Pistas adormecidas
Neville foi descansar e Harry desejou fazer o mesmo, mas os acontecimentos daquela noite estavam apenas começando. Ele sabia que ao assumir a responsabilidade pela vida daquelas pessoas teria que abrir mão de muita coisa. Principalmente de ficar com Gina.
Já na cozinha Harry conversou com as duas garotas.
_ Precisamos dividir as tarefas para não nos desviarmos da busca pelos Horcruxes. Agora estamos perto, só falta identificar qual é o principal. – falou o rapaz tentando parecer otimista.
_ Concordo com você – disse Mione – as coisas estão bem difíceis aqui e quando os outros chegarem, pode piorar tudo.
_ Acho que ficaria mais fácil se nós duas ficássemos com a parte da alimentação, preparar tudo, fazer as compras. O que acha? – perguntou Gina.
_ Acho perfeito – disse Harry – No momento seria legal levar um pouco de sopa para sua mãe, Gina. E se for possível, Mione, leve para Olho-Tonto e Quim. Pelo que sei eles já recobraram a consciência. Eu vou falar com o Sr° Weasley.
Cada um procurou executar sua tarefa o melhor possível. Mione encantou duas bandejas para ficar mais fácil carregar a comida para o segundo andar da casa.
Harry foi até o quarto em que Percy estava. Chamou por Rony e perguntou:
_ Como ele está?
_ As dores diminuíram, mas ele ainda insiste em olhar no espelho. Acho que sente a mudança quando passa a mão pela face – respondeu o rapaz com olhar cansado.
_ Se você quiser tomar um banho eu faço companhia pra sua mãe – ofereceu Harry.
_ Não vai ser preciso, veja, ele está tomando o calmante que papai trouxe. Logo irá dormir e nós poderemos descansar um pouco.
_ Bom, já que é assim, acho que vou aproveitar e chamar seu pai para uma conversa.
Harry desceu acompanhado do pai de Rony. Eles se dirigiram para a sala de estar, onde poderiam conversar com calma.
O rapaz expôs sua idéia ao Sr° Weasley e esperou pela aprovação. O homem, por sua vez, pensou um pouco e respondeu:
_ É uma idéia louvável, Harry, mas vai despender muito dinheiro. Não sei se estamos preparados para uma coisa assim.
_ Eu sei disso, já pensei em tudo. O senhor sabe que dinheiro não é problema. E quanto ao pessoal para ajudar a cuidar dos doentes, nós já trouxemos o Neville para cá, ele conhece tudo sobre plantas e ervas. E vamos trazer a Madame Pomfrey, que era responsável pela enfermaria de Hogwarts. E depois, as pessoas que forem melhorando poderão ajudar a cuidar dos outros.
_ Parece que você realmente pensou em tudo, não é mesmo?
O rapaz fez um sinal afirmativo.
_ Então está decidido. Amanhã vou cuidar da transferência dos aurores. Mas só os que tiverem autorização dos medibruxos ou das famílias, ok? Agora, tem uma coisa que eu queria lhe perguntar.
_ Pode falar!
_ Como você fez para aquele retrato calar a boca?
Harry riu divertido e respondeu:
_ Nada demais, apenas mostrei a ela que essa não era mais a casa dos Black. Era a Casa da Ordem.
O rapaz subiu as escadas para ver se todos estavam bem e foi para seu quarto tomar um banho. A água quente do chuveiro caiu como um verdadeiro bálsamo sobre Harry. Ele se demorou mais que o costume e quando saiu teve a sensação que poderia encarar outra maratona como aquela.
_ Não, melhor descansar. Amanhã vai ser um dia difícil com a chegada dos novos hóspedes – pensou se jogando na cama e adormecendo em seguida.
Harry teve um sono tranqüilo, sem sonhos. Nos outros quartos quase todos os hóspedes também dormiam.
A madrugada ia alta quando sons de gritos ecoaram pela casa. Por um momento Harry imaginou que estivesse sonhando, mas o barulho de passos pelo corredor o fez despertar.
Ele se levantou, acendeu uma das luzes e foi ver o que estava acontecendo. Harry reconheceu que os gritos eram de Gina e se apressou em saber se a jovem estava bem.
Quando chegou à porta do quarto, avistou a Srª Weasley sacudindo a filha pelos ombros. Gina estava de olhos fechados e ainda berrava. Era um grito de dor e medo ao mesmo tempo e Harry percebeu que ela estava tendo um pesadelo.
Ele correu para ajudar e também segurou a jovem pelos ombros. Mas no momento que a tocou, uma força estranha jogou-o de costas contra a parede e ele sentiu a cicatriz queimar, arder, como se estivesse pegando fogo.
Os gritos agora saíram de Gina e foram para Harry. A jovem olhava assustada para todos os lados tentando entender e ao mesmo tempo explicar o que estava acontecendo.
Quase todos os habitantes da casa se dirigiram ao quarto para tentar ajudar.
Harry se contorcia, gritava esfregava a cicatriz. Seus olhos já estavam cheios de lágrimas. Ao mesmo tempo ele tampava os ouvidos como se alguém estivesse gritando dentro da sua cabeça.
Ninguém conseguiu fazer nada. De todos os presentes, os únicos que tinham presenciado uma crise de “dor na cicatriz” de Harry, eram Rony e Mione. E eles sabiam que não adiantava fazer nada. Só esperar passar.
Aos poucos Harry foi se acalmando, parando de gritar e ficou estirado no chão do quarto, ofegante.
Gina ainda chorava baixinho, sentada na cama e abraçada ao travesseiro.
Finalmente alguém tomou uma iniciativa e antes que alguém questionasse, Lucius entrou no quarto, pegou o rapaz no colo e o colocou deitado na cama em que Hermione estivera deitada.
_ Alguém aí – disse com certa autoridade – traga água para os dois. E alguma coisa para ferimentos leves. Parece que o jovem Potter aqui esfregou a cicatriz mais do que devia.
Era verdade, a cicatriz de Harry estava sangrando e havia marcas de unha por toda sua testa. Parecia que ele tentara arrancar a marca da cabeça.
Mione e Neville desceram para a cozinha e instantes depois voltaram com água e uma pomada.
Gina pode beber água sozinha, mas Harry ainda estava inconsciente.
Lucius pegou a cabeça do rapaz, inclinou para trás e foi colocando a água aos poucos. Depois passou a pomada nos ferimentos e disse que todos poderiam descansar.
_ Amanhã ele nos contará o que aconteceu – disse isso e saiu em direção ao quarto do filho.
Molly, Arthur, Lupin e Tonks não sabiam se estavam mais assustados com o que aconteceu a Gina e Harry ou com a postura de Lucius Malfoy.
Tonks se ofereceu para passar a noite ali e cuidar de Harry e Gina. Molly aceitou, pois ainda precisava cuidar de Percy.
O resto da noite foi de vigília. Hermione dormiu no quarto de Neville, enquanto Rony dormia no saco de dormir ao lado de seu irmão, caso precisassem dele no meio da noite.
Antes mesmo de o sol nascer, Harry abriu os olhos. Sentia dores por todo o corpo e observou algumas manchas roxas nos braços e nas mãos. Sua cabeça girava e a testa parecia que ia derreter.
Ele sentou na cama e Tonks abriu os olhos.
_ Como se sente? – perguntou ao rapaz.
_ Não sei, o que aconteceu?
_ Você teve uma crise enquanto tentava ajudar Gina a sair de um pesadelo.
_ Gina – disse aflito – onde ela está?
_ Acalme-se, Harry – pediu Tonks – ela está aqui na cama ao lado. Está dormindo. Não vai querer acordá-la, vai? Ela dormiu há pouco mais de uma hora.
Ele respirou aliviado.
_ Eu estou com sede – disse – parece que vou secar por dentro.
Tonks lhe passou um copo com água, mas quando notou as mãos do garoto levantou apressada.
_ Você está tremendo! E suas mãos estão muito roxas. Será que fraturou algum osso?
Harry mexeu as mãos, mas não sentiu dores.
_ Não acredito, não dói nada além da minha cabeça. E a única coisa que eu sinto é muita sede.
A auror passou as mãos sobre a testa de Harry, com cuidado para não provocar dor e notou que o rapaz estava febril.
_ Vou buscar um remédio para você. Agora se deite e espere!
Ela saiu apressada e assim que fechou a porta Harry chamou:
_ Gina, você está acordada?
_ Estou sim... só fingi que estava dormindo para não ter que explicar nada para ninguém.
_ Ótimo, continue assim e tente dormir de verdade. Mas não comente nada com ninguém antes de conversar comigo.
_ Pode deixar, eu não quero mesmo falar disso com ninguém.
Eles ouviram o barulho dos passos de Tonks. Gina virou de lado e voltou a fingir um sono que não sentia. Harry tomou o remédio e adormeceu, de verdade.
O sol já ia alto quando Harry acordou. Sentia o corpo todo doer, como se tivesse levado uma surra. Os braços ainda estavam roxos e algumas partes pareciam visivelmente inchadas.
Ele se sentou na cama e percebeu que o quarto estava vazio. Gina já se levantara e deveria estar comendo alguma coisa. Harry também sentiu fome. Tentou ficar de pé e percebeu que a tontura havia passado.
Desceu para cozinha sem nem ao menos trocar o pijama. A casa estava silenciosa e ele percebeu que muitos tinham saído.
Quando chegou no andar de baixo, avistou Mione arrumando uma bandeja com um prato de comida, um copo de suco de abóbora e um pedaço de pão.
_ Harry – admirou-se a moça – já ia levar esta bandeja para você.
_ Não se preocupe, eu como aqui mesmo – respondeu o rapaz.
Sentou-se e começou a comer. Apesar da fome sentia que a comida formava uma bola difícil de engolir em sua garganta. Era ansiedade. Não ficaria tranqüilo até conversar com Gina.
_ Onde está Gina, Mione? – perguntou.
_ Está na sala com a Tonks. Elas foram para lá assim que Gina acordou, acenderam a lareira e não saíram mais. Rony também já se levantou e desde cedo não sai do lado de Percy.
_ Percy melhorou?
_ Continua do mesmo jeito. O Sr° Weasley disse que ia procurar alguém que pudesse ajudá-lo. Mas até ele voltar Neville tem feito um bom trabalho.
_ Sério? O que ele fez hoje?
_ Um chá que fez Olho-Tonto levantar da cama meia hora depois. E uma compressa com musgos que diminuíram o ressecamento da pele de Percy. Só Quim que ainda não pode ser ajudado. Ele fraturou duas costelas e sente muita dor ao respirar.
Harry ainda fez algumas perguntas. Sabia que devia estar sendo difícil para Hermione ficar ali, sozinha, preparando comida para um batalhão.
Pediu licença e disse que precisava falar com Gina. Assim que chegou a sala, pediu a Tonks para falar a sós com a jovem.
_ E se acontecer aquilo de novo, Harry? – perguntou a auror.
Harry respirou fundo e contou até 10 para não dar uma má resposta à mulher. Depois virou para ela e disse:
_ Se acontecer, vocês vão ouvir nossos gritos. Aí é só vir correndo!
Tonks deu de ombros e saiu para ajudar Mione. Gina ficou olhando para o fogo e Harry se sentou ao lado dela.
_ A gente precisa conversar – disse ele.
_ Eu sei – respondeu baixinho – ontem a noite, foi terrível.
_ Gina, o que estava acontecendo? Por que os gritos?
_ Não é só você que tem pesadelos por aqui, Harry! Já tem uns dias que eu tenho tido o mesmo sonho. Snape chega, começa a conversar comigo. Eu o acuso da morte de Dumbledore e ele me chama de tola. Começa a gritar e tenta enfiar a mão na minha cabeça. Diz que precisa me mostrar uma coisa. Aí eu acordo.
_ Há quanto tempo você sonha com isso?
_ Duas semanas.
_ E por que nunca me contou?
_ Por que eu achei que era um sonho bobo. Estamos envolvidos com esses assuntos todos os dias que pensei que era coisa da minha imaginação.
_ E ontem? E vi o Snape, foi ele que me empurrou, mas ele não estava sozinho. Voldemort também...
_ Estava sozinho sim, Harry. No começo estava só o Snape. Ele me disse que teria que mostrar uma coisa nem que fosse a força. Então violentou minha memória e puxou de lá uma coisa que eu tinha esquecido completamente. Só que a lembrança doeu e eu comecei a gritar.
_ Eu sei, ouvi seus gritos e fui correndo ver o que estava acontecendo.
_ Não foi só você que ouviu. Voldemort também ouviu meus gritos. Não sei como, talvez ele estivesse na mente de Snape. Mas os dois começaram a discutir.
_ Como assim? Eles estavam discutindo dentro da sua cabeça?
_ Isso, foi muito confuso e os gritos machucavam meus ouvidos. Voldemort queria saber o que Snape estava fazendo. Ele disse que só queria saber onde nós estávamos. Voldemort não acreditou e começou a torturá-lo, ele berrava de dor, e jurava que havia falado a verdade. Foi quando você chegou.
_ Eu pus as mãos nos seus ombros e ouvi Snape gritar para que eu saísse de perto. Mas Voldemort me achou antes que eu pudesse lhe soltar.
_ Mas logo você caiu e eu deixei de ver o que estava acontecendo. Só conseguia ver você se contorcendo no chão. O que ele lhe fez?
_ Ele queria me forçar a contar o lugar do esconderijo. Snape pegou a varinha e lançou um feitiço que me jogou para trás.
_ Eu não sabia que era possível lançar feitiços pela mente...
_ Pois é, é tudo muito estranho. Mas Voldemort veio atrás mesmo assim e minha cicatriz começou a doer. Então eu senti uma mão remexer as minhas memórias e soltar as mais inúteis possíveis. Voldemort desistiu e eu desmaiei.
Os dois ficaram em silêncio. Gina se jogou nos braços de Harry e começou a chorar. Mas a cena foi interrompida por um “hum-hum” vindo da porta. Lupin parecia estar ali já há algum tempo.
_ Desculpem, mas eu ouvi a conversa.
Gina pareceu perturbada.
_ Não fique nervosa, Gina. Eu não vou contar para ninguém. Mas acho que o importante agora é saber exatamente o que Snape queria que você lembrasse. E quais memórias ele trouxe à tona quando impediu Voldemort de descobrir o local do esconderijo.
Os dois se entreolharam. Depois olharam para o ex-professor. Era verdade. Eles precisavam entender o que Snape queria invadindo a mente deles assim.
Harry pediu para Lupin entrar e fechar a porta. O homem obedeceu e sentou perto do fogo, junto com eles. O inverno estava cada vez mais rigoroso e a casa era muito grande e fria.
_ Agora, Gina, conte para nós dois o que Snape forçou você a se lembrar.
_ Ele me fez lembrar das coisas que eu fiz quando... quando usei o Diário de Tom.
Aquilo havia acontecido quando ela estava no primeiro ano de Hogwarts e ajudou Voldemort a abrir a Câmara Secreta.
_ Eu já disse antes que não conseguia me lembrar das coisas que fazia quando ele me dominava. Mas pensei que só tinha feito as coisas da Câmara.
_ Então você fez outra coisa. O que foi?
Ela hesitou um pouco, mas respondeu:
_ Eu roubei a taça de Hufflepuffe para ele.
Harry empalideceu. Por um momento Lupin achou que ele ia desmaiar. Agora tudo mudava outra vez.
_ Mas como? Eu vi na penseira que Voldemort roubou aquela taça de uma senhora bem velha. Como a taça voltou para o colégio? – perguntou Harry.
_ Alguém roubou a taça dele, Harry. E ele a queria de volta. Não teve tempo de fazer aquilo, sabe? – respondeu Gina.
Se a taça não era um horcruxe, então faltava descobrir o sexto novamente.
_ E você, Harry? Quais lembranças Snape trouxe de volta?
Harry sacudiu a cabeça para colocar os pensamentos em ordem.
_ Ele me mostrou alguns sonhos que eu tive, Voldemort assumindo a forma de uma cobra para atacar o Sr° Weasley, depois lembrei da serpente enorme que apareceu no casarão que era do pai dele e Voldemort ordenava que Rabicho fosse ordenhá-la, e finalmente lembrei da conversa do Fenrir dizendo que Voldemort estava desorientado com a doença da Nagini, a tal cobra de estimação dele.
_ Parece – disse Lupin – que perdemos uma pista, mas ganhamos outra! Tão valiosa quanto.
Os dois jovens não compreenderam de imediato o que o ex-professor queria dizer. Ante a cara de dúvida dos jovens, ele começou a explicar, com aquele jeito que usava em sala de aula.
_ Em primeiro lugar, deixe-me dizer a você, Gina, que Harry me contou sobre os horcruxes. Agora, eu acho que Snape também sabe sobre eles e, por algum motivo, quis mostrar que vocês estavam seguindo a pista errada.
_ Não entendo por quê Snape estaria fazendo isso? Será que ele se arrependeu de ter matado Dumbledore e quer nos ajudar, é? – disse Harry, revoltado.
_ Não sei, Harry. Mas o que ele mostrou é realmente interessante. E acredito que as imagens referentes a Nagini também devem ter algum significado.
Ninguém falou mais nada. Todos concentravam seus pensamentos nas novas informações.
Harry se levantou e saiu da sala sem falar nada. Foi até a cozinha e chamou Mione a um canto.
_ Vai lá em cima e pede pro Rony ir com você até a sala de estar. A gente precisa conversar urgente.
Mione subiu as escadas correndo e em menos de cinco minutos estava de volta com o namorado.
Lupin explicou aos dois o que havia acontecido e quais novas informações entraram para a lista de possibilidades deles.
_ Espera um pouco, Harry – pediu Mione – você falou que Voldemort mandou Rabicho ordenhar uma cobra?
_ É, foi – respondeu – Por quê?
_ Como é que se ordenha uma cobra? Será que ele bebeu veneno?
_ Não – disse Lupin – nenhuma magia das trevas inclui ingerir substâncias tóxicas ou venenosas. Ele não poderia beber o veneno de Nagini, fraco como estava. Pelo tamanho da cobra, o veneno teria destruído o projeto de corpo que ele passou anos tentando conseguir.
_ Deve haver um outro significado para isso – refletiu Mione.
_ Com certeza, mas nem eu que lecionei Defesa Contra as Artes das Trevas para vocês sei o que pode ser – indignou-se Lupin.
Eles estavam de pés e mão atados. As informações estavam ali e ninguém sabia exatamente o que fazer com elas.
Rony, que até então se mantivera calado, sugeriu à namorada:
_ Não tem como pesquisar isso num livro, Mione?
Todos olharam para o rapaz. Aquela era uma idéia. Pelo menos era melhor do que ficar sem fazer nada. O problema era em qual livro procurar e onde arranjar esse livro. Porque no material de escola deles não havia nenhuma referência ao uso de veneno de serpente.
_ Eu sei para quem pedir um livro assim – disse Lupin, finalmente.
_ Para quem? – perguntaram todos, quase ao mesmo tempo.
_ Oras, achei que fossem mais espertos. Vocês esqueceram que nós estamos hospedando um comensal, ou ex-comensal já não sei direito. Com certeza Lucius deve ter livros de magia em casa.
_ Mas ele não pode voltar lá – lembrou Harry.
_ Eu sei disso, mas acredito que ele tenha boa memória e saiba nos indicar alguma coisa. Eu já volto.
Lupins subiu as escadas e bateu à porta do quarto de Lucius e Draco.
_ Posso entrar? – perguntou.
_ Ah, Lupin, entre.
_ Obrigado! Como está Draco?
_ Melhor. Veja, as feridas já cicatrizaram. Ele continua inconsciente, mas já bebeu água e acredito que mais tarde conseguirei dar um pouco de sopa a ele.
_ E a febre?
_ Cedeu pouco depois que o Longbottom tratou dele.
O silêncio tomou conta do quarto. Só o som da respiração profunda e cansada de Draco podia ser ouvida.
_ Alguma coisa me diz que você não veio até aqui só para saber do meu filho, Lupin. Vamos, diga o que você quer.
_ Queria uma informação, Lucius. Coisa à toa. Só preciso saber se existe algum livro de magia negra que fale sobre cobras.
Malfoy estudou o rosto do homem parado a sua frente. Não era muito comum um lobisomem se interessar por cobras.
_ Alguma espécie preferencial, Lupin?
O ex-professor encarou Malfoy e respondeu:
_ Você sabe que sim. E sabe exatamente qual eu quero.
_ Não vai adiantar. Aquela espécie não tem em livro nenhum.
_ É uma mutação? – perguntou incrédulo.
_ Não, ele ainda não fazia atrocidades desse tipo. Mas me diga, você conhece alguma serpente, sem ser de zoológico, que tenha vivido mais de 35 anos?
Lupin olhou para ele atônito. Realmente, não seria possível. Nagini era uma serpente domesticada, com a derrota de Voldemort ela teria morrido em menos de um ano. Mas ela agüentou. Sobreviveu por 10 anos até Voldemort reaparecer.
O ex-professor deu um leve sorriso, perguntou se Lucius precisava de alguma coisa e tendo um “não” como resposta, desceu para compartilhar a informação com os jovens.
Gina, Rony, Harry e Mione tinham se reunido a Neville na cozinha e começavam a preparar a refeição que seria dada a Quim, Draco e Percy. Vendo Lupin mais animado, Gina perguntou:
_ E aí? Conseguiu o nome do livro?
_ Muito melhor! Consegui uma informação muito melhor.
Explicou tudo aos rapazes, não se importando com a cara de “não entendi nada” de Neville.
_ Isso lembra da vez que você e o Sirius me falaram da vida longa do Rabicho – comentou Rony.
_ Será que essa é a confirmação para a suspeita de Dumbledore? – perguntou Harry.
_ Provavelmente – comentou Mione – só com uma alma de bruxo, ou melhor, parte de alma, para ela poder viver assim, tanto tempo.
Será que a Nagini era o horcruxe principal? Isso explicaria a preocupação de Voldemort com ela. Mas pelo que Harry sabia, a serpente estava prestes a morrer.
Ele virou-se para Hermione e perguntou:
_ Durante as conversas com Dumbledore ele disse alguma coisa sobre os horcruxes poderem ser feitos com criaturas vivas? – questionou Mione.
_ Falou sim, mas disse que é muito arriscado. – respondeu Harry. – Será que naquelas anotações que você encontrou em rúnico, Mione, não tinha nada falando sobre isso com mais detalhes?
_ Não sei, não tive tempo de trabalhar nelas depois que a gente fugiu – respondeu a garota.
_ Hermione, precisamos saber disso logo. Tente terminar a tradução ainda hoje. Nós cuidamos da comida. – pediu Harry.
A garota adorou a idéia de poder sair da cozinha e se dedicar ao que ela mais gostava de fazer: estudar. Subiu para seu quarto, pegou suas coisas e voltou para a sala pra trabalhar perto da lareira.
A noite já subia no céu quando Mione terminou a tradução. Ela se espreguiçou e olhou satisfeita para as anotações. Reuniu tudo em ordem e foi para a cozinha atrás de um chocolate quente. Era um ótimo meio de ser recompensada, pensou ela.
Ela mal conseguiu entrar na cozinha tamanha era a ansiedade dos amigos.
_ Conseguiu? – perguntou Rony aflito.
_ Foi difícil? – quis saber Gina.
_ Anda, Mione, fala, por favor – implorou Harry.
_ Calma – disse Mione – só falo quando alguém me trouxer um chocolate quente.
Rony serviu a namorada o mais rápido que pode.
Ela tomou uma boa parte da xícara e respondeu:
_ Voltamos a pista certa!
Eles deram vivas e sentaram em volta da moça para ouvir o que ela tinha descoberto.
_ Parece que Dumbledore já tinha pensado na possibilidade de Nagini ser o horcruxe principal. Ela destacou o nome “cobra” em um canto do papel, mas estava escrito em rúnico arcaico. Por isso eu não havia entendido.
Todos ouviam atentos. Era uma pena Lupin ter saído com Tonks, pensou Harry. Ele adoraria ouvir tudo aquilo.
_ Dumbledore – continuou ela – mencionou a sobrevida não só de animais usados como horcruxes, mas outros bruxos também. Parece que isso já foi uma prática comum há algum tempo. Mas tem uma coisa mais interessante.
_ Mais interessante que isso tudo? – assustou-se Rony.
_ Muito mais – respondeu – Segundo as anotações, um bruxo pode fazer um horcruxe arcádio, isso significa que ele tira toda sua alma do corpo e a reparte. Não sobra nada dentro do bruxo que fez o feitiço. Quando um bruxo que tem um horcruxe arcádio sofre um ataque muito forte e danifica seu corpo físico, ele ainda consegue sobreviver. Mas para isso precisa recuperar uma parte de sua alma.
_ Recuperar? Ele teria que destruir uma das horcruxes? – perguntou Harry.
_ Não, na verdade, ele precisa recuperar essa parte aos poucos, sem destruir o horcruxe. Ele tem que realizar um ritual específico, utilizar um objeto de valor que possa conter a porção da alma até que ela chegue ao seu verdadeiro dono.
_ Mas será que Voldemort fez isso? – indagou Rony.
_ Fez sim, Ron – respondeu Mione – e posso afirmar de que jeito.
_ Então diga, Mione – pediu Gina, aflita.
_ Ele bebeu a própria alma. Era isso que Rabicho “ordenhava” de Nagini. Era para isso que ele queria a taça da Lufa-Lufa: para recolher as porções de sua alma.
Era uma idéia mirabolante demais para ser verdade. Mas até então todas as coisas que aconteceram eram bem improváveis. Eles decidiram que o melhor a fazer era aguardar Lupin e contar a ele as novas descobertas.
Gina sentiu o sono bater. Não havia dormido nada na noite anterior. Neville lhe preparou um chá calmante, ela tomou tudo e foi se deitar.
Mione também estava cansada. Subiu para o quarto logo depois de Gina. Mas antes passou para ver Percy junto com Rony.
Neville foi levar os remédios de Quim e também ia se deitar em seguida.
Só Harry permaneceu na sala. Queria esperar por Lupin ali. Enrolou-se em uma coberta e sentou numa poltrona próxima à lareira. O calor aconchegante do fogo fez seus músculos relaxarem e, mesmo sem querer, ele adormeceu.
Não sentia dor, não via nenhum perigo. Estava numa sala de paredes brancas, móveis simples e uma porta de madeira clara. Parecia o quarto de um precário hospital. Sem saber o porquê, Harry se sentou na cama e ficou esperando.
Pouco depois, uma pessoa de vestes azuis escuras entrou pela porta. Harry sentiu um ódio enorme invadir seu coração quando percebeu que aquele homem era seu antigo professor de Poções.
Ele procurou sua varinha, mas estava completamente desarmado. Snape olhava para ele com aquela cara de nojo que fazia Harry odiá-lo ainda mais.
_ Escute bem, Potter – começou ele – eu não tenho muito tempo e nem muita vontade para lhe explicar as coisas. Então só vou dizer uma vez. Você é um incompetente, Potter.
_ Veio aqui pra me xingar? – berrou Harry.
_ Fale baixo – ordenou Snape – ou vai acabar sendo descoberto. E dessa vez eu não vou poder fazer nada. Desde aquele dia estou sem varinha. E sim, você é um grande incompetente. Nunca fez nada sozinho! Sempre teve ajuda de várias pessoas. Então, por um momento apenas, reconheça essa ajuda. Você não tem a capacidade que aquela sangue-ruim da Granger tem. Então fique feliz dela entender mais sobre Dumbledore do que você.
Harry não acreditou como aquele homem tinha a audácia de pronunciar o nome de Dumbledore, assim, com a maior naturalidade. Ia retrucar, mas antes que conseguisse abrir a boca, Snape falou:
_ Agora vá, anda, suma daqui antes que alguém apareça!
Harry acordou suando frio. Outro pesadelo. Mas aquele não o fizera sentir medo, só raiva. Ele tinha a estranha sensação de que a conversa tinha sido real.
Mais tarde Harry contaria a Lupin as descobertas de Mione e descobriria que o ex-professor de Defesa Contra as Artes das Trevas concordava com Snape.
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