Por um triz
Quando dia raiou Harry ainda estava deitado abraçado a Gina. Ainda bem, pensou o garoto, que era sábado e eles não tinham aula. Ia ser muito complicado explicar onde passaram a noite e, principalmente, o que estavam fazendo.
Acordou a jovem com um beijo na testa e disse que precisavam ir. Ainda daria tempo de entrarem escondidos no salão Comunal e fingir que dormiram ali, enquanto conversavam.
Atravessaram o castelo sob a capa e logo alcançaram a torre da Grifinória. Mas quando entraram pelo buraco do retrato da Mulher-Gorda, a situação não estava tão tranqüila quanto eles imaginaram.
Hermione dormia em uma almofada, enquanto Rony olhava pela janela. Ele se virou assim que ouviu o barulho do retrato girando e como não viu ninguém, já foi falando:
_ Podem sair daí debaixo – ele parecia muito zangado.
Harry tirou a capa e antes que pudesse explicar qualquer coisa foi forçado a se calar enquanto o amigo extravasava toda a preocupação.
_ Eu te apoiei, Harry, mas pensei que seria mais cuidadoso. Você não sabe o trabalho que deu convencer Mione a não ir atrás da McGonagal para contar sobre o sumiço de vocês.
Harry e Gina estavam muito envergonhados. Mas não conseguiam disfarçar que estavam felizes, apesar de tudo.
Rony reparou na expressão dos dois e, por fim, perguntou:
_ Mas, deu tudo certo? Digo, você fez o que eu acho que fez?
Harry sorriu, abraçou o amigo e disse:
_ Fiz sim!
_ Agora – disse Gina mostrando o colar no pescoço – nós somos uma família só, Ron.
O rapaz não sabia se ficava feliz ou preocupado. Eles não sabiam se tinha dado certo. E não saberiam tão cedo. A única coisa que conseguiu dizer foi:
_ Acho bom vocês inventarem uma ótima desculpa para Mione quando ela acordar, se não quiserem contar a verdade.
_ Não precisa se preocupar, Ron. Eu mesma quero contar a Mione. Ela merece saber!
Eles foram cada um para seu quarto. Aquele seria o dia da fuga. Assim que a festa começasse e todos estivessem distraídos eles iriam até a sala de Dumbledore, pegariam tudo e partiriam por uma das saídas indicadas no Mapa do Maroto.
Era necessário buscar as peças que faltavam. Só depois de destruir o último horcruxe é que Voldemort poderia ser destruído.
Quando desceram para o café, Mione ficou para trás com Gina que foi contar a amiga o que realmente aconteceu.
Rony e Harry já estavam sentados à mesa e comiam torradas com geléia e bolinhos de baunilha. Tudo estava tranqüilo. Ninguém além de Hermione tinha dado falta de Harry e Gina na noite passada.
Mas a tranqüilidade foi logo quebrada quando uma revoada de corujas invadiu o castelo. A maioria trazia notícias de parentes ou edições do Profeta Diário.
Hermione chegou ao salão em tempo de pegar sua edição do Profeta. Ela se sentou junto aos garotos, mas parecia envergonhada de olhar para Harry.
Ele, por sua vez, ficou imaginando o que Gina tinha contado a sua amiga para que ela agisse desse modo. Será que tinha sido assim, tão constrangedor? Foi desviado dos pensamentos quando Mione pediu que escutassem a notícia:
Ministra abre fogo contra exército de Você-sabe-quem
A nova Ministra da Magia, Srª Dolores Umbridge, mostrou que vai jogar pesado contra o exército Daquele-que-não-deve-ser-nomeado. Em seu último decreto, assinado na tarde de ontem, ela autoriza o uso de magias agressivas contra ataques provocados por aqueles que se denominam Comensais da Morte.
“É preciso colocar esses monstros em seus devidos lugares” – disse em entrevista exclusiva ao Profeta Diário.
Umbridge tem mostrado que não é de brincadeira. Ela renomeou todos os chefes de Departamentos e colocou gente de “sua confiança”. A nova promessa do Ministério, descoberta por Cornélio Fudge e mantida por Umbridge é o jovem Percy Weasley, encarregado do Departamento de Mistérios.
Indagada sobre a indicação do jovem, um tanto despreparado para o cargo diante de tantos outros bruxos talentosos, a Ministra apenas informou que “o jovem Weasley é alguém muito afeito às normas e saberá exercer suas funções”.
O que realmente interessa a todos os nossos leitores é que depois que Umbridge assumiu o Ministério, os ataques de comensais diminuíram sensivelmente.
E toda comunidade bruxa espera que diminuam cada vez mais.
_ O Percy? Chefe do Departamento de Mistérios? – indagou Rony perplexo.
_ E isso não é bom? Afinal, agora ele pode nos ajudar de verdade – comentou Harry.
Mas a idéia de ter um irmão fazendo jogando duplo não era uma coisa que Rony pudesse achar segura. Tinha medo. Agora que sabia que Percy não era uma vergonha para sua família, não queria perder o irmão. Sentia orgulho dele.
Os alunos foram convidados a ajudar na decoração do castelo para a Festa de Dia das Bruxas. Com as varinhas eles lançavam feitiços em abóboras para que ficassem flutuando.
Como a decoração sempre fora feita às escondidas, Harry teve a impressão de que aquele ano tudo ficaria muito bagunçado. Principalmente porque cada aluno fazia um enfeite diferente. E Neville conseguiu fazer uma abóbora inchar até explodir.
O pequeno incidente só pareceu agradar Luna, a nova namorada do jovem bruxo desastrado.
Eles trabalharam no salão o dia inteiro e depois subiram para se arrumar. A festa só começaria depois das 8 da noite e Harry resolveu se deitar um pouco. Adormeceu rapidamente e sonhou. Outro sonho confuso, em que Voldemort aparecia rindo e abrindo a tampa de uma caixa de madeira escura. A mesma caixa que ele guardava sua varinha, mas havia mais uma coisa dentro da caixa que Harry não conseguia ver. Ele se esforçou tanto que, por um momento, achou que Voldemort estivesse olhando pra ele. Logo depois a tampa da caixa se fechou e ele viu, atrás de Voldemort, um rosto que olhava para aquele homem de feições ofídicas com tanto ódio. Com tanto nojo. Harry logo reconheceu Snape. O assassino de Dumbledore. Queria acordar, mas alguma coisa o prendia naquele sonho horroroso. Snape estava mudado. Havia cicatrizes em seu rosto. Sua mão direita segurava o braço esquerdo como se tivesse ali um machucado muito dolorido. Voldemort olhou para Snape e disse:
_ Gostou das novas peças para minha coleção, Severo?
O ex-professor de Poções não respondeu.
_ É uma bela coleção, você precisa admitir. Eu tenho duas Andriax. Tenho uma Taça ultra-valiosa, tenho uma fortuna no Gringotes – uma gentileza, não posso deixar de mencionar, do nosso querido Lucius – que passou sua fortuna para o meu nome depois que o ajudei a fugir de Azkaban. E agora tenho um herdeiro.
_ Meu senhor – disse Snape com a voz fria – o senhor vai realmente usar Lestrange para ter seu herdeiro?
_ Não seja estúpido, Severo! – gritou Voldemort – Eu, o bruxo mais poderoso, a um passo de alcançar a imortalidade, vou me preocupar em ter um filho? Por favor!
_ Mas então...
_ Sabe, Severo – disse o bruxo enquanto andava de um lado para o outro – você tem sido muito leal. Durante anos. Fez tudo o que eu precisei que fosse feito. Manteve o menino vivo para mim. Assegurou que a fraqueza do jovem Malfoy não me impedisse de conseguir tudo o que quero. Você merece um crédito.
Voldemort parou, mostrou a mão e perguntou:
_ Você sabe o que é isso, Severo? Sabe que anel é este?
Snape fez que não com a cabeça.
_ Eu imaginei. Este anel faz parte das jóias Andriax. Existem três delas. Eu preciso uni-las. E assim que conseguir isso, terei todo o poder que nenhum bruxo jamais foi capaz de sonhar. E a terceira jóia está com a família de Belatriz. Ela a está procurando pra mim. Portanto, haja o que houver, continue mantendo Bella sob aquele encantamento. Ou terá outra dose do meu desapontamento. Mas vai ser na palma da mão desta vez.
Voldemort riu da ingenuidade de Snape e completou:
_ Depois dizem que os pais não ensinam nada aos filhos. Minha mãe, mesmo depois de morta me ensinou um encantamento muito interessante.
Os olhos de Snape brilharam com um rancor tão profundo e um ódio recolhido que Harry jamais imaginou ver. Por um instante Harry sentiu que Snape olhava pra ele. Tentou desviar o olhar, mas o professor agora falava com ele. Gritava, desesperado de raiva:
_ Saia daqui, Potter. Agora! Não estrague tudo seu rapaz estúpido e idiota.
Harry acordou gritando. Rony subiu ao quarto correndo. Logo atrás vieram Gina e Hermione.
_ O que foi, cara? Por que a gritaria? – perguntou Rony
Ele contou o sonho que tivera.
_ E se isso realmente estiver acontecendo? E se eu entrei na mente dele outra vez – disse Harry completamente desesperado.
_ Acalme-se, Harry. E por favor, não vá cometer a mesma besteira de achar que seus sonhos são sinais. Você sabe o que aconteceu da última vez, não é mesmo? – disse Hermione com autoridade.
O rapaz sabia que ela tinha razão. Da última vez que ele se deixou levar por um sonho seu padrinho havia morrido e por pouco, muito pouco, ele também não tinha sido destruído por Voldemort. Se Dumbledore não tivesse aparecido. Mas desta vez não tinha Dumbledore. E ele sabia que precisava ser mais cauteloso.
_ Ok, vocês estão certos. Eu vou me acalmar. Mas a gente não vai desistir da idéia de sair do castelo hoje, combinado?
Assim que Harry se achou em condições de descer, eles foram juntos para o salão. A decoração não ficou tão perfeita quanto a dos outros anos, mas pelo menos estava criativa.
A diretora McGonagal fez das trapalhadas de Neville uma das melhores atrações da festa. De tempos em tempos uma abóbora inchava até explodir e espalhar balas e docinhos por todo salão.
As crianças menores nunca viram uma festa daquelas e corriam por todo salão animadas.
Os quatro amigos comeram e procuraram sair do salão sem deixar ninguém os ver. Quando alcançaram o corredor, respiraram aliviados e foram em direção a sala do diretor. Mas eles mal chegaram ao final do primeiro corredor quando ouviram gritos apavorados vindos do salão.
Gina ia voltar para ver o que tinha acontecido, mas logo muitas pessoas saíram do salão correndo, gritado e chorando.
_ Fujam, fujam todos – gritava um.
_ O castelo foi invadido – gritava outro.
Eles não tinham muito tempo. Precisavam sair do castelo. Mas como deixar toas aquelas pessoas ali?
_ Olhem o castelo está cheio de bruxos adultos, aurores, professores. Eles vão saber controlar a situação. Essa é a hora. Se deixarmos para depois, pode ser tarde demais.
Eles correram para a sala, mas muitos comensais, lobisomens e seres bizarros invadiam as portas e entravam pelo castelo. Seis comensais tentaram segui-los. Mas hermione conseguiu azarar uma armadura para que caísse na frente deles. Isso os atrasou um pouco.
Assim que subiram a escada para o segundo andar, depararam com dois dementadores. Harry sentiu-se fraco, mas estava determinado a continuar e puxou sua varinha.
Hermione e Gina foram mais rápidas. As varinhas em punho elas já conjuravam dois patronos corpóreos. Perfeitos. Os dementadores foram afastados.
Esse contratempo fez com que os comensais quase os alcançassem. A todo o momento, raios vermelhos, verdes, amarelos, passavam entre eles.
Os jovens também lançavam feitiços, mas como estavam correndo e tentavam lançar os feitiços para trás, a maioria acertou paredes e quadros, cujos habitantes saíam nervosos para as pinturas vizinhas.
Gina conseguiu estuporar um comensal, mas ainda havia cinco atrás deles. O inimigo ainda levava vantagem.
Finalmente eles alcançaram a gárgula que saiu da frente da escada para que eles passassem.
_ Eles não só nossos convidados – informou Harry à guardiã da escada – então, por favor, nos proteja – pediu num sussurro, como se a gárgula pudesse fazer alguma coisa.
As palavras fizeram a gárgula despertar. Aquele monstro de pedra ganhou vida. Abriu as asas, ameaçadora, aos bruxos que chegavam até a escada e tentavam passar.
Harry só teve tempo de ver a gárgula estapear o rosto de um comensal, cujo capuz caiu e o sangue começou a escorrer dos cortes feitos pelas garras da guardiã.
A porta se fechou atrás deles e eles começaram a juntar as coisas. Cada um pegou sua mochila e vassoura. Foi aí que perceberam a besteira. Esqueceram de pegar uma vassoura para Hermione.
_ Não tem problema – disse Harry tentando manter a calma – a gente compra uma para ela quando sair daqui.
_ Harry – disse Gina suavemente, com medo que o namorado tivesse um ataque de ansiedade – como vamos sair daqui? Eles estão lá na porta. A gárgula foi azarada três vezes seguidas. Não vai agüentar muito tempo.
O rapaz percebeu que a namorada tinha razão. Precisavam fazer alguma coisa. Foi quando escutaram um barulho vindo debaixo da mesa.
Os quatro empunharam as varinhas e apontaram para o local do barulho.
_ Saia daí, você está cercado – berrou Harry sem se importar o quão era ridícula aquela frase.
Debaixo da mesa surgiu um ser baixinho, usando um suéter listrado enorme, uma boina e meias coloridas. Era Dobby, o elfo-doméstico.
_ Não machuque Dobby, meu senhor! Dobby só quer ajudar – pediu a criatura.
_ Dobby, o que faz aqui? – perguntou Mione.
_ Dobby limpa sala de Professor Dumbledore sempre. Dumbledore muito bom com Dobby, e Dobby quer tudo dele limpinho.
_ Mas hoje você não parece que está limpando nada – observou Rony.
_ Dobby ouviu Harry Potter dizer que iam embora, Dobby veio colocar mais coisas nas mochilas de vocês.
O elfo-doméstico mostrou as previsões que tinha preparado. Havia um pacote na mochila de cada um com carne defumada, pão preto e um saquinho de ervas para chás e remédios, como explicou o elfo.
Eles se emocionaram com a atitude de Dobby, mas não ia adiantar muita coisa se não conseguissem sair dali.
_ Vocês podem sair agora mesmo – falou a criaturinha.
_ Como Dobby? A saída está cheia de comensais – explicou Mione.
_ Mas vocês podem sair por trás. Vejam.
O elfo empurrou um dos quadros dos antigos diretores para o lado, contou seis tijolos a partir do chão e empurrou com as duas mãos dizendo:
_ Para fora!
A parede se abriu para os jardins do fundo do castelo. Admirados, os quatro jovens saíram.
_ Dobby, posso pedir um favor? – falou Harry.
_ O que o meu senhor Harry Potter quiser, Dobby faz.
_ Volte lá para dentro e ajude a conter os ataques. E mande nossas coisas para a casa de Rony.
Dobby concordou com a cabeça e desapareceu das vistas dos meninos.
_ Ótimo, estamos fora do castelo. E agora? Para onde vamos? – perguntou Gina.
_ Não dá para ir muito longe com Hermione sem vassoura. O que nos faz riscar o Largo Grimmauld da lista – ajuntou Rony.
O olhar de Harry estava perdido na escuridão de fora do castelo. Sem desviar os olhos um minuto ele disse, decidido:
_ Já sei para onde vamos. Sigam-me!
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