desculpe, o Sr° quem é?
Ele olhou atônito, o desespero começando a voltar. E mais uma vez Neville tomou a frente da situação.
_ Calma Draco, esse senhor é médico. Ele está cuidando de você. Por isso sempre dorme ao seu lado, está bem. O nome dele é Lucius, Lucius Malfoy.
_ Ah, muito prazer, doutor Malfoy. Então vamos, eu preciso dormir. Amanhã vou ver minha tia Bela. Ela vai me visitar e trazer um presente que ele mandou para mim.
_ Ele está delirando – comentou Lucius aflito.
_ Espere – pediu Harry – espere Draco.
O jovem loiro olhou para ele e, por um momento, Harry teve impressão de ter visto um brilho de lucidez em seus olhos.
_ Eu sei que conheço você. Você estava com ela, não estava? – e apontou para Mione.
_ Estava sim, mas que presente sua tia vai trazer para você?
_ Eu ainda não sei o que é. Sei que ele deixou com ela, para ela guardar, sabe? Ele gosta muito dela e ela diz que vai casar com ele.
_ Chega meu fi... quer dizer, chega Draco, você precisa se deitar.
Ele sorriu para o pai e foi para o quarto.
O silêncio reinou na sala, até que Madame Pomfrey disse:
_ Ele sofreu demais, ás vezes o sofrimento enlouquece as pessoas.
Neville que ainda estava no quarto balançou a cabeça e saiu. Harry tinha certeza que ele ia ficar com os pais.
O dia seguinte prometia grandes aventuras. Harry e Neville buscariam Luna e eles ajudariam a encaminhar o pessoal para Hogwarts. A professora McGonagal achou a notícia da chegada de Luna muito oportuna, já que o pai da garota possuía uma revista e eles precisavam divulgar que Hogwarts reabriria não como escola, mas como quartel-general de todos os bruxos que queriam lutar contra as trevas.
O Pasquim, a revista em questão, não tem tanta credibilidade, no entanto muitos bruxos o lêem por diversão e quando a notícia fosse divulgada toda a Inglaterra ficaria sabendo.
A jovem bruxinha loira chegou sem maiores complicações. Não achou nada estranho na casa, apenas informou a Srª Weasley que deveria cuidar melhor dos cantos das paredes, pois havia indícios de aparecimento de sloptins, um tipo de mofo capaz de devorar até mesmo uma vaca.
Sr° Weasley já havia preparado tudo para o transporte das pessoas até Hogwarts. O posto médico também seria transferido para lá, já que as estufas de herbologia eram grandes o suficiente para fornecer material para fabricação de remédios e o castelo tinha quartos mais que suficientes.
Antes que todos saíssem da casa, Harry deu uma última tarefa a Monstro.
_ Monstro, eu preciso que você faça uma coisa para mim. Quero que olhe nesse espelho e diga o que vê, está bem?
_ Está, senhor, está bem! Monstro olha e diz para senhor Harry Potter mestiço o que está vendo no espelho.
O elfo pegou o espelho das mãos de Harry e começou a olhar. A princípio não expressou reação nenhuma. Até que seus olhos brilharam de emoção e suas mãos começaram a tremer.
_ O que foi, Monstro? O que está vendo? – perguntou Harry.
_ Monstro vê a senhora, altiva, bela, andando com um belo vestido. Ah como tem classe, como é pura!
_ De quem você está falando, Monstro? Fale já e pare de enrolações – ordenou Harry.
_ Sim senhor, Monstro vê senhora Narcisa junto com sua adorável irmã. Ela sim deveria ser dona de Monstro. Ela sim é puro-sangue!
Harry ouviu o nome de Narcisa e adivinhou que a irmã em questão era a detestável Bleatriz Lestrange. Seu sangue ferveu e ele sentiu que se pudesse atravessaria aquele espelho e acabaria com ela na mesma hora.
_ Onde elas estão, Monstro? Você reconhece o lugar?
_ Não, senhor, é um lugar muito bonito. As paredes são escuras e distintas, os móveis são antigos e ricos. Mas Monstro nunca esteve lá?
_ Eu ordeno que fale a verdade, Monstro, ou tiro tudo o que está no sótão e mando queimar.
O elfo guinchou de medo.
_ Não senhor Potter, Monstro diz a verdade. Monstro não conhece o lugar.
_ Está bem, mas diga outra coisa. Elas estão nervosas?
_ Não, parecem bem felizes. Senhora Narcisa um pouco pálida, mas a palidez é uma marca das famílias distintas.
Harry tomou o espelho das mãos do elfo e subiu as escadas de dois em dois degraus. Foi até o quarto de Draco e Lucius e perguntou:
_ Lucius, quer saber como está sua mulher?
_ Do que está falando, Potter?
_ Eu sei que ela está com Belatriz. Monstro me disse.
_ E o que um simples elfo-doméstico pode saber?
_ Ele viu, Lucius. Através deste espelho.
A princípio Lucius não entendeu. Mas depois reconheceu o objeto.
_ Ela tem um espelho igual a esse. Conseguiu o ano passado pelo que soube. Mas nunca imaginei por que Bela ia querer um espelho?
_ Provavelmente, ela queria espionar tudo o que eu fazia. É um par, Lucius. Um se comunica com o outro. E ela deve ter imaginado que eu o usava. Mas eu só usei enquanto Sirius estava vivo. Depois guardei no fundo do malão e não tirei mais.
Lucius pegou o espelho das mãos de Harry. Olhou com cuidado e por fim falou:
_ Não sei se seria seguro, Potter. Narcisa pode querer saber onde está Draco e isso seria muito arriscado. Ela sempre contou tudo para a irmã. Não vai ser diferente agora.
_ Tudo bem! Mas nenhum de vocês consegue contar a ela o local do nosso esconderijo. Ainda mais que estamos de mudança. De qualquer maneira, fique com o espelho. Você pode mudar de idéia quando chegarmos a Hogwarts.
Quando a casa já estava quase vazia, Harry procurou Hermione para pedir um favor, mas não conseguiu encontrar a garota.
_ O que quer com ela? – perguntou Gina.
_ Ah, só queria pedir que ela lançasse um feitiço naquela tábua solta que a gente usou para esconder a jóia. Só no caso do Mundungus voltar aqui.
_ Se quiser eu mesma posso fazer isso. Hermione já foi para Hogwarts. Foi junto com Rony e Percy.
_ É, pode ser, você também é excelente com feitiços!
_ Obrigada! Assim que todos saírem da casa eu lanço o feitiço. Só para não deixar ninguém desconfiado.
Eles partiram ao fim da tarde. Os doentes que ainda não tinham se recuperados foram no caminhão ambulância. Muitos bruxos aparataram em Hogsmeade e tantos outros foram de vassoura.
A escola estava novamente lotada. Mas o clima era diferente. Todos os bruxos usavam vestes simples, que possibilitavam maior movimentação (idéia da Madame Hooch). Muitos poliam suas varinhas ou cuidavam das vassouras.
Não havia mais tanto luxo no castelo. A diretora McGonagal ordenou que os elfos guardassem todas as tapeçarias, peças de prata, armaduras, enfim, tudo que pudesse dificultar a circulação dentro do castelo.
As refeições servidas seriam simples, mas nutritivas. A enfermaria dobrou de tamanho e assim que todos estavam acomodados, o grupo de centauros entrou pelo salão principal.
O líder deles, um centauro de pele morena e pelo castanho, se dirigiu à diretora:
_ Seja bem vinda, McGonagal! Enquanto estiveram fora, nada de anormal aconteceu por aqui. Nenhum ataque ou tentativa de invasão.
_ Ainda bem, pelo menos temos a segurança dessas paredes. Os feitiços lançados para proteger Hogwarts ainda existem e isso nos dá uma vantagem. Além disso, já fui informada que centenas de bruxos de diversos lugares do mundo virão se juntar a nós, em no máximo uma semana.
_ Sinto dizer que acredito que não teremos tanto tempo assim! Nós iremos resistir e toda ajuda é bem vinda, mas receio que antes disso, alguma coisa aconteça.
_ Por que diz isso, Magoriano?
_ Porque sei que muitos seres da Floresta Proibida se uniram a ele. As aranhas, as almas perdidas, as dríades e alguns seres aquáticos também.
_ Não acredito! As dríades? Mas por quê?
_ Não sei ao certo, mas elas deixaram a floresta a noite passada.
_ E os sereianos?
_ Esses serão eternamente fiéis ao lado de Dumbledore. Afinal, Dumbledore salvou o povo deles da extinção. E eu consegui algum auxílio extra.
_ Quem vem nos ajudar?
_ Testrálios, espíritos das montanhas, alguns kobolds e os dellings.
_ Os dellings? Você conseguiu ajuda dos dellings? E Dain? Virá também?
_ É possível. Mas é preciso resolver a situação dos elfos domésticos antes que eles cheguem. Você sabe o quanto Dain pode ser temperamental.
_ Vou cuidar disso agora mesmo! – respondeu Minerva indo tratar desse assunto.
Enquanto isso Magoriano saiu à procura de outra pessoa, com quem precisava ter uma séria conversa. Procurou entre os muitos bruxos e logo avistou os cabelos vermelhos de Rony Weasley.
O jovem bruxo de cabelos vermelhos estava sentado a uma mesa junto com Mione, Gina e Harry. Eles conversavam sobre o quanto o castelo estava diferente. Era incrível como todos aqueles bruxos se entendiam mesmo falando línguas distintas. Além disso, cada um executava feitiços diferentes, que os jovens ali nunca tinham visto.
Magoriano se aproximou sem nenhuma cerimônia e já foi falando:
_ Ei você, bruxo do cabelo de fogo, precisamos conversar!
Rony olhou assustado para os lados, como se quisesse se certificar de que aquele centauro não falava com ele. Mas não vendo mais ninguém, perguntou:
_ Você, quer dizer, o senhor precisa falar comigo?
_ Exato, e pode me chamar de você. Venha comigo agora, precisamos dar uma volta.
Rony se levantou imediatamente e seguiu o centauro até o jardim do castelo. Os amigos nem tiveram tempo de questionar qualquer coisa.
Do lado de fora, o céu estava muito estrelado. Era quase véspera de Natal e a neve chegava a bater nas canelas de Rony. Fazia frio, mas o rapaz não quis incomodar o centauro, que parecia não notar a neve e o vento.
Eles andaram por um tempo e já estavam quase na orla da floresta quando Magoriano finalmente parou.
_ Aqui está bom, as luzes do castelo não irão nos atrapalhar!
Rony queria perguntar o que iriam fazer ali, mas teve medo. Ele sabia o quanto centauros ficam ofendidos facilmente.
_ Agora, jovem, pode me dizer o seu nome?
_ Rony, quer dizer Ronald Weasley.
_ Muito bem, Rony, Firenze me contou sobre seu dom. Saiba que é muito raro que meros humanos consigam conversar com os astros e a energia do cosmos.
Mais uma vez Rony não disse nada. Apenas olhava para o líder dos centauros, imaginando aonde aquela conversa iria chegar.
_ Eu o trouxe até aqui para ver se concorda comigo, meu jovem. Preciso saber se não ouvi errado. Agora, por favor, tente ouvir o que ela diz – concluiu Magoriano apontando uma estrela enorme, de brilho esverdeado que apontava no céu.
_ Não conheço essa estrela, nunca a vi antes. De que constelação ela é? – perguntou Rony, tentando se lembrar de alguma das aulas de astronomia.
_ De nenhuma, rapaz. Essa é pi Her, uma das estrelas que formam a Keystone, um outro tipo de agrupamento de estrelas chamado asterismo.
_ E o que há de tão enigmático nessa estrela? – perguntou o rapaz que já começava a ficar mais confiante.
_ Há algum tempo, um de nossos ancestrais fez uma previsão que mencionava essa estrela. Eu ouvi a mesma coisa. Mas queria ter mais uma opinião. Agora, deixemos de conversar entre nós, vamos tentar conversar com ela.
Rony se sentou na neve sem se importar se molharia a roupa. Olhou para a estrela e se deixou levar por inúmeros pensamentos. Ficou ali mais de meia hora, ouvindo as histórias que a pi Her dizia.
Finalmente ele levantou os olhos para o centauro, que também sentara na neve e esperava pacientemente.
_ Parece que o herdeiro voltou. O herdeiro dos olhos de Thor.
_ Foi o mesmo que eu ouvi – comentou em voz baixa Magoriano.
_ Mas não entendo, como o herdeiro vai aparecer? O que ele precisa fazer? E por que a estrela está tão assustada assim?
_ Venha meu rapaz, vamos conversar com meus irmãos – disse Magoriano enquanto guiava Rony pela Floresta até o território dos centauros.
Enquanto isso, dentro do castelo, Harry, Gina e Mione tentavam imaginar o motivo de Magoriano. A conversa foi interrompida quando Mione olhou o aglomerado de elfos domésticos em frente à mesa de McGonagal.
_ O que está acontecendo lá? – perguntou curiosa.
_ Não faço idéia – respondeu Harry e Gina quase ao mesmo tempo.
_ Vamos lá ver – chamou já de pé.
Eles correram, mas só conseguiram ouvir o final da conversa.
_ Então, por esse motivo, todos os elfos aqui presentes que não se sentirem felizes em trabalhar conosco aqui em Hogwarts, ajudando a todos os seres que quiserem lutar contra a força das trevas está livre a partir de agora.
Os elfos domésticos se agitaram, cochichavam entre si até que Dobby pediu para falar.
_ Dobby já ser livre Senhora, não pertence de Hogwarts, mas quero viver aqui enquanto for possível e enquanto considerarem Dobby útil.
Os outros elfos domésticos, muito mais de 100, concordaram que o melhor seria ficar em Hogwarts.
_ Está bem! Fico feliz em saber que são bem tratados aqui e que querem continuar a nosso lado. Quando Dain chegar, ficará feliz também! – finalizou a diretora e saiu para checar outros detalhes.
Os elfos voltaram aos seus afazeres. Uns foram preparar a comida, outros organizar as novas camas que haviam sido espalhadas pelo castelo e outros foram acender as lareiras.
Harry, Gina e Hermione ficaram parados ainda algum tempo, sem entender.
_ Fiquei na mesma – comentou Harry.
_ Ela falou Dain? Falou que Dain ficará feliz?
_ Foi o que eu entendi – respondeu Gina – Mas não fez muita diferença para mim.
_ Vocês não entendem o que isso quer dizer, não é? Dain é o soberano de todos os elfos.
_ Elfos domésticos têm um soberano? – perguntou Harry surpreso em perceber que ainda não sabia tudo sobre o mundo dos bruxos.
_ Não, Harry. Dain é o soberano de todos os elfos mesmo, não só os domésticos, mas todas as raças de elfos. A participação dele foi fundamental em todas as guerras contra as forças das trevas nos últimos 400 anos.
_ 400???? Uau, quanto tempo vive um elfo? – perguntou Harry.
_ Pelo menos 1.200. – informou Mione.
A conversa fluiu durante um bom tempo. Eles ficaram imaginando como seria ser um elfo e viver tanto tempo. Mione estranhou a demora de Rony, mas não podia sair do castelo para procurá-lo.
O jantar já estava na mesa, todos de banho tomado, quando Rony voltou com as vestes encharcadas por causa da neve e as pontas do nariz e das orelhas vermelhas de frio.
A mãe do rapaz o mandou subir imediatamente e tomar um banho. Mais tarde Harry levaria sopa ou chocolate quente para ele.
Os jovens, acostumados a rotina escolar de Hogwarts, voltaram a dormir em seus antigos dormitórios. Logo que acabou de comer, Harry subiu com uma caneca de chocolate quente para o amigo e Mione levou um pedaço de bolo. Gina acompanhou os dois e eles se sentaram frente à lareira do salão comunal da Grifinória.
Hermione contou tudo o que descobrira sobre os elfos e Rony explicou a conversa que teve com os centauros.
_ Quem será esse herdeiro dos olhos de Thor? – interessou-se Gina.
_ Nem eles sabem – respondeu Rony – só sabemos que é alguém que vai se revelar antes do desfecho.
Diante da cara de dúvida dos amigos ele completou:
_ Eu sei que não faz sentido algum. Mas para mim faz. É como se cada uma das palavras já estivesse traduzida para mim.
_ Então explique o que você acha que é! – pediu Hermione.
_ Eu não consigo! O que eu sei que alguém que tem a força de Thor nos olhos vai aparecer, ou vai se revelar, e mudar a história. O final não vai ser como pensamos.
Eles ficaram calados. Imaginar que o final seria diferente era desanimador. Todos imaginavam que no final Voldemort iria ser derrotado e eles poderiam seguir com suas vidas.
Aquela noite todos dormiram com uma nuvem de tristeza no coração.
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